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40 anos de alegria e evangelização

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A diocese de Setúbal celebrou no passado dia 16 de Julho os 40 anos da sua existência. A Sé de Setúbal acolheu os diocesanos que junto ao Bispo de Setúbal, D. Gilberto dos Reis, e o bispo emérito, D. Manuel Martins, celebraram a Eucaristia. O Núncio Apostólico, Arcebispo Rino Passigato, O Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente, e alguns dos bispos auxiliares de Lisboa, bem como D. António Montes, Emérito de Bragança, também marcaram presença neste dia, que terminou com um bolo e testemunhos sobre estas quatro décadas.

40 anos de vida. A 16 de Julho de 1975 o Papa Paulo VI, com a Bula «Studentes nos» criava a diocese de Setúbal. Os diocesanos quiseram estar em comunhão com o bispo e encheram a Sé de Setúbal, onde também marcou presença quase todo o clero da diocese, os movimentos e obras da Igreja diocesana, fiéis leigos e autoridades autárquicas do território setubalense.

Depois de uma procissão que contornou o templo pelo exterior fazendo parar o trânsito, o Pe José Lobato, Vigário-geral, fez um pequeno resumo de 40 anos de história.

«O nosso júbilo não nascia de qualquer desejo de independência em relação ao Patriarcado de Lisboa, em que tínhamos nascido e vivido na fé e no exercício das várias vocações e ministérios com que servíamos a nossa querida diocese de Lisboa», referiu, saudando o Patriarca, e sublinhando que a nova Diocese, quando surgiu, não queriam cumprir sequer a «velha expectativa surgida em 1926, quando a República criou o distrito de Setúbal».

O sacerdote continuou a explicar o contexto histórico: «Logo em Maio de 1966, o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, decide criar no Patriarcado três regiões pastorais – Lisboa, Santarém e Setúbal – e em Julho seguinte – curiosamente no dia 16 – nomeia os encarregados destas regiões, sendo confiada a Região Pastoral de Setúbal ao, então, Cónego João Alves, com o ofício de “Vigário Episcopal”», disse. No ano seguinte, e inspirado pelo Concílio o Patriarca de Lisboa institui o seu Conselho Presbiteral como forma de criar as duas novas dioceses de Setúbal e Santarém.

40 anos passados e para além de uma nova diocese o Papa Paulo VI elege o primeiro bispo, o então Vigário-geral da diocese do Porto, que viria a ser D. Manuel Martins.

«De parabéns está também esta magnífica igreja de Santa Maria da Graça que neste mesmo dia, há 40 anos, pela já mencionada Bula, foi elevada a catedral», lembrou o Pe José Lobato.

Neste discurso o Pe José Lobato fez um pequeno balanço destes anos. «Tem sido uma vida de grandes aprendizagens», disse, lembrando que «os primeiros tempos foram marcados por muitas dificuldades de ordem política, ideológica, social e também religiosa». Referiu ainda os «graves problemas na vida económica e laboral que atingiram particularmente a região na década de 80». Desafios que a jovem diocese conseguiu superar, pois são conduzidos pelo Espirito Santo.

«D. Manuel Martins apontou, com o seu ministério atento e corajoso, o caminho a esta Igreja que lhe fora confiada. Uma Igreja em minoria social, mas consciente da grandeza da sua missão, precisamente numa sociedade conturbada, para lhe levar, como ninguém o poderia fazer melhor, o Evangelho da justiça, do respeito pela vida e pelo trabalho, da paz, na solidariedade com os que mais sofrem», referiu.

Fazendo depois uma revisão atual da diocese, o sacerdote lembrou os milhares de cristãos leigos da diocese que «fizeram uma aprendizagem e descobriram a beleza e os desafios do sacerdócio batismal, as vocações e a missão específicas no mundo e na Igreja». O vigário-geral lembrou depois alguns do movimentos e obras da diocese que fazem com que esta siga o seu rumo. Por fim lembrou «o nascimento e crescimento da Cúria, do Seminário e dos Conselhos que assessoram o ministério do Bispo; as peregrinações a Fátima, as Assembleias Diocesanas, as 45 ordenações sacerdotais (em 16 de Julho de 1975 éramos 40 padres; hoje somos mais de 80) as 15 ordenações de Diáconos Permanentes, as 40 igrejas e locais de culto, construídas com tanto amor e fé; a entrega do Seminário de Almada e do Cristo Rei; e tantas outras coisas que Deus conhece e que estão a florescer sem darmos conta».

