comprehensive-camels

Ordenações Diaconais/D. José Ornelas: “Sejam testemunhas vivas do amor de Deus”

O Bispo de Setúbal exortou os novos diáconos a seguirem o modelo de José “guardião e cuidador de Jesus” e o da Sua mãe Maria, “a serva fiel”.

O dia 8 de dezembro é sempre dia de festa: a Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, que em Setúbal se celebra pelo nome de Santa Maria da Graça, e é o dia da Diocese.

Este ano, o Bispo de Setúbal, D. José Ornelas, ordenou três diáconos que se preparam para o ministério presbiteral: Afonso Pereira, José Manuel Raposo e José Manuel Cachaço, todos em formação no Seminário Maior de São Paulo, em Almada.

 

D. José Ornelas, na sua homilia, lembrou a padroeira, Santa Maria da Graça, e também São José, na conclusão do ano que lhe foi dedicado pelo Papa Francisco. Segundo o prelado, estas são “duas figuras marcantes e inspiradoras da nossa fé e da nossa atitude de vida: Maria, a mãe de Jesus, nossa Mãe, Modelo e Padroeira e José, pai humano de Jesus, cuidador, protetor e guardião da sagrada família”.

Maria e José “modelam o nosso modo de acolher o dom de Deus e de ser Igreja” e devem “estar bem presentes, na mente, no coração e na atitude de cada um/a de nós”, mas de modo especial “naqueles que são chamados ao sacramento da Ordem”.

Ao amor carinhoso dos dois [Deus] confiou o seu Filho, como faz em cada família e concretamente nas famílias onde foram acolhidos e educados os três irmãos hoje chamados para ao serviço do projeto de Deus na Igreja.”

O Bispo de Setúbal deixou vários apelos aos recém-ordenados: “no desempenho da vossa missão interiorizai este modelo de presença salvadora de Deus no mundo”.

Pediu para não se considerarem “superiores aos outros, mas servos” e apelou a uma “atitude de escuta atenta, inteligente, humilde e afetuosa, diante de Deus” que leve à transmissão do “carinho de Maria e de José, que acolhem, defendem, protegem e educam para a liberdade, sem querer dominar, a fim de que cada um ou uma daqueles de quem cuidais possa encontrar, através das vossas atitudes e gestos, o rosto paterno e libertador do Pai do Céu”.

 

“Hoje, Deus não vos promete uma vida fácil – adverte o bispo diocesano – mas assegura que estará convosco. A vossa missão precisará de todas as vossas energias, competências e capacidades, mas igualmente e sobretudo da escuta do Espírito que fala no vosso coração, fala através daqueles que vos rodeiam e fala através das mediações da Igreja.”

“Que o Senhor faça descer sobre vós, de modo especial neste dia, o seu Espírito, que modele o vosso coração segundo o do Seu pai José, guardião e cuidador de Jesus e o da Sua mãe Maria, a serva fiel. E que assim sejais, na vossa vida e no vosso ministério, testemunhas vivas do amor de Deus que hoje vos chama, vos unge com o seu Espírito e vos envia para servir o seu povo”, concluiu.

 

A ordenação diaconal

O momento da ordenação de um novo Diácono revela-se de alguns gestos concretos. Em primeiro lugar, os diáconos fizeram a sua promessa, a que se seguiu a súplica litânica com o canto das Ladainhas, enquanto os eleitos estavam prostrados.

Depois, o Bispo diocesano impôs, em silêncio, as mãos sobre os ordenandos e rezou a oração de ordenação. Após este momento, os novos diáconos são revestidos com as vestes diaconais (a estola pendida sobre o ombro esquerdo e a dalmática) e receberam, em seguida, o livro dos Evangelhos.

 

Os três jovens foram ordenados diáconos em ordem ao sacerdócio, sendo que deste modo vão continuar a sua formação para que possam futuramente ser ordenados presbíteros.

Na celebração, D. José Ornelas lembrou e saudou os vários sacerdotes ordenados neste dia: Padre António Pires (1982), Padre Jorge Filipe Santos (1986), Padre Rui Rosmaninho (1988), Padre Pedro Quintela (1992), Padre Miguel Alves (1998), Padre Eduardo Nobre (2002), Padre Manuel Silva (2002), Padre Quintino Trinchete (2012), Padre João Dias (2013), Padre Cláudio Rodrigues (2020) e ainda os diáconos Evangelino Ribeiro (2005) e José Reis (2012).

