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A Palavra do Papa: o bem de todos, a alma descalça, a paz contagiosa, a unção de dignidade e a loja de discos

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Nos últimos dias, o Papa deixou importantes incentivos ao diálogo, à cooperação internacional e à dignificação do trabalho. Na Capela Sistina, batizou 16 recém-nascidos e fora do Vaticano visitou uma loja de discos.

O Papa a empresários cristãos: contribuir para o bem de todos

O Papa Francisco recebeu em audiência, na manhã de sexta-feira (7 de janeiro), um grupo de empresários franceses que veio a Roma em peregrinação sobre o tema do bem comum.

“Acho muito bonito e corajoso que, no mundo de hoje, muitas vezes marcado pelo individualismo, pela indiferença e até mesmo pela marginalização das pessoas mais vulneráveis, alguns empresários e dirigentes empresariais tenham no coração o serviço de todos e não apenas de interesses privados ou de círculos restritos. Não tenho dúvidas de que isso seja um desafio para vós”, sublinhou Francisco.

A seguir, o Santo Padre partilhou com os empresários alguns ensinamentos do Evangelho, para ajudá-los a cumprir o seu papel de líderes segundo o coração de Deus. Usou os binómios ideal e realidade, e autoridade e serviço, conceitos que parecem estar sempre em tensão, mas que o cristão, auxiliado pela graça, pode unificar na sua vida.

O bem comum é certamente um elemento decisivo no seu discernimento e nas suas escolhas como líderes, mas deve aceitar as obrigações impostas pelos sistemas económicos e financeiros atualmente em vigor, que muitas vezes ridicularizam os princípios evangélicos da justiça social e da caridade”, disse Francisco aos empresários franceses.

“Encorajo-vos a estarem próximos daqueles que colaboram convosco em todos os níveis: a interessarem-se pelas suas vidas, a estarem conscientes das suas dificuldades, sofrimentos, angústias, mas também das suas alegrias, projetos e esperanças”, acrescentou.

Associação Santos Pedro e Paulo: “sejam artesãos do encontro”

Um agradecimento pelos 50 anos de atividades culturais e caritativas, mas sobretudo pelo serviço prestado na Basílica de São Pedro e durante as celebrações litúrgicas papais, e algumas indicações para o futuro. O Papa Francisco concentrou-se nestes dois pontos no seu discurso, na manhã de sábado, aos membros da Associação Santos Pedro e Paulo, reunidos na Sala Paulo VI com as suas famílias, e que celebraram o seu 50º aniversário no ano passado.

“É belo ver que, neste meio século de vida, vocês passaram de ‘guardas de honra do palácio’ à honra de estar ‘ao serviço’ da humanidade peregrina, dando assim um testemunho especial de vida cristã, de apostolado e de fidelidade à Sé Apostólica”, disse o Papa.

Através dos seus serviços diários vocês tornam-se artesãos do encontro, levando o calor da bondade de Jesus àqueles que entram na Basílica de São Pedro, àqueles que precisam de uma indicação, àqueles que precisam de um sorriso para se sentirem em casa.”

No atual contexto histórico marcado pela pandemia, o Papa convidou os presentes a darem o seu testemunho “com mais humanidade, olhando para Jesus, com esperança no coração”.

Papa batiza 16 crianças: com a alma “descalça” para receber a força de Jesus

A Capela Sistina voltou a acolher uma das celebrações mais sugestivas do ano, que não foi realizada no ano passado devido à pandemia. O Papa Francisco batizou 16 recém-nascidos, filhos de funcionários do Vaticano, que recebem assim “a força de Jesus” para ir avante na vida.

Nesta ocasião, Francisco fez a sua reflexão sem um texto pré-escrito e inspirou-se num hino litúrgico que fala que o povo de Israel ia ao Jordão com os pés e a alma “descalços”, isto é, uma alma que desejava ser banhada por Deus, que não tinha nenhuma riqueza, que necessitava de Deus.

Estas crianças hoje vêm aqui também com a alma descalça para receber a justificação de Deus, a força de Jesus, a força de ir avante na vida, receber a identidade cristã. É isto, simplesmente.”

Cabe aos pais e padrinhos proteger esta identidade, prosseguiu Francisco, esta é a tarefa de toda a vida e de todos os dias: “Fazê-los crescer com a luz que hoje receberão”.

Esta é a mensagem de hoje: custodiar a identidade cristã.”

Depois, como sempre faz nesta cerimónia, o Santo Padre deixou os pais à vontade para acudir os bebés. “Se tiverem fome, amamentem tranquilamente aqui, diante do Senhor”, disse às mães. “Não há problema.”

