Caro Alfredo,
Conheces o encontro de Jesus com os discípulos de Emaús, pequena povoação a pouca distância de Jerusalém: dois homens desanimados porque afinal Jesus, por quem se tinham apaixonado fora crucificado e enterrado, frustrando-lhes todas as esperanças de que viria a ser o seu rei e libertador de Israel. Fala com eles, entra na sua casa, “parte o pão”, faz-se luz: aquele que lhes aparecera era, afinal, o seu Jesus ressuscitado.
Deixa que partilhe contigo algumas reflexões, muito simples, que se desprendem desta narração de Lucas:
Jesus começa por perguntar-lhes sobre que falavam e eu penso em tantas conversas inúteis ou até perversas e em tantas palavras perdidas e, quantas vezes, agressivas. A palavra é um dom de Deus que deve ser sempre caminho de comunhão e de construção.
Os discípulos de Emaús notaram logo qualquer coisa de diferente naquele homem que se lhes juntava: “não nos ardia cá dentro o coração quando ele nos falava?” E fico a perguntar-me sobre as impressões que poderão deixar por aqui e por ali as minhas convivências. Será que descobrem algo através dos meus comportamentos?
Chegados a casa, Jesus queria continuar caminho, mas os (amigos) pediram-lhe para ficar em sua casa, porque se estava a fazer noite. E Jesus acedeu. E fico-me a pensar em tantas noites na minha vida, na nossa vida, porque deixamos que Jesus se vá. E “Eu sou a luz”…
Logo se segue a ceia e diz Lucas que eles reconheceram Jesus “ao partir do pão” e logo ficaram fora de si. Não é verdade que nós, pelo menos, nos dias de domingo, vemo-lo “partir o pão” e, quantas vezes, nem nos damos conta? Não nos damos conta e, por isso, não dizemos nada a ninguém. É que tudo, a nível da Igreja e de evangelização, começa aqui, no “partir do pão”.
De qualquer forma, deve ter sido deliciosa aquela ceia e deve ter encantado aqueles discípulos. Às vezes, fico-me a pensar que, depois de experiências iguais, deixámo-nos ficar em casa, sem vontade de virmos para a rua dizer a todos que vimos o Senhor.
Mt.º Ded.º
+ Manuel