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A Palavra do Papa: a mulher na Igreja, a vigilância cristã, os gemidos da Terra e o anúncio movido pelo Espírito Santo

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“O Espírito é o protagonista, sempre precede os missionários e faz brotar os frutos. O Senhor não nos deixou folhetos teológicos ou um manual de pastoral para aplicar, mas o Espírito Santo que inspira a missão” disse o Papa na Audiência Geral de quarta-feira, sobre o zelo apostólico.

A Igreja é “mulher”, devemos “desmasculinizá-la”

“A Igreja é mulher”. E “um dos grandes pecados que cometemos é ‘masculinizar’ a Igreja”. Devemos “desmasculinizá-la” e fazê-lo a partir da teologia. O Papa reuniu-se com os membros da Comissão Teológica Internacional, o órgão criado por Paulo VI na então Congregação para a Doutrina da Fé em 1969 – uma proposta da primeira assembleia do Sínodo dos Bispos – para ajudá-la a examinar as questões doutrinárias mais importantes.

De modo espontâneo, no entanto, o Santo Padre partilhou alguns pensamentos para reiterar a importância da reflexão teológica e agradecer à Comissão pelo seu trabalho. O Papa fez questão de expressar uma observação: “perdoem a minha sinceridade!” – devido à escassa presença de mulheres no grupo:

Uma, duas, três, quatro mulheres: coitadas! Elas estão sozinhas! Ah, desculpe-me: cinco! Mas, quanto a isso, devemos seguir em frente.”

As mulheres “têm uma capacidade de reflexão teológica diferente da que nós homens temos”, enfatizou o Papa, lembrando os seus estudos dos livros de “uma boa mulher alemã”, a filósofa e escritora Hanna-Barbara Gerl, sobre Romano Guardini. “Ela havia estudado essa história e a teologia dessa mulher não é tão profunda, mas é bela, é criativa”.

“Se não entendermos o que é uma mulher, o que é a teologia de uma mulher, nunca entenderemos o que é a Igreja. Um dos grandes pecados que cometemos foi “masculinizar” a Igreja”, disse, recusando, no entanto, que a questão não deve ser resolvida “pela via ministerial”, referindo-se às discussões sobre o sacerdócio feminino.

JMJ de Lisboa: feita pela dedicação de muitas pessoas simples

A Jornada Mundial da Juventude de Lisboa voltou a ser revivida na quinta-feira, 30 de novembro, no Vaticano, quando o Papa Francisco recebeu cerca de 800 pessoas que atuaram diretamente para que a edição portuguesa fosse realizada no início de agosto deste ano.

Ao saudar o grande grupo, o Pontífice agradeceu por todo o trabalho desenvolvido em Lisboa para que a JMJ se tornasse “um núcleo de forte evangelização, de alegria, de expressão jovem”. E, em seguida, começou a buscar na memória os momentos saudosos vividos por lá e as pessoas que encontrou. “Tantas pessoas simples, que ofereceram o seu trabalho, a sua esperança.”

O Papa, então, disse que não poderia falar por muito tempo, devido à indisposição que o acometeu nos últimos dias, e monsenhor António Ferreira da Costa, chefe da secção de Assuntos Gerais da Secretaria de Estado, leu o discurso aos presentes na Sala Paulo VI.

No texto, o agradecimento foi reforçado à delegação de várias partes do mundo que veio ao Vaticano, e que Francisco a descreveu como formada por “dinamizadores, coordenadores e apoiadores” da JMJ de Portugal. Foi um “um luminoso exemplo de como é possível partilhar uma missão, sem deixar ninguém de fora”, comentou o Papa, ao recordar e reafirmar a mensagem enfática dada a milhões de jovens em Lisboa, de que a Igreja é lugar para todos, “fazendo-os confluir para um grande sonho comum”.

Meus amigos, não deixem que nada se perca daquela JMJ que nasceu, cresceu, floriu e frutificou nas mãos de vocês, extasiadas com a abundante multiplicação de pedaços de Céu feitos gente, que brotavam de todo o lado e até mesmo de onde não se esperava.”

“O Direito Canónico deve ser mais pastoral e missionário”

Mesmo quando uma sanção severa deva ser aplicada a alguém que cometeu um delito muito grave, a Igreja, que é mãe, oferecer-lhe a ajuda e o apoio espiritual indispensáveis ​​para que no arrependimento possa encontrar o rosto misericordioso do Pai”.

Este é o cerne da mensagem do Papa Francisco enviada, na sexta-feira, 1 de dezembro, a Chiara Minelli, presidente da Consociatio Internationalis Studio Iuris Canonici Promovendo, associação fundada há cinquenta anos com o objetivo de unir especialistas em Direito Canónico de universidades eclesiásticas e civis de várias partes do mundo.

Para celebrar o aniversário especial, a associação reuniu-se em Roma para a conferência “Cinquenta anos de Promoção do Direito Canónico no panorama mundial da Ciência Jurídica”. Para a ocasião, o Papa expressa a esperança de que seja um momento providencial de reflexão “para renovar a sua cooperação numa área tão delicada da Igreja”.

