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A Palavra do Papa: construtores de comunhão, a Palavra que suscita a missão, a doença do coração e a sabedoria das máquinas

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“A sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós”, escreveu o Papa na Mensagem do 58.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em que problematiza o desenvolvimento e aplicação da inteligência artificial.

Universidades Católicas: a neutralidade é uma ilusão

Na manhã de sexta-feira, 19 de janeiro, o Papa Francisco encontrou-se com uma delegação da Federação Internacional de Universidades Católicas (FIUC), juntamente com o cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, e com a professora Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa e presidente da Confederação.

No discurso escrito, que foi entregue aos participantes, o Santo Padre afirmou ter o “prazer de participar da celebração do centenário da Federação Internacional de Universidades Católicas”.

O Papa ressaltou a possibilidade de trabalho em rede e de instrumento, para a conciliação e a formação da paz e da caridade entre os homens, como escreveu Pio XII na criação da federação. “É essencial que as Universidades Católicas desempenhem um papel de liderança na construção da cultura da paz, nas suas muitas dimensões a serem abordadas de maneira interdisciplinar”, exortou o Pontífice.

Afirmou que vivemos “numa época em que, infelizmente, até mesmo a educação se está a tornar um negócio (…) as instituições da Igreja devem demonstrar que têm uma natureza diferente e movem-se de acordo com uma lógica diferente: é preciso ver uma busca comum pela verdade, um horizonte de significado, e tudo isso vivido numa comunidade de conhecimento onde a generosidade do amor, por assim dizer, pode ser tocada.”

De acordo com o Papa Francisco “não basta conceder títulos académicos: é necessário despertar e acalentar em cada pessoa o desejo de ser. Não basta modelar carreiras competitivas: é necessário promover a descoberta de vocações frutíferas, inspirar caminhos de vida autêntica e integrar a contribuição de cada pessoa na dinâmica criativa da comunidade. Certamente precisamos pensar em inteligência artificial, mas também em inteligência espiritual, sem a qual o homem permanece um estranho para si mesmo. A universidade é um recurso importante demais para viver apenas ‘em sintonia com os tempos’ e adiar a responsabilidade que as grandes necessidades humanas e os sonhos dos jovens representam.”

Renovação Carismática: sejam construtores de comunhão

O Santo Padre recebeu, na manhã de sábado, 20, na Sala do Consistório, 85 membros do Conselho Nacional da Renovação no Espírito Santo, a Renovação Carismática italiana.

No seu discurso, o Papa recordou que, nos últimos anos, promoveu o CHARIS, Serviço Internacional para a Renovação Carismática Católica. Agradeceu ao Senhor pelo bem que as comunidades da Renovação semeiam entre o povo santo e fiel de Deus. Ajudam também uma espiritualidade simples e alegre. A seguir, refletiu sobre dois aspetos particulares para a vida do movimento: “serviço à oração”, especialmente à adoração; e “serviço à evangelização”.

Por isso, exortou os membros do Conselho Carismático para continuar a servir a Igreja, promovendo, de modo especial, a oração de adoração: uma adoração, na qual predomine o silêncio, em que a Palavra de Deus possa prevalecer sobre as nossas palavras; enfim, uma adoração em que o Senhor esteja realmente no centro e não nós.

Enfim, o Santo Padre concluiu o seu discurso aos membros do Conselho Nacional da Renovação no Espírito exortando-os a ser construtores de comunhão, antes de tudo entre si, no âmbito do movimento, mas também nas paróquias e dioceses.

“A Palavra de Deus suscita a missão, faz-nos mensageiros e testemunhas”

Voltemos às nascentes para oferecer ao mundo aquela água viva que ele não encontra; e, enquanto a sociedade e as redes sociais acentuam a violência das palavras, concentremo-nos na mansidão da Palavra que salva: foi o convite do Papa este quinto Domingo da Palavra do Senhor, na Missa presidida na Basílica de São Pedro. Dois fiéis leigos receberam o ministério de Leitor e nove o de Catequista, representando o povo de Deus e oriundos do Brasil, Bolívia, Coreia, Chade, Alemanha e Antilhas.

O Domingo da Palavra de Deus deste ano teve como lema “Permanecei na minha Palavra” (Jo 8, 31). Refletindo sobre a Palavra de Deus na liturgia deste III Domingo do Tempo Comum, Francisco ressaltou que grande é a força da Palavra do Senhor, dela irradia a força do Espírito Santo.

A Palavra atrai a Deus e envia aos outros: tal é o seu dinamismo. Não nos deixa fechados em nós mesmos, mas alarga o coração, faz inverter o rumo, altera os nossos hábitos, abre novos cenários, desvenda inesperados horizontes.”

Não podemos prescindir da Palavra de Deus, da sua força suave que – como num diálogo – toca o coração, imprime-se na alma, renova-a com a paz de Jesus, que nos desinquieta em prol dos outros. Se olharmos para os amigos de Deus, frisou o Pontífice, para as testemunhas do Evangelho na história, vemos que, para todos, foi decisiva a Palavra.

