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A Palavra do Papa: os atentados contra a humanidade, o olhar de misericórdia, a cura do mundo e a Bíblia como alimento

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No discurso às Nações Unidas, o Papa chamou a atenção para uma “humanidade violada” a qual uma solidariedade mundial deve combater. Esta semana, criticou ainda a fé “de fachada”, apelou à misericórdia para com os pecadores e vulneráveis e convidou os cristãos a colaborar na “cura dos vírus humanos e socioeconómicos”.

ONU: oficina de paz para combater os atentados contra a humanidade

Num discurso em vídeo emitido na 75° Assembleia Geral das Nações Unidas, o Santo Padre denunciou as mazelas de uma “humanidade violada” por guerras e pelo desrespeito à vida humana e ao meio ambiente.

Neste mundo em conflito, afirmou, é preciso que a ONU “se transforme numa oficina de paz cada vez mais eficaz, em que os membros do Conselho de Segurança, sobretudo os Permanentes, atuem com maior unidade e determinação”.

Sobre a pandemia da Covid-19, o Santo Padre encorajou a um caminho de “renovada corresponsabilidade e solidariedade mundial”, apelando novamente aos responsáveis políticos e da indústria para que o acesso universal às vacinas seja uma realidade.

Ao falar sobre as consequências da pandemia, o Papa Francisco realçou os atentados contra a humanidade existentes, com “direitos fundamentais a ser continuamente violados com impunidade.”

“A lista dessas violações é muito extensa e mostra-nos a terrível imagem de uma humanidade violada, ferida, sem dignidade, liberdade e possibilidade de desenvolvimento”.

Nesta lista, Francisco incluiu: a robotização do trabalho que impede o homem de realizar o seu potencial humano; as perseguições religiosas; as crises humanitárias, sobretudo as relacionadas com a migração forçada; a desigualdade social e a injustiça económica; a desintegração das famílias, vítimas de “colonialismo ideológicos”; a exploração e a violência sobre as mulheres e a corrida ao armamento, especialmente o nuclear.

“A pandemia mostrou-nos que não podemos viver sem o outro, ou pior ainda, um contra o outro. As Nações Unidas foram criadas para unir as nações, aproximá-las, como uma ponte entre os povos; usemo-la para transformar o desafio que enfrentamos numa oportunidade para construir juntos, uma vez mais, o futuro que queremos”, conclui o Sumo Pontífice.

Olhar as feridas da sociedade

O Papa Francisco recebeu em audiência, na sexta-feira, dia 25 de setembro, na Sala Clementina, no Vaticano, os sócios do Clube São Pedro, instituição caritativa que presta auxílio aos mais carenciados de Roma.

Reconhecendo o trabalho exigente que têm realizado desde o início da pandemia, o Santo Padre qualifica este tempo como “uma situação extraordinária” à qual “não se pode dar uma resposta usual” e para a qual “é necessária uma reação nova e diferente”.

“Para isso, é preciso ter um coração que saiba “ver” as feridas da sociedade e mãos criativas na caridade operosa. Estes dois elementos são importantes para que uma ação caritativa possa ser sempre fecunda”, explicou o Santo Padre.

Lembrando São João Paulo II, Francisco recordou que a caridade faz-se com misericórdia, cuja experiência tem lugar privilegiado no Sacramento da Reconciliação.

Angelus: vida de fé, não “de fachada”

Um domingo chuvoso não espantou os peregrinos que foram à Praça São Pedro rezar com o Papa Francisco a Oração Mariana do Angelus.

Na alocução que precedeu a oração, o Santo Padre usou da parábola “dos dois irmãos” do Evangelho do passado domingo, do exemplo que brota dentro das famílias, para nos mostrar o caminho da conversão, que “às vezes é doloroso”, exige renúncia e combate espiritual “para não cair na tentação”.

A vida cristã “não é feita de sonhos e de belas aspirações, mas de compromissos concretos para nos abrir cada vez mais à vontade de Deus e ao amor pelos irmãos”. Mas isso, advertiu o Pontífice, “não pode ser feito sem a graça” de ser um bom cristão.

Ao comentar o Evangelho do dia, o Papa salientou que “a obediência não consiste em dizer ‘sim’ ou ‘não’, mas sempre em agir, em cultivar a vinha, em realizar o Reino de Deus, em fazer o bem. Com esse simples exemplo, Jesus quer superar uma religião entendida apenas como prática externa e habitual, que não afeta a vida e as atitudes das pessoas, uma religiosidade superficial, somente ‘ritual’, no sentido feio da palavra.”

O Pontífice, então, ao comentar a parábola, disse que os publicanos e as prostitutas, “isto é, os pecadores”, precedem, ao Reino dos Céus, aos “expoentes dessa religiosidade ‘de fachada’, que Jesus desaprova, que, naquela época, eram ‘os sumos sacerdotes e os anciãos do povo’ (Mt 21,23). 

