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Opinião: “Não tenhais medo!” – Recordar o Padre António Augusto Sobral

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Opinião de Cláudio Anaia, paroquiano de Santa Maria (Barreiro)

Faz hoje, dia 14 de Julho de 2022, exatamente 14 anos que o meu querido padrinho Padre António Augusto Sobral partiu para o Pai. Um homem que marcou a história da minha vida e de muitos barreirenses, que recordo muitas vezes com imensa saudade.

Na altura escrevi um texto para o Jornal do Barreiro, que hoje partilho novamente em sua homenagem numa declaração pública de que a sua pessoa foi e sempre será uma  referência para mim.

Não tenhais medo!

Enquanto escrevo este texto sinto o meu coração apertado e a cabeça a andar à roda. Ainda custa a acreditar que o meu padrinho, o Padre Sobral, já não está entre nós.

Custa a acreditar que, se eu amanhã quiser ir até casa dele, ele já lá não estará, atrás da sua secretária para me ouvir, para me aconselhar e para me confortar quando a vida me pregar uma daquelas partidas inesperadas. Ou então, que ele já não estará para sairmos no carro dele, para darmos um daqueles nossos passeios.

Volto a questionar, será que aquele que me ensinou a ser homem e a ser cristão já cá não está? Será um pesadelo que acabará assim que eu acordar?

Infelizmente, percebo que estou acordado e que acabo de perder um pai, um amigo e um companheiro, que me acompanhou quase toda a vida. Sinto que agora vai ser muito mais difícil viver. Vai ser mais difícil porque me vai faltar aquele que me deu tantas vezes ajuda para caminhar… aquele que estava sempre disposto a confortar-me.

Começo a lembrar-me, como se de um filme se tratasse, as primeiras vezes que conversámos.

Eu era um garoto de 12 anos quando o abordei, ainda dentro da igreja: “ Quer ser meu padrinho?”. Ele aceitou de imediato. A partir daí foi uma relação de troca de sentimentos, de confidências e de muitas experiências. Sempre me aconselhou qual o rumo a seguir para a minha felicidade, sempre baseado naquele que mais amamos: o nosso Jesus.

Fui catequista cerca de 15 anos e nas reuniões e nas homilias onde participei ele era implacável e directo, sendo impossível ficar-lhe indiferente. Por tudo isso, hoje costumo dizer que o cristão que sou e as convicções que tenho se devem a alguns dos seus ensinamentos.

Para os mais desfavorecidos e para os mais pobres, este era de uma sensibilidade fora do comum e até sei de histórias (que não vou por aqui contar) que demonstram que saiu prejudicado pessoalmente e ficou em dificuldades para estar ao serviço do próximo. E o que mais admiro é que fazia tanto pelos outros e sempre em silêncio, sem querer nada em troca ou para que outros vissem.

O meu padrinho assimilava o Evangelho e colocava-o em prática. O meu padrinho foi um exemplo de testemunho de Jesus Vivo para mim.

Nas suas viagens trazia-me sempre uma lembrança. Foi na adolescência uma juventude sempre presente, sempre disponível para ajudar. Nem sempre tudo correu bem, é um facto, mas também não é menos verdade que depois de uma boa conversa tudo ficava para trás das costas e lá ganhava um abraço e um beijo.

Quando foi homenageado pelos Rotários, a organização informou-o de que poderia levar dois convidados, um deles fui eu… o que me deixou naquela altura muito feliz.

Transporto no meu coração tantas e tantas histórias que me ajudam a aliviar a sua falta… a sua ausência.

O meu padrinho era um bom rebelde, um irreverente e até na sua partida para o céu “partiu sem nos avisar, à sua maneira, sem permitir prepararmo-nos, psicológica e emocionalmente, para o vazio que iria provocar no íntimo da nossa existência, que tão bem soube orientar”, como disse o Dr. Jorge Cardoso.

“Não tenhais medo” ensinou-me ele, e curiosamente foi sobre esta frase que o ouvi na última homilia há umas semanas atrás na missa.

Continuemos, então, a obra e a missão que ele soube, tão bem, pôr em prática na sua vida.

Até sempre padrinho, estarás para sempre no coração de todos aqueles que te amam.

Cláudio Anaia

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14 de Julho de 2022