No passado mês, de 26 a 29 de Agosto de 2022, último fim de semana de Agosto, realizou-se a Festa Grande de Nossa Senhora da Atalaia, considerada desde há séculos a Romaria mais antiga do Sul do país. Durante os 4 dias o Santuário esteve aberto, de manhã até à noite, bem como o Museu dos Ex-Votos, a Casa da Cera e os Artigos Religiosos.
Este ano, sem os impedimentos da pandemia, foram muitos os que se deslocaram em peregrinação durante a Festa Grande, ao Santuário.
Os Círios, forças vivas, da fé e da devoção a Nossa Senhora da Atalaia, voltaram e cumpriram as suas promessas. Manifestaram a sua devoção e amor à Senhora da Atalaia, como o têm realizado no decorrer dos séculos, desde o mais antigo ao mais recente.
Ao fim de 2 anos, foi com alegria que vemos voltarem tantos à casa da Mãe. O encontro de muitos com Nossa Senhora, foi marcado pelas lágrimas, pelos olhos vidrados, pelo silêncio, onde, sob o olhar maternal da Senhora, cada um encontra o conforto para os seus problemas, doenças, dúvidas, perdas, medos, ou seja, encontram o seu refúgio. Uns agradecendo, outros fazendo os seus pedidos, cada um é acolhido, escutado pela Senhora da Atalaia, Mãe de Misericórdia, que ama cada um de nós apesar da nossa miséria, dos nossos pecados. Ela que é Mãe Clemente, ampara todos os que Lhe suplicam com o seu amor, e ninguém saiu de Sua casa, de coração vazio, sem esperança, sem amor, sem o colo materno, sem a doçura do seu olhar.
Dos 4 dias de Festa, destaca-se com maior relevo o Domingo da Festa Grande. Nesse dia, às 11h, celebrou-se a Santa Missa, no adro do Santuário, na Solenidade de Nossa Senhora de Atalaia, Rainha e Mãe de Misericórdia. À tarde, às 18h30, realizou-se a Procissão em Honra de Nossa Senhora da Atalaia, integrando todo os círios e ranchos por ordem de antiguidade. À medida que chegavam ao adro do Santuário, os Círios, Ranchos Folclóricos permaneciam no recinto, aguardando a chegada de Nossa Senhora da Atalaia. No final houve saudação a Nossa Senhora pelos Ranchos Folclóricos e depois a Bênção com o Santo Lenho.
Foi com alegria que voltámos a viver a Festa Grande, nos moldes de sempre conhecidos, onde ninguém foi impedido de manifestar a sua fé, o seu amor a Nossa Senhora da Atalaia. Devemos rezar para que a fé e a devoção a Nossa Senhora da Atalaia, cresça e nunca morra nos corações, e continue a perdurar ao longos dos séculos, quer nos Círios, na comunidade paroquial, nos voluntários do Santuário e a todos os que têm amor a Nossa Senhora. Que Nossa Senhora da Atalaia, do seu Altar, olhe por nós e nos socorra das angústias do tempo presente: do flagelo da seca que assola o país, da guerra e por tantas vidas ceifadas injustamente, da falta de fé e de amor a Deus. Que Nossa Senhora da Atalaia seja sempre o nosso refúgio, nos ajude a crescer na fé, na esperança e na caridade, e nos indique sempre o caminho, que é Jesus, o caminho, a verdade e a vida.
D.E., Santuário de Nossa Senhora da Atalaia
Testemunhos
Ao longo destes 16 anos em que tenho sido voluntária na Festa Grande em Honra da Nossa Senhora da Atalaia vi algumas coisas mudarem, algumas coisas acabarem e outras coisas novas surgirem. Voluntários que permanecem e voltam todos os anos, voluntários que desistiram e outros que vêm pela primeira vez e querem voltar. Tudo isto são acontecimentos e factos próprios das vicissitudes da vida, de formas de pensar diferentes e também das capacidades e vontades de cada pessoa.
Mas a Festa Grande felizmente ainda mantém uma constância nas coisas que são deveras importantes e que nos fazem querer continuar ano após ano. A Festa Grande é e continua a ser para Honrar a Nossa Mãe Bendita e para agradecer todas as intercessões que Ela opera por nós junto de Seu Filho Nosso Senhor Jesus Cristo. Honramos Nossa Senhora com as portas do nosso Real Santuário abertas de manhã até à noite durante os 4 dias, Honramos Nossa Senhora e Seu Amado Filho na Santa Missa no Adro do Santuário, para que todos tenham lugar e participem no Santo Sacrifício da Eucaristia. Honramos Nossa Senhora da Atalaia com a Procissão em Seu Louvor que conta com a presença dos Círios, Ranchos, Bombeiros e Peregrinos que acompanham a Procissão. Honramos Nossa Mãe do Céu com a reza do Terço e da Oração do Angelus, todos os dias no nosso lindo Santuário. Honramos Nossa Senhora com a vinda cada vez em maior número de Peregrinos a cavalo, retomando assim uma antiga tradição. Honramos Nossa Senhora com a exposição no Museu dos Ex-Votos de ofertas sinceras e generosas de objectos ligados a quem pediu um milagre à Mãe e foi concedido. Por fim, honramos a Rainha do Céu, Nossa Padroeira, com a presença de todos os que aqui se dirigem com Fé e Devoção.