 

«Faz-te ao Largo»

 

Na homília as primeiras palavras de D. Gilberto dos Reis foram para «a alegria da presença física de D. Manuel Martins que dia-a-dia acompanha a diocese, especialmente pelo exemplo, pela oração e pelo emblemático bilhete semanal ‘Caro Alfredo’».

O pastor da diocese destacou alguns dos acontecimentos mais significativos. «A criação e crescimento dos órgãos da Diocese, a ação dos movimentos, o apoio especial aos pobres em horas de crise, o acolhimento ao segundo bispo, a entrega do Seminário de Almada e do Cristo Rei; a festa das ordenações e da dedicação de novas Igrejas e as peregrinações», lembrou.

«Durante o ano, fizemos memória agradecida ao Senhor que nos fez chegar aqui, apesar de nossos medos e pecados, com obras admiráveis. E a maior obra é Jesus morto e Ressuscitado, sacerdote eterno, cabeça da Igreja e Bom Pastor que liberta do pecado e abre as portas do Céu», referiu.

Para o futuro, o bispo anseia lançar de novo as redes. «À ordem de Jesus queremos fazer-nos ao largo como seus discípulos missionários nesta Diocese que abarca a Península de Setúbal, Tróia e Comporta, e que há muitos séculos recebeu o Evangelho», disse. O prelado sublinha a «Terra abraçada pelo Sado, Tejo e mar». Continua destacando este território como a «Terra da reserva natural do Estuário do Sado e da Arrábida, a Terra da indústria, da pesca e do vinho; a Terra acolhedora onde gente do país todo e do mundo vive em paz, é solidária e trabalha com dedicação».

Apontando a meta do futuro, D. Gilberto dos Reis pede para que os diocesanos estejam «apoiados em Jesus que está connosco e que nos diz, de novo: Setúbal, «Faz-te ao largo». «Fazer-se ao largo é fruto da sedução pela beleza do amor de Jesus e não duma ordem vinda de fora», disse. Para isso são precisas três atitudes. A Primeira atitude: Aproximar-se do Senhor, pedra viva, a segunda, entrar na construção do templo espiritual, como pedra viva e por fim, ser geração eleita, sacerdócio real, nação santa».

O ofertório teve nos jovens o papel principal. A representar todas as vigararias os jovens levaram ao altar as oferendas e o pão e vinho, mostrando assim a juventude da Igreja diocesana e do futuro que está aí.

No final da Eucaristia o prelado convidou todos a participar na segunda parte da festa no Centro Paroquial da Anunciada, que acolheu o jantar de aniversário, seguido de partilha de testemunhos destes anos de diocese.

 

40 Anos de alegria e evangelização

 

No Centro Paroquial da Anunciada, também em Setúbal, decorreu a segunda parte da festa do 40º aniversário da diocese. À entrada do auditório foram colocadas várias mesas onde os presentes puderam jantar, compartilhando entre si histórias e amizade. A refeição foi benzida pelo Núncio Apostólico que endereçou palavras de gratidão, carinho e a oração do Papa Francisco pelos 40 anos da diocese. A multidão depois de alimentada abeirou-se do grande bolo de aniversário e lá se cantaram os parabéns à diocese.

D. Manuel Martins, bispo emérito da diocese, não escondeu a sua alegria naquele dia. «Ouvimos testemunhos edificantes e construtores, e por vezes lamentamos a triste sorte deste mundo que vivemos», disse, acrescentando que o Homem já inventou quase tudo, mas sobre o ponto de vista comportamental encontra-se na pré-história. «Nesse sentido é preciso ver as maravilhas que acontecem no mundo», referiu.

O prelado, vindo há 40 anos da diocese do Porto, lembrou que quando foi nomeado bispo de Setúbal muita gente «lamentou» a sua nomeação. «Nunca tinha vindo a Setúbal, não conhecia a sua população nem as suas belezas», confessa, acrescentando que passou algumas dificuldades no início. No dia da sua entrada para a diocese e numa altura em que se vivia o Processo Revolucionário Em Curso (PREC) lembrou que no dia da ordenação «houve uma chuvada imensa de assobios». «Passado pouco tempo depois o bispo agradeceu o povo maravilhoso que encontrou, bem como padres, jovens, religiosos, trabalhadores», referiu.

O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, também foi um dos convidados para testemunhar sobre a história da diocese.

