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Vaticano/Óbito: Faleceu o Papa Emérito Bento XVI (1927-2022)

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O Papa emérito Bento XVI faleceu este sábado aos 95 anos de idade, anunciou o Vaticano.

“Com pesar informo que o Papa Emérito Bento XVI faleceu hoje às 09h34 [08h34 em Portugal], no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Assim que possível, serão enviadas novas informações”, refere uma nota do porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, enviada aos jornalistas.

O corpo do Papa emérito estará na Basílica de São Pedro para a saudação dos fiéis a partir da segunda-feira, 2 de janeiro. O funeral será na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30 locais na Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.

O estado de saúde do Papa emérito tinha vindo a agravar-se nos últimos dias e, na quarta-feira, Francisco pediu orações pelo seu antecessor, referindo que este se encontrava “muito doente”.

Joseph Ratzinger, “colaborador da verdade”

Joseph Aloisius Ratzinger nasceu em Marktl am Inn (Alemanha), no dia 16 de abril de 1927, um Sábado Santo, e passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da Áustria.

Nos últimos meses da II Guerra Mundial (1939-1945), foi arrolado nos serviços auxiliares antiaéreos pelo regime nazi.

Juntamente com o seu irmão Georg, foi ordenado padre a 29 de junho de 1951; dois anos depois, doutorou-se em teologia com a tese ‘Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho’.

De 1962 a 1965, participou no Concílio Vaticano II como ‘perito’, após ter chegado a Roma como consultor teológico do cardeal Joseph Frings, arcebispo de Colónia.

Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o arcebispo de Munique e Frisinga; a 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal e escolheu como lema episcopal ‘Colaborador da verdade’.

O mesmo Paulo VI criou-o cardeal, no consistório de 27 de junho de 1977.

Em 1978, participou no Conclave, celebrado de 25 a 26 de agosto, que elegeu João Paulo I; este nomeou-o seu enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional que teve lugar em Guaiaquil (Equador) de 16 a 24 de setembro; no mês de outubro desse mesmo ano, participou também no Conclave que elegeu João Paulo II.

O Papa polaco nomeou o cardeal Ratzinger como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981.

No dia 19 de abril de 2005, o cardeal Joseph Ratzinger foi eleito como o 265.º Papa, sucedendo a João Paulo II; a 11 de fevereiro de 2013, Dia Mundial do Doente e memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, anunciaria a renúncia ao pontificado, com efeitos a partir do dia 28 do mesmo mês, uma decisão inédita em quase 600 anos de história na Igreja Católica.

“Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino”.

O pontificado de Bento XVI

Bento XVI realizou 24 viagens ao estrangeiro, incluindo uma visita a Portugal, entre 11 e 14 de maio de 2010, com passagens por Lisboa, Fátima e Porto.

No total, as visitas apostólicas tiveram como destino prioritário a Europa (16), seguindo-se a América (3), o Médio Oriente (2), a África (2) e a Oceânia (1); a estas somam-se 30 deslocações em solo italiano.

O falecido papa assinou três encíclicas e presidiu a três Jornadas Mundiais da Juventude (Colónia, Sidney e Madrid), para além de ter convocado cinco Sínodos dos Bispos, um Ano Paulino, um Ano Sacerdotal e um Ano da Fé.

As encíclicas, textos mais importantes do pontificado, começaram a ser publicadas em 2006, com a ‘Deus caritas est’ (Deus é amor), um texto breve que apresenta uma “fórmula sintética da existência cristã”: Deus é amor e os cristãos acreditam nesse amor, fazendo dele a “opção fundamental” da sua vida.

O texto é estruturado em duas partes: a primeira, mais teórica, unifica os conceitos de ‘eros’ (amor entre homem e mulher) e ‘agape’ (a caridade, o amor que se doa ao outro); na segunda, centra-se na ação caritativa da Igreja, que apresenta como mais do que uma mera forma de “assistência social”, mas como uma parte essencial da sua natureza.

‘Spe salvi’ (Salvos na esperança) é o título da segunda encíclica de Bento XVI, de 2007, dedicada ao tema da esperança cristã, num mundo dominado pela descrença e a desconfiança.

