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Migrações/Amora: Leigos Scalabrinianos dinamizam catequeses sobre migrações

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As questões da mobilidade humana sempre trouxeram ao longo dos tempos desafios à sociedade em geral e à Igreja em particular. Assim, o grupo de leigos scalabrinianos da paróquia de Amora iniciou em 2021 um projeto de catequeses sobre esta temática. Já no terceiro ano continuam a ser um momento rico de partilha e sensibilização para esta realidade tão importante.

Como leigos scalabrinianos, as migrações e o trabalho de São João Baptista Scalabrini com os migrantes são bases do nosso carisma. Scalabrini firme na fé, generoso na caridade e fortemente enraizado em Cristo, não ficou indiferente à realidade do seu tempo (que percebemos ter desafios comuns ao nosso tempo) e compreendeu a necessidade de acompanhar estes seus irmãos que buscam melhores condições de vida fora da sua terra natal. Constatamos como o seu carisma interpelou tantas pessoas, estando atualmente espalhadas pelos quatro cantos do mundo as congregações de missionários e missionárias de S. Carlos que ele fundou, bem como os leigos empenhados a elas associados, prestando apoio às comunidades e movimentos migrantes.

Uma das nossas missões passa por informar e esclarecer a comunidade sobre as questões da mobilidade humana e sensibilizá-la  para o apoio aos migrantes e refugiados, seguindo o exemplo do nosso patrono. Assim, em 2021, surgiu a ideia de iniciar este trabalho através da catequese da nossa paróquia, criando e desenvolvendo anualmente catequeses sobre a realidade migratória atual e o carisma scalabriniano. O esquema habitual consiste num primeiro encontro relacionado com a realidade atual deste tema e o seu impacto no nosso dia a dia, seguido por um segundo encontro onde esta realidade e as suas respostas são interpretadas à luz da Palavra de Deus e dos documentos da Igreja.  

No primeiro ano, o objetivo da catequese foi dar a conhecer a realidade migratória global. Para isso foram usadas notícias veiculadas na comunicação social das principais rotas que os migrantes e refugiados procuram atravessar em busca de paz e/ou melhores condições de vida (EUA-México, Mediterrâneo, Europa de Leste, Austrália, entre outras). Foram também partilhadas várias notícias positivas de acolhimento aos migrantes (por exemplo a pequena Amal, a seleção feminina de futebol afegã em Portugal).  O segundo encontro focou-se na Palavra de Deus, especificamente na história do Bom Samaritano e no diálogo de Jesus com a Samaritana. Estes relatos do Evangelho são exemplos de acolhimento ao estrangeiro e de amor ao próximo, independentemente da sua origem. Dado que a preocupação com os migrantes é o pilar da vida de Scalabrini, o seu texto da estação de Milão também foi objeto de reflexão.

Em 2022, o tema central  da catequese foi a Santidade porque coincidiu com o ano de canonização de Scalabrini. O primeiro encontro foi iniciado com uma dinâmica com mini-biografias dos primeiros anos de vida de várias personalidades (que depois foram conhecidas por não serem boas pessoas) e de alguns Santos. Os catequizandos foram desafiados a identificar quais biografias correspondiam aos Santos. O objetivo foi  demonstrar que todos somos chamados à santidade e que diferentes trajetórias de vida podem conduzir a este caminho, independentemente da classe social ou de uma vocação consagrada. Entre encontros cada catequizando pesquisou sobre um Santo com o qual se identificasse e deu-o a conhecer ao grupo no encontro seguinte. Nessa ocasião, procurou-se apresentar Jesus como a fonte e exemplo máximo de santidade, através da leitura do Evangelho de São Mateus. Para além disso, apresentou-se o exemplo de Scalabrini, destacando-o como uma pessoa como nós que conseguiu alcançar a santidade.

Em 2023 o tema das catequeses foi “Migrantes como nós”. O principal objetivo da catequese foi mostrar o lado positivo das migrações, contrariando, com estudos científicos e estatísticos, algumas das afirmações negativas que são difundidas pela nossa sociedade. Além disso, apresentou-se o exemplo de vários imigrantes reconhecidos, que contribuíram de forma decisiva para o desenvolvimento dos países de acolhimento (em áreas tão díspares como o deporto, a ciência ou a música). A Sagrada Família como exemplo de uma família de migrantes foi o mote para percorrer diversas passagens bíblicas desde o Antigo até ao Novo Testamento que mostram o povo de Deus como um povo imigrante ao longo da História. Terminámos esta catequese com um breve vídeo apresentando diversos migrantes presentes na nossa comunidade paroquial que mostram ter profissões e hobbies semelhantes aos de todos nós. Como o Papa Francisco relembra: “Somos todos imigrantes. Ninguém tem moradia fixa nesta terra”.

 

Na prática as catequeses sobre a mobilidade humana foram um momento único e rico de partilha. O relato de uma catequista do 4º volume conta como a dinâmica proporcionou, mesmo às crianças de tenra idade, a reflexão sobre um assunto tão complexo como é a migração. “O tema adquiriu um “rosto próximo” com os videos que visualizaram e alguns tiveram oportunidade de ouvir testemunhos na primeira pessoa, uma vez que o grupo é rico em diversas nacionalidades. Houve lugar para a partilha de quem passa pela experiência da migração como algo recente na sua vida, e tivemos o exemplo da catequista que viveu a experiência há mais anos. O grupo pôde compreender como hoje pode ser a “ pessoa “ que acolhe e que amanhã poderá ser a “pessoa” que é acolhida. Tivemos oportunidade de debater ainda comportamentos promotores do acolhimento e como quando um tem essa responsabilidade no seu dia a dia tal como os governantes, e leis que são aprovadas no nosso país no âmbito da migração”.

Os grupos de adolescentes de Domingo (7º a 10º volumes) reuniram-se para esta catequese. Uma das catequistas relata que “foi muito interessante perceber as várias opiniões dos adolescentes. Muitos deles passam por situações na sua vida, que partilharam na primeira pessoa, e isso ajudou os outros adolescentes que, apesar de conhecerem a realidade, nunca passaram por nenhuma situação de racismo ou desrespeito por serem estrangeiros. Alguns jovens mencionaram que com estas catequeses adquirem argumentos contra os pré-conceitos sobre  os estrangeiros e, desta forma,  ver a diversidade como um bem comum e não uma barreira. Estas catequeses têm ajudado não só os catequizandos a serem mais tolerantes mas também os catequistas.”

Já no 5º volume “são os esclarecimentos das ideias pré feitas que deixam as crianças mais perplexas. Todos acabam por ter experiências de migração própria ou da família o que facilita falar sobre o tema mas mesmo assim são as ideias pré concebidas que ganham espaço. Foi pedido que cada um partilhasse um prato típico da sua terra natal ou dos pais. Esta atividade gerou interesse entre todos e sentiram-se bem a partilhar”.

Se algum catequista tiver interesse em apresentar estas catequeses na sua paróquia, estamos ao dispor para fornecer o material e partilhar o nosso conhecimento. Os pedidos podem ser endereçados a migracoes@diocese-setubal.pt.

Grupo de Leigos Scalabrinianos da Paróquia de Amora

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08 de Janeiro de 2024