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A Palavra do Papa: A proteção de menores, as reformas da Cúria Romana, a disponibilidade para a fraternidade e o apelo à paz

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A proteção de menores num caminho que é irreversível, as reformas da Cúria Romana, quer a nível financeiro, quer na gestão dos diferentes serviços, a vivência da fraternidade para uma missão evangélica eficaz, e os apelos à paz na Ucrânia, no Congo e no Sudão do Sul, são alguns dos temas que se evidenciam na Palavra do Papa desta semana.

Proteção de Menores: “Tolerância zero” contra abusos é irreversível

A luta contra os abusos na Igreja começou lentamente, mas hoje é um caminho irreversível. A afirmação é do Papa Francisco numa entrevista à agência de notícias alemã, Reuters: “A Igreja começou a tolerância zero lentamente e avançou. Sobre isto, acredito que a direção tomada é irreversível. É irreversível. Hoje, esta é uma questão que não se discute”.

Respondendo a uma pergunta sobre a resistência que, em alguns casos é encontrada a nível local na aplicação de medidas contra os abusos, o Papa observou: “Há resistência, mas cada vez mais há consciência de que este é o caminho”.

O Santo Padre lembrou a divisão do Dicastério para a Doutrina da Fé em duas seções, dedicando uma delas aos abusos de menores – a Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores cuja missão é “aconselhar e dar pareceres” ao Papa, bem como “propor as iniciativas mais oportunas para a salvaguarda dos menores e das pessoas vulneráveis” – e comentou: “As coisas estão a andar bem”. Elogiou, ainda, o trabalho do Cardeal Sean O’Malley, de Boston, o seu secretário, o padre britânico Andrew Small, na referida Comissão.

No final de junho, o Vaticano disponibilizou, online, uma versão atualizada do “vade-mécum” lançado em 2020, para ajudar os bispos e responsáveis de institutos religiosos no tratamento de denúncias de abusos sexuais de menores.

As reformas financeiras na Santa Sé evitarão novos escândalos

Também em entrevista à Reuters, o Papa Francisco disse acreditar que as reformas financeiras evitarão escândalos no futuro, como os que vieram à tona nos últimos anos. O Papa elogiou as reformas financeiras em curso, no Vaticano.

“Acredito que este novo dicastério, digamos assim, que tem todo o financiamento nas mãos, é uma segurança séria na administração, pois antes, a administração era muito desordenada”, referiu a respeito da Secretaria para a Economia, da Santa Sé.

O Papa recordou que a iniciativa de criar uma Secretaria para a Economia nasceu do cardeal Pell, australiano, que considerou “o génio” destas transformações.

A nova constituição da Cúria Romana, publicada a 19 de março, determina que a Secretaria para a Economia “desempenha a função de Secretaria papal para as matérias económicas e financeiras”.

O organismo “exerce o controlo e vigilância em matéria administrativa, económica e financeira sobre as Instituições curiais, os Departamentos e as Instituições ligadas à Santa Sé ou que lhe fazem referência”.

Duas mulheres serão nomeadas para comissão que acompanha o processo de escolha dos Bispos

Na entrevista à agência de notícias Reuters, o Papa Francisco revelou que está prestes a nomear duas mulheres no Dicastério para os Bispos, que estarão, envolvidas no processo de eleição de novos pastores diocesanos.

O Pontífice respondeu a uma pergunta sobre a presença feminina no Vaticano, a propósito do que estabelece a nova Constituição apostólica “Praedicate Evangelium“, que reforma a Cúria, e sobre quais dicastérios que podem ser confiados a um leigo ou leiga no futuro.

“Estou aberto para que seja dada a oportunidade. Agora o Governatorato tem uma vice-governadora… Agora, na Congregação para os Bispos, na comissão para eleger os bispos, duas mulheres irão para lá pela primeira vez. Abre-se um pouco, assim.”

O Papa Francisco acrescentou, em seguida, que para o futuro há possibilidade de que leigos sejam nomeados para dirigir dicastérios como o Dicastério “para os Leigos, a Família e a Vida, os dicastérios para a Cultura e para a Educação, ou a Biblioteca, que é quase um dicastério”.

Nos últimos anos, Francisco nomeou, pela primeira vez, uma mulher como “número 2” do Governatorato da Cidade do Vaticano, a irmã Raffaella Petrini; já a irmã Nathalie Becquart foi designada subsecretária do Sínodo dos Bispos, sendo a primeira mulher com direito a voto nas assembleias sinodais.

Barbara Jatta, atual diretora dos Museus do Vaticano e a brasileira Cristiane Murray, vice-diretora da Sala de Imprensa Santa Sé, também foram nomeadas pelo atual Papa.

Em 2017, Francisco nomeou duas subsecretárias para o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Gabriella Gambino e Linda Ghisoni; a religiosa espanhola Carmen Ros Nortes trabalha como subsecretária na Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, sendo a terceira mulher a exercer essa função.