Ele sublinha:​ “Tende consciência de que vocês são instrumentos da justiça de Deus, que está sempre indissoluvelmente unida à misericórdia.”

“Todas as dimensões e estruturas eclesiais devem realizar uma conversão pastoral e missionária, para levar ao mundo a única coisa de que necessita: o Evangelho da misericórdia de Jesus. O Direito Canónico também está investido deste mandato que o Mestre deu à sua Igreja. Portanto, é necessário que seja mais pastoral e missionário”, disse.

Angelus: no Advento, encontrar nos necessitados, Jesus que vem

Eis um belo programa para o Advento: encontrar Jesus que vem em cada irmão e irmã que precisa de nós e partilhar com eles o que pudermos: escuta, tempo, ajuda concreta. Foi a exortação do Papa no Angelus deste domingo, 3 de dezembro, início do Advento, tempo de preparação para o Natal que se aproxima.

Como no domingo anterior, a oração mariana foi rezada da Casa na Santa Marta, para não expor o Santo Padre a mudanças bruscas de temperatura, vez que que está a recuperar de uma inflamação pulmonar que o acometeu há mais de uma semana. O texto foi lido por monsenhor Paolo Braida, chefe de escritório na Secretaria de Estado.

Na alocução que precedeu a oração mariana, Francisco destacou que, no breve Evangelho que a liturgia nos propõe neste I Domingo do Advento Jesus, dirige-nos três vezes uma exortação simples e direta. Vigiai. Portanto, o tema é vigilância.

Como devemos entendê-la? – perguntou o Pontífice, acrescentando: às vezes, pensamos nessa virtude como uma atitude motivada pelo medo de um castigo iminente, como se um meteorito estivesse prestes a cair do céu e ameaçasse, se não o evitássemos a tempo, nos esmagar. Mas esse certamente não é o significado da vigilância cristã!

Jesus ilustra isso com uma parábola, falando de um senhor que está voltando e os seus servos que o esperam. Na Bíblia, o servo é a “pessoa de confiança” do patrão, com quem muitas vezes há uma relação de cooperação e afeto. Pensemos, por exemplo, que Moisés é definido servo de Deus e que também Maria diz de si mesma: “Eis aqui a serva do Senhor”.

Receber Jesus especialmente nos mais necessitados, observou, a vigilância dos servos não é de medo, mas de anseio, esperando encontrar o seu senhor que vem. Eles mantêm-se prontos para o seu retorno porque lhe querem bem, porque têm em mente que, quando ele chegar, encontrará uma casa acolhedora e organizada.

É com essa expectativa cheia de afeto que também queremos nos preparar para receber Jesus: no Natal, que celebraremos daqui a algumas semanas; no fim dos tempos, quando voltará em glória; todos os dias, quando Ele vier ao nosso encontro na Eucaristia, na sua Palavra, nos nossos irmãos e irmãs, especialmente os mais necessitados.”

De modo especial durante essas semanas, exortou Francisco, preparemos cuidadosamente a casa do coração, para que ela seja organizada e hospitaleira. A vigilância, de facto, significa manter o coração preparado. É a atitude do vigia que, durante a noite, não se deixa tentar pelo cansaço, não adormece, mas permanece acordado na expectativa da luz que se aproxima.

COP28: ouçamos os gemidos da terra e o grito dos pobres

O cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, esteve no Dubai, Emirados Árabes Unidos, para participar na 28ª edição da Conferência dos Estados-Partes (COP28), sobre as “Mudanças Climáticas”, promovida pela ONU, em andamento de 30 de novembro a 12 de dezembro.

Devido ao seu estado de saúde, o Santo Padre não pôde participar do evento, mas delegou o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, para ler o seu discurso, onde explica, inicialmente, o motivo da sua ausência, mas confirma a sua presença espiritual no evento:

“Infelizmente não posso acompanhar-lhes, como gostaria, mas estou com vocês, devido à urgência da hora em que vivemos, como também porque, agora mais do que nunca, o futuro de todos depende do presente que escolhermos”.

Estou com vocês, continua Francisco, porque a devastação da criação é uma ofensa a Deus, um pecado não só pessoal mas também estrutural que recai sobre os seres humanos, sobretudo os mais frágeis; trata-se de um grave perigo porque, sobre cada um de nós, incumbe o risco de desencadear um conflito entre as gerações. As mudanças climáticas são “um problema social global, intimamente ligado à dignidade da vida humana”.

A ambição de produzir e possuir, explica o Papa, transformou-se em obsessão e ganância, sem limites, fazendo do ambiente objeto de uma exploração desenfreada. O clima enlouquecido emite um alerta para acabarmos com o delírio de omnipotência. Com humildade e coragem.

Em nome da Casa Comum, onde moramos, o Pontífice dirige-se aos irmãos e irmãs, presentes no Dubai, propondo um caminho para sair deste impasse: “Esta Conferência já é um caminho, mas a prática do multilateralismo também é um caminho a ser percorrido em conjunto. É preciso reconstruir a confiança, fundamento do multilateralismo, que vale para o cuidado da criação como para a paz”.

