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Juventude: “Falar aos jovens de hoje não é igual a falar aos jovens de há 100 anos, nem de há 10 anos” – Padre Luís Rafael Azevedo

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Nos dias 10 e 11 de outubro, o Padre Luís Rafael Azevedo, diretor do Departamento Diocesano da Pastoral de Jovens de Lamego (DDPJ Lamego), refletiu com os aos agentes de pastoral juvenil da nossa diocese sobre o tema “Falar de Jesus aos Jovens: sem papas na língua”.

“Falar aos jovens de hoje não é igual a falar aos jovens de há 100 anos, nem de há 10 anos. A maneira como eles estão disponíveis para escutar não é igual, a linguagem que eles utilizam não é a mesma. É desafiante porque não dá para pegar na catequese da semana passada e aplicar agora, pegar na metodologia utilizada há não sei quantos anos e aplicar amanhã”, explicou o Padre Luís Rafael Azevedo.

Segundo o sacerdote de 30 anos de idade, salientou que os animadores de grupos de jovens têm de estar constantemente atentos “à realidade dos jovens de outubro de 2022, dos jovens de amanhã”: “Temos de estar muito atentos, perceber como é que eles sentem, como é que eles veem, como é que eles falam. E tudo isso é um desafio muito grande mas é essencial para conseguirmos comunicar com eles”.

“É preciso muito cuidado com a escolha das palavras, dos temas, do ponto de partida, tudo é essencial. Há cuidados a ter porque também nesta área da comunicação de Jesus temos de perceber que o que muitas vezes acontece é que o caminho que fizemos é um bocadinho mais longo do que aqueles que eles já fizeram na fé, e não podemos querer que eles estejam no patamar que nós estamos”, desenvolveu.

O Departamento da Juventude da Diocese Setúbal realizou uma nova proposta do caminho formativo Animador GetReady,  um itinerário que se insere no âmbito da preparação para a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, no Externato Diocesano Frei Luís de Sousa (Almada) e na Cúria Diocesana (Setúbal), respetivamente dias 10 e 11.

 

O diretor do Departamento Diocesano da Pastoral de Jovens de Lamego quando propõe uma comunicação sem papas na língua “não é com sentido negativo de ser destravado, de dizer o que não se deve”, mas é no âmbito e na lógica positiva, “de comunicar de forma clara, e de fazer chegar aos outros uma mensagem que eles entendam”.

“Todos temos algo para comunicar, na Igreja temos alguém e não podemos limitar-nos a palavrinhas, ou a coisinhas, mas ser claros, às vezes, esticar um bocadinho a corda, dizer algo que o outro não está à espera para despertar a atenção, a curiosidade e acima de tudo permitir a fluidez da linguagem, que não só me permita a mim estar à vontade com quem está minha frente mas também com o outro a quem eu quero comunicar”, explicou.

Os grupos de jovens são constituídos por faixas etárias variadas, dos 14 aos 44, às vezes, e muitas das vezes é difícil conseguir que a mensagem chegue a todos ao mesmo tempo. O Padre Luís Rafael Azevedo aconselha a “um equilíbrio” que permita ao grupo no seu caminho de fé, por vezes, “dar uns passos atrás, recuar, baixar um pouco a fasquia, no sentido de permitir aqueles que estão a entrar, a iniciar esta caminhada cristã entenderem o porquê de estarem ali, entenderem o que é isto da fé, entenderem o que é uma Jornada Mundial da Juventude”.

“É maneira mais frutífera de trabalhar em grupo de jovens com várias idades, os mais velhos terem a noção que às têm de dar uns passos atrás, simplificar e compreender o ponto de partida em que estão os mais jovens e aqueles que estão a começar contarem com o apoio dos mais velhos. Partilham na sua essência aquilo que é a juventude de sempre, audácia, arriscar, o fazer algumas asneiras, querer ir sempre mais além do que é permitido”.

O responsável pelo DDPJ Lamego realça que o “sonhar, está nos jovens de hoje, de ontem, e de sempre”, mas em outubro de 2022 têm algumas características próprias: “Gostam de algo personalizado, de ser surpreendidos, que lhes possibilitemos experiências únicas e nesta perspetiva da fé gostam que mostremos Jesus de uma maneira um pouco diferente daquela que estão habituados a ouvir porque parece que não lhes serve”.

Num grupo de jovens, a faixa etária dos 15 aos 20 tem de ser a base da pirâmide, depois dos 20 aos 30 ou 35 uma dúzia de jovens que dão sustento e caminhada, e depois alguns líderes, modelos a seguir, que continuam a ter um papel essencial nos grupos, a partir dos 35 anos.

