Na sua mensagem de Advento e Natal 2022, o Administrador Diocesano, Padre José Lobato, refere-se aos jovens e, especialmente, à peregrinação dos Símbolos da dos Símbolos da Jornada Mundial da Juventude que assinalou,”na nossa Diocese, uma etapa importante da preparação da JMJ de Lisboa”.
Neste dias de Advento, que nos levam ao Natal de Jesus, recordamos este momento particular em que “a Igreja dirige uma especial atenção aos jovens”.
Durante os dias 1 a 4 de Novembro, a Vigararia de Setúbal teve a graça de receber os Símbolos da JMJ no seu território. Foram quatro dias muito exigentes, de entrega total. Contudo, este foi um caminho que iniciámos muito antes, em verdadeira sinodalidade.
Desde o primeiro momento, foi claro para o Conselho Vicarial da Juventude – Comité Organizador Vicarial de Setúbal (COV Setúbal) que queríamos levar os Símbolos a toda a gente, a todas as realidades possíveis. Ser criativos e poetas, como nos pedia o Santo Padre. Mas como o concretizar? Os nossos pilares foram levar os Símbolos aos locais mais inusitados, unir as comunidades em prol de um objetivo comum e envolver toda a população, especialmente aqueles mais esquecidos. E assim, pusemos “mãos à obra” e criámos o programa que apresentámos a todos os setubalenses.
O dia 1, Solenidade de Todos os Santos, foi o nosso “dia forte”. Animados pela Vigília de Oração que decorrera na noite de 31 para 1, passámos a manhã com três grupos muito especiais de jovens: com os rapazes da Casa do Gaiato celebrámos a Eucaristia; seguimos para o Centro Jovem Tabor (que presta acolhimento a jovens em situação de risco social) onde lhes apresentámos a JMJLisboa2023; e terminámos a manhã junto à Igreja da Saúde, num momento de grande alegria, com música e dança, dinamizado pelas jovens da Casa da Nossa Senhora da Saúde, Casa das Irmãs da Apresentação de Maria que se situa junto a esta igreja, tendo contado também com a presença das Irmãs Missionárias da Caridade e as suas crianças com importantes necessidades médicas, cuja casa também se situa junto à mesma.
Durante a tarde, realizou-se a Procissão de Todos os Santos, momento alto da Peregrinação dos Símbolos na nossa cidade. Pela primeira vez, os Círios Marítimos da Nossa Senhora da Arrábida, da Nossa Senhora do Rosário de Troia e da Nossa Senhora dos Navegantes juntaram-se numa procissão comum pelo rio Sado, numa união das três comunidades piscatórias do rio Sado que nunca se teria ousado imaginar. Estas três imagens, acompanhadas pela Cruz Peregrina e pelo Ícone de Nossa Senhora, seguiram em barcos engalanados desde a Doca das Fontaínhas até ao Hospital Ortopédico do Outão onde, o Administrador Diocesano Padre José Lobato, deu a bênção aos doentes ali internados. De seguida, regressámos a terra, até à Doca dos Pescadores. Aí, aguardavam já várias centenas de pessoas, desde crianças até idosos, com uma presença expressiva dos jovens, para iniciarmos a Procissão Terrestre que uniu todas as paróquias da Vigararia, uma iniciativa também inédita. Às imagens que já participavam no troço fluvial, juntaram-se ainda as imagens de S. Sebastião, Nossa Senhora de Fátima, São Francisco Xavier, São Pedro e Nossa Senhora da Anunciada, numa Procissão que percorreu várias artérias da cidade, levando a todos os Símbolos da JMJ.
Chegados à Praça do Bocage, iniciou-se o Festival da Juventude, dinamizado pelos grupos das várias paróquias e com atuações da Fanfarra do Agrupamento de Escuteiros 64 da Paróquia de São José, de vários artistas da Associação Setúbal Academy e de jovens do Colégio Sant’Ana, que nos trouxeram o ambiente de festa, com música e dança, que tanto caracteriza as Jornadas Mundiais da Juventude, concluindo um dia repleto de momentos inesquecíveis.
