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Família, Escola de Amor e de crescimento

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Decorreu no passado dia 19 de março, na Sé de Setúbal, a II catequese quaresmal de D. José Ornelas com o tema “Família: Escola de Amor e de crescimento”. Nesta catequese, o Prelado incidiu sobre três pontos: Formar-se para a família e como família; Acompanhar e ajudar o crescimento dos filhos; São José, modelo inspirador de pai.

Clique na imagem abaixo para ver o vídeo com a gravação da catequese.

Foto de Jornal Notícias de Setúbal.

Família: Escola de amor e de crescimento
(Cf. especialmente AL 259-290)
 

Introdução

Na nossa reflexão da semana passada, pusemos em foco a família como berço de vida e de humanização. Através do amor, do carinho, da atenção que é chamada a oferecer a cada um dos seus membros, a família torna-se caminho fundamental de desenvolvimento da própria personalidade do ser humano e da sua integração e participação no tecido social da humanidade.

Hoje, continuamos nesta mesma senda, procurando refletir sobre como se realiza na família esta missão importante de crescer juntos como pessoas livres, felizes e ativas. Trata-se de crescer, de (se) formar, de educar. É uma missão que assume particular importância em relação aos mais novos, mas todos estamos cientes de que o educar(-se) é importante para todas as idades. Particularmente no tempo de radical e rápida mudança em que vivemos, em que os valores, os pontos de referência e as perspetivas evoluem de uma forma que temos dificuldade de acompanhar, todos nos sentimos impreparados para compreender e interagir com as evoluções da sociedade.

Evidentemente que, aqui não falamos de uma formação e educação feitas de conceitos e de coisas que se aprendem teoricamente, mas de uma escola viva e de vida que modela e o quotidiano da família que se complementa com a função educadora da comunidade cristã, da escola curricular e de tantas outras entidades que contribuem para o crescimento humano, intelectual e espiritual.

Articularei esta reflexão em 2 pontos e terminarei com uma evocação da figura de S. José, patrono das famílias e inspirador dos pais das nossas famílias, a quem saúdo muito cordialmente.

1.           Formar-se para a família e como família

2.           Acompanhar e ajudar o crescimento dos filhos

3.           São José, modelo inspirador de pai

 

1.      Formar-se para a família e como família

Se assumimos que a família é uma pedra fundamental da sociedade e da Igreja, temos de lhe dar uma atenção cuidada, em todas as etapas da sua formação e crescimento. É, antes de mais, a partir das famílias atuais que terá lugar o aparecimento de novas famílias. Por isso, a experiência de afeto e confiança criativa de família que se faz com os pais e irmãos é a primeira e mais importante escola para formar a própria família, no futuro. Começamos, pois, por dar graças a Deus pelas nossas famílias que, sentindo embora as dificuldades do relacionamento doméstico e de muitos aspetos da mentalidade social que nos rodeia, criam esse ambiente de preparação dos filhos para a vida, de modo que amanhã possam, eles próprios tornar-se pais e mães de novas famílias.

Não deixa, por isso, de causar preocupação o proliferar de separações e fracasso de tantos projetos familiares que acabam em separação e divórcio. São situações que geram sempre frustração, sofrimento e o desfazer-se de sonhos e projetos feitos em comum. Quando se trata de casais com filhos, o drama assume dimensões ainda mais graves de muitos pontos de vista: afetivo, relacional, económico… Estas famílias, têm de ser acolhidas com especial compreensão na comunidade cristã e de encontrar nela apoio, mais do que juízos e condenações, no sofrimento que têm de enfrentar.

Particularmente dolorosas são as situações de violência doméstica e de abuso de menores no seio da família. Estas situações dramáticas, são o que mais se opõe ao projeto familiar. Frequentemente tais comportamentos têm origem em atitudes desviantes de uma afetividade que interpreta o amor como posse e subjugação daqueles que se diz amar, como se fossem simples objetos do desejo, da vaidade e do prazer. É sobretudo preocupante constatar que tais comportamentos têm início já no namoro e que muitos jovens – dominadores ou dominados em tais relações – consideram aceitável este tipo de relação. Infelizmente, muitos/as não têm uma concepção correta do que significa amar e dizem “gosto de ti” como dizem “gosto de chocolate”.

