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Educação Cristã: amor, presença, afeto.

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Reflexão do professor José Teixeira, de Educação Moral Religiosa Católica, por ocasião da Semana Nacional da Educação Cristã.

As mulheres, os homens, as crianças, os adolescentes, os jovens, as famílias; a terra – nosso lar e casa comum; a vida sempre tão amada e maltratada; a alegria, a paz, o abraço; o outro que é nosso irmão… São tantos os desafios que se colocam, cada dia, à educação cristã! É tão importante a missão que os educadores cristãos (pais, mães, avós, professores, psicólogos, catequistas, padres, irmãs, médicos, jornalistas…) têm em mãos todos os dias!

Escrever sobre isso é, sobretudo, repetir o que já foi dito tantas vezes: Jesus Cristo é quem nos desafia, é o fundamento da educação cristã. É ele que põe as palavras necessárias na nossa boca, fome e sede de vida nova em nossas mãos, luz e ternura no nosso jeito de olhar. Homem e mulher, todos juntos, (salvos de tudo o que nos prende e aniquila) somos o grande desafio da educação cristã. E a paz, a justiça, a partilha fraterna dos bens, a gentileza, a caridade, e a doação ao outro, um horizonte para onde teremos de caminhar e olhar sempre. 

A educação é um projeto universal, integral e plural. Com as nossas mãos, com as nossas palavras, com os nossos gestos, só fazemos coisas boas: aquilo que nos faz felizes e ajuda os outros a serem felizes também. 

A palavra educa. A arte educa. O humor educa. O gesto, o silêncio, a criatividade e a imaginação educam. Mas tudo isso são “máquinas” imprescindíveis que precisam de sujeitos (grandes homens e grandes mulheres) que saibam como funcionar com elas. Hoje, quem dos mais novos sente vontade, coragem e vocação para se tornar professor ou professora? Educador ou educadora?

O AMOR que Jesus revela é o único tema, o único meio, o grande recurso pedagógico ao nosso dispor. O abraço que Ele nos dá, recomenda e inspira é a grande pedagogia, programa, manual e estratégia. Muitas vezes dou comigo a pensar: porque é que, frequentemente, os filhos com condições económicas, sociais, culturais e materiais superiores às dos seus pais, avós e bisavós, nem sempre são mais dotados, mais felizes, mais livres e mais humanos? Porque é que uma família excelente pode dar à luz um filho que pode vir a ser o pior ser humano? O filho de um grande maratonista não deveria ser mais evoluído, mais rápido, mais inteligente e mais interessante do ponto de vista humano do que os seus pais? E os filhos deste não deveriam ser melhores filhos e melhores seres humanos do que ele foi? E assim sucessivamente?

Todos os pais gostariam de gerar melhores seres humanos do que eles foram e são: pessoas mais interessantes, mais saudáveis, mais solidárias e fraternas, mais dotadas de consciência cívica e crítica, mas, de facto, isso nem sempre acontece. Muitas vezes não é assim!

Eu não sei nada, mas parece-me que de cada vez que uma criança nasce, voltamos ao princípio da criação. A Deus. Ao amor. Ao barro. Ao caminho. Todos nascemos nesse primeiro dia, hora e instante por vontade amorosa de Deus. Todos com a mesma necessidade de passar pelas mesmas experiências, transformações e fragilidades. Alguém nos diz: “Não toques no lume que queima”, mas nós, mal vemos uma oportunidade, colocamos lá o dedo para saber como é. Graças a Deus, não vivemos em nenhuma ilha onde tudo já está estudado, construído e consumado. Vivemos no mundo de todas as imperfeições onde está tudo por fazer: eu, tu, ele, nós. Educadores e educandos!

E Deus vem todas as tardes passear nesse jardim, chamando-nos pelo nosso nome. Educar e educar-se será aprender a reconhecer Deus chamando pelo nosso nome, todos os dias, durante essa longa (e eterna) viagem pelos séculos e milénios de milénios. Aqui e depois.

