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A Palavra do Papa: o método sinodal, a glória de Deus, os artífices de fraternidade e a lição da prudência

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“Deixai-vos fascinar por Jesus, dirigi-Lhe as vossas perguntas importantes, através das páginas do Evangelho, deixai-vos desinquietar pela sua presença que sempre nos coloca, de forma proveitosa, em crise” dirigiu o Papa aos jovens na sua mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações.

Sínodo: trabalhar em “método autenticamente sinodal”

Numa carta ao cardeal Grech, secretário-geral do Sínodo, o Papa Francisco anuncia as questões que emergiram do Relatório de Síntese da primeira sessão da Assembleia Sinodal que requerem um estudo aprofundado em vista da segunda sessão de outubro de 2024.

Foram criados Grupos de Estudo sobre as temáticas, que funcionarão até 2025 e serão coordenados pelos Dicastérios competentes da Cúria. O Pontífice pretende trabalhar com um estilo “autenticamente sinodal”.

Os temas são: o grito dos pobres; a missão no ambiente digital; os ministérios (incluindo a reflexão sobre o lugar e a participação das mulheres na Igreja e a pesquisa sobre o acesso das mulheres ao diaconato); as relações com as Igrejas Orientais e entre os bispos, a vida consagrada e os movimentos eclesiais; a formação dos sacerdotes; a figura e o ministério do bispo; o papel dos núncios; o ecumenismo; as questões doutrinais, pastorais e éticas “controversas”, para esclarecer melhor a “relação entre pastoral e moral”. Tudo analisado a partir de uma perspetiva sinodal e missionária.

Na missiva, Francisco explica que, uma vez que não é possível realizar o estudo sobre esses temas a tempo para o próximo outono, se dispõe “que eles sejam atribuídos a Grupos de Estudo específicos, para que possam ser adequadamente examinados”. “Esse”, escreve ele, “será um dos frutos do processo sinodal lançado a 9 de outubro de 2021”.

O desejo do Papa é que esses grupos de estudo “trabalhem de acordo com um método autenticamente sinodal”, e a Secretaria Geral do Sínodo deverá atuar como “tutora”. Todo o foco estará no tema geral que pode ser resumido numa pergunta: “Como ser uma Igreja sinodal em missão?”. Os Grupos de Estudo, prossegue o Papa, apresentarão um relatório inicial das suas atividades na Segunda Sessão e concluirão o seu mandato até junho de 2025.

“Que o Jubileu ajude todos a viver a esperança”

O Papa Francisco recebeu em audiência, na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes do plenário do Dicastério para a Evangelização da Secção para Questões Fundamentais do Mundo.

No seu discurso, lido pelo monsenhor Filippo Ciampanelli, o Papa recordou “a situação enfrentada por várias Igrejas locais, onde o secularismo das décadas passadas criou enormes dificuldades: desde a perda do sentido de pertença à comunidade cristã até a indiferença em relação à fé e aos seus conteúdos”.

“No que diz respeito à nova cultura digital, que apresenta muitos aspetos interessantes para o progresso da humanidade, ela também traz consigo uma visão do ser humano que parece problemática quando se refere à exigência da verdade que habita em cada pessoa, combinada com a exigência de liberdade nas relações interpessoais e sociais”, ressaltou o Papa.

A fé no Senhor Ressuscitado, que é o coração da evangelização, para ser transmitida, requer uma experiência significativa vivida na família e na comunidade cristã como um encontro com Jesus Cristo que muda a vida. Sem esse encontro, real e existencial, a pessoa estará sempre sujeita à tentação de fazer da fé uma teoria e não um testemunho de vida.”

A seguir, o Papa agradeceu ao Dicastério “pelo serviço que prestam no campo da catequese”, valendo-se do novo Diretório elaborado por eles em 2020. Segundo o Papa, este “é um instrumento válido e pode ser eficaz, não só para a renovação da metodologia catequética, mas sobretudo, para o envolvimento da comunidade cristã como um todo”.

Depois, o Papa abordou a questão da preparação para o Jubileu Ordinário do próximo ano.

