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A Palavra do Papa: a rede de partilha do bem, o valor da fraternidade, o cuidado das relações e os seguidores superficiais

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“Desde o início, Deus, que é amor, – escreve o Papa na sua mensagem para o Dia Mundial do Doente, a 11 de fevereiro, – criou o ser humano para a comunhão, inscrevendo no seu íntimo a dimensão das relações. Assim a nossa vida, plasmada à imagem da Trindade, é chamada a realizar-se plenamente no dinamismo das relações, da amizade e do amor mútuo. Fomos criados para estar juntos, não sozinhos.”

Comunicação: para nós, comunicar é não se render à cultura da agressão e da difamação

“Comunicar para nós não é sobrelevar com a nossa voz a dos outros, não é propaganda; às vezes é também silêncio; não é esconder-se atrás de slogans ou frases de efeito. Para nós, comunicar não é concentrar tudo na organização, não é marketing; não é apenas adotar esta ou aquela técnica” foi o que disse o Santo Padre no discurso entregue aos participantes do Simpósio “Universidade de Comunicadores da Igreja”, promovido pela Conferência Episcopal Francesa, recebidos pelo Pontífice na sexta-feira, 12 de janeiro, na Sala Clementina, no Vaticano.

Francisco afirmou que gostaria de ler todo o discurso, mas por estar com um pouco de bronquite e não conseguir falar bem, entregaria a cópia do mesmo, agradecendo pela compreensão, por terem vindo e pelo trabalho que realizam, porque não é fácil comunicar-se, mas é a primeira coisa que uma pessoa faz. A comunicação é a coisa mais humana que existe, disse.

O Pontífice ressalta que comunicar é “uma grande missão, num mundo tão hiperconectado e bombardeado de notícias”. É por isso que vocês decidiram fazer uma paragem “para redescobrir a raiz daquilo que comunicamos, a verdade que somos chamados a testemunhar, a comunhão que nos une em Jesus Cristo”.

Para nós, comunicar é estar no mundo para cuidar do outro, dos outros, é ser tudo para todas as pessoas; é partilhar uma leitura cristã dos acontecimentos; é não se render à cultura da agressão e da difamação; é construir uma rede de partilha do bem, do verdadeiro e do belo, feita de relacionamentos sinceros; é envolver os jovens na nossa comunicação, observa o Papa.

No seu discurso, Francisco oferece a estes comunicadores da Igreja em França três palavras para a caminhada deles: testemunho, coragem e olhar amplo.

Papa Francisco: o desporto ensina-nos o valor da fraternidade

O Papa recebeu na manhã de sábado, 13 de janeiro, os membros e familiares da Associação Desportiva Athletica Vaticana. O Sumo Pontífice expressou a sua alegria pela presença da associação nas ruas, nas pistas e nos campos de jogo. Expressou a sua alegria pelo testemunho cristão que dão no grande mundo do desporto, que hoje representa a expressão cultural mais difundida.

Francisco destacou em seguida que era significativo que o encontro ocorresse nos primeiros dias de 2024, que é o Ano Olímpico e Paralímpico. Pensando no valor da “trégua olímpica”, – disse o Papa – “a minha esperança é que, no momento histórico particularmente sombrio que estamos a viver, o desporto possa construir pontes, derrubar barreiras e promover relações pacíficas”.

Recordou então que com um estilo marcado pela simplicidade, há exatamente cinco anos, a Athletica Vaticana tem se empenhado em promover a fraternidade, a inclusão e a solidariedade, dando testemunho da fé cristã entre desportistas, amadores e profissionais.

É por isso que – continuou Francisco – além das atividades desportivas, a associação também propõe momentos de oração e serviço aos mais necessitados.

Francisco reafirmou que o desporto é um meio de expressar os talentos de cada um, mas também de construir a sociedade. O desporto ensina-nos o valor da fraternidade. Não somos ilhas: no campo, não importa a origem o idioma ou a cultura da pessoa. O que conta é o compromisso e o objetivo comum.

Concluindo as suas palavras incentivou cada um dos presentes “a ver o desporto como um caminho de vida que os ajuda a construir uma comunidade mais unida e a levar adiante os valores da vida cristã: lealdade, sacrifício, espírito de equipa, compromisso, inclusão, ascese, resgate”.

Dia Mundial do Doente: “Não é conveniente que o homem esteja só”

Como o tema «Não é conveniente que o homem esteja só». Cuidar do doente, cuidando das relações, foi divulgada neste sábado, a mensagem do Papa Francisco para o 32º Dia Mundial do Doente celebrado no dia 11 de fevereiro de 2024.

Desde o início, Deus, que é amor, – escreve o Papa na sua mensagem – criou o ser humano para a comunhão, inscrevendo no seu íntimo a dimensão das relações. Assim a nossa vida, plasmada à imagem da Trindade, é chamada a realizar-se plenamente no dinamismo das relações, da amizade e do amor mútuo. Fomos criados para estar juntos, não sozinhos.