Angelus: “Se não houver disponibilidade para a fraternidade, a missão evangélica não avança”

 “A missão evangelizadora não se baseia no ativismo pessoal, mas no testemunho do amor fraterno, mesmo através das dificuldades que a convivência implica”. Estas foram as palavras do Papa Francisco no Angelus do dia 3 de julho, ao falar sobre a missão evangelizadora que nos foi confiada por Jesus.

Ao comentar o Evangelho disse: “Os discípulos foram enviados dois a dois, não individualmente. Ir em missão dois a dois, de um ponto de vista prático, parece ter mais desvantagens do que vantagens. Há o risco de que os dois não se entendam, que tenham um ritmo diferente, que um fique cansado ou doente pelo caminho, forçando o outro a parar também”. Entretanto, continua, Jesus não pensa assim, “não envia solitários à sua frente, mas discípulos que vão dois a dois. Perguntemo-nos: qual é a razão desta escolha do Senhor?”.

Afirmando que o elemento fundamental da missão cristã é o testemunho da “fraternidade”, alertando contra o “ativismo pessoal” e o individualismo na Igreja, o Papa disse: “Podem elaborar-se planos pastorais perfeitos, implementar projetos bem elaborados, organizar-se até os mínimos detalhes; podem convocar-se multidões e ter muitos meios; mas se não houver disponibilidade para a fraternidade, a missão evangélica não avança”, assinalou, desde a janela do apartamento pontifício, antes da recitação da oração do Angelus.

“Como levamos a boa nova do Evangelho aos outros? Fazemo-lo com espírito e estilo fraterno, ou à maneira do mundo, com protagonismo, competitividade e eficiência? Perguntemo-nos se temos a capacidade de colaborar, se sabemos tomar decisões em conjunto, respeitando sinceramente quem nos rodeia e levando em conta o seu ponto de vista”, referiu.

Apelos à Paz: Ucrânia, Congo e Sudão do Sul

Também no Angelus do passado domingo, depois de recordar a beatificação dos primeiros mártires argentinos pedindo “que nos ajudem a dar testemunho da Boa Nova sem concessões”, o Papa Francisco apelou à paz sugerindo “passar das estratégias de poder político, económico e militar para um projeto de paz global”.

“Apelo aos chefes das nações e organizações internacionais para que reajam à tendência de acentuar o conflito e o confronto. O mundo precisa de paz. Não uma paz baseada no equilíbrio de armas, no medo recíproco. Não, isso não serve. Isto significa fazer a história recuar setenta anos. A crise ucraniana deveria ter sido, mas – se se quiser – ainda pode se tornar, um desafio para estadistas sábios, capazes de construir no diálogo um mundo melhor para as novas gerações. Com a ajuda de Deus, isto é sempre possível! Mas devemos passar das estratégias de poder político, económico e militar para um projeto de paz global: não para um mundo dividido entre potências em conflito; sim para um mundo unido entre povos e civilizações que se respeitam mutuamente”.

O Papa Francisco reafirmou a vontade de visitar a capital da Rússia e da Ucrânia, respetivamente Moscovo e Kiev, para “servir a causa da paz”, adiantando que pode ser possível realizar estas viagens quando regressar do Canadá.

“Eu gostaria de ir à Ucrânia e queria ir primeiro a Moscovo. Trocamos mensagens sobre isso, porque pensei que se o presidente russo me concedesse uma pequena janela para servir a causa da paz”, disse o Papa na entrevista à Agência de notícias Reuters.

No início de maio, o Papa mostrou-se disponível para um encontro com o presidente russo, a fim de abordar a guerra na Ucrânia, mas Moscovo viria a rejeitar esta possibilidade, com o Vaticano a reafirmar a vontade do Papa em deslocar-se à capital russa.

O Santo Padre enviou uma mensagem em vídeo aos povos da República Democrática do Congo e da República do Sudão do Sul, países onde deveria ter iniciado a visita no dia 2 de julho. Na impossibilidade de viajar, disse: “Como sabem, hoje, eu deveria ter ido em peregrinação de paz e reconciliação às suas terras. Só Deus sabe quanto sinto por ser obrigado a adiar esta visita tão desejada e esperada. Mas, não devemos perder a confiança, pelo contrário, continuemos a manter a esperança de nos encontrarmos em breve, o mais rápido possível”.

Não podendo estar presente entre os povos da África, o Papa diz que, sobretudo nestas semanas, vai levar todos no seu coração, sobretudo na oração, tendo em mente os sofrimentos pelos quais passam, há tanto tempo.

“Queria dizer-lhes: não deixem que lhes roubem a esperança! Não deixem! Vocês são muito queridos por mim, mas muito mais preciosos e amados aos olhos de Deus, que jamais dececiona quem nele confia! Todos vocês têm uma grande missão, começando pelos líderes políticos: virar página para empreender novos caminhos de reconciliação, perdão, convivência e desenvolvimento pacíficos”.

AS com Vatican News e Agência Ecclesia

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08 de Julho de 2022