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A Palavra do Papa: o fogo aceso, o caminho de salvação, o cântico da esperança e a aliança que salvará

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“O testemunho dos idosos é credível para as crianças: os jovens e os adultos não são capazes de torná-lo tão autêntico, tão terno, tão pungente, como os idosos podem”, afirmou o Pontífice na Audiência Geral desta quarta-feira.

Angelus: a fé verdadeira é um fogo aceso para nos manter despertos e laboriosos

A passagem de São Lucas do Evangelho deste XX Domingo do Tempo Comum: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!”, inspirou a reflexão do Papa no Angelus dominical. E logo no início de sua locução, dirigindo-se aos peregrinos reunidos na Praça São Pedro, perguntou “de que fogo” Jesus está a falar e qual o significado dessas palavras para nós hoje.

Jesus – explicou Francisco – veio trazer o Evangelho ao mundo, a boa nova do amor de Deus. Neste sentido, o Evangelho “é como um fogo, porque se trata de uma mensagem que, quando irrompe na história, queima os velhos equilíbrios de viver, desafia a sair do individualismo, a vencer o egoísmo, a passar da escravidão do pecado e da morte para a nova vida do Ressuscitado.”

Ou seja, o Evangelho não deixa as coisas como estão, “quando passa, é ouvido e recebido, as coisas não permanecem como estão. O Evangelho provoca a mudança e convida à conversão” e “acende uma inquietude que nos coloca em caminho, nos impele a abrir-nos a Deus e aos irmãos”.

Mas, “o que significa para nós então essa palavra de Jesus, do fogo?”, perguntou o Santo Padre:

Ela convida-nos a reacender a chama da fé, para que ela não se torne uma realidade secundária, ou um meio de bem-estar individual, que nos faz fugir dos desafios da vida e do compromisso na Igreja e na sociedade.”

E então, o convite para examinarmos na nossa vida, se “somos inflamados pelo fogo do amor de Deus e queremos “lançá-lo” no mundo, levá-lo a todos, para que cada um possa descobrir a ternura do Pai e experimentar a alegria de Jesus, que dilata o coração e torna a vida bela.

Nos apelos após rezar o Angelus, o pensamento do Papa dirigiu-se à população da Somália, que se debate com uma grave crise humanitária ligada a uma seca sem precedentes: “as populações desta região, que já vivem em condições muito precárias, encontram-se agora em perigo mortal devido à seca. Faço votos que a solidariedade internacional possa responder eficazmente a esta emergência.”

Papa: misericórdia e piedade para o martirizado povo ucraniano

Após a oração do Angelus, o Papa recordou que há vinte anos, em Cracóvia, São João Paulo II pronunciou o ato de entrega do mundo à Divina Misericórdia, e pediu ao Senhor uma “misericórdia especial” para a população ucraniana, vítima de um conflito que começou há quase seis meses.

Francisco lembrou os “numerosos peregrinos que se reuniram no Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia, onde há vinte anos São João Paulo II fez o ato de entrega do mundo à Divina Misericórdia. Hoje, mais do que nunca, vemos o sentido desse gesto, que queremos renovar na oração e no testemunho de vida. A misericórdia é o caminho da salvação para cada um de nós e para o mundo inteiro.”

Então, o pedido pela população ucraniana: “Peçamos ao Senhor uma misericórdia especial, misericórdia e piedade pelo martirizado povo ucraniano”.

Assunção de Nossa Senhora: Magnificat, “o cântico da esperança”

No Angelus desta segunda-feira, Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, o Papa explicou o significado do Magnificat, o canto da Mãe de Jesus que foi transmitido pelo Evangelho de Lucas, que narra a obra de Deus na história e também anuncia uma inversão de valores, profetizando o que Jesus dirá.

O Evangelho – disse Francisco – propõe-nos o diálogo entre Maria e a sua prima Isabel. “Quando Maria entra em casa e saúda Isabel, diz-lhe: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Estas palavras, cheias de fé, alegria e encanto, passaram a fazer parte da “Ave Maria”. Cada vez que recitamos esta oração tão bonita e familiar, fazemos como Isabel: saudamos Maria e a bendizemos, porque ela nos traz Jesus. Maria acolhe a bênção de Isabel e responde com o cântico, um presente para nós, para toda a história, o Magnificat. é um canto de louvor, que poderíamos definir como “o cântico da esperança”.

