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NÃO TER TEMPO

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«Nestes últimos dias andas muito stressado” disse-me um amigo quando lhe elevei a voz ao responder-lhe. Calei-me então, porque era verdade. Censurei-me porque não o deveria ter feito. Lamentei-me porque afinal perturbo as pessoas em vez de lhes transmitir palavras de paz, de confiança, de alegria. É uma frustração, é um contra sinal, é uma pedra atirada ao caminho por onde se deve passar.

 
Na minha meditação tentei compreender melhor que palavra é esta “stress” que vem do estrangeiro. É uma daquelas, palavras que quem a inventou deveria ter guardado só para si e não a espalhar por todo o lugar, por todos os povos, por todos os inocentes. Fui de novo ao dicionário – que nos ajuda a encontrar a raiz das palavras – e lá encontrei a raiz básica deste verbo “stressar”: apertar, forçar. Pouco simpáticos verbos são estes porque atacam a nossa liberdade, limitam os nossos movimentos, obrigam ao que não queremos. Atirem para longe esses baraços, cadeias e laços, tudo quanto é aperto é constrangimento, e deixem-nos soltos e folgados.
O Papa falou recentemente sobre o necessário equilíbrio entre trabalho e família. Um correcto alemão, amante do trabalho e da organização, como aliás todos devemos ser minimamente, o nosso Papa actual está preocupado com este mundo “stressado”, ou seja, sem descanso, sem paz, sem folga, sem pausa. O Santo Padre disse da janela alta dos seus aposentos: “O trabalho não deveria colocar obstáculos à família, mas, pelo contrário, sustentá-la e uni-la, ajudá-la a abrir-se à vida e a entrar em relação com a sociedade e com a Igreja”. E depois concretiza: “O domingo, dia do Senhor e Páscoa da semana, seja dia de descanso e ocasião para reforçar os laços familiares”. Se estamos “stressados” como podemos dar atenção à família? Um chega tarde a casa – foi aos anos de…, vem do trabalho, das aulas, da discoteca e encontrou todos já a dormir; de manhã um sai cedo, toma sozinho o pequeno-almoço enquanto o outro ainda cansado toma-o bem mais tarde; o almoço cada um come-o onde estiver; à noite um vai à festa, outro tem um teste, outro não tem tempo sequer para se sentar… Chega o fim-de-semana: o menino vai treinar, a menina para a dança, ambos seguem depois para o aniversário do amigo, o pai tem um compromisso, um trabalho a acabar, uma parede a consertar, a mãe lava a roupa e passa-a a ferro a correr, vai ao supermercado comprar alguma coisa, vai ao cabeleireiro. De vez em quando vão “à terra” não para descansar mas para lavar a casa, trabalhar a terra, apanhar a fruta, tratar das licenças. Tempo para refeições? Só de pé e a correr. Tempo para o Senhor? Não se pensa nisso, falta tempo. Andam todos “stressados”, ninguém tem tempo para os outros, nem para Deus, nem para a família, nem para si mesmo. A nossa vida é não ter tempo até ao dia em que teremos tempo para tudo.

Pe. Manuel Soares

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12 de Junho de 2012