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Migrações: “Todos somos corresponsáveis pela sorte dos nossos irmãos”

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O bispo de Setúbal, Cardeal D. Américo Aguiar, foi um dos oradores convidados na primeira iniciativa da AEDAR, Associação dos Ex-Deputados da Assembleia da República, uma conferência intitulada “Mais inclusão, menos desigualdade”, que decorreu no final da tarde de ontem, dia 28, na Biblioteca Municipal José Saramago, no Feijó.

O foco da conversa fixou-se na inclusão de migrantes e nas questões da emigração e imigração, tendo sido o painel composto ainda por Mónica Ferro, antiga deputada e hoje Diretor do Fundo das Nações Unidas para a População, e Rui Pena Pires, professor universitário e sociólogo.

Na sua intervenção, D. Américo Aguiar começou por dizer que “muitos têm medo de perder as suas conquistas se nos percebermos todos irmãos”. “A pessoa humana tem de ser o foco da nossa ação”, referiu o prelado, que deu a doutrina Social da Igreja como exemplo desse foco.

Desde logo, a urgência em “colocar a pessoa integral no centro da nossa ação”. “Não chega dar de comer às pessoas. Há quem diga que basta dar pão, há quem diga que basta teto, há quem diga trabalho…. Mas tem de ser tudo”, defendeu.

Depois, o “bem comum”. “Quando eu decido em função do meu benefício, do meu grupo, da minha geografia, algo não vai correr bem”, avisou.

Terceiro, “a subsidiariedade”. “Este princípio tem dificuldades em sobreviver, porque o nível superior não tem possibilidade de se sobrepor ao nível inferior. Quando isso acontece, depois tudo toma contornos estranhos”, considerou.

Finalmente, o bispo de Setúbal referiu “a caridade”. “É o mesmo que a solidariedade, só que levada ao limite de dar a vida por aquilo em que se acredita, como Jesus fez”.

 

 

Os dados apresentados pelos oradores do painel reforçam a ideia que a questão da emigração, vista em contexto, não tem o impacto que se procura fazer crer, e que há soluções já testadas que só não são implementadas por falta de vontade política, algo que mereceu críticas da parte do cardeal. “Lamento que muita gente com responsabilidades não ouça os meus colegas de painel. Quando ouvimos, parece tudo tão óbvio, mas constatamos que não são ouvidos. E assim constatamos que a vida destes nossos irmãos esteja prisioneira de um pingue-pongue partidário, e não é só em Portugal, infelizmente”, lamentou, acrescentando que “estamos a assobiar para o lado”. “Quando falamos um a um, temos discernimento, mas quando estamos em contexto de tomadas de decisão, parece que falta algo para que as decisões sejam mais assertivas e tenham em conta as pessoas”.

“Todos somos corresponsáveis pela sorte destes irmãos, e quanto mais sentirmos que somos parte do assunto, uns ficarão zangados, mas todos sairemos a ganhar”, concluiu D. Américo Aguiar.

 

Text e fotos: Ricardo Perna | Diocese de Setúbal

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29 de Maio de 2024