A estes exemplos, poderíamos acrescentar as relações rotineiras e resignadas de muitos casais, cuja vida se arrasta sem brilho e sem alegria. Não quer dizer que a vida tenha de ser uma festa pegada e um céu sem nuvens. Mas é importante que se tenha bem presente, se sinta e se exprima, antes de mais uns aos outros, que é precioso aquilo que se vive em comum, pois desse apreço nasce também a vontade e a criatividade para dar consistência, carinho e alegria, mesmo em situações de dor e dificuldade.

Situações deste tipo – negativas mas não raras – mostram que a constituição e desenvolvimento da família não são questões que se podem deixar apenas à espontaneidade dos sentimentos, por mais belos e promissores que eles sejam. Mesmo o amor mais genuíno e a paixão mais ardente, não resistem ao tempo se não forem sustentados por atitudes da vontade, por esforços conscientemente assumidos por todos, por caminhos de reflexão e formação que ajudem a lidar com conflitos, a aprofundar o sentido de partilhar a vida, a reavivar o fogo do sonho que se construiu com tanto amor e alegria. Este não é o lado aborrecido e custoso do amor, mas a condição e manifestação da seriedade e preciosidade da relação familiar. E isso exige uma formação da mente e do coração, o diálogo franco no interior da família e atitudes concretas de conversão, pessoal e comum, que este tempo de quaresma nos propõe.

O caminho de educação e formação para a vida familiar deve começar na própria família de origem, como dizíamos acima. Isso não dispensa, porém, preparação e reflexão específicas, sobretudo nos tempos de radical e rápida mudança em que vivemos, que comportam enormes desafios, nem sempre fáceis de integrar num projeto de casal e de educação dos mais novos. Por isso, é fundamental que a família crie tempo para si própria, que lhe permita celebrar, analisar, rever, programar e rezar o seu próprio projeto. Esse partilhar o projeto familiar é o húmus de onde pode florescer uma família criadora de dignidade, de atenção mútua e capaz de se regenerar continuamente pelo perdão e o apoio aos mais frágeis. É verdade que o ritmo que muitas vezes nos é imposto pelos compromissos profissionais e sociais (para não mencionar, por vezes, os compromissos paroquiais), requerem de todos esforço e boa vontade, para investir na própria felicidade e na daqueles que amamos.

A formação para o amor, no namoro e no noivado, tem um papel importante na constituição de famílias estáveis, felizes e criativas. A experiência do “encantar-se”, enamorar-se, ter gosto de estar com o/a outro/a, são o ponto de partida para uma relação que deve durar a vida inteira. Hoje, esta etapa importante da preparação para o matrimónio assume novos contornos e enfrenta novos desafios, perante a mentalidade social crescente entre os jovens, que olham com descrédito o casamento, as relações duradouras e os compromissos para a vida. Esta é, de facto, a razão que se encontra frequentemente por detrás das opções por uniões de facto, “até que dê…”, por casamentos de cristãos apenas no civil,  e pelas “convivências informais”. Por outro lado, são cada vez mais numerosos os casais que pedem o sacramento do matrimónio depois de anos de convivência e frequentemente já com os seus filhos. A comunidade cristã deve saber acolher e acompanhar estas famílias que vão descobrindo o valor do amor fiel de forma gradual, segundo os ritmos da graça a que se vão abrindo.

Este quadro não se muda simplesmente com julgamentos apressados e condenações. É importante, sim, por parte da família e da comunidade cristã, a afirmação dos valores da familiares, numa forma e numa linguagem que possam atrair a mente e o coração, acentuando a dinâmica interna do amor, como um bem precioso que é preciso acolher, cultivar e refazer constantemente, para que se possa desenvolver e durar. Determinante é, acima de tudo, o testemunho de famílias felizes que sirvam de exemplo e de luz para novos casais.

Porquanto importante seja o tempo de namoro e noivado, a formação “para a família e como família” requer o cuidado mútuo e contínuo dos esposos e de toda a família, ao longo de todas as etapas da vida. Não só o tempo de radical mudança em que vivemos o exige, mas também o percurso da vida familiar, que vai colocando desafios diferenciados ao longo do tempo: os primeiros anos de casados; a fase da educação dos filhos, o voltar a ficar sós quando os filhos se tornam gradualmente independentes; a reforma e o desafio pós-laboral; as fragilidades e alegrias de uma velhice prolongada; a viuvez e a perspetiva de um reencontro na família definitiva do Pai do céu… Pensar a família e formar-se para ela a nível da própria família, da comunidade paroquial e diocesana, tem de ter em conta estes percursos diferenciados, para não abandonar ninguém ao longo do caminho, mas também para tornar fecundas e integradas todas as fases da existência. Essa atitude ativa e criativa, representa um enorme potencial, que já transparece nas nossas comunidades, em termos de voluntariado, de participação eclesial e de serviços preciosos à comunidade.