Concluindo a sua reflexão, o Santo Padre apresentou algumas interrogações aos presentes, propondo-as também a nós para a nossa reflexão pessoal.

Que lugar reservo para a Palavra de Deus na casa onde moro? Lá haverá livros, jornais, televisões, telefones, mas… onde está a Bíblia? No meu quarto, tenho ao alcance da mão o Evangelho? Leio-o cada dia para encontrar nele o rumo da vida? Carrego na bolsa um pequeno exemplar do Evangelho para lê-lo? Muitas vezes dei de conselho que se trouxesse sempre conosco o Evangelho: no bolso, na carteira, no celular. Se Cristo me é mais querido do que qualquer outra realidade, como posso deixá-Lo em casa e não trazer comigo a sua Palavra? E a última pergunta: Já li, na íntegra, pelo menos um dos quatro Evangelhos? O Evangelho é o livro da vida, é simples e breve, mas muitos crentes nunca leram um do começo ao fim.”

Angelus: anunciar o Evangelho não é tempo perdido

Um cristão que não é ativo, que não é responsável pelo trabalho de proclamar o Senhor e que não é o protagonista da sua fé não é um cristão ou, como minha avó costumava dizer, é um cristão do tipo “água de rosas” Foi o que disse o Santo Padre no Angelus ao meio-dia deste domingo, 21 de janeiro, III Domingo do Tempo Comum e quinto Domingo da Palavra de Deus.

Comentando o Evangelho do dia, Francisco ressaltou que o mesmo narra a vocação dos primeiros discípulos (cf. Mc 1,14-20). Chamar outros para se juntarem à sua missão é uma das primeiras coisas que Jesus faz no início da sua vida pública: Ele aproxima-se de alguns jovens pescadores e convida-os a segui-Lo para “tornarem-se pescadores de homens”. E isso diz-nos algo importante – observou: o Senhor ama envolver-nos na sua obra de salvação, quer que sejamos ativos com Ele, responsáveis e protagonistas.

“Ele não precisaria disso, mas fá-lo, mesmo que isso signifique assumir muitas das nossas limitações. Olhemos, por exemplo, para a paciência que teve com os discípulos: frequentemente não compreendiam as suas palavras, às vezes discordavam entre si, por muito tempo não conseguiam aceitar aspetos essenciais de sua pregação, como o serviço. No entanto, Jesus escolheu-os e continuou a acreditar neles”, observou.

Anunciar o Evangelho, portanto, não é tempo perdido: é ser mais feliz ajudando os outros a serem felizes; é libertar-se de si mesmo ajudando os outros a serem livres; é tornar-se melhor ajudando os outros a serem melhores!”

No final, Francisco deu início ao Ano da Oração, “um ano dedicado a redescobrir o grande valor e a necessidade absoluta da oração”, para nos preparar para o Ano Jubilar de 2025: “Peço a vocês que intensifiquem a oração a fim de preparar-nos para viver esse tempo de graça”.

Aos vaticanistas: “contar a verdade, mas sem clamores desnecessários”

O Papa Francisco recebeu em audiência, na segunda-feira, na Sala Clementina, os membros da Associação Internacional de Jornalistas Credenciados junto ao Vaticano. Atualmente, são 250 os membros da Associação, entre os quais a jornalista da Renascença Aura Miguel.

Este encontro “é uma oportunidade para agradecer a vocês, que são um pouco meus companheiros de viagem, pelo trabalho que realizam informando leitores, ouvintes e espectadores sobre a atividade da Santa Sé. Jornalistas, operadores, fotógrafos, produtores: vocês são uma comunidade unida por uma missão”, disse o Pontífice no início do seu discurso.

Ser jornalista é uma vocação, um pouco como a de um médico, que escolhe amar a humanidade curando as suas doenças. De certa forma, o mesmo acontece com o jornalista, que escolhe tocar as feridas da sociedade e do mundo.”

Francisco manifestou a sua gratidão aos jornalistas “não apenas pelo que escrevem e transmitem, mas também pela sua perseverança e paciência em acompanhar todos os dias as notícias que chegam da Santa Sé e da Igreja, relatando uma instituição que transcende o “aqui e agora” e as “nossas próprias vidas”.

“A beleza do seu trabalho em torno de Pedro é fundá-lo sobre a sólida rocha da responsabilidade na verdade, não sobre as frágeis areias da tagarelice e das leituras ideológicas; é não esconder a realidade e também as suas misérias, sem amenizar as tensões, mas ao mesmo tempo sem fazer clamores desnecessários, mas esforçar-se para captar o essencial, à luz da natureza da Igreja. Como isso faz bem ao Povo de Deus, às pessoas mais simples, à própria Igreja, que ainda tem um caminho a percorrer para comunicar melhor: primeiro com o testemunho e depois com as palavras”, concluiu o Papa.

