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Síntese sinodal diocesana mostra “maior perceção que a Igreja somos todos nós”

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Após o final da consulta diocesana e do envio para a Conferência Episcopal Portuguesa do documento de síntese sinodal referente à segunda fase do processo sinodal, publica-se agora, para conhecimento de todos os diocesanos e da Igreja em Portugal, o documento síntese que foi enviado e que resultou do trabalho das paróquias, congregações e movimentos durante os primeiros meses deste ano.

A síntese surge na sequência da primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, dedicada ao tema da sinodalidade. No final, o Papa e a Secretaria Geral do Sínodo pediram que a síntese aprovada pelos participantes sinodais voltasse às dioceses e pudesse ser lida, rezada e refletida por toda a Igreja, a fim de que produzissem novas sínteses que iriam auxiliar na elaboração do Instrumentum Laboris que servirá de base de trabalho para a segunda sessão do Sínodo, que terá lugar em outubro de 2024.

Em Setúbal, a comissão sinodal pediu às comunidades que centrassem a sua reflexão nos temas 8, 9, 10, 11, 12, 16 e 18, e a síntese foi elaborada com base na reflexão feita nesses tópicos.

Desde logo, uma das principais conclusões é uma comunhão generalizada com aquilo que eram os pontos de convergência do relatório final do Sínodo. Depois, e passando à reflexão das questões a aprofundar, uma das principais conclusões da síntese diocesana é a de que “as comunidades consideraram que um caminho sinodal leva à alteração de algumas formas de atuação, de vivência e de estar em comunidade”.

Isto passa por tornar “comum e recorrente a realização, em comunidade, de momentos de debate, de diagnóstico de dificuldades e de proposta de soluções”, pode ler-se na síntese, que publicamos abaixo.

 

Processo Sinodal até outubro de 2024 – Como ser Igreja Sinodal em Missão?

 

Da auscultação às comunidades da diocese resultou a seguinte síntese:

No que se refere aos aspetos mais relevantes do Capítulo 8 – A Igreja é missão, é notória uma maior consciencialização da vocação batismal, pelo que os leigos consideram que as atividades pastorais não cabem apenas a grupos ou ao pároco, mas devem envolver todos, sendo este sentido já fruto da caminhada sinodal. Efetivamente, os leigos estão cada vez mais presentes e ativos, dentro e fora do espaço eclesial.

Destacaram-se as capacidades apostólicas das pessoas com deficiência. É pedido à Igreja que efetue um maior acompanhamento a todas as pessoas com alguma particularidade da sua história de vida, carência ou deficiência e as possa enviar em missão, de acordo com as suas capacidades e envolvimento na paróquia. Quanto às estruturas pastorais, as comunidades pedem a reorganização das mesmas de modo a fazer emergir carismas e ministérios laicais, inserindo-os no dinamismo missionário da Igreja sinodal. Os ministérios devem estar, ainda, em harmonia com as necessidades da comunidade e devem ser valorizados por ela, pelo que se podem dinamizar celebrações de envio onde cada grupo da paróquia é reconhecido em assembleia e enviado para a sua missão.

Foi referida a necessidade de criar mecanismos de apoio e acompanhamento das famílias, não esquecendo que esta é o suporte da comunidade cristã.

No contexto atual, foi considerado fundamental fazer uma maior aposta na comunicação interna e externa das comunidades (Diocese, Paróquias e outros grupos). Foi abordada a necessidade de formação para os voluntários, pois ela favorece o compromisso.

As Igrejas vivem em contextos cada vez mais multiculturais e multirreligiosos, em que é essencial o compromisso de viver no diálogo entre religião e cultura juntamente com os outros grupos que constituem a sociedade. Viver a missão da Igreja nestes contextos requer um estilo de presença, serviço e anúncio que procure construir pontes, cultivar a compreensão recíproca e comprometer-se numa evangelização que acompanha, escuta e aprende.

Em relação ao Capítulo 9 – As mulheres na vida e na missão da Igreja, foi unanime que as mulheres desempenham papéis vitais na vida e na missão da Igreja, contribuindo com seus dons, talentos e capacidades de liderança. No entanto, é fundamental envolver mais mulheres nas funções e nos ministérios existentes, incluindo o acolitado, e garantir que as mesmas possam participar nos processos de decisão, assumindo papéis de responsabilidade na pastoral, pelo que se deve dar seguimento à pesquisa teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconado. De referir que foi mencionado o facto de se temerque a pressão para a ordenação de mulheres seja apenas para suprir a falta de vocações masculinas , como o diaconado permanente que é olhado como forma de suprir a escassez de clero. Alguns sentiram que as mulheres têm mais a oferecer, mas nem sempre são autorizadas a fazê-lo, outros sublinharam a necessidade de as mulheres poderem ocupar os mesmos papéis que os homens dentro da Igreja.

Embora tenham existido respostas de algumas Congregações ao Capítulo 10 – A vida consagrada e as agregações laicais, verificou-se que não existiu tempo útil para uma reflexão mais integrada com a vida da Diocese.