“Será um Jubileu no qual deverá emergir a força da esperança. Dentro de algumas semanas tornarei pública a Carta Apostólica para o seu anúncio oficial: espero que estas páginas possam ajudar muitos a refletir e sobretudo a viver concretamente a esperança.”

Angelus: dom e perdão são a essência da glória de Deus

Chegando ao V Domingo da Quaresma, o Papa recordou que Jesus diz-nos algo importante no Evangelho: que na Cruz veremos a sua glória e a do Pai.

Dirigindo-se aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, Francisco pergunta “como é possível que a glória de Deus se manifeste precisamente ali, na Cruz?”. “Poder-se-ia pensar que isto acontece na Ressurreição, não na Cruz, o que é uma derrota, um fracasso”, observa, mas ao invés disso, hoje Jesus, falando da sua Paixão, diz que “chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado”. Mas, que exatamente Ele nos quer dizer ao afirmar isso?

Ele quer dizer-nos que a glória, para Deus, não corresponde ao sucesso humano, à fama ou à popularidade: não tem nada de autorreferencial, não é uma manifestação grandiosa de poder seguida de aplausos do público. Para Deus, a glória é amar até dar a vida. Glorificar-se, para Ele, significa doar-se, tornar-se acessível, oferecer o seu amor. E isto aconteceu de forma culminante na Cruz, onde Jesus manifestou ao máximo o amor de Deus, revelando plenamente o seu rosto de misericórdia, dando-nos vida e perdoando os seus crucificadores.

Da Cruz, “cátedra de Deus” – disse o Santo Padre – “o Senhor ensina-nos que a verdadeira glória, aquela que nunca se apaga e nos faz felizes, é feita de dom e perdão”.

E então, o Papa propõe que nos perguntemos: “Qual é a glória que desejo para mim, para a minha vida, que sonho para o meu futuro? A de impressionar os outros pelo meu valor, pelas minhas capacidades ou pelas coisas que possuo? Ou o caminho do dom e do perdão, o de Jesus Crucificado, o caminho de quem não se cansa de amar, confiante de que isto testemunha Deus no mundo e faz brilhar a beleza da vida? Recordemo-nos, de facto, que quando damos e perdoamos, resplandece em nós a glória de Deus.”

Vocações: Que ninguém se sinta excluído do chamado de Deus

“Chamados a semear a esperança e a construir a paz” é o título da mensagem do Papa Francisco para o 61º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, a ser celebrado a 21 de abril de 2024, no IV Domingo de Páscoa.

No texto, o Santo Padre faz um convite à reflexão sobre o chamamento que o Senhor dirige a cada pessoa, “o seu povo fiel em caminho”: “Este Dia proporciona-nos sempre uma boa ocasião para recordar, com gratidão, diante do Senhor, o compromisso fiel, quotidiano e muitas vezes escondido daqueles que abraçaram uma vocação que envolve toda a sua vida.”

Francisco dirigiu-se especialmente aos jovens que se sentem distantes ou olham a Igreja com desconfiança: “Deixai-vos fascinar por Jesus, dirigi-Lhe as vossas perguntas importantes, através das páginas do Evangelho, deixai-vos desinquietar pela sua presença que sempre nos coloca, de forma proveitosa, em crise. Ele respeita mais do que ninguém a nossa liberdade, não Se impõe mas propõe-Se: dai-Lhe espaço e encontrareis a vossa felicidade no seu seguimento e, se vo-la pedir, na entrega total a Ele.”

O Pontífice, na sua mensagem, faz um apelo para que cada indivíduo “erga-se e se envolva”, amando a vida e cuidando dos outros com coragem e generosidade, a fim de tornar-se artífices de fraternidade, paz e esperança no nosso mundo:

Despertemos do sono, saiamos da indiferença, abramos as grades da prisão em que por vezes nos fechamos, para que cada um de nós possa descobrir a própria vocação na Igreja e no mundo […] Apaixonemo-nos pela vida e comprometamo-nos no cuidado amoroso daqueles que vivem ao nosso lado e do ambiente que habitamos.”

Por fim, Francisco pede a todos a coragem do comprometimento, e recorda o padre Oreste Benzi, apóstolo incansável da caridade, sempre do lado dos últimos e indefesos, que repetia: “ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar, e ninguém é tão rico que não precise de receber alguma coisa”.