Formar-se deste modo, como família, não é apenas uma questão de acumulação de conhecimentos para o desempenho de uma profissão ou de uma tarefa precisa. Significa sobretudo crescer naquilo que de específico tem a família: o afeto, o carinho, o conhecimento e a atenção mútua, que se vão desenvolvendo e evoluindo ao longo da vida, de modo que nos possamos sentir bem na situação em que nos encontramos. Assim se poderá mesmo chegar a uma idade avançada, não como um lamento pelo tempo da juventude que já passou, mas como um usufruir agradecido da vida que Deus nos oferece juntos, olhando com serenidade e esperança o prolongar-se do amor, na plenitude do existir nas mãos do Pai do céu.

A esta luz, temos de pensar e repensar a nossa pastoral familiar, tendo em conta as condições concretas da vida das nossas famílias, e sobretudo contando com o seu contributo ativo e responsável. É importante ter em conta as situações e etapas mais frágeis da vida, como a das crianças e a dos anciãos, tantas vezes sofrendo de solidão e carência, dos casais em crise, dos que se separaram… As nossas comunidades têm de ser realmente maternas, misericordiosas e atentas para com estas situações, como expressão do amor paterno /materno de Deus. Mas há que cuidar igualmente da normalidade das famílias, apoiando o seu desenvolvimento e contando com o precioso contributo que oferecem á comunidade eclesial e social.

Nas paróquias, é importante a ação do pároco neste processo, mas a dinamização tem de contar sobretudo com as próprias famílias. São os esposos que recebem a graça do sacramento do matrimónio e essa graça não acaba, nem no dia do casamento, na porta da própria casa: é um dom para toda a comunidade eclesial. Não queremos ocupar de tal modo os casais, que não tenham tempo para viver a própria família, mas também não é bom que vivam isolados o dom que receberam de Deus para o próprio lar e para aqueles que deles precisam. É assim que a família se torna missionária no próprio ambiente.

Muitas iniciativas benéficas para as famílias podem ter uma melhor expressão ou complementaridade num horizonte vicarial ou diocesano. É nesse sentido que se pensa em grupos de apoio a famílias em crise, em fase de separação ou de incompatibilidade e violência; em ações de formação dirigidas á família; na preparação de líderes para apoio aos noivos e aos jovens casais. Nessa mesma linha se coloca a instituição do tribunal diocesano, onde podem ser tratados os casos de declaração de nulidade de alguns matrimónios que fazem sofrer tantos casais. Tudo isto nos fará crescer como Igreja, mais atentos às necessidades das famílias, oferecendo um testemunho credível do Evangelho e da fé que professamos.

Quero aqui prestar uma homenagem profundamente agradecida a tantos casais e famílias que, para além dos próprios deveres e absorventes tarefas profissionais e familiares, se dedicam, com tanta generosidade, à vida das comunidades paroquiais, particularmente na ajuda a outras famílias, nos seus problemas, na catequese das crianças e dos jovens, nos movimentos eclesiais. São verdadeiros samaritanos da família! Que o Senhor vos abençoe e multiplique na vossa família o bem que fazeis a tantas outras.

Um importante papel na formação e acompanhamento é desempenhado pelos movimentos eclesiais que se dedicam à família. Cito os mais conhecidos entre nós como as Equipas de Nossa Senhora, os Encontros Matrimoniais, o Movimento de Schoenstadt e outros, bem como o movimento dos Cursos de Preparação para o Matrimónio. Eles não me pediram para fazer propaganda, mas eu gostaria muito de ver florescer na nossa igreja diocesana estas equipas que fomentam a espiritualidade matrimonial e constituem uma ajuda preciosa às famílias e à sua missão.

Além disso, quero encorajar os grupos e movimentos juvenis a darem especial atenção à vocação e preparação dos jovens para os valores da família. Aí se joga, como afirma o papa, grande parte da ação em prol de uma família fiel aos valores cristãos e capaz de dialogar com a sociedade que está a nascer.

