comprehensive-camels

A Palavra do Papa: as insinuações na alma, o pecado da ira, a educação para a plenitude e o tempo de liberdade

20240202-a-palavra-do-papa-francisco - Cópia

“A Quaresma é tempo de conversão, tempo de liberdade. O próprio Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto a fim de ser posto à prova na sua liberdade. O deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão” escreveu o Papa Francisco na sua mensagem para a Quaresma.

O Santo Papa enviou mensagem a Maria da Conceição, de 107 anos, e à jovem Edna que encontrou na JMJ em Lisboa

Na manhã de sexta-feira, 26 de janeiro, o Papa Francisco recebeu no Vaticano o cardeal português, D. Américo Manuel Alves Aguiar, Bispo de Setúbal. Foi um encontro oportuno para relembrar a Jornada Mundial da Juventude que ocorreu no último ano.

Um dos momentos emocionantes que marcou a visita do Santo Padre à capital portuguesa foi um encontro a 4 de agosto de 2023, na Nunciatura Apostólica, com Maria da Conceição Brito Mendonça, nascida no dia das aparições de Fátima, a 13 de maio de 1917.

Na ocasião, Francisco recebeu da idosa um rosário. Durante o encontro com o Bispo de Setúbal, o Pontífice enviou uma mensagem em vídeo para centenária:

Senhora Maria da Conceição, eu ainda tenho o seu rosário. Aos 107 anos, você está forte e segue em frente, não desanime, continue fazendo os rosários, continue rezando o rosário, continue sustentando a Igreja com a sua oração e com a sua alegria. Que o Senhor a abençoe e que a Virgem Maria cuide de si. E reze por mim, não se esqueça.”

Na ocasião, enviou também um vídeo a Edna Pina Lopes Rodrigues. É uma jovem portuguesa que sofre de uma grave doença há mais de oito anos. Vendo-se impedida por razões de saúde de participar na JMJ Lisboa 2023, a jovem escreveu ao Papa: “Há uns dias, o médico disse-me que não sabe quando vou partir para junto de Jesus, mas que será em breve. Fiquei muito triste porque achei que não ia conseguir ir às JMJ nem ver o Papa, como sempre sonhei.”

Francisco não só respondeu enviando um vídeo antes da Jornada, como os dois encontraram-se em Lisboa. Passados cinco meses da JMJ, Edna continua a lutar contra a doença e acaba de receber mais um vídeo de encorajamento do Papa: 

“Edna, lembro-me de si, quando me veio encontrar. Lembro-me que ofereceu toda a sua doença, a sua dor para a Jornada Mundial da Juventude. Obrigado por isso e obrigado por continuar a lutar. Em frente, siga em frente! Continue a rezar por tantos jovens que precisam de força para ir em frente. Não se esqueça que é um dos pilares da Jornada da Juventude. Que Deus a abençoe, que Nossa Senhora cuide de si e não se esqueça de rezar por mim. Tchau!”

Vídeo do Papa: rezar pelos doentes terminais e as suas famílias

O Papa Francisco convida a rezar pelos doentes terminais e os seus familiares na intenção de oração para o mês de fevereiro, divulgada esta terça-feira.

O Santo Padre partilha a sua intenção de oração neste mês em que a Igreja celebra o Dia Mundial do Doente, convocado desde 1992 por São João Paulo II, no dia 11 de fevereiro, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes.

Francisco lembra que “há duas palavras que, quando alguns falam de doenças terminais, as confundem: incurável e incuidável. E não são a mesma coisa”. “São João Paulo II dizia que ‘curar às vezes é possível, cuidar sempre’, diz ainda o Pontífice.

Mesmo quando existam muito poucas possibilidades de cura, todos os enfermos têm direito ao acompanhamento médico, ao acompanhamento psicológico, ao acompanhamento espiritual, ao acompanhamento humano.”

Na nossa cultura do descarte não há lugar para os doentes terminais. E não é por acaso que, nas últimas décadas, a tentação da eutanásia tem ganhado terreno em muitos países. Contrariamente a isso, o Papa Francisco convida-nos a olhar o doente com amor – a compreender, por exemplo, que o contacto físico pode ajudar muito, inclusive a quem já não é capaz de falar e parece já não reconhecer os seus próprios familiares – e a acompanhá-lo do melhor modo possível, durante todo o tempo que necessite.

Ao falar sobre o papel das famílias, o Papa lembra que elas “não podem ficar sozinhas nesses momentos difíceis”, pois “o seu papel é decisivo e devem ter os meios adequados para desempenhar o apoio físico, o apoio espiritual, o apoio social”.

Angelus: nas tentações, é preciso invocar Jesus. Jamais dialogar com o diabo!

Para os milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, o Papa comentou o Evangelho deste IV Domingo do Tempo Comum, que  narra Jesus enquanto liberta uma pessoa possuída por um “espírito mau”. 

