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Modernizar para apoiar

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É no Montijo que, esta semana, vamos ao encontro do Provedor da Santa Casa da Misericórdia daquela localidade, João Gaspar. Com quase quinhentos anos de existência, a Santa Casa da Misericórdia do Montijo é hoje uma instituição moderna que, com a gestão eficaz dos bens que tem, continua a prestar um apoio ímpar à população.

«A Santa Casa do Montijo viveu sempre da quotização e de pequenos donativos da população até ao final dos anos oitenta, altura em que uma benemérita doou todos os seus bens à Santa Casa, nomeadamente grande parte do terreno onde estão instalados atualmente os nossos equipamentos. O provedor da altura, Mário Miguel Rama, agora nomeado benemérito, deu um grande impulso à esta casa pela forma como administrou todos os seus bens», explica-nos o Provedor João Gaspar.
É pois por este motivo que a Santa Casa da Misericórdia do Montijo dá um grande salto de modernidade. «Até esta altura – diz João Gaspar – tinha lares de idosos em edifícios antigos, de difícil recuperação e os edifícios antigos prejudicam a qualidade na prestação dos serviços aos utentes».
Avançou-se, então, na altura, com a construção do novo Lar de São José, com a remodelação da Capela da Santa Casa, a dinamização do Hospital do Montijo, e com a construção da nova praça de toiros, que é propriedade da Santa Casa do Montijo. «Estes são os passos mais importantes e marcantes da vida da Santa Casa, nos últimos anos», sublinha o provedor.

As respostas sociais da Instituição

Hoje, a Santa Casa da Misericórdia do Montijo tem sete valências a funcionar e uma oitava já construída e na fase final de licenciamento. Para além do Lar, do Centro de Dia, do Serviço de Apoio Domiciliário, da Cantina Social, dos Centros de Infância do Afonsoeiro e de Sarilhos, do Plano de Emergência Alimentar, o provedor conta abrir em breve a Unidade de Cuidados Continuados Integrados.
«Estamos, neste momento, à espera das licenças de utilização da Câmara para fazer o registo na conservatória e a partir daí podermos assinar os protocolos com o Ministério da Saúde. De há dois meses que está tudo pronto e andamos, infelizmente, a ‘perder tempo’ em questões burocráticas», refere João Gaspar.
Quando questionado sobre a dificuldade da sustentabilidade das unidades de cuidados continuados, o provedor não hesita em dizer que o segredo é a boa gestão daquilo que se tem. «Se as valências não derem prejuízo – explica – as Santas Casas que têm alguns bens de rendimento, conseguem cobrir essas falhas com alguns bens. Os que nós precisamos é de equilibrar o custo e a receita das unidades. Esse é que é o desafio. Se eu tiver que ir buscar dinheiro à banca para fazer novos projectos, torna-se mais complicado. Felizmente, nós aqui, todos os anos libertamos bens para pagar as amortizações».

Melhoria na qualidade, reduz custos

Nos equipamentos já em funcionamento, a Santa Casa do Montijo tem quinhentos e setenta utentes, cento e setenta trabalhadores, e serve, diariamente, mais de mil refeições. Tudo isto, são números que, desde 2005, sofreram um aumento de cerca de 50%.
«Foi possível para nós este aumento porque, quando esta mesa administrativa aqui chegou, há oito anos, fez uma reflexão estratégica e elaborou um plano que consistia em alienar todos os bens imobiliários que não tinham rendimento, nomeadamente ao nível de terrenos, e constituir depósitos a prazo desse dinheiro, e aproveitar todos os fundos que o Estado estava a disponibilizar para construções de novas valências», garante João Gaspar.
Para além disso, a construção de uma nova sede da Santa Casa que concentra os serviços administrativos, cozinha e lavandaria de todos os equipamentos e valências fez com que, ao promover a sinergia, se gastasse menos dinheiro em manutenções, permitindo o aumento da capacidade de alguns equipamentos, como, por exemplo, o Lar.
«Melhorámos em muito a qualidade dos equipamentos. Pinturas, mobiliário, ar condicionado novo, chão novo, entre outros. Fizemos muitas obras porque os edifícios têm que estar bem mantidos. Temos também outros bens com os quais temos rendimentos para podermos prestar serviços de apoio à população», esclarece o provedor.

Uma crise ‘diferente’ que se faz sentir

Face à crise que o país atravessa, João Gaspar diz que na Santa Casa do Montijo a crise sente-se na medida em que as pessoas deixam de procurar os serviços. «Temos sentido a crise nos pagamentos por parte dos utentes mas por outro lado – acrescenta o provedor – sentimos a crise porque as pessoas não recorrem aos serviços. Por exemplo, o lar que tinha sempre um overbooking enorme, neste momento às vezes tem vagas. No caso do apoio domiciliário temos também menos pessoas e no que respeita aos centros de infância, também não temos procura do pré-escolar».
Neste sentido, João Gaspar considera ainda que há em Portugal um ‘problema’ demográfico uma vez que as crianças não estão a nascer. «É, hoje, muito arriscado construir respostas sociais para crianças e depois, como as famílias têm menos dinheiro, não recorrem aos serviços. Nós temos, para o antigo asilo da Santa Casa, um projeto cofinanciado pelo programa PARES (Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais) para fazer uma creche. Só que os acontecimentos estão maus e temos tantas obras para fazer que não vamos avançar com isso agora», indica.

Uma instituição importante no Montijo

A Santa Casa da Misericórdia é, no Montijo, uma instituição de peso e de referência, não só pelo apoio que presta à população mas porque, diz João Gaspar, promove e cria postos de trabalho e dinamiza a economia do concelho.
«Nós não somos ricos. Não queremos ter bens e dinheiro para viver bem. Aqui ninguém vive bem. Os salários são baixos, as pessoas dão muito de si, mas somos muito poupadinhos em tudo o que fazemos, porque o dinheiro é para ser posto ao serviço dos utentes e da sociedade. Não há salários elevados como em alguns organismos públicos nem como em outras Instituições de Solidariedade Social que existem no Montijo e que não dão o mesmo contributo que nós damos», afirma categoricamente o provedor.

Responsabilizar as pessoas

Habituado a liderar e a dirigir pessoas, João Gaspar está já no terceiro mandato à frente da mesa administrativa da Santa Casa do Montijo e diz que sempre assumiu o cargo com muita naturalidade.
«Colocar este dom natural ao serviço dos outros é, digo eu, implicar as pessoas que trabalham na Instituição e dizer que eles é que são os responsáveis. É chamar as pessoas, responsabilizá-las e dizer-lhes que a minha passagem efémera e que são eles que têm que tomar conta da casa. Só assim estas instituições serão bem geridas. Se cada um tiver consciência da responsabilidade que tem. Estou cá só para dinamizar porque hoje a dinamização estratégica está desenvolvida», sublinha o provedor.
João Gaspar diz ainda que, apesar de Santa Casa não ter um capelão fixo neste momento, que é através do pároco do Montijo que se vão fazendo e dinamizando todas as atividades religiosas semanais da Santa Casa. A celebração da Eucaristia e a oração são uma constante na Casa.

Anabela Sousa

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20 de Maio de 2013