Audiência Geral: a avareza é uma doença do coração. Sejamos generosos

Ao dar continuidade no ciclo de catequeses sobre os vícios e as virtudes, o Santo Padre, refletiu, na manhã desta quarta-feira, sobre a avareza, ou seja, “aquela forma de apego ao dinheiro que impede o homem de ser generoso”.

Francisco enfatizou, logo no início da Audiência Geral, que este não é um pecado que diz respeito apenas às pessoas que possuem grandes patrimónios, “mas sim um vício transversal, que muitas vezes nada tem a ver com o saldo da conta corrente”, e completou:“A avareza é uma doença do coração, não da carteira.”

O Pontífice ilustrou a sua meditação com algumas análises que os padres do deserto fizeram sobre este mal: “Eles evidenciaram como a avareza poderia também se apoderar dos monges que, depois de terem renunciado a enormes heranças, na solidão da sua cela se apegaram a objetos de pouco valor: não os emprestavam, não os partilhavam, e muito menos estavam dispostos a distribuí-los, era um apego a pequenas coisas”.

Uma espécie de regressão à imagem da criança que segura o brinquedo e repete: “É meu! É meu!”, continuou o Papa, “esse tipo de apego tira-nos a liberdade, e aí reside uma relação doentia com a realidade, que pode levar a formas de acumulação compulsiva ou patológica”.

“Para curar esta doença”, recordou o Santo Padre, “os monges propuseram um método drástico, mas muito eficaz: a meditação da morte”. Por mais que uma pessoa acumule bens neste mundo, temos absoluta certeza de uma coisa: “eles não caberão no caixão, nós não poderemos levar os bens connosco”.

Segundo Francisco, “o vínculo de posse que construímos com as coisas é apenas aparente, porque não somos os donos do mundo: esta terra que amamos não é na verdade nossa, e nela caminhamos como estrangeiros e peregrinos”.

O Papa então destacou que estas simples considerações fazem-nos compreender a loucura da avareza, mas também a sua razão mais oculta: “é uma tentativa de exorcizar o medo da morte: procura certezas que na realidade desmoronam no momento em que as apreendemos”.

Francisco, na conclusão da sua reflexão, exortou os fiéis: “No fim da vida teremos que entregar o nosso corpo e a nossa alma ao Senhor, e teremos que deixar tudo. Sejamos cuidadosos e generosos: generosos com todos e generosos com aqueles que mais precisam de nós.”

Comunicações Sociais: que o homem não se torne alimento para os algoritmos

Foi divulgada esta quarta-feira (24 de janeiro), a mensagem do Papa Francisco para o 58° Dia Mundial das Comunicações Sociais intitulada “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana” que será celebrado no domingo, 12 de maio próximo. 

Francisco inicia o texto, ressaltando que “a rápida difusão de maravilhosas invenções, cujo funcionamento e potencialidades são indecifráveis para a maior parte de nós, suscita um espanto que oscila entre entusiasmo e desorientação e põe-nos inevitavelmente diante de questões fundamentais”.

Neste tempo que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade, a nossa reflexão só pode partir do coração humano”, escreve ainda o Pontífice. “Somente dotando-nos de um olhar espiritual, apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana”, ressalta.

Segundo o Papa, “a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós”.

Esta sabedoria do coração “é um dom do Espírito Santo, que permite ver as coisas com os olhos de Deus, compreender as interligações, as situações, os acontecimentos e descobrir o seu sentido. Sem esta sabedoria, a existência torna-se insípida, pois é precisamente a sabedoria que dá gosto à vida: a sua raiz latina sapere associa-a ao sabor”.

De acordo com Francisco, “não podemos esperar esta sabedoria das máquinas. É certo que as máquinas têm uma capacidade imensamente maior que os seres humanos de memorizar os dados e relacioná-los entre si, mas compete ao homem, e só a ele, descodificar o seu sentido”.

Somos chamados a crescer juntos, em humanidade e como humanidade. O desafio que temos diante de nós é realizar um salto de qualidade para estarmos à altura de uma sociedade complexa, multiétnica, pluralista, multirreligiosa e multicultural”.

Segundo o Papa, “a inteligência artificial acabará por construir novas castas baseadas no domínio informativo, gerando novas formas de exploração e desigualdade ou se, pelo contrário, trará mais igualdade, promovendo uma informação correta e uma maior consciência da transição de época que estamos a atravessar, favorecendo a escuta das múltiplas carências das pessoas e dos povos, num sistema de informação articulado e pluralista. De um lado, vemos assomar o espectro de uma nova escravidão, do outro uma conquista de liberdade; de um lado, a possibilidade de que uns poucos condicionem o pensamento de todos, do outro a possibilidade de que todos participem na elaboração do pensamento”.

A resposta não está escrita; depende de nós. Compete ao homem decidir se há de tornar-se alimento para os algoritmos ou nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria.”

Esta sabedoria amadurece valorizando o tempo e abraçando as vulnerabilidades. Cresce na aliança entre as gerações, entre quem tem memória do passado e quem tem visão de futuro”, conclui Francisco.

JM (com recursos do portal de notícias Vatican News)

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25 de Janeiro de 2024