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As brumas da memória

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É fraca a memória humana. Quando não é fraca é selectiva e perigosa.
Mas factos são factos e a realidade é só uma. E mesmo que se produzam um conjunto sucessivo de “verdades”, a realidade do que aconteceu continua a ser o que é.

 

Para se conhecer o presente e para se planear o futuro é imprescindível conhecer o passado, perceber como tudo se construiu, como as coisas se desenvolveram, quem foi importante, quem foi essencial, quem foi relevante e quem foi irrelevante.

O escutismo não foge à regra. Para se perceber o que ele é, para se imaginar o que ele será, tem que se perceber o que ele foi, a relevância que ele teve, as dificuldades que vivenciou, o que ambicionava ser e o que se tornou.

Ao assistirmos ao lançamento de um livro sobre a história do escutismo na Região de Setúbal importa olharmos para ele com duas perspectivas diferentes: A primeira a factual. Resume-se ao conjunto de dados mais ou menos precisos mas que nos ajudam a balizar, a concretizar e a enquadrar momentos e pessoas. Esses são mais ou menos indiscutíveis e resultam de uma consulta objectiva de documentos sem qualquer elemento subjectivo e cuja análise não pode deixar de ser, também ela, objectiva: “Fulano em data tal foi eleito para isto ou inaugurou aquilo”. Como em tudo pode ser contraposto ou contrariado com elementos probatórios que afastem aquele dado, ou ilidam uma presunção, mas que, na essência, corresponde a factos.

Contudo, a verdadeira dificuldade na hermenêutica – que deve ser a ciência interpretativa de um livro desta natureza – está na apreciação dos elementos subjectivos e no saber distinguir uns e outros.

Assim, no campo da subjectividade teremos todos que ter o cuidado de perceber que os autores podem e devem, nas suas obras, lançar mão da sua interpretação dos momentos que vivenciaram ou que estudaram mas que, ao fazê-lo, não estão a fazer história, estão apenas a interpretá-la.

Num exemplo grosseiro, diremos que um livro sobre a II Guerra Mundial escrito por Hitler e outro escrito por Churchill abordariam a mesma realidade histórica mas seriam dois documentos completamente diferentes. 

Essa análise crítica e essa falta de noção sobre o que é facto e o que é argumento ou opinião, levam a que toda a história esteja pejada de deturpações e que a realidade fique perdida nas calendas (gregas ou romanas) sem que as gerações futuras possam vir alguma vez a conhecer o passado.

Leiam-se assim as obras históricas, sobre o mundo ou sobre o escutismo, com esse cuidado.

Pessoalmente, na história do escutismo em Setúbal, haveria algo que deixaria absolutamente claro: a Importância que o CNE teve para a Igreja Diocesana e a importância que a Igreja Diocesana teve para o CNE e materializaria isso de forma autónoma, num capítulo em que enalteceria a importância dos Prelados para a Região Escutista, deixando claro como o actual Bispo, no seguimento do antecessor, sempre acarinhou o movimento, sempre respondeu afirmativamente ao mesmo e sempre lhe deu os meios necessários (e às vezes mais do que isso) para que o CNE em Setúbal seja o que é. Este seria sempre um capítulo essencial de um livro sobre a história do CNE na Região, e é facto, não é opinião.

 

Rui Pinto Gonçalves

Chefe Regional

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04 de Março de 2011