“Jesus não aponta os publicanos e as prostitutas como modelos de vida, mas como ‘privilegiados da Graça’. E gostaria de enfatizar essa palavra ‘graça’, a graça, porque a conversão sempre é uma graça. Uma graça que Deus oferece a qualquer um que se abre e se converte a Ele. De fato, essas pessoas, ouvindo a sua pregação, se arrependeram e mudaram a vida.”

O Papa encorajou, assim, à conversão, porque “Deus é paciente connosco: não se cansa, não desiste depois do nosso ‘não’” e nem de quando nos afastamos ou cometemos erros. O Senhor sempre nos acolhe para “nos encher da sua misericórdia sem limites”.

No final da oração, o Papa pediu ainda aos presentes para rezar pela paz no Cáucaso, pedindo às forças envolvidas, da Arménia e do Azerbaijão, que tenham “gestos concretos de boa vontade e fraternidade que possam levar à solução dos problemas, não através do uso da força e das armas, mas pelo diálogo e as negociações.”

Encontrar a cura para os grandes vírus humanos e socioeconómicos

“Curar o mundo. Preparar o futuro junto com Jesus que salva e cura.” Este foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, de quarta-feira, realizada no Pátio São Dâmaso, a última dedicada ao tema da pandemia de coronavírus.

O Pontífice recordou que “nas últimas semanas, à luz do Evangelho, refletimos juntos sobre como curar o mundo que sofre de um mal-estar que a pandemia realçou e acentuou”.

“O mal-estar já existia. A pandemia acentuou-o e aumentou-o. Percorremos os caminhos da dignidade, da solidariedade e da subsidiariedade, caminhos indispensáveis para promover a dignidade humana e o bem comum”, sublinhou Francisco.

Na qualidade de discípulos de Jesus, começamos a seguir os seus passos optando pelos pobres, repensando o uso dos bens e cuidando da Casa comum. O Papa frisou que gostaria que este percurso continuasse quando terminar as suas catequeses sobre o tema da pandemia, para que possamos continuar a caminhar juntos, «mantendo o nosso olhar fixo em Jesus», que salva e cura o mundo.

O Evangelho mostra-nos que “Jesus curou doentes de todos os tipos, restituiu a visão aos cegos, a palavra aos mudos, a audição aos surdos. Quando curava doenças e enfermidades físicas, curava também o espírito, perdoando os pecados, porque Jesus perdoa sempre, assim como as “dores sociais”, incluindo os marginalizados. Jesus, que renova e reconcilia cada criatura, concede-nos os dons necessários para amar e curar como Ele sabia fazer, para cuidar de todos sem distinção de raça, língua ou nação”.

Agora, poderemos regenerar a sociedade e não voltar à chamada “normalidade”, que é uma normalidade doente, que já estava doente antes da pandemia, doente de injustiça, desigualdade e degradação ambiental.

Na “nova” normalidade do Reino de Deus, o pão chega a todos e sobeja, a organização social baseia-se em contribuir, partilhar e distribuir, não em possuir, excluir e acumular.

“É por isso que, para sairmos da pandemia, temos que encontrar a cura não só para o coronavírus, mas também para os grandes vírus humanos e socioeconómicos. E certamente não podemos esperar que o modelo económico subjacente ao desenvolvimento injusto e insustentável resolva os nossos problemas.”

Segundo o Pontífice, “temos que trabalhar urgentemente para gerar boas políticas, para conceber sistemas de organização social que recompensem a participação, o cuidado e a generosidade, e não a indiferença, a exploração e os interesses particulares. Temos de ir adiante com ternura”.

O Papa terminou por pedir a Deus que nos conceda a coragem e os dons para “viralizar” o amor e “globalizar a esperança à luz da fé”.

Dia de São Jerónimo: fazer da Bíblia alimento diário do diálogo com o Senhor

Francisco assinou esta quarta-feira a Carta Apostólica “Sacrae Scripturae affectus”, por ocasião do 16º centenário da morte de São Jerónimo, biblista responsável pelas primeiras traduções da Sagrada Escritura para o latim.

Durante a Audiência Geral, o exemplo do Padroeiro dos Biblistas foi motivado pelo Papa em diferentes momentos, como na saudação aos peregrinos de língua portuguesa: “Hoje celebramos a memória de São Jerónimo que nos recorda que a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo. Queridos amigos, de bom grado, façam da Bíblia o alimento diário do vosso diálogo com o Senhor. Assim, irão tornar-se colaboradores sempre mais disponíveis para trabalhar pelo Reino que Jesus inaugurou neste mundo.”

JM (com recursos Vatican News)

Papa publica documento sobre a Bíblia e questiona desconhecimento de texto fundamental do Cristianismo e da Cultura ocidental

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01 de Outubro de 2020