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A Palavra do Papa: A hora escura, a serva dos últimos, a gota do amor e os Fiéis Defuntos

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No final da semana passada, o Papa presidiu à Oração pela Paz na Basílica de São Pedro e ao encerramento da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. “A santidade é um dom oferecido a todos para uma vida feliz” disse, na Solenidade de Todos os Santos.

Oração pela Paz: Maria, intercedei pelo mundo em perigo

O Papa Francisco presidiu a Oração pela Paz na Basílica de São Pedro ao final da tarde de sexta-feira (dia 27), encerrando o dia de jejum, oração e penitência que contou com a participação de várias denominações cristãs e pessoas pertencentes a outras religiões. O Pontífice foi quem guiou o Santo Rosário e a Adoração Eucarística para implorar a paz no mundo.

Na conclusão do encontro na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco rezou a Oração pela Paz, invocando Nossa Senhora que “tem sofrido connosco e por nós”, ao ver muitos dos seus “filhos provados pelos conflitos, angustiados com as guerras que dilaceram o mundo”.

Nesta que o Pontífice descreveu como uma “hora escura” em que o mundo vive, procurou o exemplo de Maria que sempre confiou em Deus diante das inquietações, dos temores e provações: “confiastes em Deus, e à apreensão respondestes com a solicitude, ao pavor com o amor, à angústia com o oferecimento”.

Na Oração pela Paz, Francisco ainda implorou “misericórdia” a quem “está preso no ódio, convertei quem alimenta e excita conflitos. Enxugai as lágrimas das crianças, assisti os idosos que estão sozinhos, amparai os feridos e os doentes, protegei quem teve de deixar a sua terra e os afetos mais queridos, consolai os desanimados, despertai a esperança”.

Sínodo: o protagonista é o Espírito Santo

Após quatro semanas de XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos no Vaticano, Francisco concluiu os trabalhos na noite deste sábado (dia 28), na Sala Paulo VI. O último dia foi de leitura, aprovação e apresentação do Relatório de Síntese, com 40 páginas, que passou por votação eletrónica e secreta.

Em espanhol, agradeceu pela dedicação de todos e recordou que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo.

No dia seguinte, presidiu à celebração eucarística e exortou cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos a crescer na adoração a Deus e no serviço ao próximo.

Com a conclusão do Sínodo, “é importante fixar o «princípio e fundamento», do qual uma vez e outra tudo começa: amar a Deus com toda a vida e amar o próximo como a si mesmo”. Mas, questiona o próprio Papa, como traduzir tal impulso de amor? Francisco propõe “dois verbos, dois movimentos do coração”: adorar e servir.

Adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor, esta é a grande e perene reforma. Ser Igreja adoradora e Igreja do serviço, que lava os pés à humanidade ferida, acompanha o caminho dos frágeis, dos débeis e dos descartados, sai com ternura ao encontro dos mais pobres.”

Assim, com a conclusão da Assembleia Sinodal, nesta «conversação do Espírito», disse o Papa, a experiência foi rica da “terna presença do Senhor”, da “beleza da fraternidade”, sempre “à escuta do Espírito. Hoje não vemos o fruto completo deste processo”, comentou ainda o Pontífice, mas o Senhor deverá guiar e ajudar todos “a ser Igreja mais sinodal e missionária, que adora a Deus e serve as mulheres e os homens do nosso tempo, saindo para levar a todos a alegria consoladora do Evangelho”:

Esta é a Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama, sem nunca exigir antes um atestado de «boa conduta». Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia.”

Angelus: do amor a Deus aprendemos a servir o próximo, como Madre Teresa de Calcultá

Neste domingo (dia 29), o Papa Francisco enalteceu o Evangelho do dia (Mt 22,34-40) sobre o maior dos mandamentos na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus. Aos fiéis na Praça São Pedro, o Pontífice afirmou que o amor a Deus e ao próximo são “inseparáveis um do outro” e refletiu sobre dois aspetos dessa realidade.

O primeiro sobre o facto de que, o amor ao Senhor vindo em primeiro lugar, acaba por nos lembrar “que Deus sempre nos precede, nos antecipa com a sua infinita ternura (cf. Jo 4,19)”. Assim como acontece quando “a criança aprende a amar no colo da mãe e do pai, e nós fazemo-lo nos braços de Deus”, recordou Francisco.

O segundo aspeto decorre do mandamento do amor, o amor ao próximo: “significa que, ao amarmos os nossos irmãos, refletimos, como espelhos, o amor do Pai. Refletir o amor de Deus, esse é o ponto; amar Ele, a quem não vemos, por meio do irmão que vemos (cf. 1 Jo 4:20)”. Foi quando Francisco citou Santa Teresa de Calcutá sobre a resposta dada a um jornalista quando perguntou se tinha a ilusão de mudar o mundo com a sua obra e ela respondeu: “nunca pensei que pudesse mudar o mundo! Só tentei ser uma gota de água limpa na qual o amor de Deus pudesse brilhar”.