O segundo dia ficou marcado pela passagem dos símbolos pelos comandos distritais da PSP e da GNR, forças de segurança presentes na nossa cidade, pelo Centro Social São Francisco Xavier, da Caritas Diocesana de Setúbal, onde foi dinamizada a Oração do Terço pelos funcionários e utentes daquela instituição. A final da manhã, os Símbolos foram ainda ao Hospital de São Bernardo, onde estiveram expostos para que doentes, funcionários e voluntários pudessem estar perto deles e ter um momento de oração. Esteve também presente o Administrador Diocesano, que deixou também algumas palavras aos mesmos.
Durante a tarde, houve igualmente a oportunidade de passar por duas instituições de educação, a Escola Profissional de Setúbal e o Instituto Politécnico de Setúbal, onde os jovens puderam estar com os Símbolos, questionar a sua origem e porquê de estes terem ido às suas escolas, promovendo momentos de evangelização únicos de jovens para jovens.
À noite decorreu o Sarau JMJ, no Clube Naval Setubalense, que consistiu numa demonstração dos talentos dos jovens atletas da Ginástica (Tumbling e Trampolins) bem como dos jogadores de Andebol Adaptado em cadeira de rodas, alguns deles integrantes da nossa Seleção Nacional de Andebol Adaptado. Com eles pudemos experimentar esta modalidade, num exercício ímpar de empatia, ao nos colocarmos no lugar do outro e ao enfrentarmos as suas dificuldades por alguns minutos. Foi uma noite de convívio, alegria e de exemplo de superação.
O dia 3 de Novembro focou-se essencialmente nas comunidades estudantis da cidade e no bairro da Bela Vista. Por isso, o dia começou na Escola da Bela Vista em grande festa, e com a visita ao Centro Social Nossa Senhora da Paz, da Cáritas Diocesana de Setúbal, onde funcionários, crianças e pessoas mais velhas tiveram a oportunidade de estar diante dos Símbolos. Seguiram-se a Escola Secundária D. João II e a Escola Secundária D. Manuel Martins, onde os alunos prepararam momentos de dança e música para animar a visita.
A meio da tarde, aconteceu a visita ao Espaço “Nosso Bairro, Nossa Cidade”. Este projeto, cuja área de ação engloba vários bairros com problemáticas sociais importantes, envolve residentes, serviços municipais e entidades sediadas no território num objetivo comum de tornar os moradores protagonistas das decisões e ações de desenvolvimento da comunidade. A presença dos Símbolos proporcionou um maior conhecimento acerca de este projeto na cidade e, também, momentos de oração espontânea com os morados que nos ficarão guardados no coração.
Dali, os Símbolos foram para o Colégio Sant’Ana, numa tarde dinamizada pelos alunos do 1º ao 4º anos, pelo Movimento Juvenil Salesiano e por toda a comunidade salesiana de Setúbal. A paragem seguinte foi o Interface de Transportes de Setúbal onde, aproveitando a “hora de ponta”, se divulgou a JMJLisboa2023 a quem regressava do trabalho ou da faculdade, com distribuição de panfletos e muita música e animação, mesmo com a chuva que se começava a fazer sentir.
O dia terminou com o Concerto de Coros Juvenis na Igreja de São Sebastião, com atuações do Conservatório Regional de Setúbal, Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi, Coral Infantil de Setúbal e Coro Feminino TuttiEncantus. Para este concerto, toda a comunidade São Sebastião se envolveu, preparando não só o espaço da igreja como decorando as ruas em redor, num momento de grande entreajuda e comunhão.
O último dia da passagem dos Símbolos por Setúbal iniciou-se na Escola Secundária Sebastião da Gama e, de seguida, no Mercado do Livramento. Aí, aconteceu um flashmob protagonizado pelo cantor setubalense João Mendonza que interpretou uma versão de Ave Maria e o hino da JMJLisboa2023.
Após o almoço, seguiu-se a ida aos vários polos da Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Setúbal – Quinta da Serralheira, São Pedro (Viso), São Francisco Xavier (Viso) e Lar. Em momentos de grande emoção e partilha, os utentes destes polos puderam estar perto dos Símbolos, tocar-lhes e sentir de perto o amor de Jesus por todos, independentemente das nossas limitações.
Ao final da tarde, houve ainda a visita dos Símbolos aos Bombeiros Voluntários de Setúbal.
Esta peregrinação por Setúbal terminou na Igreja da Nossa Senhora da Conceição onde aconteceu uma vigília de oração mariana e se assinalou a passagem dos Símbolos para a Vigararia de Palmela-Sesimbra, que contou com a presença no Pe. Lobato e da representante do COV Palmela-Sesimbra, Raquel Oliveira.
