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A Palavra do Papa: “Tolerância zero” nos abusos de menores, três mulheres no Dicastério dos Bispos, o fim da “guerra louca” e as mudanças climáticas

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Numa semana em que o Papa interrompeu a pausa nas audiências oficiais para receber responsáveis de congregações religiosas, o tema que voltou a estar em cima da mesa foi o dos abusos de menores, com o o Santo Padre a reafirmar “tolerância zero” e afirmando que “não se resolve a questão com uma transferência”.

O Papa Francisco nomeou, ainda, três mulheres para o Dicastério dos Bispos, organismo responsável por acompanhar o processo de nomeações episcopais em todo o mundo. O apelo ao fim da “guerra louca” na Ucrânia, um convite para a JMJ Lisboa 2023 e a emergência das mudanças climáticas são também alguns temas desta semana do Papa.

Abusos de menores: Papa reitera “tolerância zero” e encoraja religiosos a denunciar

O Papa pediu aos responsáveis mundiais de três congregações religiosas que assumam a política de “tolerância zero” perante situações de abusos sexuais e os denunciem.

“Tolerância zero. Não tenham vergonha de denunciar: ‘este fez isto, aquele…’. Acompanho-te, és um pecador, és uma pessoa doente, mas tenho de proteger os outros”, declarou, no Palácio Apostólico.

Francisco interrompeu a sua habitual pausa nas audiências oficiais, em julho, para receber os participantes de três Capítulos Gerais que estão a decorrer em Roma: da Ordem Basiliana de São Josafat, da Ordem da Mãe de Deus e da Congregação da Missão (Vicentinos).

“Por favor, peço isto: tolerância zero. Não se resolve a questão com uma transferência. ‘Ah, mando-o deste continente para outro’. Não”, referiu, numa passagem improvisada do seu discurso, divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé.

O Papa assumiu que um dos problemas que existem nas congregações religiosas é o dos abusos. “Por favor, lembrem-se bem disto: tolerância zero para os abusos de menores ou pessoas incapazes, tolerância zero. Por favor, não escondam esta realidade”, insistiu.

Francisco observou que os religiosos e sacerdotes têm a missão de “levar as pessoas a Jesus, não a de ‘devorar’ as pessoas”. “O abusador destrói, ‘devora’, por assim dizer, o abusado, com a sua concupiscência”, advertiu.

Papa nomeou três mulheres para o Dicastério para os Bispos

O Papa nomeou , pela primeira vez, três mulheres como membros do Dicastério para os Bispos, estrutura da Cúria Romana que acompanha o processo de nomeações episcopais em todo o mundo.

As escolhidas foram as irmãs Raffaella Petrini, secretária-geral do Governorato do Estado da Cidade do Vaticano, e Yvonne Reungoat, antiga superiora geral das Filhas de Maria Auxiliadora; e Maria Lia Zervino, presidente da União Mundial das Organizações de Mulheres Católicas.

Entre os novos membros do organismo da Santa Sé encontra-se também D. José Tolentino Mendonça, cardeal português, arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana.

Numa recente entrevista, o Papa tinha anunciado estas nomeações, admitindo designar leigas para cargos de liderança, com a implementação da Constituição Apostólica “Praedicate Evangelium” que reforma a Cúria Romana.

Angelus: Papa desafia a ver e tocar quem passa necessidade

O Papa desafiou os católicos a ver e tocar quem passa necessidade, numa reflexão sobre a parábola do “bom samaritano”, lida nas celebrações dominicais, em todo o mundo. “Tenhamos compaixão dos que encontramos ao longo do caminho, sobretudo de quem sofre e passa necessidade, para nos aproximarmos e fazer o possível para oferecer uma mão”, disse, desde a janela do apartamento pontifício, após a recitação da oração do ângelus.

Perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, Francisco convidou a um exame de consciência sobre a atitude com que cada um ajuda o próximo. “Se dás esmola sem tocar a realidade, sem olhar nos olhos da pessoa necessitada, essa esmola é para ti, não para o outro. Toco as misérias, mesmo de quem ajudo? Olho nos olhos das pessoas que sofrem, que ajudo?”, perguntou.

A reflexão do Papa recordou que os primeiros cristãos foram chamados de “discípulos do Caminho”. O discípulo de Cristo caminha seguindo-o, tornando-se assim um ‘discípulo do Caminho’. Ele vai atrás do Senhor, que não é um sedentário, mas está sempre em movimento: pelo caminho encontra pessoas, cura doentes, visita aldeias e cidades. Assim fez o Senhor, sempre em caminho”.

