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Opinião: Questões de educação… nas celebrações religiosas

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Vivi, por estes dias, momentos quase-paradigmáticos de atitudes de (não) educação nas celebrações religiosas: pessoas pouco ou nada praticantes ‘participaram’ em missas dominicais paroquiais – de jubileu de casamento, de um batizado e de primeira comunhão – notando-se pouca ou nenhuma capacidade de saberem estar – em silêncio, com respeito e enquadrados nos atos… de fé e não meramente de festa.
Atendendo a que estas situações se vêm a agravar, não só no tempo mas também nas atitudes, numa quase vulgarização de boa parte do nosso ‘público’, ouso deixar algumas pistas de reflexão/inquietação, mesmo que os visados não leiam isto nem se importem com aquilo que desgraçadamente protagonizaram.

1. Não será de bom-tom e de mínima educação tentar perceber onde se está e aprender a ver como os outros se comportam? Não seria benéfico a quem não vai habitualmente a missas, a casamentos ou batizados, olhar ao espaço onde se encontra e medir os gestos e as palavras a condizer com o lugar? Não será que muitas dessas pessoas não foram educadas minimamente na fé e, por isso, não sabem distinguir esse lugar de outros onde estão pessoas juntas? Como fazer para que possa haver uma mudança neste ambiente cada vez mais mundanizado com que se tem invadido a igreja templo e a Igreja instituição? Ainda iremos a tempo de corrigir atropelos, infiltrações e transferências de adereços de outros espaços e/ou situações?

2. Faz-me muitas vezes impressão o manifesto desrespeito, mesmo por parte de tantos praticantes, em estar na igreja (ou noutro espaço equivalente usado para celebrações). Nota-se uma manifesta incapacidade de silêncio de tantos/as daqueles/as que usam a igreja, deixando a nu que nem sempre foram educados para a oração pessoal e respeitadora dos outros.

Na síntese dos trabalhos de grupos da diocese de Setúbal sobre o sínodo dos bispos, diz-se nas ‘propostas de mudança’: «necessidade de a Igreja voltar a ensinar o silêncio às pessoas, que estão demasiado envolvidas por uma sociedade ruidosa onde se torna difícil escutar a voz de Deus». Como poderemos concretizar esta necessidade de conversão? Até onde poderá ir a possibilidade de tolerância? Teremos de aceitar que não haja respeito por parte de quem se serve da Igreja para fazer as ‘suas festas’ obnubilando o essencial da fé?

3. Bem sabemos que muitas pessoas não sabem estar e tão pouco vestir-se para participarem nos atos religiosos. Com que vulgaridade vemos pessoas – no masculino ou no feminino – a exercitar a arte de bem-despir em casamentos e batizados ou mesmo noutros momentos sociais (primeiras comunhões, crismas, profissões de fé e outras festinhas de catequese) no âmbito da Igreja católica. Mais do que falta de senso é, nitidamente, insuficiente educação…humana e religiosa. Recordo a estória de um tal que, tendo vindo do estrangeiro, quis destoar da normalidade e foi à missa na aldeia em pijama… ao que os concidadãos responderam que se tinha esquecido do lugar onde estava e da roupa que devia vestir… De igual modo, algumas pessoas seriam barradas em certos espaços de diversão se trajassem da forma como entram no espaço sagrado da igreja… Teremos de aturar tudo? A mera sobranceria de ignorar tais atitudes corrigirá os negligentes? Claro que não será avisado repreender em ato, mas precisamos de fazer mais do que vista grossa e de deixar continuar a desfaçatez…

4. Pode haver normas, orientações e aconselhamentos por parte das dioceses, nas paróquias e para os mais diversos atos religiosos acontecidos ou a ocorrerem nas igrejas, senão houver educação, bom senso e ética cívica bateremos contra muros de ignorância, de insensibilidade ou mesmo de prosápia de um certo novo-riquismo sem valores nem critérios de fé…

Citando novamente a síntese dos trabalhos sinodais da diocese de Setúbal:«importância de promover o diálogo em três níveis diferentes: dentro de cada igreja cristã, na relação com as outras igrejas cristãs e finalmente com as restantes religiões não cristãs. Só deste modo se criam comunidades humanas, fraternas e cooperantes; respeitando as características, as diferenças e as opiniões de cada uma»… Algo tem de mudar e depressa!

Padre António Sílvio Couto, pároco da Moita

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07 de Julho de 2022