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D. Américo Aguiar em tertúlia sobre a memória e o 25 de Abril

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O bispo de Setúbal esteve ontem à noite, dia 16, a participar na 9ª edição do Colóquio do Pensamento, uma iniciativa de Paulo Mendes Pinto e Pedro Abrunhosa. A sessão, dedicada ao 25 de Abril e à memória, contou ainda com a presença de Rui Tavares, líder do Livre, partido com assento parlamentar.

Desafiado a refletir sobre o porquê de a Igreja não ter sido tão afetada após a revolução como o foi no tempo da I República, D. Américo Aguiar lembrou a figura de D. António Ferreira Gomes, antigo bispo do Porto, exilado pelo regime, e “os diferentes movimentos que falavam e refletiam sobre a liberdade” como tendo sido parte da razão que levou a que a transição fosse mais pacífica.

O bispo de Setúbal elogiou também aquilo que foi a opção da Igreja Católica em Portugal de “não abençoar um partido católico, mas incentivar a presença dos católicos em todos os partidos com que se identificassem”. “Isso eventualmente tirou alguma visibilidade à Igreja, mas foi uma opção que se mantém e com a qual concordo”, referiu o prelado.

D. Américo Aguiar falou também do problema de uma nova geração de leigos menos ativa na praça pública, e reconheceu que a Igreja “tem défice de salvar as costas aos leigos que dão a cara”. “Isso aconteceu e foi desgastando o laicado que, com a «vacina» do Concílio Vaticano II, era muito ativo”.

Isto leva a que, hoje em dia, sem memória do que se passou há 50 anos, “é perigoso que uma fatia significativa da população não esteja nem aí para os 50 anos do 25 de abril, pois não estamos livres de um pesadelo e de acordarmos para um mundo diferente” um destes dias.

O prelado critica que, “no Parlamento, não seja normal a sã convivência de pessoas que pensam de maneira diferente”. “Há limite em o outro defender aquilo que pensa? Temos de ter um pacto social de linhas vermelhas?”, questionou.

Neste sentido, o Cardeal D. Américo Aguiar considera que “é preciso parar para pensar e refletir sobre que forma podemos melhorar a nossa democracia, e não ter medo disso”, já que “a ideia generalizada de que todos os políticos são ladrões ou corruptos a certa altura cria uma generalização que é perigosa”. “Hoje em dia, quando alguém aceita ser deputado, governante ou autarca, eu rezo por eles porque ou é loucura ou martírio”.

Como pensamento final, o bispo de Setúbal considera que “falta cumprir a Fraternidade”. “Falta olhar para o outro como meu irmão”, com tudo o que isso implicaria.

 

D. Américo Aguiar com Paulo Mendes Pinto, Rui Tavares e Pedro Abrunhosa

 

texto e fotos: Ricardo Perna | Diocese de Setúbal

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17 de Abril de 2024