comprehensive-camels

Quaresma: D. José Ornelas convida a reconciliar-nos com “o projeto que Deus tem para cada um de nós”

No I Domingo da Quaresma, o Bispo de Setúbal sugere-nos um encontro com Deus pela oração e pelo jejum, procurando neste tempo um “reequacionamento da nossa vida” e um “regresso ao projeto de Deus” para que nos possamos “inserir nele”.

Na Eucaristia presidida na Sé de Setúbal, o bispo diocesano explicou a liturgia deste Domingo que, nas suas palavras, são uma “catequese dos fundamentos da nossa fé”, em especial sobre “a aliança de Deus com a humanidade, renovada em Jesus, o seu Enviado”.

A primeira aliança apresentada é a aliança com Noé, o precursor de uma humanidade renovada, depois do dilúvio, descrito como um cataclismo que ameaçou acabar com a vida na terra.

“É uma narração que não é uma peça jornalística mas que nos dá a entender não só a grandeza, mas igualmente a fragilidade do mundo”. A história do dilúvio reflete sobre a condição humana, a partir de muitos episódios de desastres naturais e provocados pelos humanos, que colocam em risco a sobrevivência da humanidade e do próprio planeta.

 

Deus criou a humanidade com um projeto mas isso foi corrompido, foi deturpado. Em vez de ser o homem a preservar e a guardar a terra, ele quer apossar-se dela para si, deixando alguns sem nada para que ele possa ter tudo”, adverte.

D. José Ornelas cita o Génesis – “Toda a terra estava corrompida diante de Deus e cheia de violência” (Gn 6,11s) – afirmando que a corrupção e a violência são a causa do dilúvio, que geram revolta, violência e guerra, colocando em causa a criação e a capacidade da própria humanidade sobreviver às crises naturais.

É o que acontece nesta pandemia. A ganância e o desejo de dominar os outros estão a destruir o nosso planeta. Esta é a tal corrupção do projeto de Deus, que gera guerra, que gera violência, não só no planeta, mas entre países e provocando guerras internas, a começar pela nossa família, a nossa sociedade e a Igreja. Precisamos de voltar ao projeto de Deus.”

Findo o dilúvio, Deus propõe a aliança com Noé, sinalizado poeticamente pelo arco-íris. Explica D. José Ornelas que Deus, constantemente, em cada crise da humanidade, está presente e constantemente renova a sua aliança com o Povo de Deus, pelo que nos é pedido uma resposta, em jeito de compromisso com a vida, com o planeta. Somos chamados à reconciliação com o projeto que Deus tem para cada um de nós.

De seguida, o Bispo de Setúbal comenta o Evangelho, no qual Jesus, depois do Batismo no rio Jordão, “impelido pelo Espírito Santo”, vai para o deserto.

“Deixem que o vosso coração se abra ao projeto de Deus”

Diz o texto segundo São Marcos que Jesus “vivia com as feras e os anjos o serviam. E era tentado por Satanás”. Trata-se de uma imagem bela daquilo que é a existência de Jesus, como homem e da nossa própria existência. Um quadro de harmonia da criação e da vida humana (paz entre o homem e a vida na terra), sob o olhar protetor de Deus (os anjos). Mas, ao mesmo tempo, com a presença da tal corrupção do egoísmo e da violência que pervertem o mundo e a humanidade.

Ele vem renovar a aliança. Deus quer por um marco novo na humanidade. A Palavra que Deus enviou pelos profetas agora “fez-se carne”. E por isso, Jesus “vai para o deserto da prova, do discernimento, da opção, para traçar, junto do Pai, na oração e no jejum, o seu caminho de renovação do mundo”.

Em referência à libertação do Egito, onde Moisés encontra Deus, Jesus encontra-se com o Pai. Confronta-se com o Pai, com a Palavra dos profetas, mas aplica-a a um caminho concreto para a sua vida: construir um mundo de paz e abundância, entre o homem e a criação. Um modo de estar num “mundo equilibrado, um mundo de inteligência, de coração e fé. Num mundo que vê o projeto de Deus e que se sabe inserir nele.”

 

O bispo diocesano refere que esta passagem nos sugere o Encontro com Deus através da oração e do jejum.

A oração é colocar-se em diálogo com Deus, deixar que Deus nos fale, escutá-lo. É preciso entrar em diálogo com Deus para construir o nosso projeto de vida.”

O jejum é um exercício de desligar-nos da comodidade habitual, para pensar nas necessidades dos outros que nos rodeiam. Se eu centro-me em mim, no meu conforto, naquilo que gosto, no que me apetece de momento, eu não vou escutar a Palavra de Deus porque estou tão cheio de mim próprio, da minha organização e do meu ser. Não tenho olhos para mais ninguém à minha volta, muito menos para Deus.”

“Não se trata só do comer: é a atenção, o carinho redobrado, a busca de caminhos mais humanos, o cuidado com as dores e os problemas dos outros e do mundo. É inverter o caminho do egoísmo em dom, solidariedade, amor. Significa pôr a minha vida ao serviço do projeto de Deus.”, continua.

“Vamos procurar que esta Quaresma seja para nós um encontro com Deus, um reequacionamento da nossa vida, um recomeço, uma conversão. Mudem de mente, mudem de paradigma! Deus está do vosso lado, deixem que o vosso coração se abra ao projeto de Deus”, conclui.

JM

Partilhe nas redes sociais!
24 de Fevereiro de 2021