comprehensive-camels

Igreja em Rede: Sexta-feira da VI Semana da Páscoa – “Ninguém vos poderá tirar a vossa alegria” (Jo 16, 20-23a)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Sexta-feira da VI Semana da Páscoa

Comentário à liturgia de hoje pelo Padre Pedro Quintela, pároco do Monte de Caparica

A Palavra de Jesus dirigida a Paulo retoma uma das proclamações mais repetidas e relevantes dos Evangelhos. De facto, desde a Anunciação, com o convite do Anjo à Virgem, para “não temer” (Lc 1.30), à mesma palavra dita pelo Senhor Jesus aos três que levara consigo ao alto Monte da Transfiguração (Mt 17.7), até ao momento culminante do uso de tal expressão dirigida às santas mulheres depois de ressurreição (Mt 28.10), bem como, e ainda, muitos outros episódios da narrativa evangélica, lembram-nos qual a fundamental certeza que nos vem da fé: esta de que o Senhor está connosco, e que é Ele a nossa força e alento. Daí bem sabermos que as nossas dificuldades, muitas, tornar-se-iam colapso pessoal se não fizéssemos esta experiência de coração. Com efeito, a fé permite-nos viver a relação com Aquele Deus que nos disse “Ámen” em Jesus Cristo. Quer dizer, jamais a nossa história foi evacuada do amor de Deus. A Sua presença no nosso coração é o nosso conforto. Verdade que este Deus de toda a consolação é também o Deus da missão e dos seus perigos: “continua a falar”, diz-lhe o Senhor. Falar, segundo a ordem de Cristo, é dizer a verdade. Não temos a verdade no bolso, obviamente. Porém, isso sim, que a verdade nos tenha a nós: que os nossos desejos e gestos escorram do ânimo, luz e certeza que a verdade de Deus connosco traz à nossa vida.

Em Corinto, Paulo tem que se haver coma astucia dos judeus. No caso, e sobretudo para nós, hoje, “judeu” não é tanto o atributo étnico, que permite identificar quem pertence a um determinado povo. É antes, e lamentavelmente, a atitude de um  coração fechado: essa que faz defender uma posição em que o que é decisivo é não permitir que Jesus me fale.

Uma pequena nota histórica: Galião era natural do território a sul da Lusitânia, a Baetica, a qual tinha por capital Córdova. Irmão mais velho do insigne sábio romano Séneca, também ele natural da nossa Península, distinguiu-se por ser um funcionário hábil e manso. Governou a Acaia, cuja capital era Corinto, entre 51-52 sendo, então, que Paulo missionou essa região à qual iria dedicar duas riquíssimas cartas. Nestes dias em que temos enfrentado a dificuldade em retomar o culto, não podemos deixar de pedir ao Senhor que suscite a vocação de homens justos dedicados à causa publica.

Por sua vez o Evangelho coloca-nos já perto do fim do chamado Discurso do Adeus (Jo 14-16). Jesus anuncia que irá chegar o “tempo” em que já não faremos perguntas porque já não as teremos. É certamente um modo de designar o Céu, e a luz e evidencia do amor de Deus dada àqueles a quem o Senhor conceder irem à Sua presença. Mas dentro do tempo, porém, aqueles que tem vida de oração intensa poderão encontrar no Senhor aquele “único necessário” (Lc 10.42) que centra o coração na relação com Deus de um modo tal que as perguntas perdem importância e se tornam desnecessárias, tanto há a amar e contemplar o que o Senhor nos faz saborear.

Padre Pedro Quintela, pároco do Monte de Caparica

Partilhe nas redes sociais!
22 de Maio de 2020