Francisco sublinhou que cada cristão deve tornar-se um “viajante” e aprender, com o samaritano, a “ver e a ter compaixão”. “Antes de tudo, o samaritano vê: abre os olhos para a realidade, não se fecha egoisticamente no círculo dos seus próprios pensamentos. Em vez disso, o sacerdote e o levita veem a vítima, mas é como se não o vissem, seguem adiante”, precisou, a respeito da parábola relatada pelo Evangelho segundo São Lucas.

O Papa destacou que seguir Jesus ensina a “ter compaixão”. “O Evangelho educa-nos a ver: orienta cada um de nós a compreender corretamente a realidade, superando preconceitos e dogmatismos, dia após dia. Tantos crentes refugiam-se nos dogmatismos, para se defenderem da realidade”, indicou. Francisco deixou votos de que todos saibam “estar atentos aos outros, especialmente aos que sofrem, aos que mais precisam” e “intervir como o samaritano, não seguir em frente, parar”.

Ucrânia: Papa pediu fim de “guerra louca” e enviou uma mensagem aos Bispos greco-católicos, unindo-se ao seu sofrimento

O Papa pediu o fim da “guerra louca” na Ucrânia, manifestando a sua solidariedade às vítimas dos ataques no país. “Renovo a minha proximidade ao povo ucraniano, diariamente atormentado por brutais ataques, cujo preço é pago pela população comum”, disse, desde a janela do apartamento pontifício, após a recitação da oração do ângelus.

Francisco falava perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro. “Rezo por todas as famílias, especialmente pelas vítimas, os feridos, os doentes. Rezo pelos idosos e as crianças. Que Deus mostre o caminho para pôr fim a esta guerra louca”, concluiu.

O secretário do Vaticano para as relações com os Estados disse este sábado que o Papa poderia visitar Kiev já em agosto. “O Papa está muito convencido de que, se pudesse fazer uma visita, poderia ter resultados positivos. Ele disse que irá à Ucrânia e sempre se mostrou disponível em visitar Moscovo e também a encontrar-se com as autoridades russas”, referiu D. Paul Richard Gallagher, um dos principais responsáveis da diplomacia da Santa Sé, em entrevista ao canal TG1.

O Papa enviou, também esta semana, uma mensagem aos bispos greco-católicos da Ucrânia, reunidos na Polónia por causa da guerra no seu país, manifestando solidariedade com o sofrimento provocado pela invasão da Rússia.

“Caros irmãos bispos, uno-me espiritual ao vosso sofrimento, assegurando a minha oração e o meu compromisso que, muitas vezes, por causa da delicada situação, não surge nos media”, escreve Francisco, num texto divulgado esta segunda-feira pela Santa Sé.

A reunião dos responsáveis católicos acontece na cidade polaco de Przemysl. O Papa deixa votos de que a Igreja seja um “lugar de encontro e de ajuda recíproca, na busca de novas formas de acompanhamento dos fiéis e de proximidade com eles”.

Juventude: Papa enviou mensagem à Conferência Europeia da Juventude e deixou convite para JMJ Lisboa 2023, bem como novo apelo ao fim da guerra na Ucrânia

O Papa desafiou os jovens europeus a fazer ouvir a sua voz, para mostrar ao mundo “um novo rosto” do continente, apontando à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2023, em Lisboa.

“Fazei ouvir a vossa voz! Se não vos ouvirem, gritai ainda mais forte, fazei barulho, tendes todo o direito de dar a vossa opinião sobre o que diz respeito ao vosso futuro”, refere Francisco, numa mensagem divulgada pelo Vaticano, dirigindo-se aos participantes na Conferência Europeia da Juventude, que decorre em Praga, entre 11 e 13 de julho.

O texto deixa um convite particular aos jovens europeus, tendo em vista a JMJ que vai decorrer na capital portuguesa, de 1 a 6 de agosto de 2023. “Convido-vos a todos para a Jornada Mundial da Juventude do próximo ano em Lisboa, onde podereis partilhar os vossos sonhos mais belos com jovens de todo o mundo”, escreve.