A oportunidade de estar com a Cruz Peregrina e o Ícone de Nossa Senhora foi transformadora para todos, sem exceção.
“Os Símbolos ajudaram e colocaram-nos em caminho”
Para o jovem Tomás Silvério, representante do Comité Organizador Paroquial da Comporta e condutor da carrinha que transportava os Símbolos durante os 4 dias, “A perseguição dos símbolos na vigararia de Setúbal, transformou sem dúvida a minha vida e vida de tantos que se cruzaram com eles. Vivi acontecimentos e emoções que nunca pensei ou nunca acreditei viver e sentir. Poder levar os símbolos e fazê-los chegar a tantos lugares e as mais diversas realidades sociais foi sem dúvida algo que nunca esquecerei e nem tenho palavras para descrever. Confesso que senti um grande frio na barriga no momento de entregarmos os símbolos a seguinte vigararia, um sentimento de missão cumprida e gratidão pela sua passagem, mas uma grande vontade de ficar mais tempo junto da Cruz Peregrina e do Ícone de Nossa Senhora.”
Já para António Chão, dirigente do CNE no Agrupamento de Escuteiros 64 da Paróquia de São José, um dos momentos altos foi “chegar ao cais da Lota dos Pescadores ver aquela imensidão de gente para iniciar a procissão terrestre a pé com tantos jovens” e a oportunidade servir ao conduzir a carrinha. Assinala também o quanto o surpreendeu que “crianças, jovens e idosos quisessem ajudar na montagem dos Símbolos e, no fim, ninguém os quisesse deixar partir”. Por fim, recorda uma situação curiosa no Interface de Transportes em que um jovem, absorto na sua realidade, não quis aceitar um panfleto informativo sobre a JMJ por achar que se tratava de publicidade e, “quando respondi que era informação sobre a JMJ, retorquiu que até ia às Jornadas”, num claro sinal do quão alheadas as pessoas estão mediante o foco das suas vidas atarefadas.
Contudo, os Símbolos marcam e agitam a vida de todos, leigos e religiosos. Prova disso é o testemunho do Padre Álvaro Lago, salesiano: “Os 4 dias foram um tempo muito belo e intenso de peregrinação. Os Símbolos ajudaram e colocaram-nos em caminho. Um caminho de encontros: encontros de espiritualidade cristã alegre, sã, caridosa e próxima com a vida de muitas pessoas e instituições que acolheram esta experiência de renovação e revitalização.
“O desejo de viver uma enriquecedora Jornada Mundial da Juventude em agosto”
As reações, testemunhos e vivências diárias desta peregrinação deram sinais da importância de vivermos “em saída”, ao encontro de todos, particularmente dos mais jovens, idosos e fragilizados. Outro “grito” desta passagem foi a marca da unidade e da comunhão de vidas; a preparação e acompanhamento dos Símbolos em vigararia, deixa-nos o desafio de fortalecermos a sinodalidade da vida da Igreja desta Vigararia.
E a marca da “Igreja jovem”, a que o Papa Francisco se refere, teve neles também a marca destes dias. Nomeadamente através dos Comités Organizadores Paroquiais (COP) e do Comité Organizador Vicarial (COV) onde se percebeu o grande envolvimento e o sonho de ousar ser missionários, sendo testemunhas do Amor de Deus. A Igreja está viva e quer estar no mundo. Os jovens mostram-nos isso mesmo.
Sentimos que foram dias em que as nossas vidas foram acompanhadas por estes Símbolos que nos deixam alguns desafios prioritários a assumir, que nos deixam a alegria da universalidade da Igreja de Jesus, que nos deixam o desejo de viver uma enriquecedora Jornada Mundial da Juventude em agosto e que nos projetaram para uma vida mais autêntica, em comunhão eclesial.”
Tudo o que vivemos nestes quatro dias ainda é, mesmo hoje após um mês, difícil de exprimir por palavras. Jesus esteve presente em cada um de nós, no Amor ao próximo, no serviço abnegado e apaixonado em Seu nome. Damos graças por tudo o que foi vivido e pelos frutos que virão das sementes que foram deixadas em todos os corações tocados.
Sofia Costa, representante do Comité Organizador Vicarial de Setúbal para a JMJ Lisboa 2023