“O homem tem necessidade de Deus, de contrário fica privado de esperança”, pode ler-se num texto que cita, entre outros, Platão, Lutero, Kant, Bacon, Dostoievski, Engels e Marx – ao criticar o “materialismo” marxista.

Depois de negar que Jesus tenha trazido uma mensagem “socio-revolucionária”, Bento XVI abordou a questão da evolução para afirmar que “a vida não é um simples produto das leis e da casualidade da matéria, mas em tudo e, contemporaneamente, acima de tudo há uma vontade pessoal, há um Espírito que em Jesus se revelou como amor”.

A terceira encíclica, ‘Caritas in Veritate’ (A caridade na verdade), publicada em 2009, propõe uma nova ordem internacional, para governar a globalização e superar as sucessivas crises, apontando como prioridade a “reforma quer da Organização das Nações Unidas quer da arquitetura económica e financeira internacional”.

Bento XVI propôs “uma nova e profunda reflexão sobre o sentido da economia e dos seus fins, bem como uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento”.

Em 2012, Joseph Ratzinger encerrou a sua trilogia sobre ‘Jesus de Nazaré’ com um livro sobre a infância de Cristo.

A 18 de abril, Bento XVI tornou-se o terceiro Papa a discursar na sede da ONU, depois de Paulo VI, em 1965, e João Paulo II, em 1979 e 1995.

A promoção dos direitos humanos continua a ser a estratégia mais eficaz para eliminar a desigualdade entre os países e os grupos sociais, como também para construir um maior sentimento de segurança”, afirmou, numa intervenção longamente aplaudida, em Nova Iorque.

Entre os temas centrais do pontificado estiveram as críticas ao relativismo e ao secularismo da sociedade ocidental, a preocupação com as questões bioéticas – aborto, eutanásia, investigação em embriões – e da família, para além da crise financeira e das questões ecológicas.

Face à crise provocada pelos casos abusos sexuais cometidos por membros do clero ou em instituições católicas de vários países, Bento XVI encontrou-se com vítimas em várias viagens, demitiu bispos e reformou a legislação da Igreja, neste campo.

Neste pontificado foram canonizados 44 santos em 10 cerimónias, incluindo o português Nuno de Santa Maria, D. Nuno Álvares Pereira, a 26 de abril de 2009; Portugal passou a contar também com duas novas beatas: Rita Amada de Jesus (beatificada a 28 de maio de 2006, em Viseu) e a Madre Maria Clara (21 de maio de 2011, Lisboa).

Nos 2872 dias do seu pontificado, Bento XVI escreveu 17 cartas apostólicas sob forma de motu proprio, 116 constituições apostólicas e 144 cartas apostólicas, além de outras cartas e mensagens, discursos e homilias.

A Homenagem

Bento XVI, eleito em abril de 2005 para suceder a João Paulo II, tinha renunciado ao pontificado em fevereiro de 2013, mantendo uma vida reservada no Mosteiro ‘Mater Eclesiae’, do Vaticano, sem aparições públicas desde a viagem à Alemanha, para visitar o seu irmão mais velho, monsenhor Georg Ratzinger, em junho de 2020 – o sacerdote viria a falecer a 1 de julho.

A 28 de junho de 2016 fez-se história no Vaticano com o regresso do Papa emérito Bento XVI ao palácio apostólico, para uma homenagem por ocasião do seu 65.º aniversário de ordenação sacerdotal.

Já o Papa Francisco, que visitou regularmente o seu antecessor, afirmou num texto de homenagem ao seu predecessor que a Igreja Católica tem uma “grande dívida” para com Bento XVI.

A 29 de junho de 2021, Francisco assinalou o 70.º aniversário de sacerdócio de Bento XVI, agradecendo pelo seu testemunho de vida e de oração pela Igreja.

“Obrigado, Bento, querido pai e irmão, obrigado pelo teu testemunho credível, obrigado pelo teu olhar continuamente dirigido para o horizonte de Deus. Obrigado”, disse, no Vaticano.

Agência Ecclesia

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31 de Dezembro de 2022