Fazendo um vasto discurso de mais de meia hora sobre a história do território onde se encontra a diocese, o prelado começou por falar na importância do bispo como sucessor dos apóstolos. «Aqui nesta zona podemos recuar até ao Século III, antes disso é já estar a adivinhar», referiu, acrescentando que a cristandade organizada nesta zona está já firme no século IV», referindo-se ainda à importância que a Ordem de Santiago teve nesta região até aos dias de hoje.

A Irmã Maria de Lourdes, provincial das Irmãs da Apresentação de Maria, recebeu «com surpresa o convite para partilhar o seu testemunho». A religiosa lembrou que foi na diocese que a casa mãe da congregação nasceu, celebrando este ano 75 anos de existência. No ano dedicado à vida consagrada a Irmã lembrou que o Papa Francisco propôs como orientação «olhar com gratidão o passado, viver com paixão o presente e abraçar com esperança o futuro» dando assim o mesmo mote para a diocese.

Fazendo um testemunho pessoal destes 40 anos a religiosa referiu que quase parece um sonho terem passado 40 anos, e ter estado presente na sua criação. «Vibramos com a alegria do povo de Deus na grande festa recebendo com grande alegria o novo bispo», referiu.

A Irmã Maria de Lourdes lembrou o trabalho realizado destes anos tendo assistido ao crescimento do seminário, de muitos sacerdotes, numa diocese rica em religiosos e movimentos.

 

Diocese, uma família

 

Os testemunhos quiseram abarcar várias áreas diocesanas, e nesse sentido foi convidada uma família a partilhar a sua vida cristã na diocese. Dário e Alexandra, casal da paróquia do Seixal, com cinco filhos, começaram por referir que eram apenas uma das muitas famílias que podiam estar a dar testemunho, até porque são um casal ainda jovem.

«O que nos distingue como família não e o número de filhos, mas sermos amigos de Jesus», disse a matriarca da família. «Ser amigo de Jesus traduz-se no dia-a-dia e no trabalho», referiu. O facto de pertencer a esta família Igreja deixa cheio de alegria o casal, que sente viver em comunhão permanente com ela. «Já nascemos depois do nascimento da diocese, sendo um casal que se conheceu numa actividade da Pastoral Juvenil», lembrou Dário, acrescentando que ali estavam os seus «pais». «D. Manuel Martins, da nossa infância, e D. Gilberto o actual», disseram, sublinhando que «é uma graça fazer parte desta família».

A representar os movimentos e jovens da diocese esteve o Chefe Regional do Corpo Nacional de Escutas (CNE) João Costa. O dirigente, com 43 anos de idade, começou por referir que a sua memória é apenas da diocese de Setúbal, e lembrou que há 40 anos «havia um boom demográfico e o anticlericalismo na diocese era grande. Não era fácil ser Igreja em Setúbal», referiu, acrescentando que o CNE teve um papel importante de levar a Igreja de Jesus aos jovens. «Através dos jogos, acampamentos e laços de amizade». Actualmente o dirigente lembrou que há um crise de jovens e crianças pois não há natalidade mas os escuteiros têm crescido. «É possível crescer neste contexto», lembrou.

Sobre as metas futuras o dirigente regional lembrou que «se nos anos 80 houve fome, estamos numa época que também existe. A Igreja tem que ser o que era nessa altura com as Famílias unidas e a serem ajudadas e amparadas». «A nossa diocese é grande e com grandes diferenças», disse, lembrando que há zonas rurais e urbanas, há locais de grande densidade populacional e outros com menos, há comunidades em que mal sabem falar português. «Uma diocese plural que tem que ser aberta a todos», disse.

Em representação de todos os municípios do território da diocese falou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira. Estando representadas todas as autarquias da diocese de Setúbal, e deixando lembranças ao bispo diocesano.

Maria das Dores Meira lembrou o «serviço que a diocese tem prestado às populações». «Desejo pessoalmente fomentar mais a colaboração cultural e artística entre ambas as instituições», disse.

A edil destacou a proximidade da Igreja aos pobres, onde muitos encontram o seu «refúgio e conforto para a solidão», bem como o papel social, cultural, económico e religioso de «grande importância».

Já a hora ia avançada e já se estava no dia 17 de Julho, mas o Bispo de Setúbal ainda lembrou as próximas iniciativas que integram estas comemorações. O prelado destacou a feliz coincidência da vinda da Imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima nesta altura. E rematou com o desejo que seja um digno encerrar destas comemorações.

 

Bruno Máximo Leite

 

 

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29 de Julho de 2015