O Papa recorda o que muitos enfrentaram sozinhos durante a pandemia de Covid-19, tanto pacientes como profissionais e saúde, os que vivem em sofrimento e solidão o drama da guerra, os que vivem, por causa da saúde ou da velhice, sozinhos, ao abandono.

Destaca que o primeiro cuidado de que necessitamos na doença é uma proximidade cheia de compaixão e ternura. Por isso, cuidar do doente significa, antes de mais nada, cuidar das suas relações, de todas as suas relações: com Deus, com os outros – familiares, amigos, profissionais de saúde –, com a criação, consigo mesmo. É possível? Sim, é possível; e todos somos chamados a empenhar-nos para que tal aconteça. Olhemos para o ícone do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37), contemplemos a sua capacidade de parar e aproximar-se, a ternura com que trata as feridas do irmão que sofre.

Recordemos esta verdade central da nossa vida: viemos ao mundo porque alguém nos acolheu, somos feitos para o amor, somos chamados à comunhão e à fraternidade. Esta dimensão do nosso ser sustém-nos sobretudo no tempo da doença e da fragilidade, e é a primeira terapia que todos, juntos, devemos adotar para curar as doenças da sociedade em que vivemos.

Angelus: o Senhor não quer “followers”, não a uma fé feita de hábitos

”O Senhor não quer fazer prosélitos, não quer ‘followers’ superficiais, mas pessoas que se questionem e se deixem-se interpelar pela sua Palavra”. Foi o que disse o Papa Francisco no Angelus do II Domingo do Tempo Comum na Praça São Pedro, comentando o Evangelho do dia que fala do encontro de Jesus com os primeiros discípulos.

“Esta cena – sublinhou Francisco – convida-nos a recordar do nosso primeiro encontro com Jesus – cada um teve o primeiro encontro com Jesus -, a renovar a alegria de segui-Lo e a perguntarmo-nos: o que significa ser discípulos do Senhor? Segundo o Evangelho de hoje podemos tomar três palavras: procurar Jesus, morar com Jesus, anunciar Jesus”, disse o Papa.

Para sermos discípulos de Jesus é preciso antes de tudo procurá-lo, ter um coração aberto, em busca, não saciado ou satisfeito. Nós somos seus discípulos na medida em que o frequentamos, ouvimos a sua Palavra, dialogamos com Ele na oração, O adoramos, O amamos e o servimos nos irmãos. Em suma, a fé não é uma teoria, é um encontro, é ir e ver onde o Senhor mora e morar com Ele”.

Procurar, morar e, finalmente, anunciar. Esse primeiro encontro com Jesus foi uma experiência tão forte que os dois discípulos se recordaram para sempre da hora: “eram cerca de quatro horas da tarde”. E os seus corações estavam tão cheios de alegria que imediatamente sentiram a necessidade de comunicar o dom que haviam recebido. De facto, um dos dois, André, apressa-se em partilhá-lo com o seu irmão Pedro.

Irmãos e irmãs, também nós hoje recordemos do nosso primeiro encontro com o Senhor. “Cada um de nós teve o primeiro encontro, seja dentro da família, seja fora dela… Quando encontrei o Senhor? Quando o Senhor tocou meu coração? E nos perguntemos: ainda somos discípulos apaixonados, procuramos o Senhor ou nos acomodamos em uma fé feita de hábitos? Moramos com Ele na oração, sabemos ficar em silêncio com Ele? E, enfim, sentimos a necessidade de partilhar, de anunciar esta beleza do encontro com o Senhor?

O Papa, imediatamente após a oração do Angelus, voltou a lançar o seu apelo contra os conflitos, especialmente na Ucrânia, na Palestina e em Israel, que semeiam “a morte entre os civis” e destroem “cidades e infraestruturas”.

O Papa sobre os casais irregulares: “o Senhor abençoa todos, todos, todos”

Bênçãos para todos, também aos casais “irregulares”, imitando Deus que é “bom” e não “castigador” e “abençoa todos, todos, todos”; o “medo” de uma escalada bélica e da capacidade de “autodestruição” da humanidade; a confirmação de que não tem intenção de renunciar e o anúncio de duas viagens: à Polinésia, em agosto, e à sua terra natal, a Argentina, no final do ano. Esses são alguns dos temas tratados pelo Papa na sua entrevista ao jornalista Fabio Fazio, no programa “Che tempo che fa” do canal de televisão italiano Nove.

O Papa respondeu a uma pergunta sobre o documento do Dicastério para a Doutrina da Fé, Fiducia Supplicans, que abre a possibilidade de abençoar casais em situações “irregulares” com relação à moral católica, incluindo casais do mesmo sexo. Um documento que registou várias reações, até mesmo contrastantes. Francisco reconheceu que “às vezes as decisões não são aceitas”, mas muitas vezes “é porque não se conhece”.