Ela, pequena e humilde, foi elevada e – festejamos hoje – levada à glória do Céu, enquanto os poderosos do mundo estão destinados a permanecer de mãos vazias. Nossa Senhora, em outras palavras, anuncia uma mudança radical, uma inversão de valores. Enquanto fala com Isabel tendo Jesus no ventre, antecipa o que seu Filho dirá, quando proclamará bem-aventurados os pobres e humildes e advertirá os ricos e os que confiam na sua própria autossuficiência.”

A Virgem, portanto, profetiza que a ter o primeiro lugar não é o poder, o sucesso e o dinheiro, mas o serviço, a humildade e o amor. “Olhando para ela na glória, compreendemos que o verdadeiro poder é o serviço e que reinar significa amar. E que este é o caminho para o céu”.

Maria – continuou o Papa -, “mostra-nos que o Céu está ao alcance da mão, se também nós não cedermos ao pecado, louvarmos a Deus com humildade e servirmos aos outros com generosidade.

No final do Angelus na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, o Papa Francisco fez o convite a quem tem a possibilidade de visitar um santuário mariano, e também a rezar pela paz.

Audiência Geral: a aliança das pessoas idosas e das crianças salvará a família humana

“O testemunho dos idosos é credível para as crianças: os jovens e os adultos não são capazes de torná-lo tão autêntico, tão terno, tão pungente, como os idosos podem.”

São as últimas catequeses sobre a velhice, como anunciado pelo Papa na Audiência Geral da última quarta-feira. E na de hoje, Francisco de uma forma quase poética falou desta aliança entre os idosos e as crianças, aliança esta que salvará a família humana.

A sua inspiração são as palavras do sonho profético de Daniel que evocam uma visão de Deus misteriosa e ao mesmo tempo esplêndida, e que são retomadas no Livro do Apocalipse e se referem a Jesus Ressuscitado, que aparece ao Vidente como Messias, Sacerdote e Rei, eterno, omnisciente e imutável e lhe diz: “Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive. Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos.”

De facto, explicou, “a visão transmite uma impressão de vigor e força, nobreza, beleza e encanto. O vestido, os olhos, a voz, os pés, tudo é esplêndido. Seus cabelos, porém, são cândidos: como a lã, como a neve. Como os de um idoso”.

O termo bíblico mais comum para indicar ancião – acrescentou – é “zaqen”: de “zaqan”, que significa “barba”. O cabelo branco é o símbolo antigo de um tempo muito longo, de um passado imemorável, de uma existência eterna.

Não devemos desmitificar tudo para as crianças: a imagem de um Deus idoso com cabelos brancos não é um símbolo, é uma imagem bíblica, nobre e também terna. A figura que no Apocalipse está entre os castiçais de ouro se sobrepõe à do “Antigo dos dias” da profecia de Daniel. É velho quanto toda a humanidade, e ainda mais. É antigo e novo como a eternidade de Deus.”

“A velhice deve dar testemunho – para mim este é o cerne, o mais central da velhice – a velhice deve dar testemunho às crianças da sua bênção: ela consiste na sua iniciação – bela e difícil – ao mistério de um destino à vida que ninguém pode aniquilar. Nem mesmo a morte. Dar testemunho de fé diante de uma criança é semear aquela vida, dar testemunho de humanidade e de fé é a vocação dos idosos. Dar às crianças a realidade que viveram como testemunho, dar o testemunho. Nós, velhos, somos chamados a isso, a dar testemunho, para que elas o levem em frente.”

Então, do próprio Francisco, uma afirmação também profética: “Onde as crianças, onde os jovens falam com os velhos, há um futuro; se não houver este diálogo entre velhos e jovens, o futuro não é claro. A aliança dos velhos e das crianças salvará a família humana”.

JM (com recursos Vatican News)

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18 de Agosto de 2022