Aqui, o Papa adverte: “As mudanças climáticas precisam de uma mudança política e de uma conversão ecológica, pois não há mudanças duradouras sem mudanças culturais. A Igreja católica garante o seu compromisso e apoio, através da educação, para sensibilizar a participação comum e promover estilos corretos de vida”.

Papa Francisco: as religiões trabalhem juntas pela paz e pelo clima

O mundo, hoje, precisa de alianças que não sejam contra alguém, mas a favor de todos. É uma das passagens prementes da mensagem em vídeo do Santo Padre, este domingo, 3 de dezembro, por ocasião da inauguração do Pavilhão da Fé, no Dubai, na qual Francisco diz lamentar profundamente não poder estar presente e ressalta ter confiado ao cardeal secretário de Estado Pietro Parolin as palavras que gostaria de dirigir nesta ocasião.

Quero dizer-vos: “Obrigado”! Obrigado porque realizastes, pela primeira vez, um pavilhão religioso no âmbito duma COP. E obrigado porque isso é testemunho da vontade que tendes de trabalhar juntos. O mundo, hoje, precisa de alianças que não sejam contra alguém, mas a favor de todos.”

“Urge que as religiões, sem cair na armadilha do sincretismo, deem o bom exemplo de trabalharem juntas, não para os próprios interesses nem para os interesses duma parte, mas para os interesses do nosso mundo. Entre estes, os mais importantes hoje são a paz e o clima.”

Audiência Geral: a missão não é um manual a ser aplicado, mas obra do Espírito Santo

Na Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco reafirmou que se sente “muito melhor”, mas que sente dificuldades “quando fala demais”. A reflexão, pronunciada por mons. Ciampanelli, foi dedicada à quarta dimensão do zelo apostólico: o Espírito Santo, protagonista do anúncio do Evangelho.

Nas catequeses anteriores, vimos que o anúncio do Evangelho é alegria, é para todos e deve ser dirigido ao hoje. Descubramos agora uma última característica essencial: o anúncio deve realizar-se no Espírito Santo. Com efeito, para ‘comunicar Deus’ não bastam a alegre credibilidade do testemunho, a universalidade do anúncio e a atualidade da mensagem. Sem o Espírito Santo todo zelo é vão e falsamente apostólico: seria apenas nosso e não daria frutos”.

No texto, o Papa recorda que “o Espírito é o protagonista, sempre precede os missionários e faz brotar os frutos. O Senhor não nos deixou folhetos teológicos ou um manual de pastoral para aplicar, mas o Espírito Santo que inspira a missão. E a desenvoltura corajosa que o Espírito infunde leva-nos a imitar o seu estilo, que tem sempre duas características: a criatividade e a simplicidade.”

“Irmãos e irmãs, deixemo-nos cativar pelo Espírito e invoquemo-lo todos os dias: seja Ele o princípio do nosso ser e do nosso agir; esteja no início de cada atividade, reunião, encontro e anúncio. Ele vivifica e rejuvenesce a Igreja: com Ele não devemos temer, porque Ele, que é a harmonia, mantém sempre juntas a criatividade e a simplicidade, inspira a comunhão e envia em missão, abre à diversidade e reconduz à unidade. Ele é a nossa força, o sopro do nosso anúncio, a fonte do zelo apostólico. Vinde, Espírito Santo!”

Angelus: como Maria, acolher os grandes dons de Deus com admiração e simplicidade

Nesta sexta-feira, Solenidade da Imaculada Conceição, o Papa Francisco voltou a rezar a oração mariana do Angelus da janela do Palácio Apostólico, após duas semanas em que, por recomendações médicas, a pronunciou na Capela da Casa Santa Marta.

Aos fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, o Pontífice destacou duas atitudes da Virgem Maria que lhe permitiram ter um coração totalmente livre do pecado. Em primeiro lugar, a surpresa quando ouve ser chamada de “cheia de graça”:

É uma atitude importante esta: saber se maravilhar diante dos dons do Senhor, nunca os considerando como óbvios, apreciar o seu valor, alegrar-se pela confiança e ternura que trazem consigo.”

Maria, enfatiza o Santo Padre, é “uma jovem, que precisamente graças à sua simplicidade conservou puro aquele Coração Imaculado com o qual, pela graça de Deus, foi concebida”:

Através da simplicidade, disse o Pontífice, a Virgem cultivou o imenso dom da sua Imaculada Conceição e acolheu as oportunidades de crescimento do seu tempo: a Palavra de Deus, a fé para a qual foi educada pelos pais, a generosidade e a prontidão com que se comportou.

“Que Maria Imaculada nos ajude a maravilhar-nos com os dons de Deus e a responder-lhe com a fiel generosidade de cada dia”, concluindo.

“Peço a todos, especialmente aos fiéis de Roma, que se unam espiritualmente a mim nestes gestos de entrega à nossa Mãe, rezando em particular pela paz, pela paz na Ucrânia, pela paz na Palestina e em Israel, e em todas as terras feridas pelas guerras. Peçamos a paz, que os corações sejam pacificados, que haja paz!”, concluiu.

JM (com recursos jornalísticos do portal noticioso Vatican News)

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08 de Dezembro de 2023