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A Palavra do Papa: a “melhor parte”, a peregrinação penitencial, os sonhos africanos e o grito da Terra

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A dias de iniciar a sua viagem apostólica ao Canadá, o Papa apelou à escuta: da Palavra de Jesus contra o “ativismo estéril” e da “voz da Criação” pela conversão ecológica. Aos líderes religiosos africanos reunidos esta semana no Quénia, o Papa lembrou: “As montanhas nunca se encontram, mas as pessoas sim”.

Angelus: a palavra de Jesus não é abstrata, é um ensinamento que transforma a vida

O Papa Francisco conduziu a oração mariana do Angelus deste domingo, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

O Pontífice recordou que o Evangelho deste domingo, “apresenta-nos uma animada situação doméstica com Marta e Maria, duas irmãs que oferecem hospitalidade a Jesus na sua casa. Marta imediatamente começa a trabalhar para o acolhimento dos hóspedes, enquanto Maria se senta aos pés de Jesus para ouvi-lo”.

Vendo aquela situação, “Marta se vira para o Mestre e pede que Ele diga a Maria para ajudá-la. A reclamação de Marta não parece fora de lugar; pelo contrário, sentimos que tem razão. No entanto, Jesus responde: «Marta, Marta! Preocupas-te e andas agitada com muitas coisas; porém, uma só coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.»

“É uma resposta surpreendente – comenta o Pontífice – Jesus muitas vezes inverte a nossa maneira de pensar. Perguntemo-nos, por que o Senhor, apreciando a generosa diligência de Marta, afirma que a atitude de Maria deve ser preferida?”, disse, acrescentando:

De facto, reconhece o compromisso de Marta. No entanto, Ele quer fazê-la entender que há uma nova ordem de prioridade, diferente da que ela tinha seguido até então. Maria sentiu que há uma “melhor parte” que deve ter o primeiro lugar que é “escutar as palavras de Jesus”.

“Isso não diminui o valor do compromisso prático, mas ele não deve preceder, mas fluir da escuta da palavra de Jesus, deve ser animado pelo seu Espírito. Caso contrário, se reduz a uma correria e agitação pelas muitas coisas e reduz-se a um ativismo estéril”, observou.

Como estamos no período de férias na Europa, o Papa convidou a aproveitar este tempo “para parar e escutar Jesus”:

O período de verão também pode ser precioso para abrir o Evangelho e lê-lo lentamente, sem pressa, uma passagem a cada dia, uma pequena passagem do Evangelho. Isso faz-nos entrar nessa dinâmica de Jesus.”

Segundo o Pontífice, “às vezes, começamos o dia automaticamente, fazendo, como as galinhas. Não! Devemos começar o dia, primeiro, olhando para o Senhor, lendo a sua palavra breve, mas que esta seja a inspiração do dia. Se pela manhã sairmos de casa com uma palavra de Jesus na mente, certamente o dia ganhará um tom marcado por essa palavra, que tem o poder de orientar as nossas ações de acordo com o que o Senhor quer”.

O Papa viaja ao Canadá para “encontrar e abraçar os povos indígenas”

No final da oração do Angelus deste domingo, o Papa Francisco recordou que, no próximo domingo, 24 de julho, terá início a sua 38ª viagem apostólica que o levará ao Canadá, de 24 a 30 de julho. Francisco visitará as cidades de Edmonton, Maskwacis, Québec e Iqaluit.

Francisco dirigiu-se aos canadenses, dizendo que estará entre eles “sobretudo em nome de Jesus para encontrar e abraçar os povos indígenas”.

“Infelizmente, no Canadá, muitos cristãos, incluindo alguns membros de institutos religiosos, contribuíram para as políticas de assimilação cultural que, no passado, prejudicaram gravemente, de várias maneiras, as comunidades nativas. Por essa razão, recebi recentemente no Vaticano alguns grupos, representantes dos povos indígenas, aos quais manifestei a minha tristeza e a minha solidariedade pelo mal que sofreram” explicou.