 

2.      Acompanhar e ajudar o crescimento dos filhos

Na vida e missão da família, a educação dos filhos representa um lugar de especial relevo e um dos seus maiores desafios. Esta realidade verificou-se ao longo dos séculos, mas hoje enfrenta desafios novos e novíssimos, que não se circunscrevem ao âmbito familiar. Na verdade, as crianças e os jovens, passam a maior parte do tempo fora de casa e, mais recentemente, também o tempo que passam em família é largamente ocupado com ligações ao mundo exterior através dos órgão de comunicação e as redes sociais, quando não se isolam em jogos individuais. Esta abertura à sociedade trouxe muitas vantagens, mas igualmente não pequenos desafios, requerendo um redimensionamento do papel educacional da família, frente ao papel institucional do Estado e à influência crescente dos grupos de identificação e das redes sociais.

Não é esta a sede para aprofundar um tema tão importante e tão complexo, que tem de merecer um tratamento mais amplo na reflexão sobre a família. Quero, no entanto, sublinhar alguns aspetos do papel caraterístico da família, à luz de quanto estamos a refletir nestas catequeses quaresmais.

A primeira questão que se coloca é precisamente a da imprescindível presença central da família na educação das suas crianças e jovens. Nem o Estado, nem as instituições de ensino podem substituir o direito e o dever educacional dos pais na educação dos filhos. De facto, educar uma pessoa não é apenas uma questão de transmissão de conhecimentos, mas tem a ver com as perspetivas de vida, de valores, de relações, de afetos, de fé. É a partir desta inserção familiar que os outros saberes e capacidades se vão desenvolvendo.

É a partir do amor e do carinho da família que se desenvolve uma criança, um jovem e um adulto, com autoestima e capaz de amar por sua vez e de contribuir para uma sociedade humanizada e solidária. É sentindo-se amado, independentemente daquilo que produz ou é capaz de fazer, que pode perceber a dignidade de um ser humano e de agir igualmente com dignidade e carinho. A perceção do afeto dos pais é particularmente importante na transmissão de valores, pois tornam-nos aceitáveis e desejáveis, mesmo quando exigem renúncia e esforço, porque são apresentados por aqueles que nos querem bem.

O cuidado da fragilidade é o que carateriza, de um modo especial, o papel da família. Por isso a ela é confiada a vida de um bebé, desde a sua concepção e ao longo das etapas em que mais precisa de cuidados. A família é também a referência quando a doença e a fraqueza da velhice se fazem presentes e as pessoas precisam de especial carinho para vencer as dificuldades que experimentam. É ainda esse cuidado das fragilidades que leva os pais a redobrarem de atenção e de esforços para com crianças portadoras de deficiências, suprindo com amor as falhas da natureza e tornando possível uma vida feliz, em vez de relegar essas pessoas para a margem da vida.

Por tudo isto, não deixa de ser preocupante o crescente número de crianças sem a proteção de uma família estável ou, pior ainda, vítimas de maus tratos ou abusos no seio da família e de outras instituições. É precisamente o contrário daquilo que é desejável para o seu desenvolvimento integral. Nestes casos, é particularmente importante o papel de outras famílias e instituições que possam acolher, ajudar a sarar feridas e a amparar o melhor possível tais crianças, particularmente quando são portadoras de deficiências. São verdadeiras samaritanas e heróis de humanismo, as famílias que acolhem e dão carinho a tais pessoas.

Evidentemente que a família é o lugar por excelência para iniciar a vida espiritual dos filhos e promover o seu crescimento na fé. Não me detenho neste importantíssimo campo da educação, visto que ele estará bem em foco na próxima catequese, no santuário da Atalaia.

 

3.      São José, modelo inspirador de pai

Desejo terminar esta reflexão com uma evocação da figura de S. José, que é hoje celebrada na Igreja, à qual se associa a festa do pai, que celebramos nas nossas famílias. Faço-o em memória do José, pai de Jesus segundo a linhagem do rei David, mas também como homenagem aos pais das nossa famílias para quem peço a bênção do nosso patrono, e ainda recordando o meu pai, que o Senhor já chamou a si. Faço-o com algumas simples evocações, que deixo para que possam sugerir a continuação da vossa reflexão.