Assim faz o diabo, explicou Francisco: quer possuir para “nos aprisionar a alma”. E nós devemos estar atentos às “amarras” que nos sufocam a liberdade, porque o diabo sempre nos tira a capacidade de escolher livremente. O Pontífice então nomeia algumas correntes que podem prender o coração, como as dependências, os modismos e a idolatria do poder, “corrente muito má”. Todas essas insídias nos tornam escravos, sempre insatisfeitos, levam ao consumismo e ao hedonismo, que mercantilizam as pessoas e comprometem as relações, gerando inclusive conflitos armados.

Jesus liberta do poder do mal, mas – estejamos atentos -, expulsa o diabo, mas não dialoga com ele. Jamais Jesus dialogou com o diabo. E quando foi tentado no deserto, as respostas de Jesus eram palavras da Bíblia, nunca o diálogo. Irmãos e irmãs, com o diabo não se dialoga!”

E quando nos sentirmos tentados e oprimidos, indicou o Papa, é preciso invocar Jesus, invocá-Lo ali, onde sentimos que as correntes do mal e do medo apertam mais forte.

Francisco então propôs algumas perguntas aos fiéis: “eu quero realmente me libertar daquelas amarras que me apertam o coração? E depois, sei dizer “não” às tentações do mal, antes que se insinuem na alma? Por fim, invoco Jesus, permito-Lhe agir em mim, para curar-me por dentro?”

Audiência Geral: a ira é um pecado desenfreado, destrói as relações humanas

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre “Vícios e Virtudes” na Audiência Geral desta quarta-feira. “A ira” foi o tema deste encontro semanal do Pontífice com os fiéis.

Segundo o Papa, a ira “é um vício particularmente obscuro e talvez o mais simples de identificar do ponto de vista físico”. Segundo ele, “a pessoa dominada pela ira tem dificuldade em esconder esse ímpeto: reconhece-se pelos movimentos do seu corpo, pela agressão, pela respiração difícil, pelo olhar sombrio e carrancudo”.

A ira é um pecado desenfreado: é capaz de tirar-nos o sono e fazer-nos tramar continuamente na nossa mente, sem conseguir encontrar uma barreira aos raciocínios e aos pensamentos.”

A seguir, Francisco disse que a ira “é um pecado que destrói as relações humanas. Expressa a incapacidade de aceitar a diversidade dos outros, especialmente quando as suas escolhas de vida divergem das nossas”.

“Quando uma pessoa está sob a ira, ela sempre, sempre diz que o problema está no outro. Ela nunca é capaz de reconhecer as suas próprias falhas, os seus próprios defeitos”, acrescentou o Santo Padre.

“No “Pai Nosso”, Jesus faz-nos rezar pelas nossas relações humanas que são um campo minado: um plano que nunca está em perfeito equilíbrio. Todos precisamos aprender a perdoar. Os homens não estão juntos se não praticarem também a arte do perdão, tanto quanto isso for humanamente possível”, disse ainda Francisco.

O que neutraliza a ira é a benevolência, a generosidade, a mansidão, a paciência.”

O Pontífice disse outra coisa a propósito da ira: que ela “é um pecado terrível que está na origem das guerras e da violência. Porém, nem tudo que surge da ira está errado. Os antigos sabiam muito bem que existe uma parte irascível dentro de nós que não pode e não deve ser negada”.

As paixões são, até certo ponto, inconscientes: acontecem, são experiências da vida. Não somos responsáveis pelo surgimento da ira, mas sempre pelo seu desenvolvimento. E às vezes é bom que a ira seja desabafada da maneira certa.

“Existe uma santa indignação, que não é ira, mas é um movimento interior, uma santa indignação. Jesus a encontrou várias vezes na sua vida: nunca respondeu ao mal com o mal, mas na sua alma sentiu este sentimento e, no caso dos vendilhões do Templo, realizou uma ação forte e profética, ditada não pela ira, mas pelo zelo pela casa do Senhor. É preciso distinguir bem, o zelo, a santa indignação, é uma coisa, a ira, que é ruim, é outra coisa. Cabe a nós, com a ajuda do Espírito Santo, encontrar a medida certa das paixões. Educá-las para que se tornem boas”, concluiu o Papa.

Martin Scorsese no Vaticano, um novo diálogo com o Papa Francisco

O conhecido cineasta esteve presente, na Audiência Geral de quarta-feira e encontrou pessoalmente o Pontífice. Aos 81 anos, ele é um dos maiores e mais importantes cineastas da história do cinema. Martin Scorsese cumprimentou pessoalmente o Papa Francisco no escritório do Pontífice na Sala Paulo VI, entregando-lhe um livro de fotografias.

Um novo encontro entre “dois homens de génio e experiência” – como definidos num post na rede social X pelo padre Antonio Spadaro, subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação – que se une aos muitos realizados nos últimos anos no Vaticano e que permitiram uma confidencialidade feita de perguntas pessoais, sobre família, trabalho e fé. Scorsese está atualmente a trabalhar num filme sobre Jesus.