Foi assim que ela, tão pequena, foi capaz de fazer tanto bem: refletindo como uma gota o amor de Deus. E se às vezes, olhando para ela e para outros santos, chegamos a pensar que eles são heróis inimitáveis, pensemos nessa pequena gota – o amor é uma gota que pode mudar muitas coisas. E como se faz isso? Dando o primeiro passo, sempre.”

Vídeo do Papa pelo Papa

Na mensagem de vídeo do Papa Francisco com a intenção de oração para o mês de novembro, o Santo Padre abre o seu coração aos fiéis, pedindo-lhes orações para que possa cumprir a sua missão.

“A vossa oração dá-me força e ajuda-me a discernir e acompanhar a Igreja na escuta do Espírito Santo”, afirma.

O vídeo publicado pela Rede Mundial de Oração do Papa, tem desta vez um tom íntimo, pois tem como tema a intenção que corresponde a este mês: “Pelo Papa”.

Por alguém ser Papa, não perde a sua humanidade. Pelo contrário, a minha humanidade cada dia cresce mais com o povo santo e fiel de Deus. Porque ser Papa também é um processo. Vai-se tomando consciência do que significa ser pastor. E neste processo aprende a ser mais caridoso, mais misericordioso e, sobretudo, mais paciente, como o nosso Deus Pai, que é tão paciente.”

A seguir, o Papa dirige-se a todas as pessoas que vão ver e escutar a sua mensagem: “Por favor, peço-lhes que julguem com benevolência. E que rezem para que o Papa, seja ele quem for, hoje é a minha vez, receba a ajuda do Espírito Santo, seja dócil a essa ajuda.”

Segundo a tradição do Apostolado da Oração, antigo nome da Rede Mundial de Oração do Papa, desde 1879 os Papas confiam mensalmente uma intenção de oração à Igreja, por meio da Rede Mundial de Oração do Papa.

Angelus: os santos são como nós, em caminho pela comunhão com Deus

A Praça São Pedro recebeu fiéis do mundo inteiro para rezar junto com o Papa Francisco a oração mariana do Angelus. Nesta quarta-feira, de Solenidade de Todos os Santos, o Pontífice propôs uma reflexão sobre a santidade, em particular, sobre duas características: a santidade como um dom, que “é um presente, não se pode comprar”; e ao mesmo tempo como um caminho.

A santidade é um dom de Deus que recebemos no Batismo”, disse o Papa. Portanto, “os santos não são heróis inalcançáveis ou distantes, mas são pessoas como nós”, continuou Francisco, a partir do dom que cada um recebeu: “A santidade é um dom oferecido a todos para uma vida feliz.”

Todo dom recebido, afirma o Papa, é motivo de comemoração e precisa ser acolhido, porque “traz consigo a responsabilidade de uma resposta, um ‘obrigado’. Mas como se diz esse obrigado? É um convite para se esforçar para que não seja desperdiçado”. É por isso que a santidade também se torna um caminho para “ser feito juntos, ajudando uns aos outros, unidos àqueles ótimos companheiros que são os Santos”, aquele irmão ou irmã mais velho, “com os quais sempre podemos contar”.

Francisco, então recomenda conhecer e emocionar-se com a vida deles que são o nosso apoio, corrigem quando é necessário, “desejam o nosso bem” e por fim questiona:

“Sinto os santos perto de mim e dirijo-me a eles? Conheço a história de alguns deles? Faz-nos bem conhecer a vida dos santos e nos emocionarmos com os seus exemplos. Faz-nos muito bem recorrermos a eles na oração.”

Teologia: capaz de interpretar o Evangelho no mundo de hoje

“Uma Igreja sinodal, missionária e ‘em saída’ só pode corresponder a uma teologia ‘em saída'” que possa “interpretar profeticamente o presente” prevendo “novos itinerários para o futuro, à luz da Revelação”.

Nessa perspetiva, o Papa Francisco, com a Carta Apostólica na forma de Motu Proprio Ad theologiam promovendam, datada de 1 de novembro de 2023, decidiu atualizar os estatutos da Pontifícia Academia de Teologia. Instituída canonicamente por Clemente XI em 23 de abril de 1718, com o breve Inscrutabili, para “colocar a teologia a serviço da Igreja e do mundo”, a Academia evoluiu ao longo dos anos como um “grupo de estudiosos chamados a investigar e aprofundar temas teológicos de particular relevância”.

Agora, para o Pontífice, é hora de rever as normas que regulam as suas atividades “para torná-las mais adequadas à missão que o nosso tempo impõe à teologia”. Abrindo-se ao mundo e ao homem, “com os seus problemas, as suas feridas, os seus desafios, as suas potencialidades”, a reflexão teológica deve abrir espaço para “um repensar epistemológico e metodológico”, sendo, portanto, chamada a “uma corajosa revolução cultural”.

