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A Palavra do Papa: a respiração nova de Deus, a gratuidade da fé, a estrada da paz e o amor universal

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O Santo Padre deu início ao processo sinodal que culmina em 2023 sobre a própria sinodalidade da Igreja. Convidou todos a participar neste “evento de graça da Igreja”, apelando ao encontro, à escuta e ao discernimento.

Francisco: “Sínodo, expressão viva do ser Igreja”

Quero agradecer-lhes por estarem aqui na abertura do Sínodo. Percorrendo diversos caminhos, vocês vieram de tantas Igrejas trazendo cada um no coração perguntas e esperanças. Tenho a certeza de que o Espírito nos guiará e concederá a graça de avançarmos juntos, de nos ouvirmos mutuamente e iniciarmos um discernimento sobre o nosso tempo, tornando-nos solidários com as fadigas e os anseios da humanidade.”

Foi o que disse o Papa Francisco, este sábado, 9 de outubro, na Aula do Sínodo, no Vaticano, no seu discurso de abertura do Sínodo sobre a Sinodalidade.

O Papa convidou a viver “este Sínodo no espírito da ardente oração que Jesus dirigiu ao Pai pelos seus: «Para que todos sejam um». É a isto que somos chamados: à unidade, à comunhão, à fraternidade que nasce de nos sentirmos abraçados pelo único amor de Deus”.

A seguir, o Pontífice citou três palavras-chave do Sínodo: comunhão, participação e missão. “Comunhão e missão são expressões teológicas que designam o mistério da Igreja. Através destas duas palavras, a Igreja contempla e imita a vida da Santíssima Trindade, mistério de comunhão ad intra e fonte de missão ad extra“. A terceira palavra é “participação”, um “compromisso eclesial irrenunciável!”

Celebrar um Sínodo é sempre bom e importante, mas só é verdadeiramente fecundo se se tornar expressão viva do ser Igreja, de um agir marcado pela verdadeira participação. E isto, não por exigências de estilo, mas de fé.”

O Papa convidou a viver o Sínodo como uma “ocasião de encontro, escuta e reflexão, como um tempo de graça que nos ofereça, na alegria do Evangelho, pelo menos a oportunidade de nos tornarmos Igreja sinodal, que escuta e que é próxima”.

Francisco concluiu, desejando que “este Sínodo seja um tempo habitado pelo Espírito! Pois é do Espírito que precisamos, da respiração sempre nova de Deus, que liberta de todo o fechamento, reanima o que está morto, solta as correntes e espalha a alegria. O Espírito Santo é Aquele que nos guia para onde Deus quer, e não para onde nos levariam as nossas ideias e gostos pessoais”.

Sínodo: “evento de graça mas aberto às surpresas do Espírito”

“Encontrar, escutar, discernir”: estes foram os verbos indicados pelo Papa Francisco na sua homilia de abertura do processo sinodal.

O Pontífice presidiu à Santa Missa na Basílica Vaticana, com a participação de leigos, religiosos, sacerdotes, bispos e cardeais que participam deste processo que culminará em Roma, daqui dois anos, com o Sínodo dos Bispos sobre a tema da sinodalidade.

Francisco inspirou-se no Evangelho deste domingo, que apresenta um homem rico que foi ao encontro de Jesus enquanto o Mestre se punha a caminho. “Jesus não tinha pressa, não olhava o relógio para acabar rápido o encontro. Estava sempre a serviço da pessoa que encontrava, para ouvi-la.”

Deus não habita em lugares assépticos e pacatos, distantes da realidade, mas caminha connosco”, disse o Papa, que então pergunta: “Nós, comunidade cristã, encarnamos o estilo de Deus, que caminha na história e partilha as vicissitudes da humanidade?”

Deus muda tudo quando somos capazes de encontros verdadeiros com Ele e entre nós… “sem formalismos nem fingimentos, nem maquilhagens”.

