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Vigília Pascal 2021: “Não tenhamos medo de dar e de dar-nos, porque só assim receberemos e multiplicaremos o bem e a vida” – D. José Ornelas

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D. José Ornelas presidiu à solene Vigília Pascal na Sé de Setúbal, no passado sábado, 3 de abril. Na “noite de todas as noites” deste ano, onde se celebrou a Ressurreição de Jesus, não houve batismos e os ritos litúrgicos foram condicionados, face à situação pandémica que continuamos a viver.

Na homilia, D. José Ornelas explicou a génese da celebração pascal, realçando que a Páscoa que hoje celebramos é “memorial da vida, morte e ressurreição de Jesus, que inaugura um novo caminho e uma nova esperança para a humanidade.”

“Ele assumiu o drama da dor, da injustiça, da fome e da guerra, passou através do drama da nossa morte e abriu, para sempre e para cada pessoa, as portas da fraternidade, da alegria e da vida sem limites, nas mãos de Deus poderoso e misericordioso”, destacou.

 

Lembrando a crise sanitária, social e económica que atravessamos, o Bispo de Setúbal frisou que a Páscoa é “a manifestação do poder, da misericórdia e da vida de Deus, que se levanta sobre o sofrimento e a morte, criando, deste este mundo, a esperança e o acesso à vida e à felicidade que só Deus pode dar.”

Lembrando “a multidão de mártires da fé e do amor”, D. José Ornelas terminou a sua homilia exortando-nos a não “ter medo de dar e de dar-nos, porque só assim receberemos e multiplicaremos o bem e a vida”.

“O pão que recebemos e ganhamos com o nosso trabalho, o amor que nos reúne e nos dá força, devem ser repartidos. A fé que professamos e celebramos é para ser anunciada e partilhada, de modo que ninguém seja excluído do difícil mas dignificador caminho da reconstrução pessoal, da família, do trabalho digno, dos afetos, da presença viva e transformadora de Deus”, concluiu.

[Fotogaleria no fim do artigo]

 

Homilia de D. José Ornelas, na íntegra: Celebração de Libertação, Solidariedade e Esperança

Desde as suas origens na noite dos tempos, a Páscoa é vista como um tempo de passagem de uma situação de dificuldade, para uma outra de esperança e de renovação e de vida. Era assim a festa que os hebreus celebravam no Egito, assinalando a passagem do Inverno, com as suas dificuldades para a renovação da natureza e para o tempo das sementeiras e das colheitas.

E foi durante essa festa que Deus os libertou da escravidão e do perigo de extinção como povo, para os conduzir, durante 40 anos no deserto e fazer deles o seu povo, na liberdade, na justiça e na paz. Cada ano essa festa foi celebrada atualizando, em cada geração, as obras libertadoras de Deus em favor do seu povo, mesmo depois de cada infidelidade deste para com Deus.

Foi esta Páscoa que Jesus celebrou com os seus discípulos, como despedida e anúncio de uma nova Páscoa para o povo de Israel, mas igualmente para toda a humanidade. Nessa festa reinava uma grande tensão e apreensão, pois sabia-se que as autoridades judaicas, com a colaboração traidora de um dos discípulos, tramavam a morte do próprio Jesus. Foi durante a Páscoa que Jesus foi condenado crucificado, oferecendo a vida para libertação de todo o mal e da morte. Jesus mesmo o tinha anunciado aos discípulos, assegurando-lhes que a passagem pela morte não é o fim da existência de cada pessoa, mas antes a sua chegada à totalidade da vida junto de Deus e que Ele havia de continuar a atuar no meio deles com a presença renovadora do seu Espírito.

 

Essa é a Páscoa cristã, a Páscoa que hoje celebramos, memorial da vida, morte e ressurreição de Jesus, que inaugura um novo caminho e uma nova esperança para a humanidade. Ele assumiu o drama da dor, da injustiça, da fome e da guerra, passou através do drama da nossa morte e abriu, para sempre e para cada pessoa, as portas da fraternidade, da alegria e da vida sem limites, nas mãos de Deus poderoso e misericordioso.

A Páscoa celebra-se no nosso mundo inevitavelmente marcado pela fragilidade, o limite, a injustiça e a morte. Mas é, ao mesmo tempo, a manifestação do poder, da misericórdia e da vida de Deus, que se levanta sobre o sofrimento e a morte, criando, deste este mundo, a esperança e o acesso à vida e à felicidade que só Deus pode dar. É por isso que a Páscoa verdadeira só pode ser a Páscoa de Jesus, o Cristo, o Filho de Deus.

Celebra-se, em cada ano, com as dores e alegrias da humanidade; iluminando-as com a luz do Senhor Jesus, morto e ressuscitado, indicando e tornando possível, o fundamento da esperança, para reconstruir as ruínas e construir o futuro sobre o fundamento da Palavra de Jesus e do seu Espírito.

Este ano, já na segunda Páscoa marcada pela pandemia que está sufocando o mundo inteiro, bem precisamos desta mensagem da presença libertadora do Senhor ressuscitado, no qual se pode encontrar força e luz para vencer as enormes dificuldades em que fomos mergulhados e para encontrar caminhos de verdadeira reconstrução e de esperança, geradores de novas soluções para o futuro.

Como na Páscoa dos hebreus, escravos no Egito; como na Páscoa de Jesus, condenado e crucificado por querer transformar o mundo; como na Páscoa da multidão de mártires da fé e do amor, ao longo dos séculos; como na Páscoa de tantos mártires da humanidade, que deram a vida para que se ultrapassassem situações de injustiça, de escravidão, de racismo, de fome e de miséria; também nós, nesta Páscoa, partimos de uma situação difícil e com dimensão universal.

Não tenhamos medo de dar e de dar-nos, porque só assim receberemos e multiplicaremos o bem e a vida. O pão que recebemos e ganhamos com o nosso trabalho, o amor que nos reúne e nos dá força, devem ser repartidos. A fé que professamos e celebramos é para ser anunciada e partilhada, de modo que ninguém seja excluído do difícil mas dignificador caminho da reconstrução pessoal, da família, do trabalho digno, dos afetos, da presença viva e transformadora de Deus.

Este ano, celebramos a Páscoa ainda com limitações, que são sinal da nossa participação responsável no esforço comum de superar a crise. Mas também na alegria pela presença do Senhor Ressuscitado entre nós, na esperança ativa e no compromisso concreto de construir um mundo onde todos possamos fazer parte de uma sociedade mais fraterna e solidária, aberta à Alegria do Senhor Ressuscitado.

É com esta certeza desta presença que desejo a vós e a todos os membros da nossa Igreja de Setúbal, uma Feliz Páscoa, no Senhor Ressuscitado.

+ D. José Ornelas, Bispo de Setúbal

 

 

JM

 

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05 de Abril de 2021