“Agora estou a preparar-me para fazer uma peregrinação penitencial, que espero, com a graça de Deus, possa contribuir para o caminho de cura e reconciliação já empreendido” concluindo, pedindo que o acompanhem nesta viagem em oração.

II Congresso Católico Pan-africano: transformar em realidade os sonhos africanos

O Papa Francisco dirigiu, esta terça-feira, através de uma mensagem de vídeo, aos participantes do II Congresso Católico Pan-africano de Teologia, Sociedade e Vida Pastoral a decorrer em Nairobi, Quénia, na Universidade Católica da África Oriental.

O encontro é promovido pela Rede Católica Pan-africana de Teologia e Pastoral e reúne mais de 80 líderes religiosos e estudiosos dos cinco continentes.

Segundo o Papa, este encontro “é um sinal de esperança de que teólogos, leigos, sacerdotes, religiosos, religiosas e bispos tenham tomado a iniciativa de caminhar juntos. Reunir-se para discernir o que Deus nos diz hoje, não apenas para responder às necessidades que certamente são um desafio, mas também para transformar em realidade os sonhos africanos (sonhos sociais, culturais, ecológicos e eclesiais) que são um sinal de uma Igreja africana em saída”.

Nas suas visitas a África, o Papa sempre se impressionou “com a fé e a resiliência desses povos”:

Como comentei na minha viagem à República Centro-Africana, em 2015, a «África sempre nos surpreende». Façam emergir o melhor de vocês nesta reflexão para que seja surpresa, para que nasça essa criação africana que nos surpreende a todos”, disse o Pontífice.

Segundo Francisco, “a sabedoria dos ancestrais africanos lembra-nos, para este importante encontro, que “as montanhas nunca se encontram, mas as pessoas sim”. Sigam em frente. Juntos. Acompanhando-nos, ajudando-nos e crescendo juntos”.

Criação: o convite do Papa a responder com os factos ao “grito da Terra”

Foi divulgada esta quinta-feira a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, no dia 1 de setembro.

Este Dia inaugura o “Tempo da Criação”, que vai até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis – uma iniciativa ecuménica inspirada pelo Patriarcado de Constantinopla que une os cristãos em torno da necessidade de uma conversão ecológica.

O tema deste ano é “Escuta a voz da criação”. Esta voz, lamenta o Papa na mensagem, tornou-se um “grito amargo”, ou melhor, um coro de gritos em decorrência dos maus-tratos humanos: grita a Mãe Terra, gritam as criaturas, gritam os mais pobres e, entre eles, os povos indígenas, e grita a futura geração.

Diante deste quadro, é preciso limitar o colapso dos ecossistemas e há uma única opção segundo Francisco: arrependimento e mudança dos estilos de vida e dos modelos de consumo e produção. Não só em âmbito individual, mas também comunitário. Esta catástrofe ecológica, afirma o Pontífice merece a mesma atenção que outros desafios globais, como as graves crises sanitárias e os conflitos bélicos:

Na base de tudo, deve estar a aliança entre o ser humano e o meio ambiente que, para nós fiéis, é espelho do amor criador de Deus.”

Eis então o apelo do Papa:

“Quero pedir, em nome de Deus, às grandes empresas extrativas – mineiras, petrolíferas, florestais, imobiliárias, agro-alimentares – que deixem de destruir florestas, zonas húmidas e montanhas, que deixem de poluir rios e mares, que deixem de intoxicar as pessoas e os alimentos.”

Neste sentido, escreve ainda o Papa, “é impossível não reconhecer a existência duma ‘dívida ecológica’ das nações economicamente mais ricas, que poluíram mais nos últimos dois séculos”. Por outro lado, os países menos ricos não estão isentos das suas responsabilidades. “É necessário agirem todos, com decisão. Estamos a chegar a um ponto de rutura.”

JM (com recursos Vatican News)

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21 de Julho de 2022