Depois do encontro, o passo sucessivo é escutar. E mais uma vez Francisco se dirige à assembleia: “Como estamos quanto à escuta? Como está «o ouvido» do nosso coração? Permitimos que as pessoas se expressem?”

Fazer Sínodo é colocar-se no mesmo caminho do Verbo feito homem: é seguir as suas pisadas, escutando a sua Palavra juntamente com as palavras dos outros. É descobrir, maravilhados, que o Espírito Santo sopra de modo sempre surpreendente para sugerir percursos e linguagens novos. Não insonorizemos o coração, não nos blindemos nas nossas certezas. Escutemo-nos.”

Por fim, discernir. O encontro e a escuta recíproca, explicou Francisco, não são um fim em si mesmos, deixando as coisas como estão: “O Sínodo é um caminho de discernimento espiritual, que se faz na adoração, na oração, em contato com a Palavra de Deus.”

“Queridos irmãos e irmãs, bom caminho em conjunto! Sejamos peregrinos enamorados do Evangelho, abertos às surpresas do Espírito Santo. Não percamos as ocasiões de graça do encontro, da escuta recíproca, do discernimento. Com a alegria de saber que, enquanto procuramos o Senhor, é Ele quem primeiro vem ao nosso encontro com o seu amor.”

Angelus: “A fé sem dom e gratuidade é como um jogo sem golo”

“Um teste sobre a nossa fé”: foi assim que o Papa comentou o Evangelho deste 28° Domingo do Tempo Comum, ao rezar com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

O Evangelista Marcos narra o encontro de Jesus com um homem rico, do qual não se sabe nem a idade nem o nome. Neste “alguém”, disse o Papa, todos nos podemos reconhecer e permite-nos fazer um “teste sobre a fé”.

O homem começa com uma pergunta: “Que devo fazer para ganhar a vida eterna?”. Eis a sua religiosidade, observou Francisco: um dever, um fazer para obter. Mas esta é uma relação comercial com Deus. Ao invés, a fé não é um rito frio e mecânico. É questão de liberdade e de amor.

Então podemos fazer o primeiro teste: para mim, que é a fé? Se é principalmente um dever ou uma moeda de troca, estamos no caminho errado, porque a salvação é um dom e não um dever, é gratuita e não se pode comprar. O primeiro passo, portanto, é nos libertar de uma fé “comercial e mecânica”.

Na sequência, Jesus ajuda aquele “alguém” oferecendo-lhe a verdadeira face de Deus. O texto diz: “Jesus olhou para ele com amor”. Eis de onde nasce e renasce a fé: não de um dever ou de algo a fazer, mas de um olhar de amor a acolher.

Depois da pergunta e do olhar, há um convite de Jesus: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres” porque “uma fé sem dom e gratuidade é como um jogo bem jogado, mas sem golo. Uma fé sem obras de caridade torna-nos tristes”, conclui.

Após a oração mariana do Angelus, o Papa Francisco anunciou a proclamação de novos Beatos: Maria Lorenza Longo, esposa e mãe de família do século XVI, e o padre Francesco Mottola, fundador dos Oblatos do Sagrado Coração, que morreu em 1969. Convidou ainda os presentes a rezar pelos doentes mentais, “para que não sejam deixados sozinhos nem sejam discriminados, mas acolhidos e apoiados.”

Paz: apostar no cuidado para derrotar a “anticultura” na base das guerras

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes da marcha pela paz “Perugia-Assis”, que este ano chega à 60° edição, com o tema “O cuidado como novo nome da paz”, tema sobre o qual o Pontífice manifestou o seu apreço.

No facto que em torno do valor do cuidar, em referência aos outros e ao meio ambiente, haja hoje ampla partilha, podemos reconhecer um positivo sinal dos tempos, que a crise pandémica contribuiu a fazer emergir.”

A cultura do cuidado, afirmou Francisco, é a estrada mestra que conduz à paz. E mais uma vez foi implacável com o “escândalo” da compra de armamento pelos estados.