O que é necessário é “uma teologia fundamentalmente contextual”, escreve o Papa, “capaz de ler e interpretar o Evangelho nas condições em que os homens e as mulheres vivem diariamente, nos diferentes ambientes geográficos, sociais e culturais”.

A teologia deve “desenvolver-se numa cultura do diálogo e do encontro entre as diversas tradições e os diversos saberes, entre as diversas confissões cristãs e as diversas religiões”, especifica a Carta Apostólica, deve confrontar-se “abertamente com todos, crentes e não crentes”.

Depois, há a contribuição que a teologia pode dar “ao debate atual de ‘repensar o pensamento’, mostrando-se ser um verdadeiro saber crítico na medida em que é um conhecimento sapiencial”, um saber que não deve ser “abstrato e ideológico, mas espiritual”, enfatiza Francisco, “elaborado de joelhos, grávido de adoração e oração; um saber transcendente e, ao mesmo tempo, atento à voz do povo”.

Fiéis Defuntos: “Chega de guerras, elas destroem a vida”

Francisco celebrou a missa de Comemoração de todos os Fiéis Defuntos no Cemitério de Guerra de Roma, entre os túmulos dos que morreram na guerra. Cerca de 300 pessoas estiveram presentes. O Papa recordou a tenra idade dos caídos e expressou a sua tristeza: “Tantos mortos inocentes, tantas vidas ceifadas, as guerras são sempre uma derrota. Não há vitória total”.

Francisco levou um buquê de flores brancas, depois uniu as mãos em oração e apoiou o queixo nelas, enquanto se dirigiu rumo ao relvado onde estão as 426 lápides do Cemitério de Guerra de Roma, cemitério que preserva os restos mortais dos militares da Comunidade dos caídos.

As guerras são sempre uma derrota. Sempre…”, disse o Papa na breve homilia, proferida espontaneamente. “Muitos jovens e idosos na guerra do mundo, até mesmo perto de nós na Europa. Quantas mortes! Destrói-se a vida, sem consciência disso. Não há vitória total, não. Sim, um vence o outro, mas por trás disso está a derrota do preço pago”.

Esta celebração, disse, “traz-nos dois pensamentos: memória e esperança”. A “memória daqueles que nos precederam, que fizeram as suas vidas, que terminaram as suas vidas” e “que na misericórdia de Deus foram acolhidos”.

Depois a esperança, observou o Papa: “Caminhamos para um encontro com o Senhor. Devemos pedir a graça da esperança… A esperança de todos os dias que nos leva adiante, nos ajuda a resolver os problemas.”

Por fim, exortou os presentes a invocar a paz de Deus e a rezar pelos “nossos defuntos”, de hoje e de ontem, “por todos”.

O Papa: os cristãos são chamados a ser humildes trabalhadores, a servir

Nesta sexta-feira (03/11), o Papa Francisco presidiu, na Basílica de São Pedro, a missa em sufrágio do Papa Bento XVI e dos Cardeais e Bispos falecidos no último ano.

Na sua homilia, o Papa destacou que Bento XVI “recordou-nos que a fé não é, primariamente, uma ideia a ser compreendida nem uma moral a ser abraçada, mas o encontro com uma Pessoa: Jesus Cristo”. Francisco recordou que os cristãos são chamados “a servir, não a serem servidos”.

Francisco partilhou com os fiéis duas palavras sugeridas pelo Evangelho: compaixão e humildade.

Compaixão. Jesus está prestes a entrar em Naim e vê uma multidão saindo para sepultar o filho único de uma mãe que ficara viúva. O Evangelho diz: «Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela». Jesus a vê e se enche de compaixão.

Como mostra o Evangelho, Jesus detém-se diante da angústia por aquela morte. Sente “compaixão por uma mãe viúva que, ao ficar sem o único filho, perdeu a razão de viver. Assim é o nosso Deus, cuja divindade resplandece no contacto com as nossas misérias, porque o seu coração é compassivo”.

A seguir, o Papa refletiu sobre a segunda palavra: humildade. De acordo com Francisco, “Deus ama a humildade, porque lhe permite interagir conosco. Mais, Deus ama a humildade, porque Ele mesmo é humilde. Desce até nós, abaixa-se; não se impõe, deixa espaço. Deus não só é humilde, mas é humildade. «Vós sois humildade»: rezava São Francisco de Assis.

Gosto de recordar as palavras com que se apresentou, no início, o Papa Bento XVI: «humilde trabalhador na vinha do Senhor». Sim, os cristãos, sobretudo o Papa, os Cardeais, os Bispos, são chamados a ser humildes trabalhadores: a servir, não a ser servidos; a pensar menos nos próprios frutos e mais nos frutos da vinha do Senhor. E como é maravilhoso renunciar a si mesmo pela Igreja de Jesus!

JM (com recursos jornalísticos do portal Vatican News)

Foto: Ricardo Perna/Ecclesia

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03 de Novembro de 2023