Alguns peregrinos vêm à Festa Grande desde que eram crianças, uns a acompanharem os avós, outros os pais que por sua vez também acompanharam os seus pais e também eles já com filhos. A Devoção a Nossa Senhora da Atalaia passa de geração em geração, sem limite de idade e por vezes sem limites físicos próprios da idade.
A Festa Grande tem vindo a crescer em número de presença de Círios, do retomar de tradições ancestrais com preceito e rigor, algumas estabelecidas pelos Círios, na religiosidade inerente à própria Festa e na vinda de Peregrinos de várias partes de Portugal que se deslocam ao Nosso Santuário para rezar e “estar” com a Nossa Senhora. Este crescimento deve-se ao trabalho incansável, dedicado, obstinado, apaixonado e rigoroso, com algum sacrifício físico e “nervos à flor da pele”, do nosso Pároco e Reitor. Ao nosso Padre devemos a realização da Festa Grande durante os 2 anos de pandemia, sem nunca esmorecer ou baixar os braços, ao nosso Padre devemos o preservar da Tradição, ao nosso Padre devemos a forma cada vez mais correcta, adulta e religiosa de mostrar e abraçar a nossa Fé. Ao nosso Padre devemos a plenitude da Festa Grande.
Nossa Senhora da Atalaia nos proteja e nos guarde de todo o mal. Amen.
A.P.M.
Este ano, sexta-feira, dia 26 de Agosto, logo pela manhã, os voluntários habituais são distribuídos numa escala previamente elaborada para a colaboração na Festa Grande, em honra de Nossa Senhora da Atalaia. A boa vontade é uma constante. No Santuário todos querem acolher bem os peregrinos, os visitantes. No fim do dia abre oficialmente a festa. Ouvem-se os morteiros. Começa a afluência ao Santuário ainda de forma gradual.
A Igreja do Santuário é o centro da Festa, onde Nossa Senhora da Atalaia Se encontra em destaque. Todos A procuram. Está bem presente a força da Fé.
Sábado, logo às 8h da manhã, reabre o Santuário. A Santa Missa é às 9h. Depois segue-se um longo dia de movimento de pessoas e acontecimentos. Ouvem-se cavalos que acompanham a procissão e terminam no adro da Igreja com uma bênção especial.
São dias cheios de oração. As Missas, a recitação do Terço comunitário a chegada de Círios, a procissão em honra de Nossa Senhora da Atalaia. Nestes dias participam também os Bombeiros com a sua banda de música. Esta festa é cada ano mais bonita pelo sucessivo renovar das tradições, pela afluência e participação dos Círios.
Normalmente, é habitual eu e outras senhoras sermos destacada para o museu dos Ex Votos. A nossa experiência é em parte vivida da janela, onde se observam alguns eventos religiosos a acontecer no adro da Igreja. É tempo de interajuda e colaboração. Laços de amizade são reforçados entre voluntários, pelo nosso objectivo comum de devoção. Este ano entre os habituais peregrinos apareceram novos visitantes no museu dos Ex Votos, que desconheciam a sua existência. Num texto introdutório presente no museu e com algumas breves explicações, os visitantes tomam consciência do quão antigo é este Santuário. Interessados, admiram as diversas formas de devoção e de agradecimento à Nossa Senhora por milagres concedidos.
Nestes dias, tal como noutros tempos as gentes vão afluindo ao Santuário, mantendo a tradição e a mesma devoção. Vêm pôr velas para “pagar” as promessas. Fazem as suas orações, outros pedidos e renovam promessas.
Na hora da Missa fecham todos os espaços destinados aos visitantes. É hora de rezar em comunidade! E é assim durante quatro dias de Festa.
A Festa Grande termina este ano no dia 29 de Agosto, com fogo de artifício que muitos dos que se encontram no Santuário contemplam. Para o ano haverá mais, se Deus quiser.
S.C.
Sentada tranquilamente, olho os azulejos das paredes laterais, os arranjos de flores, as velas acesas e depois demoro-me a admirar a imagem de Nossa Senhora da Atalaia, no seu altar. É uma figura de feições toscas que não é propriamente bonita e, no entanto, é das coisas mais lindas que já vi. É impossível não nos sentirmos atraídos pela benevolência do seu olhar, pelo magnetismo da sua presença. Poder-se-á pensar que é a brancura das vestes ou o ouro dos ornamentos que prendem a nossa atenção. Talvez o charme inigualável de uma mãe que segura o seu filho. Mas não, é bem mais do que isso. É uma força que nos chama, que nos impele e que não conseguimos explicar.
