comprehensive-camels

Setúbal/Tradições: Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia

20220823-festas-nossa-senhora-troia (19)

Há cerca de trinta anos que quase religiosamente assisto ao Círio Fluvial de Troia, tendo tido o privilégio nos primeiros anos de ir no barco de pescadores com o marítimo Zé da Gaia ou vir no barco a acompanhar Nossa Senhora.

Estas festas tradicionais das gentes do mar já remontam a 1758, transpondo até hoje a mesma simplicidade dos antepassados e autenticidade na fé das famílias. A Festa de Nossa Senhora do Rosário de Troia é organizada pela Paróquia de São Sebastião e pelos pescadores de Setúbal, junto com as entidades locais. Festeja-se a meados de agosto em data marcada consoante as marés do rio Sado.

Este ano, depois de dois anos de ausência por causa da pandemia, as festividades decorreram dentro da normalidade de 10 a 15 de agosto entre Setúbal e Troia.

Os festejos iniciam-se na Igreja de São Sebastião com três noites de oração em honra de Nossa Senhora de Troia e dos marítimos que já pereceram. O sábado começa com a Alvorada em Setúbal e missa solene e segue a procissão pela cidade com os andores majestosamente ornamentados com plantas e flores. No cais, os barcos recebem os andores e com a imagem de Nossa Senhora na proa de um dos barcos, sai a procissão para Troia ao som da fanfarra das bandas e das buzinadelas dos barcos.

 

Chegados à Caldeira, os barcos são saudados pela imensidão de campistas já instalados. Desembarcam os santos e festeiros que seguem para a Capela de Nossa Senhora, onde decorre nova missa. Depois da descontração do jantar recria-se um ritual antigo – a procissão das velas pelo areal e de seguida o baile.

O domingo começa com a grande missa campal e procissão pelo areal, em que assistem os marítimos, paroquianos, forasteiros e autoridades civis, tudo acompanhado pela música da banda e dos próprios barcos. As imagens voltam à capela e aí os devotos no auge da emoção, entregam as suas dores e alegrias, no meio de preces aos seus santos e a Nossa Senhora. Entretanto os campistas, já instalados há dias, têm de antemão planeado o almoço para si e convidados, com as iguarias do melhor pescado cuidadosamente preparado, seguindo-se os jogos no areal e o concurso de barcos engalanados.

Na segunda feira, último dia das festas, e ao final do dia, quando a maré o permite, trazem-se de volta as imagens da capela e inicia-se o tradicional Círio Fluvial da Caldeira para Setúbal. O Círio de regresso é ainda mais majestoso, passando pelo hospital do Outão, onde o sacerdote abençoa os doentes, que estão fora numa emoção de acenos de lenços brancos. Passa depois o Círio pela Nossa Senhora do Cais e termina na doca do Comércio, acompanhado em terra por muita gente, ao som de fervorosos cânticos que ecoam no barco que leva Nossa Senhora.

A imagem Nossa Senhora regressa à Caldeira, os andores são desmanchados, as flores distribuídas e começa a nostalgia de se verem terminadas as festas, já numa renovação de promessas para o ano seguinte.

As festas de Troia assumem uma importância cada vez maior, trazendo gente de todo o lado para verem de perto celebrações tão genuínas e tradicionais, mostrando um espetáculo visual deslumbrante, plenamente revelador da identidade cultural e religiosa dos marítimos de Setúbal. São gerações e gerações que vão continuando a tradição das festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia, numa união extrema das famílias e sentido de comunidade que faz a ligação ao longo dos séculos.

Isabel Melo, Paróquia de São Sebastião

Fotos: Isabel Melo, Padre Casimiro Henriques e Município de Setúbal

Partilhe nas redes sociais!
24 de Agosto de 2022