Caríssimos irmãos e irmãs diocesanos de Setúbal
Em tempo de Advento e de Natal, somos convidados, particularmente pelos textos que a Liturgia nos oferece, a um olhar mais profundo, e iluminado pela palavra de Deus sobre o nosso quotidiano.
Temos connosco o Menino, anunciado como Salvador pelos profetas e aguardado por muitas gerações. Ele está connosco desde que foi virginalmente concebido no seio de Maria e colocado à adoração dos pastores no presépio de Belém. Ele é o Príncipe da Paz. Quem lhe abrir o coração e puser em prática os seus ensinamentos, torna-se construtor da paz neste tempo de guerras, empenha-se na defesa dos direitos humanos, preferindo, nos momentos mais difíceis, o caminho do diálogo à violência das armas, a cooperação ao culto do ódio.
Terminámos, na nossa Diocese, uma etapa importante da preparação da JMJ de Lisboa: a peregrinação dos símbolos. Continuamos, porém, a preparação com novas etapas e atividades. A Igreja dirige uma especial atenção aos jovens. O Papa Francisco não se cansa de lhes lembrar que eles têm de ser desde já protagonistas: “Através de vós, entra o futuro no mundo. Também a vós, eu peço para serdes protagonistas desta mudança. Continuai a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo. Peço-vos para serdes construtores do futuro, trabalhai por um mundo melhor. Sede servidores dos pobres, sede protagonistas da revolução da caridade e do serviço, capazes de resistir às patologias do individualismo consumista e superficial” (Cristo vive, 2019). Este apelo ao protagonismo vai concretizar-se numa alteração metodológica da próxima Jornada 2023 em relação às anteriores: as habituais “catequeses” que os jovens peregrinos eram convidados a escutar serão substituídas por assembleias em que os jovens serão chamados a partilhar as suas experiências, as suas dificuldades, as suas propostas. Serão os mais velhos, desde o Papa, aos bispos, padres, catequistas, pais, a escutar os jovens. E uns e outros a dialogar entre si, numa Igreja que, deste modo, põe em prática aquilo que quer e deve ser: sinodal.
Encontramo-nos, porém, numa etapa muito dolorosa da Igreja em Portugal. Nos mais pequenos está presente o “Menino” que nos encanta com o seu Natal e a Salvação que nos trouxe. Também ele foi agredido na sua infância e, para escapar, teve de fugir para longe, mas não veio a escapar, mais tarde, à humilhação da cruz. Na Igreja deste Menino, todos, sobretudo os mais pequenos e frágeis, gozam da imensa dignidade de serem filhos de Deus, irmãos de Jesus, e como tais devem ser respeitados e cuidados. É tempo de oração de todos e por todos. É tempo de purificação e de conversão. Só o Menino nascido em Belém nos pode curar deste e de outros males que ensombram a Sua e nossa Igreja, santa e pecadora.
A celebração da solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, no dia 8 de dezembro, tem um significado inspirador neste tempo litúrgico. Entre nós, esta solenidade é celebrada como o Dia da Diocese, sublinhando a invocação mariana de Santa Maria da Graça, pois Maria, na sua inteira liberdade e disponibilidade, e com o poder do Espírito Santo, fez chegar até nós o Menino, Filho de Deus incarnado, primogénito da nova humanidade habitada pela Graça de Deus.
Ela inspira, também, a nossa oração enquanto continuamos a aguardar, na fé e na esperança, o nosso novo Bispo.
Na ausência de Bispo diocesano, a celebração da Solenidade de Santa Maria da Graça, será apenas paroquial. Que esta celebração seja vivida em cada paróquia e comunidade religiosa, com a solenidade possível. Não esqueçamos que o ofertório deste dia, incluindo nas Missas antecipadas, se destina exclusivamente ao fundo diocesano, como sinal de comunhão de todos na mesma Igreja diocesana.
Que os dias de Advento e tempo de Natal sejam, para todos, de peregrinação interior, estando atentos e preparados para receber Jesus, o Noivo que chega e nos abre as portas para a alegria eterna do Reino de Deus.
Setúbal, 3 de dezembro de 2022, na memória de S. Francisco Xavier, padroeiro da cidade de Setúbal
Padre José João Aires Lobato, Administrador Diocesano