Depois reafirmou aquele princípio de “todos, todos, todos” já expresso durante a JMJ de Lisboa: “O Senhor abençoa todos, todos, todos que vêm. O Senhor abençoa todos aqueles que podem ser batizados, ou seja, cada pessoa. Mas depois as pessoas devem entrar em diálogo com a bênção do Senhor e ver qual é o caminho que o Senhor lhes propõe. Mas devemos pegá-las pela mão e ajudá-las a seguir esse caminho, não as condenar desde o início”.

Esse é “o trabalho pastoral da Igreja” e é um trabalho “muito importante” para os confessores, a quem Francisco reitera o convite para “perdoar tudo” e tratar as pessoas “com muita bondade”.

O Senhor “não se escandaliza com os nossos pecados, porque Ele é Pai e acompanha-nos”, observou o Papa Francisco, confidenciando que gosta de esperar que o inferno esteja vazio.

A Papa fala de reformas. A primeira a ser implementada é “uma reforma dos corações”, depois ele passa para as estruturas que “devem ser preservadas, mudadas, reformadas de acordo com a finalidade”. Mas a primeira coisa a ser feita é “mudar o coração” e limpá-lo da maldade e da inveja, “um vício amarelo que arruína todos os relacionamentos”.

Papa Francisco: o verdadeiro amor não possui, se doa ao outro

Na manhã desta quarta-feira, 17 de janeiro, Francisco deu continuidade ao itinerário de catequeses sobre os vícios e as virtudes. O tema da reflexão durante a Audiência Geral na Sala Paulo VI foi dedicado ao vício da luxúria, do qual “os antigos Padres ensinam que, depois da gula, é o segundo ‘demónio’ que está sempre à porta do coração”.

“Enquanto a gula é a voracidade por comida”, destacou o Papa, “esse segundo vício é uma espécie de ‘voracidade’ por outra pessoa, ou seja, o vínculo envenenado que os seres humanos mantêm entre si, principalmente no âmbito da sexualidade”.

Ao voltar o seu olhar para a experiência humana do apaixonar-se, o Papa afirmou que esta é uma das realidades mais surpreendentes da existência: “a maioria das canções que ouvimos no rádio é sobre isso: amores que se iluminam, amores sempre procurados e nunca alcançados, amores cheios de alegria ou que atormentam até as lágrimas”.

Se não estiver poluído pelo vício, o apaixonar-se é um dos sentimentos mais puros. Uma pessoa apaixonada torna-se generosa, gosta de dar presentes, escreve cartas e poemas. Deixa de pensar em si mesmo para se projetar completamente nos outros. E se perguntais a um apaixonado por qual motivo ama, não encontrará uma resposta: em muitos aspetos o seu amor é incondicional, sem qualquer motivo”.

Este “jardim” onde se multiplicam as maravilhas não está, porém, a salvo do mal, sublinhou o Papa, mas tantas vezes é desfigurado pelo demónio da luxúria. O Pontífice notou que este vício é particularmente odioso por dois motivos:

“Em primeiro lugar porque devasta as relações entre as pessoas. Infelizmente, as notícias do dia a dia são suficientes para documentar tal realidade. Quantos relacionamentos que começaram da melhor maneira se transformaram em relacionamentos tóxicos, de posse do outro, desprovidos de respeito e de senso de limites? São amores em que faltou a castidade: virtude que não deve ser confundida com a abstinência sexual, mas sim com a vontade de nunca possuir o outro.”

Amar é respeitar o outro, buscar a sua felicidade, cultivar a empatia pelos seus sentimentos, colocar-se no conhecimento de um corpo, de uma psicologia e de uma alma que não são os nossos, e que devem ser contemplados pela beleza de que são portadores. Amar é belo!”

Ao recordar que “entre todos os prazeres do homem, a sexualidade tem uma voz poderosa”, o Papa evidenciou a segunda razão pela qual a qual a luxúria é um vício perigoso:

“A sexualidade envolve todos os sentidos; reside tanto no corpo quanto na psique; se não for disciplinada com paciência, se não se inscrever numa relação e numa história onde dois indivíduos a transformam numa dança amorosa, ela transforma-se numa corrente que priva o homem de liberdade. O prazer sexual é prejudicado pela pornografia: satisfação sem relacionamento que pode gerar formas de dependência. Devemos defender o amor, a pureza de doar-se um ao outro, essa é a beleza de uma relação sexual.”

Vencer a batalha contra a luxúria, contra a “coisificação” do outro, pode ser uma tarefa para toda a vida.”

Por fim, destacou o Papa, o prémio desta batalha é o mais importante de todos, porque consiste em preservar aquela beleza que Deus escreveu na sua criação quando imaginou o amor entre o homem e a mulher: “Construir juntos uma história é melhor do que correr atrás de aventuras, cultivar ternura é melhor do que se curvar ao demónio da posse, o verdadeiro amor não possui, doa-se, servir é melhor do que conquistar. Porque se não há amor, a vida é uma triste solidão”.

JM (com recursos jornalísticos da Vatican News)

Foto: Vatican Media

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19 de Janeiro de 2024