A inspiração, disse o diretor de cinema à imprensa americana, veio do Papa Francisco e do seu apelo ao mundo da arte: “Respondi da única maneira que sei: imaginando e escrevendo um roteiro para um filme sobre Jesus”, explicou Scorsese.

Educação católica: “cabeça, coração e mãos”

Na manhã desta quinta-feira, 1 de fevereiro, o Papa Francisco recebeu em audiência no Vaticano, uma delegação da Universidade de Notre Dame, localizada em South Bend, Indiana, nos Estados Unidos. Durante o encontro, o Pontífice proferiu um discurso e enalteceu a missão da instituição católica em promover a educação integral da juventude.

“Desde sua fundação, a Universidade de Notre Dame tem se dedicado a promover a missão da Igreja de proclamar o Evangelho por meio da formação de cada pessoa em todas as suas dimensões.”, afirmou o Pontífice, ao recordar uma frase do fundador da Congregação de Santa Cruz, que mantém a universidade.

“De facto, como disse o Beato Basil Moreau, “a educação cristã é a arte de conduzir os jovens à plenitude”. E não apenas com a cabeça, mas com as três linguagens: cabeça, coração e mãos. Este é o segredo da educação: que pense no que sente e no que faz, que sinta o que pensa e o que faz, e que faça o que sente e o que pensa. Esse é o núcleo, não se esqueça. E sobre esse assunto de conduzir à maturidade, gostaria de refletir com vocês por um momento sobre três linguagens: a da cabeça, a do coração e a das mãos. Juntas, elas formam um horizonte dentro do qual as comunidades académicas católicas podem se esforçar para formar personalidades sólidas e bem integradas, cuja visão da vida é animada pelos ensinamentos de Cristo.”

Quaresma: a humanidade tateia ainda na escuridão das desigualdades

Foi divulgada esta quinta-feira, a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2024 sobre o tema “Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade”.

Francisco inicia o texto com um versículo do Livro do Êxodo: «Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egito, da casa da servidão». “Assim inicia o Decálogo dado a Moisés no Monte Sinai”, escreve o Papa, acrescentando que “quando o nosso Deus se revela, comunica liberdade”.

O povo sabe bem de que êxodo Deus está a falar: traz ainda gravada na sua carne a experiência da escravidão. Como Israel no deserto tinha ainda dentro de si o Egito, também hoje o povo de Deus traz dentro de si vínculos opressivos que deve optar por abandonar. Damo-nos conta disto, quando nos falta a esperança e vagueamos na vida como em terra desolada, sem uma terra prometida para a qual tendermos juntos”, sublinha o Papa.

A seguir, Francisco recorda que “a Quaresma é o tempo de graça em que o deserto volta a ser – como anuncia o profeta Oseias – o lugar do primeiro amor. Deus educa o seu povo, para que saia das suas escravidões e experimente a passagem da morte para a vida. Como um esposo, atrai-nos novamente a si e sussurra ao nosso coração palavras de amor”.

“O êxodo da escravidão para a liberdade não é um caminho abstrato. A fim de ser concreta também a nossa Quaresma, o primeiro passo é querer ver a realidade. Também hoje o grito de tantos irmãos e irmãs oprimidos chega ao céu”, escreve o Pontífice. A seguir, Francisco pergunta: o grito desses nossos irmãos e irmãs “chega também a nós? Mexe conosco? Comove-nos? Há muitos fatores que nos afastam uns dos outros, negando a fraternidade que originariamente nos une”.

“Deus não se cansou de nós. A Quaresma é tempo de conversão, tempo de liberdade. O próprio Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto a fim de ser posto à prova na sua liberdade. O deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão” escreve ainda Francisco, ressaltando que “isto comporta uma luta: assim nos dizem claramente o livro do Êxodo e as tentações de Jesus no deserto”.

É tempo de agir e, na Quaresma, agir é também parar: parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano na presença do irmão ferido”, sublinha o Papa. Segundo ele, “a oração, esmola e jejum não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: lancemos fora os ídolos que nos tornam pesados, fora os apegos que nos aprisionam. Então o coração atrofiado e isolado despertará”.

Segundo o Papa, “a forma sinodal da Igreja, que estamos redescobrindo e cultivando nestes anos, sugere que a Quaresma seja também tempo de decisões comunitárias, de pequenas e grandes opções contracorrente, capazes de modificar a vida quotidiana das pessoas e a vida de toda uma coletividade: os hábitos nas compras, o cuidado com a criação, a inclusão de quem não é visto ou é desprezado”.

“Na medida em que esta Quaresma for de conversão, a humanidade extraviada sentirá um abalo de criatividade: o lampejar de uma nova esperança”, escreve ainda o Papa.

JM (com recursos do portal Vatican News)

Foto: Vatican Media

Partilhe nas redes sociais!
02 de Fevereiro de 2024