Angelus: “A oração abre o céu”

Comentando o Batismo de Jesus no rio Jordão, o Papa destacou a atitude de Cristo sempre em oração. “Rezar é a forma de deixar Deus agir em nós, de compreender o que Ele quer comunicar-nos mesmo nas situações mais difíceis, para ter a força para continuar.”

Francisco convidou os fiéis a deterem-se num ponto específico quando, no Evangelho da liturgia do domingo, Lucas relata que naquele momento Jesus “estava em oração” (Lc 3,21).

“Isso repete-se inúmeras vezes: no início de cada dia, muitas vezes à noite, antes de tomar decisões importantes. Cristo está sempre em oração – o que revela uma relação íntima com o Pai.”

Para Francisco, trata-se de um grande ensinamento para nós, pois estamos todos imersos nos problemas da vida e em muitas situações emaranhadas, chamados a enfrentar momentos e escolhas difíceis que nos puxam para baixo.

Mas se não quisermos ser esmagados, precisamos elevar tudo para o alto. E é precisamente isto que a oração faz, que não é uma via de fuga nem um ritual mágico ou uma repetição de cânticos aprendidos de cor.

A oração – para usar uma bela imagem do Evangelho de hoje – “abre o céu”: dá oxigénio à vida, respiração mesmo no meio dos afãs, e faz-nos ver as coisas de modo mais amplo. Dediquemos tempo a ela, utilizemos invocações curtas para repetir com frequência, leiamos o Evangelho todos os dias”.

Após a oração, o Santo Padre deixou uma palavra às populações do Cazaquistão, especialmente às vítimas dos protestos que eclodiram nos últimos dias. “Rezo por eles e pelas suas famílias e espero que a harmonia social seja restaurada o mais depressa possível através da busca do diálogo, da justiça e do bem comum”.

Diplomacia: a paz é “contagiosa” e constrói-se com diálogo e fraternidade

Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, o corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé para os tradicionais votos de Ano Novo. Pandemia, migração e mudanças climáticas: foram estes os temas abordados pelo Papa como principais desafios que a humanidade deve enfrentar hoje.

Diante de diplomatas de mais de 180 países, Francisco recordou que o objetivo da diplomacia é “ajudar a deixar de lado os dissabores da convivência humana, favorecer a concórdia e experimentar como, superando as areias movediças da conflitualidade, podemos redescobrir o sentido da unidade profunda da realidade”.

O Pontífice pediu que se prossiga o esforço para imunizar o máximo possível a população mundial, não obstante a desigualdade no acesso às vacinas. Estas, afirmou, não são “instrumentos mágicos de cura”, mas “a solução mais razoável para a prevenção do coronavírus” e é preciso deixar de lado as “fake news” e o embate ideológico:

Todos temos a responsabilidade de cuidar de nós próprios e da nossa saúde, o que se traduz também no respeito pela saúde de quem vive ao nosso lado. O cuidado da saúde constitui uma obrigação moral.”

Ao recordar a sua visita a Lesbos, falou do drama da migração e da necessidade de vencer a indiferença. “Diante destes rostos, não podemos permanecer indiferentes, nem se pode entrincheirar atrás de muros e arame farpado a pretexto de defender a segurança ou um estilo de vida.”

O cuidado da nossa Casa Comum constitui o terceiro desafio planetário. Diante de uma contínua e indiscriminada exploração dos recursos, é preciso encontrar soluções comuns e colocá-las em prática. “Ninguém pode eximir-se deste esforço, pois interessa e envolve igualmente a todos.”

Convencido de que “diálogo e fraternidade são os dois focos essenciais para superar as crises do momento presente”, o Santo Padre concluiu repropondo dois elementos da mensagem para o Dia Mundial da Paz 2022: educação e trabalho.

Ao se despedir dos embaixadores, Francisco citou o profeta Jeremias, que lembra que Deus tem para nós “desígnios de prosperidade e não de calamidade”:

“Por isso, não devemos ter medo de abrir espaço para a paz na nossa vida, cultivando o diálogo e a fraternidade entre nós. A paz é um bem ‘contagioso’, que se propaga a partir do coração de quantos a desejam e aspiram a vivê-la abraçando o mundo inteiro.”

O Papa: a universidade católica deve ajudar os jovens a realizar os seus sonhos e objetivos

Na mensagem ao arcebispo de Cracóvia, dom Marek Jędraszewski, pelos 625 anos da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade João Paulo II.

