comprehensive-camels

Óbito: Missa Exequial do Padre Manuel Vieira, presidida por D. José Ornelas

20200707-padre-manuel-vieira-missa-exequial (11)

A 5 de julho, faleceu, no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, o Padre Manuel Vieira. D. José Ornelas, Bispo de Setúbal presidiu à Missa Exequial, na Sé de Setúbal, na presença de familiares, amigos, antigos paroquianos e muitos sacerdotes que se associaram à despedida do sacerdote. O corpo do Padre Manuel Vieira foi depois transportado para Assentis, Torres Novas, sua terra natal, onde foi sepultado.

Homilia de D. José Ornelas

Hoje, a Sé, igreja-Mãe da nossa Diocese, abre as portas para receber o corpo de um dos seus distintos filhos, que a caraterizaram desde os primeiros dias da sua jovem história. É com carinho que nós todos, que formamos esta Igreja de Setúbal, acolhemos, num misto de tristeza, gratidão e esperança, o corpo do Padre Manuel Vieira, na nossa Sé de Setúbal.

Fazemo-lo celebrando humanamente a memória de um irmão que bem viveu e testemunhou o “ser Igreja” em Setúbal, com a sua fé, o seu ministério e o testemunho da sua caridade. Um homem e um padre com um coração cheio de humanismo, de misericórdia e de Evangelho e que, por isso, imprimiu também um cunho próprio nesta Igreja e nesta cidade. A nossa presença aqui, é uma atitude de reconhecimento, mas também de estima e apreço pelo Padre Manuel Vieira e por aquilo que ele representa como homem, como cidadão e como sacerdote.

Mas também o fazemos como um ato de fé, pois a Sé onde celebramos não é apenas uma igreja de nossa construção. Ela é a casa de Deus, onde se reúne a comunidade edificada pelo Espírito do Pai do Céu. Por isso acolhemos aqui o corpo do nosso irmão e Padre Manuel e, simbolicamente, como que acompanhamos a sua real entrada na Casa Eterna, onde o Bom Pastor, que ele seguiu na sua vida, o acolhe nos seus braços de misericórdia. É verdade que nos despedimos de um corpo atingido pela morte, mas, na realidade, sentimo-nos próximos de um irmão que está vivo no mesmo Cristo que aqui nos reúne.

 

Esta realidade é-nos trazida de uma forma simples mas reveladora da Palavra de Deus que escutámos e que ilustra a perspetiva de vida que Paulo exprime e que o Padre Manuel Vieira viveu e anunciou: “Sabemos, com efeito, que, quando a nossa morada terrestre, a nossa tenda, for destruída, temos uma habitação no Céu, obra de Deus; uma casa eterna, não construída por mãos humanas.”

Hoje, acompanhamos e celebramos a passagem do Padre Manuel, desta Igreja, desta casa que formamos aqui, onde ele viveu a primeira etapa da sua vida. Mas celebramos igualmente a sua atual presença numa casa e numa Igreja, que partilham a sorte de Jesus morto e ressuscitado. Foi Ele que nos abriu o caminho para essa coroação da vida que não tem fim, junto do nosso Pai do céu.

A Igreja de Setúbal tem hoje muito que contar sobre o percurso do Padre Manuel Vieira, como sacerdote, nestas terras sadinas, desde o seu ministério no Castelo de Sesimbra e depois, por 42 anos na paróquia da Anunciada.

Foi ali que realizou a sua missão, que acolheu tantos irmãos e irmãs a quem abriu as portas da Igreja, as portas da Vida, dos valores, da esperança, revelando o rosto misericordioso de Deus, que ele servia e tornava presente, não apenas nos sacramentos que celebrava, mas sobretudo nas atitudes de misericórdia que assumia.

 

Morreu sem deixar riquezas, pois, até ao fim dos seus dias, aquilo que tinha dava-o a quem precisava e que ele continuava a assistir. Do ponto de vista do saldo económico, é um magro resultado para uma vida de incansável trabalho, criatividade e dinamismo, pela qual passaram muito bens que foram colocados ao serviço de quem mais precisava. Mas, se tivesse acumulado uma grande riqueza, se deixasse um conta de milhões no banco, de que lhe serviria agora?

Deixemo-nos, pois, guiar pela palavra de Jesus no Evangelho de São Mateus que nos mostra o sentido e o valor da vida, e o mapa da estrada para superar a sua irremediável limitação e brevidade e deixar que ela se abra a horizontes de plenitude e de eternidade. Na página do Evangelho que lemos, Aquele que avalia as coisas com maior amplidão de vistas tem outra estimativa dos investimentos do Padre Manuel e hoje diz-lhe: “Vem, bendito de meu Pai, porque tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, era peregrino e acolheste-me, estava nu e deste-me de vestir, estava doente foste visitar-me, estive na prisão e foste ter comigo.”

Não são apenas discursos para embelezar um funeral. Tantas pessoas nesta cidade podem dizer claramente: eu fui uma dessas crianças que a mãe deixava no acolhimento do Padre Manuel, quando ia trabalhar na fábrica das conservas; eu fui uma dessas pessoas que o Padre Manuel acolheu no lar, quando ainda não havia serviços organizados para cuidar das fragilidades; eu fui daqueles a quem ele matou a fome, bem como à minha família; que ele foi visitar-me a casa e ao hospital, para me encontrar, levar a Eucaristia, abrir os olhos à esperança… daqueles que receberam dele uma palavra que lhes mudou a vida; daqueles e daquelas a quem ele mostrou o rosto misericordioso de Deus, que alimentou a sua fé, com a sua total dedicação a Deus para o serviço do seu povo. Na sua passagem pela vida, como Homem e como Padre, entrevimos o rosto misericordioso do Pai do céu, que cuida de todos os seus filhos e filhas e nunca abandona ninguém ao longo da vida.

 

Como é rica a sua pobreza, o seu desprendimento, a sua total dedicação aos outros, querido irmão Manuel Vieira, Homem nobre da nossa cidade, Coração de humanidade no seguimento de Cristo, Padre consagrado inteiramente a Deus, a fim de estar livre para servir quem precisa.

Que o seu percurso de humanidade atenta, solidária e fraterna, que brotou da sua fé, do seu sacerdócio e que foi semeando ao longo da vida possa continuar a dar frutos na nossa Igreja e na nossa cidade, especialmente nos tempos difíceis que estamos atravessando.

E agora, Caro Padre Manuel Vieira, que possa ouvir do Senhor que o chamou, que modelou o seu coração e o enviou para o meio de nós, a palavra que Ele dirige aos que foram multiplicando e partilhando o pão e a vida nesta terra: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo… porque aquilo que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes”.

+ D. José Ornelas, Bispo de Setúbal

 

Óbito: “Foi à pastoral social que o Padre Manuel Vieira ofereceu o empenho maior do seu coração de pastor”

Óbito: Faleceu o Padre Manuel Vieira

Partilhe nas redes sociais!
09 de Julho de 2020