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Bilhete Postal

dom manuel

Caro Alfredo,
Quando iniciei a minha vida pastoral em Setúbal, encontrei e mergulhei em tempos muito difíceis. Tão difíceis que nem dá para contar, muito menos num postal.

 

 

Caro Alfredo,

Quando iniciei a minha vida pastoral em Setúbal, encontrei e mergulhei em tempos muito difíceis. Tão difíceis que nem dá para contar, muito menos num postal. Imensa gente vivia em grandes dificuldades e a casa do bispo era recurso de muita dessa gente. Era raro o dia em que não recebia pessoas singulares ou comissões com problemas de toda a ordem. Claro que a tantos deles eu não podia dar solução. «E que lhes posso eu fazer?», acabava por perguntar. Bem sabemos que nada, mas estamos muito gratos por nos ter recebido. É que andámos a bater a tantas portas e ninguém nos recebeu.

Estas situações multiplicavam-se e eu ficava a perguntar-me: por que será que esses senhores com assessores sem conta à sua volta (ontem como hoje?) não arranjam tempo para ouvir esta gente? E ainda hoje estou convencido que, se o fizessem, logo à partida, parte dos problemas ficava resolvida. O povo quer ser ouvido. O povo tem direito a ser ouvido. Os homens grandes estão sempre a entrar na casa dos pequenos, sem, ao menos, baterem à porta. Vê lá, Alfredo, o que vem acontecendo nestes nossos dias em que nos impõem tudo sem nos explicarem nada.

Tudo isto me veio à cabeça por causa do tantas vezes anunciado caso das centenas de facturas não contabilizadas que a mulher de limpeza (peço perdão, por sair de mim) encontrou lá num canto de um Instituto qualquer. Realmente, fico perplexo e triste: por que razão não se procuraram explicações antes do cântico da vitória?

… É verdade que também a política não se faz só com verbos, mas também de advérbios. Só que aqui o advérbio foi muito mal escolhido e pior aplicado.

Ao fim e ao cabo, por que lamentar? … É a vida! 

           

Mt.º Ded.º

+ Manuel

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13 de Setembro de 2011