A Sé de Setúbal encheu-se para testemunhar este momento, na sua maior afluência desde o início do período pandémico.

JM

 

Homilia de D. José Ornelas

Como dizia no início desta solene Eucaristia, fazemos hoje uma memória agradecida de Deus, de duas figuras marcantes e inspiradoras da nossa fé e da nossa atitude de vida: Maria, a mãe de Jesus, nossa Mãe, Modelo e Padroeira e José, pai humano de Jesus, cuidador, protetor e guardião da sagrada família.

Estas duas figuras, que se encontram na origem do mundo novo que Jesus veio inaugurar, modelam o nosso modo de acolher o dom de Deus e de ser Igreja. Devem estar bem presentes, na mente, no coração e na atitude de cada um/a de nós. Mas são, de modo especial, inspiradoras para aqueles que são chamados ao sacramento da Ordem, como estes três irmãos que acabam de ser apresentados à Igreja e acolhidos pelo Bispo, para o serviço do povo de Deus como Diáconos: o José Manuel Raposo, o José Cachaço e o Afonso Pereira.

Maria e José, na diversidade das suas funções, mas na unidade da missão foram escolhidos e chamados para cumprir o grande projeto de Deus na humanidade: acolher Jesus, protegê-lo, educá-lo e criar o ambiente propício para que pudesse crescer “em estatura e em graça”, para viver a comunhão com o Pai do céu e realizar a missão que Ele lhe confiou. Longe de machismos ou feminismos, Maria não põe em causa o papel de José, guardião da tradição de Abraão, Moisés, David e dos Profetas. Por seu lado, este fiel descendente de David, abre-se à novidade do Filho que a sua jovem esposa, a Filha de Sião e Serva atenta do Senhor, sem outros pergaminhos que não seja a predileção do Deus Santo, que a escolheu para mãe do seu Filho. Ao amor carinhoso dos dois confiou o seu Filho, como faz em cada família e concretamente nas famílias onde foram acolhidos e educados os três irmãos hoje chamados para ao serviço do projeto de Deus na Igreja.

Caros irmãos, que estais para ser ordenados diáconos: no desempenho da vossa missão interiorizai este modelo de presença salvadora de Deus no mundo. Lembrai-vos que, antes de mais, o Espírito desceu sobre a mulher Maria, tornada assim nova Eva e mãe de uma nova humanidade. Recordai que foi esta mesma mulher e mãe que acolheu Jesus no seu ventre e, juntamente com José, o defendeu, protegeu e educou e que esteve a seu lado, junto à cruz, mesmo quando os discípulos o abandonaram. E foi ela ainda que se juntou aos discípulos a implorar com eles o dom do Espírito.

Maria e José mostram-nos a beleza, a força e a ternura que deve caraterizar a Igreja. Vós que recebeis o Espírito para o serviço dos irmãos, não vos considereis superiores aos outros, mas servos que promovem e integram na família e na missão da Igreja as famílias que a compõem: pais, mães, esposos, filhos e filhas, anciãos e avós. De todos eles se faz a Igreja e todos são necessários para levar a bom termo a missão que o Senhor lhe confia. Essa é a Igreja sinodal que todos somos chamados a construir, na nossa Diocese e em todo o mundo.

Para tal, há uma prioridade absoluta: estar à escuta da voz de Deus, em todas as circunstâncias. Maria e José são exemplos disso. A Maria, fala o anjo Gabriel, “enviado por Deus” (cf. Lc 1,26ss); a José, “apareceu em sonhos o anjo do Senhor” (Mt 1,18ss). O que os evangelistas afirmam, antes de mais, é que toda a ação de Maria e José, não é fruto de um seu projeto, de uma sua decisão, mas de um projeto de Deus para eles. Tiveram mesmo de refazer os seus projetos e planos, à medida que Deus se lhes foi manifestando e eles foram entendendo os Seus caminhos.

O sonho de José mostra que Deus revela, de diversos modos, a sua vontade, àqueles que chama (a cada um de nós). Descobrir e assumir a vontade de Deus não é fruto apenas de um raciocínio, de um curso, de uma análise “científica”, de uma lógica humana. É algo que, pelo Espírito de Deus, se revela e se impõe à inteligência e ao coração, como o amor que liga duas pessoas e assume a prioridade existencial, mobiliza as energias e capacidades e modela atitudes, numa visão nova da vida e dos seus objetivos.

