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Igreja em Rede: Segunda-feira da Semana Santa – “Deixa-a em paz: ela tinha guardado o perfume para o dia da minha sepultura” (Jo 12, 1-11)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Segunda-feira da Semana Santa

Comentário do Padre David Caldas, Pároco In Solidum de S. Paulo em Setúbal e Ecónomo Diocesano

Mais uma vez o profeta antecipa alguns acontecimentos da vida do Messias. Jesus é o enlevo do Pai, o Filho muito amado no qual o Pai fez repousar o Seu Espírito. O Filho em tudo obediente, sempre pronto a servir, que não procura o próprio interesse.

Jesus vem para reestabelecer a justiça, sem desfalecer nem desistir, anuncia a boa nova do reino de Deus. Dando-Se a conhecer dá a conhecer o Pai.

Vem ao mundo sem levantar a voz, sem se apresentar com todo o Seu poder divino. Faz-se homem para se aproximar dos homens. Quer que os Homens se aproximem d’Ele sem medo. Não quer quebrar a cana fendida nem apagar a torcida que ainda fumega. Antes pelo contrário, vem para restaurar a harmonia original, vem propor novos caminhos à humanidade. Quer abrir-nos os olhos, libertar-nos das correntes que nos prendem, quer ser a luz que afasta de nós todas as trevas.

Temos de nos aproximar de Jesus sem medo. Se nos entregarmos nas Suas mãos divinas, Ele vai acolher-nos, vai tocar as nossas vidas, vai restaurar a ligação que quebramos com Ele, vai avivar a luz que acendeu em nossas vidas no dia do baptismo. Se formos verdadeiros, se tivermos intenções retas, se andamos à procura da verdade e da justiça não temos nada a temer.

Na Sua encarnação Jesus faz-se próximo. Reúne-se à mesa com os amigos, tem tempo para estar com eles, para os ouvir, para os ensinar, para os corrigir. Não poupa esforços para que a Sua mensagem seja anunciada, procura sempre tocar o coração dos homens e levá-los à conversão.

Ninguém se pode cruzar com Jesus e ser-Lhe indiferente. A Sua forma de agir inquieta os corações. Alguns aderem inteiramente à Sua proposta, outros, com receio de perder as honras e o prestígio deste mundo, recusam a Sua presença, outros ainda, sentem-se atraídos por Ele mas as correntes que os prendem estão ainda fortes demais, a sua terra ainda não está preparada para acolher a boa semente do reino.

Maria, irmã de Lázaro, deixou-se tocar por Jesus. Deixou que Ele tocasse intimamente a sua vida. Maria percebeu que o melhor que tinha, tinha de ser para Jesus.

Podemos perguntar-nos: damos a Jesus o melhor de nós, entregamos-Lhe aquilo que é mais precioso, ou retemos grande parte de nós, dos nossos interesses, da nossa vida e só damos a Jesus o que sobra, os restos que aparentemente não me fazem falta? Guardo tempo para a oração, para a intimidade com Jesus, ou só Lhe falo se estou aflito, se preciso de alguma coisa? O que tento esconder ao Senhor? De que tenho de me envergonhar? Quando me envolvo na vida da comunidade faço-o sem procurar o próprio interesse, ou estou à espera que me reconheçam, que me agradeçam, de retirar qualquer outro benefício em termos civis?

O melhor tem de ser para o Senhor, temos de aproveitar enquanto está perto, enquanto se pode encontrar. Pobres sempre os teremos, mas o Senhor ser-nos-á tirado. E quando não somos diligentes e atentos na busca pelo Senhor corremos o risco de nos ser tirado muitas vezes. Ele passa na nossa vida, mas não se impõe. Ele bate à nossa porta, mas não força a entrada.

Que nesta Semana Santa procuremos ir ao encontro do Senhor. Que O deixemos tocar o nosso coração, as nossas feridas. Que o acompanhemos em todos os passos que dá por nós. Que derramemos nos Seus pés o bálsamo da nossa companhia.

Padre David Caldas

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06 de Abril de 2020