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Quarta-feira de Cinzas: Mensagem de D. Américo Aguiar, Bispo de Setúbal

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Setúbal e Casa Episcopal, 14 de fevereiro de 2024

Meus irmãos e filhos,

Venho mais uma vez ao Vosso encontro, de coração e braços abertos. Uma carta não substitui conversas pessoais, olhos nos olhos, sem tempo marcado, como tanto quero ter com todos. Mas a cadência dos tempos litúrgicos permite este gesto, também ele de proximidade e amizade fraterna.

Ao longo destes últimos meses tenho procurado conhecer a realidade da nossa Diocese, visitando instituições, paróquias, serviços, bairros, fábricas e as mais variadas autoridades civis e políticas que trabalham em prol do bem comum. Não tenho a veleidade de pensar ou de afirmar que já conheço tudo e todos. Mas já me sinto bem mais sadino do que alguma vez imaginei. Por outro lado, estou consciente das dificuldades implícitas na construção de uma relação de confiança e amizade entre o clero de qualquer diocese. Precisamos de tempo, de transparência e verdade, de oração e humildade, de esperança.

Como sabem, apliquei o tema do Jubileu de 2025 para a celebração dos 50 anos da nossa Diocese “Setúbal, Peregrina da Esperança” -definindo assim o propósito de vida e de trabalho de todos nós, para os próximos dois anos.

Quero ser Peregrino convosco e é nesta Esperança que desejo viver, a Esperança que se alimenta da certeza de que não estamos sós, Jesus Vivo está entre nós.

Quero ser Peregrino convosco, nesta Quaresma que se aproxima e que vamos viver, na expectativa de mais uma celebração da Páscoa. Este tempo pede-nos o desafio de o tornarmos sempre único, capaz de nos surpreender pelas maravilhas que pode operar nas nossas vidas e nas vidas de todos os homens, mulheres, jovens e crianças que nos são confiados.

Neste sentido, e reforçando a necessidade de refletirmos e rezarmos a mensagem do Papa Francisco para esta Quaresma, partilho convosco três passagens de um outro texto, a sua homília no passado dia 2 de fevereiro, na Missa do 28a Dia Mundial da Vida Consagrada e que me parecem igualmente importantes para a nossa reflexão:

“(…) A vida cristã e a missão apostólica precisam que a espera, amadurecida na oração e na fidelidade diária, nos liberte do mito da eficiência, da obsessão do lucro e, sobretudo, da pretensão de encerrar Deus nas nossas categorias, porque

Ele vem sempre de modo imprevisível, em tempos que não são os nossos e sob formas diferentes das que esperávamos (…)”

“(…) A pior coisa que nos pode acontecer é deixar-nos cair no ‘sono do espírito ‘: adormecer o coração, anestesiar a alma, arquivar a esperança nos cantos obscuros das desilusões e resignações (…) ‘

“(…) Ainda somos capazes de viver a expectativa? Não ficaremos, às vezes demasiado, ocupados connosco próprios, com as coisas e os ritmos intensos de cada dia, a ponto de nos esquecermos de Deus, que vem sempre? Porventura não estaremos demasiado enleados com as nossas obras de bem-fazer, arriscando-nos a reduzir a própria vida consagrada e cristã às muitas coisas a fazer, negligenciando a busca diária do Senhor?

“Setúbal, Peregrina da Esperança”

Que esta Quaresma de 2024, alicerçada na vontade de sermos Peregrinos da Esperança, nos traga uma renovada disponibilidade interior para sermos surpreendidos, todos os dias pela presença amorosa do Senhor a quem demos as nossas vidas.

Que esta Quaresma de 2024, alicerçada na vontade de sermos Peregrinos da Esperança, nos traga a alma e o coração atentos ao sofrimento de tantos e determinados em curar as suas feridas.

Que esta Quaresma de 2024, alicerçada na vontade de sermos Peregrinos da Esperança, nos torne mais unidos, mais amigos, mais companheiros de uma estrada onde Jesus Vivo caminha ao nosso lado.

Santa caminhada quaresmal rumo à Páscoa do Senhor!

+ Américo, Cardeal

Bispo de Setúbal

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14 de Fevereiro de 2024