Segundo Francisco, “os tempos de hoje exigem de todos nós não esquecer a tradição, mas ao mesmo tempo olhar com esperança para o futuro e criar o futuro”. O lema da universidade é o mandato de Jesus “Ide e fazei discípulos” e asua missão “consiste na reflexão científica sobre o conteúdo da Revelação, utilizando métodos de pesquisa clássicos e contemporâneos”.

O Pontífice deseja que esta Universidade “seja um lugar de formação para as novas gerações de cristãos, não somente através do estudo científico e da busca da verdade, mas também através do testemunho social de viver a fé. Que seja uma comunidade na qual a aquisição do conhecimento se conjuga com a promoção do respeito pelo ser humano”.

Os jovens têm os seus próprios sonhos e objetivos, e uma universidade católica deve ajudar a realizá-los com base na verdade, no bem e na beleza que têm a sua fonte em Deus”, concluiu.

Pesar do Papa pela morte do presidente do Parlamento Europeu

Num telegrama à família de David Sassoli, o presidente do Parlamento Europeu que faleceu na terça-feira aos 65 anos, o Papa Francisco destacou a sua gentileza e recordou-o como uma “pessoa animada pela esperança cristã e pela caridade”, mas também como um “homem estimado pelas instituições” e um “jornalista competente”.

O Papa assegura sua proximidade espiritual pela morte prematura de Sassoli, e a sua “sincera participação no luto que afeta a Itália e a União Europeia” e oferece as suas condolências aos seus filhos Livia e Giulio, invocando o consolo do Senhor para aqueles que lamentam a sua perda.

Audiência Geral: o trabalho é uma unção de dignidade

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre São José na Audiência Geral desta quarta-feira, 12 de janeiro.

Os evangelistas Mateus e Marcos definem José como “carpinteiro” ou “marceneiro”, na época uma qualificação genérica, que indicava “tanto os artesãos da madeira como os trabalhadores que se ocupavam de atividades relacionadas com a construção. Um trabalho bastante duro, que não garantia grandes ganhos.

Jesus adolescente “aprendeu esta profissão com o pai”. Quando se tornou adulto, começou a pregar, e as pessoas perguntavam-se «De onde vinham esta sabedoria e estes prodígios?» e se escandalizavam com Ele, “porque era filho de um carpinteiro, mas falava como um doutor da lei”.

Com esta referência, o Papa lembrou todos os trabalhadores do mundo, especialmente os que são explorados, sem proteção social, os que trabalham clandestinamente, as crianças que são obrigadas a trabalhar, os desempregados.

Não lhes dão dignidade! Pensemos nisso. Isso acontece hoje no mundo.”

Segundo o Pontífice, “não se leva suficientemente em conta o facto de o trabalho ser uma componente essencial da vida humana, e também do caminho da santificação. O trabalho não é apenas um meio de ganhar a vida: é também um lugar onde nos expressamos, nos sentimos úteis e aprendemos a grande lição da realidade, o que ajuda a vida espiritual a não se tornar espiritualismo. Infelizmente, porém, o trabalho com frequência é refém da injustiça social e, em vez de ser um meio de humanização, torna-se uma periferia existencial”.

Se não damos ao nosso povo, aos nossos homens e mulheres a capacidade de ganhar o pão, isso é uma injustiça social naquele local, naquela nação, naquele continente. Os governantes devem dar a todos a possibilidade de ganhar o pão, pois ganhar o pão dá dignidade. O trabalho é uma unção de dignidade.”

A visita inesperada de Francisco a uma loja de discos

O Papa Francisco fez uma visita-surpresa a uma loja de discos localizada no centro de Roma, perto do Panteão, a “Stereosound”. Durante 10 minutos, saudou a proprietária e abençoou o local, que foi recentemente reformado. E saiu de lá com um presente.

Não se tratou de uma saída “aleatória” do Vaticano, pois o Pontífice era um antigo cliente do local, já que o frequentava quando ainda era arcebispo de Buenos Aires. Toda vez que vinha à capital italiana, Jorge Mario Bergoglio hospedava-se perto da “Stereosound”.

Entre discos de vinil de Maria Callas e Pink Floyd, Francisco abençoou a loja, que foi recentemente reformada. Ao sair, ganhou de presente um disco de música clássica.

Todavia, a proprietária preferiu não fazer declarações e fechou a loja diante da multidão que se formou naquele momento. Letícia simplesmente afirmou que o Papa é “um cliente antigo” e que a visita desta terça-feira foi “belíssima” e “repleta de humanidade”.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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12 de Janeiro de 2022