“Queridos jovens, ao mesmo tempo que estais a realizar a vossa Conferência, na Ucrânia (que não é União Europeia, mas é Europa), combate-se uma guerra absurda. Esta, juntando-se aos numerosos conflitos em curso em diversas regiões do mundo, torna ainda mais urgente um Pacto Educativo que a todos instrua para a fraternidade”, escreve Francisco, num texto divulgado pelo Vaticano.

A mensagem sugere a objeção de consciência dos jovens, perante as decisões dos “poderosos” que os mandam combater. “Todos devemos empenhar-nos para pôr fim a esta loucura da guerra, onde, como de costume, uns poucos poderosos decidem e mandam combater e morrer milhares de jovens. Em casos como este, é legítimo rebelar-se”, indica.

Ambiente: Mudanças climáticas são «emergência» que «não permanece» à margem da sociedade, alerta o Papa

O Papa Francisco afirmou que as alterações climáticas são “uma emergência”, numa mensagem à conferência ‘Resiliência de Pessoas e Ecossistemas sob stresse Climático’, da Academia Pontifícia das Ciências (Santa Sé).

“O fenómeno das mudanças climáticas tornou-se uma emergência, que já não permanece à margem da sociedade”, refere o texto, divulgado pelo Vaticano.

A mensagem explica que este problema assumiu um papel central, afetando a família humana, “especialmente os pobres e aqueles que vivem nas periferias económicas do mundo”. Segundo Francisco, hoje enfrentam-se os desafios de “diminuir os riscos climáticos reduzindo as emissões”, e o de ajudar as pessoas a adaptar-se “às mudanças climáticas”.

“A perda da biodiversidade e as muitas guerras em várias regiões do mundo”, são duas preocupações do Papa, destacando que têm consequências terríveis para a sobrevivência e o bem-estar dos seres humanos, como problemas de segurança alimentar e crescente poluição, e mostram que “está tudo conectado”.

A “conversão ecológica”, acrescentou Francisco, é um caminho para cuidar da Casa Comum, requer uma mudança de mentalidade e um compromisso de trabalhar pela resiliência das pessoas e dos ecossistemas, sendo necessário um sentimento de “gratidão” pelo amor e generoso dom da criação de Deus.

“Esforços corajosos, cooperativos e prospetivos entre líderes religiosos, políticos, sociais e culturais nos âmbitos locais, nacional e internacional”, são necessários para encontrar soluções para os problemas.

Francisco incentiva à solidariedade e cooperação, indicando que “as nações economicamente favorecidas podem desempenhar na redução de suas emissões” e na prestação de assistência financeira e tecnológica, para que as áreas menos prósperas do mundo possam seguir seu exemplo.

Papa admite necessidade de aperfeiçoar normas relativas à renúncia pontifícia

O Papa Francisco admitiu a necessidade de “regular melhor” a legislação canónica sobre a renúncia pontifícia, assumindo que prefere a designação de “bispo emérito de Roma”.

“A própria história vai obrigar a regular melhor”, realça, em entrevista à plataforma de streaming ViX da ‘Noticias Univision 24/7’. O Papa sustenta que se deve “delimitar melhor as coisas, explicitar”.

O Código de Direito Canónico prevê a possibilidade jurídica de renúncia por parte do Papa e esta renúncia não precisa de ser aceite por ninguém para ter validade, como indica o cânone 332, desde que seja “feita livremente e devidamente manifestada”.

Em passagens da conversa, disponíveis no YouTube, Francisco elogia o seu antecessor, Bento XVI, que renunciou ao pontificado em fevereiro de 2013. “A primeira experiência correu muito bem, porque é um homem santo e discreto”, indica.

Questionado sobre o seu futuro após uma eventual renúncia, o Papa, de 85 anos de idade, descarta a possibilidade de continuar a residir no Vaticano. “Isso não, com certeza”, declara, deixando de parte também um regresso à Argentina, sua terra natal.

Eleito em março de 2013, Francisco descarta para já um cenário de final de pontificado, salvo em caso de morte.

“Nunca pensei renunciar, até ao dia de hoje”, indica, antes de observar que “a porta está aberta” pela decisão do seu predecessor.

“O exemplo que o Papa Bento (XVI) nos deu é tão grande que, se vir que não consigo, que faço mal ou atrapalho, espero tirar força desse exemplo”, observa. “Neste momento, não sinto que o Senhor o peça [a renúncia], mas quando mo pedir, sim”, assinalou.

AS com Agência Ecclesia e Vatican News

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15 de Julho de 2022