Na vossa vida, caros irmãos, esta atitude atenta, inteligente, humilde e afetuosa, diante de Deus, é fundamental. É nesse contato amoroso com o Pai do céu, que aprendereis a ser pais/padres, como foi José. É assumindo a atitude de Maria, que se sente acarinhada – “cheia de graça” – que aprendereis o segredo e a fonte da alegria do coração e da ternura na vossa ação apostólica que será sinal do amor de Deus que em vós opera. Será também, fonte da vida, da alegria, da fidelidade que tornarão claro, para vós e para todos, que aquilo que fareis, não é simplesmente fruto do vosso saber, poder e engenho, mas de Deus que vos chamou, vos deu o seu Espírito e vos enviou a servir o seu povo.

Esta atitude de escuta vos ensinará sobretudo a atitude de José, esposo e pai, no carinho que recebe e dá, mas que não o leva ao domínio sobre aqueles que ama, mas ao dom de si mesmo àqueles que estão ao seu cuidado. Transmiti, pois, à Igreja o carinho de Maria e de José, que acolhem, defendem, protegem, educam para a liberdade, sem querer dominar, a fim de que cada um/a daqueles de quem cuidais possa encontrar, através das vossas atitudes e gestos, o rosto paterno e libertador do Pai do Céu.

É esta forma de amar que vós exprimis através da opção pelo celibato consagrado, a exemplo de Jesus. Não deixeis nunca de ser ternos, afetuosos e misericordiosos. De contrário, não seríeis imagem de Cristo que nos amou e deu por nós a vida, com especial atenção aos que sofrem e são excluídos. Afirmai fielmente, com a vossa atitude e o vosso ministério, o amor de Deus por todos os seus filhos e filhas, sem dominar ninguém, mas oferecendo-vos como dom de vós próprios, no dom cuidador paterno de José e na ternura materna de Maria.

Nem sempre os caminhos de Deus serão claros de discernir e fáceis de seguir. Maria e José fizeram essa experiência: os projetos de um noivado que toma direções estranhas; uma noiva que aparece grávida e enche de perplexidade um noivo que a ama e não a quer expor ao escândalo; um anúncio a Maria que não sabe como encontrar sentido em tudo isto; um decreto de um imperador ávido de impostos, que muda os cenários de um momento para o outro; uma fuga de outro rei maníaco que persegue o filho da promessa, o tesouro que obriga a ser refugiados nos Egito… um mundo como o de tantas outras famílias, a contas com dificuldades tremendas que requerem inteligência, capacidade de avaliação e decisão e sobretudo fé, expressa na confiança em Deus: “Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus” (Lc 1,30); “José, filho de David, não tenhas medo de receber Maria” (Mt 1,20).

Caros filhos, que estais para ser ordenados. Hoje, Deus não vos promete uma vida fácil; mas assegura que estará convosco. A vossa missão precisará de todas as vossas energias, competências e capacidades, mas igualmente e sobretudo da escuta do Espírito que fala no vosso coração, fala através daqueles que vos rodeiam e fala através das mediações da Igreja. O voto de obediência que hoje depositais nas mãos do Bispo entende-se na atitude silenciosa de José que “despertando do sonho, fez como lhe tinha ordenado o anjo do Senhor e recebeu a sua esposa” (Mt 1,24) e na disponibilidade confiante do coração de Maria, diante de Deus: “Eis a serva do Senhor, aconteça em mim a tua Palavra” (Lc 1,38).

Que o Senhor faça descer sobre vós, de modo especial neste dia, o seu Espírito, que modele o vosso coração segundo o do Seu pai José, guardião e cuidador de Jesus e o da Sua mãe Maria, a serva fiel. E que assim sejais, na vossa vida e no vosso ministério, testemunhas vivas do amor de Deus que hoje vos chama, vos unge com o seu Espírito e vos envia para servir o seu povo.

Setúbal, 8 de dezembro de 2021

+ D. José Ornelas, Bispo de Setúbal

 

Fotogaleria completa 

Clique para visualizar

 

Partilhe nas redes sociais!
09 de Dezembro de 2021