A)        Os evangelhos apresentam-nos José, antes de mais, como o descendente de David (S. Mateus), aquele que recebe e transmite a tradição do seu povo, ou como descendente de Adão (S. Lucas), abrangendo toda a humanidade. É através dele que Jesus será invocado como “Filho de David”, que veio cumprir as promessas feitas ao grande rei de Israel e à sua descendência. Esta é uma realidade bem presente nas nossas famílias. Nenhuma delas é um acaso, mas cada uma entra no projeto de Deus através do pai e da mãe: Eles transmitem aos filhos, não apenas os genes que determinam a sua configuração biológica, mas também o património da humanidade e o projeto de Deus. Cada uma das nossas famílias tem um lugar nesse projeto e os pais, à imagem de José e de Maria, são os responsáveis por descobri-lo e passa-lo aos filhos.

B)        Por outro lado, José não se fecha na tradição do passado, mas revela-se um homem aberto à novidade que Deus vai criar na sua vida e na sua família. Um noivado já combinado, um casamento aprazado, mudam de direção com o anúncio do nascimento de um filho, especialmente marcado pelo dedo de Deus. É o Menino que vai marcar a vida do casal, como acontece nas nossas casas com o nascimento de um bebé…

C)        José aceita esse desafio: ser pai de um Filho que é Filho de Deus. Não é que Maria seja infiel, mas porque sobre os dois e sobre o Menino, Deus tem os seus próprios desígnios. A partir daí, eles consideram-se ao serviço desse projeto de Deus; e o projeto está nesse Filho, de quem Deus os fez pais, mas que eles não determinam. José e Maria não são escravos nem instrumentos do projeto, mas são integrados nele, como parceiros na terra do Deus do céu. Dizem sim, embora haja tantas coisas por explicar, que eles ainda não compreendem, mas guardam no coração.

Eles são exemplo do amor que ama, mas que não se arroga o poder de posse. Um filho não é um objeto, mesmo quando depende totalmente de nós para sobreviver. Na realidade, um filho, uma vez concebido, já não pertence aos pais. José e Maria ensinam Jesus a ser homem, mas vão aprendendo com Ele a ser Filhos de Deus e a dizer sim aos seus desígnios.

D)        José, com Maria, é o protetor deste projeto que é o Filho, o futuro da humanidade. Para cumprir essa missão, as penas e trabalhos multiplicam-se: um parto que não se pode programar, a busca afanosa de locais apropriados, a perseguição, a consolação da solidariedade de gente simples, a dura experiência de ser estrangeiro, refugiado sem destino e com futuro incerto…

Menino, a quanto nos levas…

a quantos esforços,

a quantos temores e sobressaltos,

a quantas noites mal dormidas,

a quantos sonhos, acordados e despertos

a quantas saudades!

Menino, filhos e filhas,

que pesada a vossa pequenez

que leve o vosso peso!

Sois o sol do nosso existir,

alívio dos nossos cansaços,

esperança das nossas vidas

despendidas a vos criar,

para vos deixar livres,

a continuar o projeto de Deus,

continuando em vós

o nosso viver…

E)         José é o pai discreto, que aparece no Evangelho apenas enquanto o Menino, pela sua fragilidade, precisa de proteção, de especial carinho, educação e orientação. Depois, deixa a cena, talvez porque tenha morrido mais cedo, mas porque, de qualquer modo,

quando um/a filho/a cresce

e se faz homem ou mulher,

a arena da vida é dele/a;

os pais vão gradualmente

passando para as bancadas,

aplaudindo e sofrendo,

mas deixando livre

aquele/a que prepararam

para a grande aventura da vida.

F)         E, no entanto quão presente é essa ausência amiga do pai. Quanto Jesus deve ter aprendido de José, para poder falar de deitar contas à vida, de usar bem os talentos, ser desprendido das riquezas, administrador previdente, servo vigilante na casa do seu Senhor…

Quantas vezes não terá visto

no carinho dos braços robustos

e das mãos calejadas

de seu pai carpinteiro

os sinais do poder misericordioso

e da ternura do Pai do Céu!

Certamente Jesus aprendeu muito com José,

mas eu creio que,

foi acarinhando o Filho de Deus,

que José aprendeu a ser seu Pai.

 


          Sobre o namoro e o noivado, cf. sobretudo os números 205-216 e 293-295 da Exortação “A alegria do amor”.

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21 de Março de 2017