Fórum Rural Mundial: “na família está o futuro da agricultura

Erradicação da fome, redução das desigualdades e proteção do planeta: estes são os pedidos do Papa Francisco aos participantes da VIII Conferência Global do Fórum Rural Mundial, que se realizou de 19 a 21 de março em Vitoria-Gasteiz, na Espanha. O evento tem por tema “Agricultura Familiar: sustentabilidade do nosso planeta” e reúne mais de 150 personalidades de 60 países.

Francisco define como “louváveis” as famílias que se dedicam à agricultura pela forma solidária do seu trabalho, assim como pelo estilo respeitoso e delicado com o qual cultivam a terra, favorecendo sistemas agroalimentares mais inclusivos, resilientes e eficientes. Não obstante esta valiosa contribuição, seguem sendo atingidas pela pobreza e pela escassez de oportunidades.

Por isso, consciente dos complexos desafios que enfrentam, o Papa dirige às famílias dos pequenos agricultores uma palavra de alento, manifestando a proximidade da Igreja, destacando o papel “insubstituível” das mulheres e a contribuição da juventude para a procura de “soluções inovadores na abordagem a problemas antigos” e na “coragem para mudar”.

O Papa conclui com os votos de que Deus abençoe as deliberações do encontro, para que, reconhecido o papel da família rural, se avance na erradicação da fome, na redução das desigualdades, assim como no cuidado e proteção do nosso planeta.

Audiência Geral: prudência, capacidade de direcionar as ações para o bem

A catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira, realizada na Praça São Pedro, foi dedicada à virtude da prudência. O Papa saudou os fiéis e peregrinos e disse que também desta vez, devido à sua dificuldade com a voz, o monsenhor Pierluigi Giroli, da Secretaria de Estado, iria ler o texto preparado.

Junto com a justiça, a fortaleza e a temperança”, a prudência “forma as chamadas virtudes cardeais, que não são prerrogativa exclusiva dos cristãos, mas pertencem à herança da sabedoria antiga, em particular dos filósofos gregos. Portanto, um dos temas mais interessantes no esforço de encontro e inculturação foi precisamente o das virtudes”.

“Dar primazia à prudência significa que a ação do homem está nas mãos da sua inteligência e da sua liberdade. A pessoa prudente é criativa: raciocina, avalia, tenta compreender a complexidade do real e não se deixa dominar pelas emoções, pela preguiça, pelas pressões das ilusões.”

De acordo com Francisco, “num mundo dominado pelas aparências, pelos pensamentos superficiais, pela banalidade tanto do bem quanto do mal, a antiga lição da prudência merece ser recuperada”.

Prudente é aquele que é capaz de escolher. Quem é prudente não escolhe ao acaso: primeiro sabe o que quer, considera as situações, procura conselhos e, com visão ampla e liberdade interior, escolhe qual o caminho a seguir. Isso não quer dizer que não possa cometer erros, afinal continuamos sempre humanos; mas pelo menos evitará grandes derrapagens.”

Infelizmente, em todos os ambientes há quem tende a descartar os problemas com piadas superficiais ou a sempre levantar polémicas. A prudência, por outro lado, é a qualidade de quem é chamado a governar: sabe que administrar é difícil, que há muitos pontos de vista e que é preciso tentar harmonizá-los, que se deve fazer o bem não a alguns, mas a todos.

O Papa recordou algumas passagens do Evangelho que nos ajudam a educar a prudência, como por exemplo: “Quem constrói a sua casa sobre a rocha é prudente e quem a constrói sobre a areia é imprudente” ou “sábias são as damas de honra que trazem óleo para as suas lâmpadas e tolas são aquelas que não o fazem”. “A vida cristã é uma combinação de simplicidade e astúcia. Preparando os seus discípulos para a missão, Jesus recomenda: “Eis que Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas”.

“Como se dissesse que Deus não quer apenas que sejamos santos, ele quer que sejamos santos inteligentes, porque sem a prudência é fácil seguir o caminho errado”, concluiu.

JM (com recursos jornalísticos do Vatican News)

Foto: Vatican Media

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22 de Março de 2024