“Quando a pirâmide está ao contrário normalmente cai, quando os mais velhos são muitos, a meia-idade são reduzidos e dois ou três jovens”, alertou.

“Falar de Jesus aos Jovens: sem papas na língua”

 

O formador apresentou também modelos de comunicação aos animadores, mais concretamente três, dos mais antigos do início do cristianismo aos dias de hoje, na reflexão “Falar de Jesus aos Jovens: sem papas na língua”.

1 – Jesus: Um comunicador improvável dentro do seu tempo e contexto de mestre, do que falava e anunciava, com uma linguagem simples e nova;

2 – São Paulo: Vemos que nas suas viagens ia ao encontro das pessoas, era um missionário que quando passa em Atenas adapta a linguagem e consegue converter uns poucos num contexto muito difícil:

“Hoje temos uma situação muito parecida, o contexto em que temos de evangelizar, de falar de Jesus, é complicado por várias razões, uma é semelhante à que São Paulo encontrou: As pessoas têm uma cultura cada vez mais elevada, e ainda bem, às vezes tem ideias muito preconcebidas e falta de abertura à novidade. É nesses contextos que somos chamados a dar testemunho e evangelizar, de maneira adaptada. São Paulo adaptou a linguagem”, exemplificou.

A tese de mestrado em Teologia do Padre Luís Rafael Azevedo tem com o título “Discípulos Missionários do Deus desconhecido”, onde fez uma abordagem bíblica e missionária da ida de São Paulo ao areópago de Atenas nos Actos do Apóstolos (Act 17, 16-34).

3 – Papa Francisco: Temos visto como usa frequentemente expressões que vão ao encontro do dia-a-dia das pessoas. Quando e encontra com os jovens e diz que ‘Maria é a influencer de Deus’, podia ter dito que Maria é um exemplo a seguir; diz que os jovens devem sair do sofá, que devem calçar as sapatilhas, quando podia dizer que não deviam ser preguiçosos.

“Nos seus 85 anos demonstra como é possível ser criativo, adapta esta linguagem e não ter estas papas nas língua. Às vezes diz coisas que pensamos três ou quatro vezes antes de dizer e ele é um exemplo porque nos demonstra que não há limite de idade para inovar e fazer o esforço de ir ao encontro das pessoas para compreenderem a mensagem de Jesus”, indicou o jovem sacerdote.

Peregrinação dos símbolos da JMJ “são dias de graça”

 

O Padre Luís Rafael Azevedo é também o coordenador do Comité Organizador Diocesano (COD) de Lamego para a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023. Esta diocese já recebeu a peregrinação dos dois símbolos da JMJ – a cruz e o ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani.

A nossa Diocese de Setúbal acolhe os dois símbolos e dinamiza esta peregrinação pelas suas sete vigararias de 31 de outubro a 1 de dezembro.

“O primeiro conselho que posso dar, daquilo que é a experiência de Lamego, é dizer-vos aproveitem bem estes dias. São dias de graça, dias exigentes mas, ao mesmo tempo, são úteis e não devem ser desperdiçados. Desafio as comunidades da Diocese de Setúbal a envolverem de facto os jovens nisto, a não ser um plano pensado no escritório do cartório paroquial ou por pessoas com idade para serem pais ou avós. Tentai perceber o que é que eles sentem, escutem as suas propostas.

Tentem, acima de tudo, que esta mensagem da cruz de Jesus e o ícone de Nossa Senhora, que nos leva de preparação até à JMJ toque a Igreja internamente, mas que não fiquem ai aprisionados. Levem os símbolos a sítios imprevistos, que a sociedade em geral de questione sobre o que é que se está a passar.”

Da experiência de Lamego, o diretor do Departamento Diocesano da Pastoral de Jovens destaca as palavras: “Festa e emoção”.

“Não fazer da vinda dos símbolos uma carga pesada de 30 dias a parecer uma Via-Sacra, que não é mas também não fazer apenas um cortejo ou passar a lançar foguetes e balões. Temos de permitir também que este toque na cruz e esta passagem com o ícone alcance a profundidade daquilo que é o coração da fé das pessoas e vá ao mais essencial da nossa vivência cristã”, acrescentou. 

O Padre Luís Rafael Azevedo, partilha também que, viu “muita gente a rir, a saltar, a pular, mas também a chorar. E este equilíbrio pode ser bom”.

“Gostava também de desafiar os grupos de jovens de Setúbal (diocese) a serem originais.”

Departamento de Juventude da Diocese de Setúbal

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21 de Outubro de 2022