Foi essa força que, há três semanas atrás, trouxe até ao santuário centenas de peregrinos. Dissipadas as nuvens mais negras da pandemia, foi possível voltar a fazer grande a Festa Grande como antes da pandemia. E cá estiveram os que nunca faltaram (mesmo durante as restrições pandémicas), os que voltaram, os que nunca tinham vindo e aqueles que não apareciam há muitos anos. Todos atraídos pela tal força misteriosa que faz arder o coração.
Organizou-se um pequeno exército de voluntários para receber todos os peregrinos.
Fiz, mais uma vez, parte desse exército e aqui passei os dias da Festa. Foi cansativo, senti falta da tranquilidade do santuário em silêncio, mas senti-me feliz por ver o regresso das multidões. Os que vêm a sorrir, os que choram, os que cumprem a promessa do familiar já falecido, os que acendem a vela porque “dá sorte”. Na verdade, acredito que todos eles, todos nós, nos deixamos atrair pela força poderosa representada numa simples figura tosca. É por Ela e para Ela que todos cá estamos, porque sabemos que é esse o caminho certo.
S.M.
Durante a Festa Grande deste ano fiz voluntariado no Museu dos ex-votos onde tive a oportunidade de contactar e conhecer os visitantes, que são, em grande maioria, familiares das pessoas que fizeram promessas a Nossa Senhora da Atalaia.
Tocou-me particularmente a situação dos familiares tanto da criança que sofreu um acidente como o dos familiares das pessoas que na ocasião a ajudaram.
Passadas décadas a devoção e Fé destas pessoas, que não se conhecem umas às outras, leva-as a dar a conhecer os acontecimentos aos seus filhos, netos e bisnetos.
Posso por isso afirmar que participar na Festa Grande foi para mim uma experiência comovente e transformadora.
H.A.
Festa Grande de Nossa Senhora da Atalaia 2022: uma festa diferente, reconciliadora e de esperança
Esta festa na parte não religiosa é constituída por várias festas dentro da Festa Grande, e pareceu-me existir uma diminuição do número de feirantes e divertimentos em relação ao período pré-pandemia, logo menos festa.
Na nossa Festa do coração, na parte religiosa, tivemos talvez uma das mais bonitas e concorridas procissões de sempre e pareceu-me ver mais movimento, apesar de se sentir a contenção nos gastos.
Eu, desde o primeiro ao último dia, não consegui ter um momento de descanso, nem consegui passear pela feira, nem participar em nada à excepção da Santa Missa, e, incrivelmente, todos os dias pela manhã pedia a Nossa Senhora que o dia que começava fosse ainda mais movimentado que o anterior, e normalmente, Ela atendia-me.
Eu, com os restantes companheiros na ajuda da queima das velas, não estávamos a queimar velas, estávamos numa das mais importantes tarefas da festa.
Estávamos a ser intermediários nas suplicas e ofertas a Nossa Senhora, cada vela representava sentimentos e esperança, gratidão e preces nas necessidades e aflições da vida, de cada um daqueles peregrinos, cada vela era o mundo e a vida de uma alma.
Cada vela representava também a aproximação de um filho à mãe, da conversa com Nossa Senhora, de um momento de reflexão, da amizade e amor do criador, muita coisa mesmo, um milagre.
Por isso, quando acontecia um peregrino nos perguntar: Vocês deixam arder as velas até ao fim? A resposta pronta e sentida era sempre: Ai de nós senão o fizéssemos.
Cada vela, mesmo as mais minúsculas e pobres, eram manejadas como se de um tesouro se tratasse.
E ficávamos felizes com os peregrinos que voltavam uma e outra vez com familiares e amigos, para que eles também pudessem experimentar a proximidade com Deus, pudessem mesmo que por breves segundos sentir o coração abrasado de amor.
Quando estavam cara a cara comigo, mesmo por pouco tempo, tinham toda a atenção do mundo, só eles existiam, mais nada interessava.
Aquele espaço também era muito duro para quem lá trabalhava, porque sentíamos em cada pessoa, como o mundo mudou, como ficou mais agressivo, menos compreensivo, com mais stress, com novas e velhas dificuldades aumentadas, com mais ódios, com mais pequenas guerrinhas inúteis e idiotas, com menos Igreja. Um mundo perdido, que dá pena.
Mas, quando compravam uma vela, iam ao Santuário e depois vinham colocá-la a queimar, parece que tudo mudava, e que no rosto se operava uma mudança, tudo, ficava calmo, em paz e a esperança renascia.
Foi uma grande honra e alegria poder ter servido num lugar assim, numa festa assim, poder ainda que muito modestamente trazer um pouco de Deus a toda esta gente perdida e faminta, sem consciência dessa fome.
Terminámos a festa muito cansados, mas imensamente felizes, obrigado.
J.M.