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Diácono Telmo Nunes: “Há um Senhor que eu quero consolar”

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A uma semana da sua ordenação sacerdotal, que terá lugar a 30 de junho, na Sé de Setúbal, estivemos à conversa com o Diácono Telmo Nunes onde procurámos saber mais sobre ele, sobre as suas expectativas e a sua caminhada Cristã.

A primeira coisa que nós te queríamos perguntar é: Quem é o Telmo? Quais são as tuas origens?
Muito bem, então eu nasci no dia 12 de novembro de ano de 92, em Almada. A minha família é assim uma mistura entre o meu pai, que é de Lisboa, nasceu em S. Pedro do Estoril, e a minha mãe que nasceu em Miragaia, que é no Porto. Portanto tenho metade da família em Lisboa e outra no Porto.

Nasci e cresci em Almada, mais concretamente uma freguesia no conselho de Almada que é o Laranjeiro, aí fiz toda a minha escola, o meu círculo de amigos, desde o 1º ano até ao 12º ano. Foi aí que cresci também, foi aí também que encontrei a comunidade do Miratejo, enfim, cresci e foi sempre a minha paróquia de… Não de origem porque essa foi Corroios, mas aquela onde dei continuidade à minha caminhada cristã já desde muito novo.

 

E como foram estes anos iniciais da tua caminhada cristã? Sempre foste uma pessoa ativa na tua comunidade?
Sim, tal como estava a dizer eu fui batizado na Igreja de Corroios, Igreja de Nª. Srª. Da Graça, porque, enfim, eu não tenho uma família tradicionalmente católica. Fui batizado com 5 anos, os meus pais também foram batizados no mesmo ano em que eu fui batizado, em 97, e foi aí que eles começaram a caminhada da vida cristã. Mais tarde, por uma questão de prática, nós vivíamos mais perto da Igreja do Miratejo do que de Corroios, então transferimo-nos para a Igreja do Miratejo e foi aí que eu comecei a minha ligação mais próxima com a comunidade e assim destacando, se calhar olho três grandes grupos onde de inseri na paróquia.

O primeiro foi o grupo de acólitos, comecei a ajudar na altura muito, muito pequeno mesmo, com cinco anos, com o Padre Júlio do Vale, que é, enfim, uma figura de sacerdote muito importante na minha vida, determinante no meu percurso vocacional. E aí continuei até aos meus 16 anos.

Depois há assim outro grupo forte e determinante no meu percurso vocacional que é o CNE, os escuteiros, onde estive desde lobito até caminheiro no 699 Miratejo.

Depois outro grupo onde também, assim um bocadinho mais velho, ajudei foi o coro paroquial onde servi como organista.

 

 

O que é que na tua vida te confirmou que era este o caminho que tu querias?
Enfim, Nosso Senhor fala-nos sempre na surpresa, não é? Eu acho que há muitos sinais da minha vida onde eu vou reconhecendo que o Nosso Senhor me ia chamando.

Em primeiro lugar, eu percebo que Nosso Senhor me chama à entrega da minha vida, pelo serviço à Igreja, como Padre, de forma especial na figura de um homem, de um Padre, que é o Padre Júlio. Tal como eu tinha dito, o Padre Júlio do Vale é um homem muito importante na minha vida, foi ele que me batizou, foi ele que me deu a Primeira Comunhão, enfim o testemunho da vida do Padre Júlio interpolou a minha vida, já desde muito pequeno. De tal forma que eu me lembro de comentar muitas vezes com os meus pais que queria ser Padre.

Enfim, depois nós vamos crescendo, vão aparecendo em nós outras prioridades, outras ideias, a questão vocacional está sempre lá presente, mas percebo que é através das provocações de várias pessoas e de vários sinais na minha vida que Deus vai falando.  As pessoas da comunidade que vão percebendo que eu tenho esta sensibilidade, que acham que eu devia ser Padre, enfim, e por outros sinais concretos na minha vida, desde não me sentir realizado com os estudos que estava a fazer. Enfim, tantas coisas…, mas sim, sobretudo estas duas imagens, porque eu acho que uma vocação sacerdotal é sempre provocada pelo testemunho de um Padre e, portanto, eu olho para a figura do Padre Júlio e vejo isso, e depois na comunidade, não é? O Papa Francisco no ano de 2017 dizia que a vocação nasce, cresce e desenvolve-se na comunidade. Portanto é na minha comunidade também que, através destes grupos que eu dizia, do CNE sobretudo, mas também das provocações de cada paroquiano, eu me vou apercebendo, e nosso Senhor fala-nos através de mediações e de sinais, e então fui discernindo e decidi entrar no seminário em 2017.

 

Houve algum momento aqui no teu percurso no seminário que te tivesse marcado seja pelo bom, seja pelo mau?
Enfim, acho que há muitos motivos, quer dizer, o motivo feliz é o dia da minha entrada no seminário na natividade de Nossa Senhora, aperceber-me que o meu percurso vocacional está muito ligado com Nossa Senhora. Eu entro com mais dois amigos meus do seminário, o Rúben e o Nazar. O Rúben que é casado e saiu do seminário, é casado e tem um filho. O Nazar foi ordenado há pouco tempo e pertence ao rito Greco-Católico. Entro no ano, como estava a dizer, em que foram canonizados os pastorinhos e recordo com grande alegria esse primeiro dia em que comecei aqui no seminário.