Por isso, conclui o Pontífice, é necessário caminhar na estrada do cuidado: “não uma vez por ano, mas todos os dias, na concretude da vida quotidiana, com a ajuda de Deus que é Pai de todos e de todos cuida, para que aprendamos a viver juntos como irmãos e irmãs”.

Vida Consagrada: “vocês são uma presença viva na Igreja”

O Papa Francisco recebeu em audiência nesta segunda-feira, 11 de outubro, na Sala Clementina, no Vaticano, as Irmãs da Caridade por ocasião do seu 21° Capítulo Geral.

No seu discurso, Francisco deteve-se sobre o tema da comunhão, destacando que o “compromisso que assumimos como Igreja para crescer na sinodalidade é um estímulo forte também para os Institutos de Vida Consagrada”.

Em particular, vocês, consagradas, são uma presença insubstituível na grande comunidade a caminho que é a Igreja.”

“Vem à mente a imagem de Jesus percorrendo as estradas da Galiléia, Samaria e Judéia: com ele estão os seus discípulos, e dentro eles muitas mulheres, algumas das quais até conhecemos o nome. Eu gosto de pensar que vocês, consagradas, são uma extensão da presença feminina que caminhava com Jesus e os Doze, partilhando a missão e dando a sua contribuição particular.”

O Pontífice convidou as religiosas à “solicitude” e à “escuta”, seguindo o exemplo das santas irmãs Marta e Maria de Betânia, em particular com “os pobres, os idosos, os doentes, os marginalizados, na proximidade aos pequenos, aos últimos com a ternura e a compaixão de Deus”.

“Isto edifica a Igreja, a faz caminhar no caminho de Cristo que é o caminho da caridade”, disse.

Audiência Geral: “ser católico significa abrir-se a todos os povos e culturas de todos os tempos”

“A liberdade cristã, fermento universal de libertação” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 13 de outubro, na Sala Paulo VI, no Vaticano, onde se reuniram milhares de fiéis.

Dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta aos Gálatas, o Papa sublinhou que “São Paulo considera o âmago da liberdade o facto de que, com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, fomos libertados da escravidão do pecado e da morte. Com outras palavras: somos livres porque fomos libertados, libertados pela graça, não por pagamento, libertados pelo amor, que se torna a lei suprema e nova da vida cristã. O amor. Somos livres porque fomos libertados gratuitamente. Este é o ponto-chave”.

Segundo Francisco, “esta novidade de vida abre-nos para acolher cada povo e cultura e, ao mesmo tempo, abre cada povo e cultura a uma maior liberdade. Na verdade, São Paulo diz que para aqueles que aderem a Cristo, já não importa se são judeus ou pagãos. Conta apenas «a fé que atua pela caridade»”.

Segundo o Pontífice, “no chamamento à liberdade descobrimos o verdadeiro significado da inculturação do Evangelho, ou seja, que o Evangelho pega a cultura na qual vive a comunidade cristã e fala de Cristo com aquela cultura”.

Isto não é fácil! Há muitas tentações de impor o próprio modelo de vida como se fosse o mais evoluído e desejável”.

O Papa sublinhou a necessidade de “respeitar a origem cultural de cada pessoa, colocando-a num espaço de liberdade que não seja restringido por qualquer imposição ditada por uma única cultura predominante”. Ser católico “não é uma denominação sociológica para nos distinguir dos outros cristãos; católico é um adjetivo que significa universal, catolicidade, universalidade”.

Significa que a Igreja tem em si, na própria natureza, uma abertura a todos os povos e culturas de todos os tempos, pois Cristo nasceu, morreu e ressuscitou para todos”.

“A liberdade da fé cristã, a liberdade cristã”, concluiu o Papa, “não indica uma visão estática da vida, uma visão estática da cultura, mas uma visão dinâmica, uma visão dinâmica também da tradição que cresce, mas com a mesma natureza”.

JM (com recursos do portal Vatican News)

 

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13 de Outubro de 2021