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Doroteias: Despojar-se do conforto habitual foi desafio da Missão Natal/Passagem de Ano

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A mensagem que o Papa escreveu para o Dia Mundial dos Pobres foi, para nós, motivação suficiente para convocar os jovens a viver connosco esta missão. Na convocatória dizíamos “somos chamados a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. Aproximemo-nos deles: será um momento propício para encontrar o Deus que buscamos”. Descobrir Jesus em cada rosto e dar o melhor de nós foi o grande desafio.

Vindos de Moura, Lisboa, Seia e Porto fizemos um grupo de doze pessoas, incluindo três Irmãs. Serviu-nos de alojamento a Comunidade das Irmãs Doroteias na Paróquia da Arrentela.

A missão iniciou com jantar partilhado no dia 29 de dezembro e seguiu-se um momento para partilhar as motivações profundas que nos fez estar ali para passar o ano despojados do conforto habitual. Incluiu um tempo mais prolongado de oração, desta vez diante do rio, para tomar consciência da direção em que “correram as águas” da nossa vida no ano 2017: o que queremos agradecer, lançar ao fundo do rio e desejar para o ano novo que está para chegar.

O que a seguir vivemos fica aqui no testemunho de uma jovem do grupo: 

Desta vez, a euforia da passagem de ano foi cheia de outras experiências que deram sentido ao que, ao longo do ano que passou, fui desejando e rezando. Em tantas oportunidades de missão que fui vivendo, esta foi muito especial e, diria também, radical. É “fácil” fazer missão quando estamos “sem mais que fazer”. É “fácil” escolher tirar uma semana ou uns dias das férias para me envolver nalgum projeto de voluntariado missionário ou até, fazê-lo num ou noutro fim-de-semana na minha terra. Porém, este desafio foi maior. Mas foi, claramente, ao jeito de Jesus, quando Ele nos pede para deixarmos família e amigos, para o seguirmos.

Independentemente de como cada um vive esta festividade, todos sabemos que a passagem do ano é tempo de excessos, luxos e extravagâncias. Tempo também onde tudo o que mais importa é brindar ao que de bom aconteceu e desejar nas passas o que de mais e melhor queremos que aconteça. Não invalidando todos estas tradições, há tanto que fica por aí perdido…

Todos os dias, em todos os momentos do dia, somos chamados a fazer escolhas e tomar decisões. Precisámos optar por que estilo de festa desejaríamos. A escolha não foi leviana para ninguém, e com certeza pensámos no que iríamos perder ao aceitar um desafio maioritariamente desconhecido. Contudo, o caminho foi ficando cada vez mais claro, e a nossa decisão foi-se confirmando à medida da nossa entrega nesta missão.

O primeiro momento de grupo foi à chegada, jantar e partilha em oração daquilo que nos motivou a estar ali. Em todos os inícios e fins de dia, buscámos força e orientação na escuta da Palavra e nas ricas partilhas de grupo. No primeiro dia, pela manhã, fomos provocados a sair de nós mesmos e, sem grandes preparações, distribuir mensagens ao som de cânticos natalícios, numa estação de comboios. Esbarrar com o desconhecido é algo que nos assusta, mas acreditem, é como fermento nas nossas vidas. De tarde ajudámos a preparar alimentos para à noite distribuirmos aos sem-abrigo e tivemos um tempo de relação pessoal com Deus, onde desatámos alguns nós na linha sobre a qual caminhamos pela vida. Atirámos para o fundo do rio os nossos medos e prisões, e demos conta do estado na “água” que banha a nossa vida. Com mais clareza e sentido fizemos a ronda nas carrinhas, praticando a primeira obra de misericórdia. Momento vivido em muitos ritmos quando nos deparámos com pobreza a vários níveis. Estar e escutar quem connosco se cruzou foi a principal missão dessa hora.

No dia 31, participámos da Eucaristia na comunidade paroquial que nos acolheu e estivemos, toda a tarde, na CERCISA (Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados do Seixal e Almada). Aqui, encontrámo-nos sobretudo com as nossas maiores resistências e fomos chamados a sair da nossa “zona de conforto”. Foi, de um modo geral, o momento que a todos mais desafiou. Fomos acolhidos pelos utentes e pelas auxiliares desta instituição com muito amor e delicadeza. Com diferentes graus de deficiência, cada um foi uma surpresa para nós. Uns cantaram e dançaram connosco, outros conversaram e ajudaram-nos na escolha do reportório musical, outros ainda, pediram-nos, em silêncio, que fossemos amparo e proteção. Naquele lugar, naquele dia, com aquelas pessoas, vivemos uma grande festa, tivemos um jantar numa grande mesa, e recebemos 100 vezes mais do que demos. Encontrámos neles tamanha humanidade, fruto da simplicidade com que vivem a vida, e da incrível aceitação e superação das suas limitações.

De noite, juntámo-nos novamente à comunidade paroquial para festejarmos a Passagem do Ano em grande alegria e convívio. No primeiro dia do ano, participámos na Eucaristia celebrando Santa Maria, Mãe de Deus, olhando, em especial, para a divindade que se esconde na natureza humana de Jesus. Ao almoço tivemos o prazer de estar com o padre Júlio e o padre Daniel, que connosco partilharam conhecimento e experiências de vida muito bonitas.

Terminámos a missão com uma avaliação final, que tanto nos enriqueceu e ajudou a que tomássemos consciência das transformações que fomos vivendo ao longo deste tempo. Não cabíamos em nós de tanta gratidão, esperança e paz… Louvado seja Deus!

Joana Santos

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05 de Janeiro de 2018