Depois maus, enfim, há muitos, mas são mais os momentos bons e são esses também que guardo, que dou graças a Deus, Nosso Senhor, do que propriamente os maus.

 

Para um jovem que esteja agora a fazer este percurso, a tentar descobrir a sua vocação, que conselhos é que tu dás?
Boa, eu acho que hoje há um grande desafio que é… creio que a falta de vocações se explica por diversas razões, mas acho que uma que eu percebo e que também aconteceu comigo, que trouxe também entraves à minha vida, não ter entrado logo com 18 anos no seminário, mas ter entrado mais tarde, foi a questão dos grupos, não é? De achar que não sou capaz, que há gente mais virtuosa do que eu, que há gente mais santa do que eu, que há gente que tem mais capacidades do que eu, e nós ficamos sempre a depender da vocação, do chamamento que Nosso Senhor nos faz, ligado às nossas capacidades e não chegamos a descobrir que Nosso Senhor, ao longo do tempo de seminário, nos vai capacitando, não é?

Enfim, há isso, há também a história de agora deixar toda uma vida para trás, enfim, pai, mãe e família, não arriscarmos, acho que é sobretudo isso.

O conselho que a cada rapaz seria esse de arriscar e de não ter medo, não é? Podemos não ser os mais virtuosos, os mais santos, os mais capacitados, mas perceber que Nosso Senhor nos vai capacitando, porque a grande diferença entre a nossa vocação e outro estado de vida é que Nosso Senhor a nós não nos pede o melhor. Nosso Senhor, a um homem que quer consagrar a sua vida, que quer ser Padre, pede-nos tudo, pede-nos toda a vida. Nosso Senhor ao longo destes… são 5 anos, 5/6 anos de formação no seminário, vai-nos dando muitas graças, vai-nos capacitando, não vos vai faltando com o seu auxílio.

 

 

No teu convite para a ordenação, tu escolheste um excerto da Madre Teresa de Calcutá que diz que nós devemos dizer a Deus “Eu serei essa pessoa”, que pessoa é que tu queres ser?
Esse excerto do livro “Vem, Sê a Minha Luz” da Madre Teresa nasce num contexto em que, só para explicar a quem nos ouve, a Madre Teresa encontra lá na casa dela uma pagela de um Ecce Homo com esta inscrição do salmo 68 que diz “esperei consolação, mas não encontrei” e a Madre Teresa no verso da pagela dizia “Sê tu essa pessoa”. Essa pessoa que consola Nosso Senhor, essa pessoa que quer oferecer a sua vida, quer santificar a sua vida, junto à vida que Deus quer para ela.

Eu acho que é sobretudo isso, esta frase que escolho para a minha ordenação sacerdotal é expressão de isso mesmo: há um Senhor que eu quero consolar e que há uma consolação que também recebo de Nosso Senhor e que quero que essa consolação chegue aos outros.

 

E de que forma é que tu consideras que este caminho sinodal que a Igreja também está a fazer agora vai afetar a tua forma de exercer o teu ministério?
Muito bem, enfim, caminharmos juntos sobretudo, não é? Acho que é um momento importante na história da vida da Igreja, de querermos cada vez mais que os leigos tenham uma presença, no pronunciamento de tantas matérias que estão dentro da Igreja. Mas acho que, sobretudo, este caminho sinodal será tão mais rico se continuarmos a ser fiéis àquilo que Jesus nos propõe, para a nossa vida. Eu acho que a grande novidade vai sempre ser falarmos mais de Jesus se quisermos que a vida de Deus esteja presente na vida dos homens, do que nas muitas ideias que a gente tenha sobre como poderemos participar mais ou menos. Acho que é sobretudo isso, cada um na sua missão acho que os frutos do sínodo vão-se perceber por aí, se a Igreja for fiel a Jesus, e acho que é sempre esse o princípio e se quisermos, como dizia o Bispo há pouco tempo, se quisermos ser “mais parecidos a Jesus”.

 

Falando em frutos e também assim numa nota final, o que é que tu gostarias de ver, daqui a 50 anos quando fizeres 50 anos de sacerdote, o que é que gostarias de olhar para trás e ver?
Muito bem, que grande pergunta… enfim eu acho que, como dizia no Evangelho da semana passada, o Reino de Deus cresce onde a gente menos espera, não é? E de facto daqui a 50 anos nas minhas bodas de sacerdote, o que eu espero é que as pessoas tenham este desejo, que a caridade de Deus, que a vida de Deus e que o amor de Deus estejam na vida delas, que sejam… enfim, a nossa relação com Deus ou regride ou progride, não é? Mas que sejam mais de Jesus, que queiram ser mais parecidas como o próprio Jesus.

Daqui a 50 anos quero que as pessoas sejam bons cristãos, que tenham uma presença na sociedade, uma voz ativa nas várias temáticas e exigências que hoje a sociedade nos propõe e que naquele tempo também nos proporá, mas sobretudo isto: fiéis a Jesus.

 

Entrevista Lara Alves | Vídeo e foto Ricardo Perna

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23 de Junho de 2024