Neste tempo que estamos a viver, no meio de uma pandemia inesperada e tão limitadora, precisamos mais do que nunca de fazer companhia uns aos outros. Sã companhia! Para proteção de todos, precisamos de viver mais afastados uns dos outros, mas isso não quer dizer solidão, tristeza e ausência de esperança. O amor existe, não conhece barreiras, atravessa as paredes, não é infetado por nenhum vírus. Cada um, com os seus dons, faça-se presente na vida de todos rezando, usando as novas tecnologias, criando novas formas de presença, criando e alimentando elos duráveis.

Existiu um Deus que resistiu à tentação de fazer-nos, no princípio, sem margem de progressão nenhuma: bonecos de corda ou marionetas de barro e osso! Esse Deus quis e fez-nos à sua imagem e semelhança: com capacidade de pensar, de amar, de rir, de chorar, de perguntar e até de fazer o mal, muito embora Ele pretenda que as nossas opções sejam sempre pelo bem. Esse Deus, fazendo-nos assim, disse: “Agora continua por ti mesmo a fazer-te cada vez mais homem e mulher com esse barro, com esse osso, com o amor que te dou.” Deus não quis terminar, a sua obra. Começou-a! Obra magnífica: «O nosso corpo é uma das mais belas e perfeitas peças de design orgânico.»; «As nossas articulações são, por si só, um tema fascinante e de profícua inspiração.»i  

Cada pessoa é um mundo novo que nos surpreende e interpela. O amor, a presença diária, o afeto nunca são demais. Desafio: continuar a deitar abaixo preconceitos, os muros da separação e da indiferença, as ideologias que nos cegam. Que grande desafio para a educação cristã continuar a sonhar o futuro. É preciso valorizar as famílias: telefonar, escrever e enviar cartas (Obrigado Papa Francisco!) dialogar, falar ao coração, multiplicar eventos festivos e formativos, formar equipas de ajuda. É preciso continuar a ir com os nossos filhos e alunos para o campo pastorear o rebanho; para o mar ensiná-los a conduzir e a cuidar do nosso barco; para a sementeira ensinar e ajudar a semear, a cuidar, a colher e a guardar. A educação é qualquer coisa que se faz em equipa, não cada um para seu lado. 

Os professores e educadores trabalham com o futuro do mundo. Cada vez se disponibilizam mais meios para responder adequadamente a esta grande tarefa. Todos nascemos para Deus e uns para os outros. Jesus de Nazaré, durante a sua vida pública, ensinava dialogando, questionando, contando histórias, mostrando que os seres humanos são filhos e filhas de Deus, homens e mulheres livres, não coisas ou seres descartáveis.

Diz (disse há alguns anos) D. Manuel Martins, escrevendo para professores: 

«Educar é ajudar a crescer. Mas só ajuda a crescer quem se esforça por crescer também. Ninguém educa ninguém, educamo-nos uns aos outros na humildade, na paciência, num esforço cada dia renovado de construção pessoal e solidária. Pergunta-te, ao fim do dia, se conseguiste, mesmo que muito pouco, que os alunos aprendessem a cantar a vida, a entender que a vida se canta em coro e não em solo. Nunca digas a ninguém que é um sacrifício ou um peso trabalhar na escola. Encara sempre a tua missão como uma causa e ocasião de uma grande alegria.» ii

Obrigado Senhor D. Manuel. Obrigado a todos os que pensam a educação como um lugar onde se escreve e inscrevem palavras como: amor, dedicação, Deus, justiça, vocação, fraternidade, solidariedade, Páscoa, abraço, perdão, compaixão, montanha, árvore, rio, sol, estrela, vento, música, arte, Jesus Cristo… Obrigado a todos os que leem, escrevem e ensinam a poesia com que os meninos e as meninas a seguir inventam, escrevem, ilustram, memorizam e contam histórias de vida uns aos outros. Histórias onde Deus-Pai-Bom é sempre bem-vindo, todas as tardes, com um cartuxo de bolachas, procurar-nos para se sentar, conversar e rir connosco. 

Professor José Manuel Leite Teixeira

 

Referências:

  1. (Guta Moura Guedes, Vícios Design, Revista do Expresso,19.9.2020, pág.86).
  2. (Esta citação de D. Manuel Martins, tirei-a de um textinho que ele escreveu a meu pedido, certo dia, para oferecer num marcador aos professores da minha escola.)
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20 de Outubro de 2020