Da análise efetuada às respostas obtidas no Capítulo 11 – Diáconos e presbíteros numa Igreja Sinodal, destaca-se a necessidade de as comunidades cristãs cuidarem dos seus ministros ordenados de modo que não experimentem a solidão e o isolamento.

Os ministros ordenados estão, muitas vezes,sobrecarregados com trabalho para o qual sentem não ser a sua vocação, pelo que os leigos poderiam ser mais envolvidos nessas funções. Um obstáculo ao ministério e à missão é constituído pelo clericalismo, pelo que é fundamental investir na formação dos ministros ordenados bem como dos seminaristas, sendo que a formação deverá estar interligada à vida quotidiana, os estágios pastorais não devem ser realizados só em ambientes eclesiais e as equipas formadoras devem ser compostas por padres, leigos e leigas, religiosas e religiosos bem preparados e amadurecidos na vida e na Fé. Em suma, é importante dar particular atenção à formação inicial e contínua dos presbíteros e dos diáconos.

Para a construção de uma Igreja sinodal foi referida a necessidade de transparência e de uma cultura de prestação de contas. Para uma Igreja que caminha num processo sinodal é imprescindível que os Conselhos Paroquiais sejam uma realidade em todas as Paróquias.

Mais uma vez foi salientado que o celibato não deveria ser obrigatório.

Na escuta às comunidades cristãs o Capítulo 12 – O bispo na comunhão eclesial, foi pouco explorado, referido por muitos por falta de tempo ou por não ter nada a acrescentar, uma vez que se reviam totalmente no registado pelo Relatório Síntese da XVI Assembleia Ordinária do Sínodo. Porém, as comunidades pedem um bispo próximo, que acompanha a vida das comunidades, não apenas em contexto de administração de sacramentos, mas como o bom Pastor que conhece, pelo nome, os que lhes estão confiados.

No Capítulo 16 – Por uma Igreja que escuta e acompanha, foi destacada a necessidade de uma Igreja que escuta, que acolha e que integra. Uma Igreja que acompanhe as pessoas na sua realidade de vida, casais, pobres, marginalizados pelas suas situações matrimoniais, identidade ou sexualidade, que seja capaz de propor, em qualquer que seja a sua condição existencial, um caminho de conversão a Jesus.

Foi salientado o facto dos jovens se sentirem mais escutados, mas a execução das suas propostas é ainda muito fraca, pelo que se pedem palavras e gestos mais claros e apelativos para que estes se aproximem e façam caminho na Igreja. Uma das propostas passa por ter mais jovens nos conselhos pastorais dando-lhes mais visibilidade.

No processo de acompanhamento e escuta é necessário alargar a escuta aos não batizados e às comunidades imigrantes. Sendo desejável a instituição de um ministério de acolhimento, escuta e acompanhamento, através da criação de estruturas apropriadas. Destaca-se que o cuidado e a escuta cabem a todos e não apenas aos sacerdotes. E os que prestam o serviço da escuta e do acompanhamento deveriam receber mais formação.

Por fim, foi mencionada a necessidade de revalorizar o sacramento da reconciliação como elemento de escuta e de cura.

No que se refere ao Capítulo 18 – Organismos de participação, as comunidades cristãs referiram que é urgente proceder à criação ou à reativação dos conselhos pastorais. Promover a participação nos vários Conselhos, ter um representante/animador que acompanhe, oriente e questione o andamento das atividades propostas pelos grupos, o que pode ser efetivado com a criação de uma estrutura específica. Que, efetivamente, se potenciem os organismos de participação, com uma adequada presença de leigos, com a atribuição de funções de discernimento em vista de decisões realmente apostólicas.

Por sua vez, os jovens reivindicam ser protagonistas de algumas iniciativas no seio da comunidade. A renovação de responsáveis deve ser incentivada de forma a que o protagonismo não recaia sempre nos mesmos.

Também foi considerado que a existência de reuniões paroquiais informais, complementares aos Conselhos Pastorais, como aconteceu durante os encontros da consulta sinodal, devem ser incentivados pois são oportunidade de envolver mais e diferentes paroquianos no discernimento e participação na vida da paróquia.

Em modo de conclusão é possível afirmar que as comunidades consideraram que um caminho sinodal leva à alteração de algumas formas de atuação, de vivência e de estar em comunidade, pelo que foi manifestada a vontade de que se torne comum e recorrente a realização, em comunidade, de momentos de debate, de diagnóstico de dificuldades e de proposta de soluções.

Foi notória uma maior perceção de que a Igreja somos todos nós, e de que o pároco, sendo o pastor e o principal responsável, não pode ficar sobrecarregado com todas as tarefas, pelo que pode existir a partilha de responsabilidades, abandonando uma certa centralidade do poder.

Da escuta sinodal surge uma maior preocupação por ouvir a todos, informar a todos, incluir todos no discernimento e decisões a tomar e ao mesmo tempo uma maior sensibilidade e atenção aos mais excluídos.

 

 

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10 de Abril de 2024