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De mãos dadas

bandeira

Voltava para casa porque queria ver o jogo muito importante para a nossa selecção. Na rua não havia movimento, só um gato corria. Deveriam estar já todos em casa para não perderem um minuto da festa tão ansiosamente esperada.

 
Quando a nossa equipa subiu ao relvado o entusiasmo era transbordante mas foi sobretudo ao toque do hino que as mãos e os braços se deram e apertaram em furioso canto: “… contra os canhões, marchar! Marchar!” As bandeiras e os cachecóis agitaram-se freneticamente, os gritos ressoaram pelo estádio, os abraços a conhecidos e desconhecidos multiplicaram-se e todos diziam ao ouvido: “Vamos ganhar isto”. Um dos entusiastas pisou outro e pediu desculpa. A resposta foi apaziguadora: “não faz mal; venham mais pontapés mas que acertem na baliza”. Começado o jogo, um dos nossos falhou o passe. Ouviu-se: “Falhaste, para a próxima faz melhor. Mas não desanimes!”. Alguém acercou-se e disse a quem quis ouvir: “Vim da bancada central aqui para o pé de vocês porque aqui há mais entusiasmo, mais fé. Ali continuam sentados”. A solidariedade reinava, a união de sentimentos era total, a boa disposição ainda que com empurrões, gritos acutilantes e murros (involuntários) a tornasse incómoda e exigisse paciência. Nada como um bom desafio para levantar o orgulho patriótico, uma tolerância elevada, uma união de sentimentos em que cada um se esquece de si mesmo e participa num esforço comum de vitória. Ah! Como a multidão desceria ao terreno de jogo para dar um empurrão e bater palmas bem pertinho daqueles jogadores responsáveis pela marcação dos golos.
O povo precisa de se unir. Para isso deve haver encontro entre as pessoas e para haver encontro um bom motivo. A luta por uma causa patriótica pode ser um bom motivo. Ultimamente não têm faltado nem causas, nem lutas, nem motivos. No futebol pretende-se chegar à vitória, ultrapassando o adversário que fecha a baliza. É uma luta dos jogadores e de todo o público. Mas tem de haver uma táctica, um plano, um método; não pode ser cada um a jogar por sua conta esquecendo os outros que também estão em jogo. Muito menos poderão lutar uns contra os outros, na mesma equipa, nem contra os seus próprios técnicos ou o seu treinador, de outro modo ninguém se entende e a derrota é certa e triste.
Vejo muita luta por aí mas desordenada. Não sei quais são os objectivos, não está definido o adversário ou o inimigo, desconhece-se onde está a nossa baliza, não descortino a táctica para lá chegar porque todas elas são rejeitadas. Lutamos uns contra os outros: os jogadores no campo, os apoiantes nas bancadas, os técnicos, os responsáveis no banco. Ninguém vê onde está a baliza ou cada um pensa apenas na sua em particular, ninguém vê o adversário, chegam mesmo a pensar que não há adversário ou inimigo a vencer e só pensam derrubar o treinador da própria equipa, ou da sua nação. Não aceitam árbitro, regras ou esquema e há quem queira até fazer do campo de jogo um lugar de plena liberdade em que cada um faça o que lhe apetecer, sem precisar de ordem seja desportiva seja civil. Não vamos lançar fogo ao estádio, pois não? Na minha opinião, acho que é melhor dar as mãos para vencer o desafio. Mas um aperto de mãos forte, sim?!

Pe. Manuel Soares

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28 de Outubro de 2012