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Palmela: “Agora o tempo é de esperança. É necessário retemperar forças para reconstruir” – P. David Caldas, pároco de Palmela

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Nos últimos dias, em Palmela, vivemos momentos de grande dor e provação. Vimos a nossa querida Palmela ser assolada por um incêndio de grandes dimensões que, num primeiro momento, nos fez viver momentos de grande dor e sobressalto.

Sentimo-nos pequenos e impotentes, mas não nos deixamos esmagar nem desistimos.

Palmela, a sua população, as suas forças vivas, souberam estar à altura do acontecimento, mobilizando-se sem cruzar os braços unindo todos os esforços para que, o mais rapidamente possível, se pudesse voltar à habitual segurança.

Se a catástrofe não tomou dimensões ainda piores foi porque todos quiseram contribuir para a resolução de tão grande problema. Muitas vezes o não atrapalhar, o conter a curiosidade, já era ajudar.

Quando passei junto ao quartel dos nossos Bombeiros Voluntários pude testemunhar o enorme afluxo de gente que ali acorria dando uma palavra amiga ou fazendo chegar bens necessários. Era enorme o reboliço com carros de diversas corporações de Bombeiros, drones que faziam reconhecimento, gente verdadeiramente preocupada. O cansaço fazia-se sentir. Ainda assim, ninguém se poupou a esforços.

Não posso deixar de enaltecer o esforço destes soldados da paz, de lhes deixar um grande agradecimento. Muitas vezes esquecemos que também são humanos, também têm família, também querem regressar às suas casas. E a experiência diz-nos que nem todos voltam.

Agora, olhando à nossa volta e perscrutando os nossos corações, vimos e sentimos as marcas deste terrível acontecimento. E estas não se apagam facilmente.

Não bastam mensagens, enviadas por quem vive confortavelmente à distância, com um pretenso interesse e solidariedade e que, tantas vezes, apenas as escreve por mera propaganda, promoção social ou qualquer outro interesse. Ou, simplesmente, porque parece bem.

E quando tantas vezes, de forma leviana, se ouve dizer que foi só um campo ou um barracão que ardeu, esquecemos que esse campo e esse barracão são aquilo que permite o sustento de uma ou várias famílias. São os campos que produzem as colheitas, são os barracões que guardam as alfaias e outros materiais que permitem trabalhar os campos, que permitem que os Homens tenham uma vida digna.

Agora o tempo é de esperança. É necessário retemperar forças para reconstruir.

Se há coisa que pude aprender com a natureza, após os incêndios de Pedrogão em 2017, é que ela não desiste. Quando a 19 de junho desse mesmo ano percorria a estrada nacional 236, onde morreram tantas pessoas, entre elas um bombeiro, a paisagem parecia dizer que tudo estava terminado, que não havia lugar à esperança. No ano seguinte, por entre o negro das cinzas, começavam a surgir os primeiros tons de verde e, ano após ano, o verde foi tapando o negro das cinzas, o desespero foi dando novamente lugar à esperança.

Palmela, agora tão marcada pelo negro que substituiu os seus tons de verde, porque não vai cruzar os braços nem desistir, voltará ao seu esplendor.

A todos aqueles que perderam algo, uma palavra de consolo. Não estará tudo terminado, com coragem e perseverança as colheitas ressurgirão do meio das cinzas.

Confiemos a nossa Palmela a Santa Maria da Vitória e São Pedro, nossos padroeiros, para que eles nos protejam e guardem. Para que, por desleixo ou incúria dos Homens, não voltemos a viver algo semelhante.

Pe. David Caldas, Pároco de Palmela

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15 de Julho de 2022