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Corpo de Deus/D. José Ornelas: “O nosso caminho sinodal tem o compromisso concreto e radical de serviço ao Reino de Deus nesta terra”

Na celebração da Solenidade, o bispo diocesano apelou ao compromisso cristão com a Eucaristia, “centro, alimento e metodologia” do caminho sinodal que a Igreja Diocesana está a viver.

A Sé de Setúbal acolheu a Eucaristia solene da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, habitualmente chamada de “Corpo de Deus”, que pretende sublinhar o significado e a importância do sacramento da Eucaristia para a vida cristã. A ocasião ficou marcada pelo encerramento do Lausperene diocesano, que percorreu todas as paróquias no Tempo Pascal, e pela instituição de 23 novos ministros extraordinários da comunhão.

 

Na homilia, D. José Ornelas apontou a Eucaristia “como Aliança e caminho para a liberdade, unidade, para uma nova terra e um novo futuro” o que “se insere perfeitamente no tempo de sinodalidade que estamos a começar na nossa Igreja Diocesana”.

O prelado abordou a aliança estabelecida entre Deus e os homens no livro do Êxodo e o compromisso assumido de “Deus para com o povo e do povo para com Deus”. À semelhança de Israel, que atravessou o deserto durante 40 anos, o sínodo diocesano, convocado oficialmente na Solenidade de Pentecostes, é um caminho “de confiança na presença de Deus que torna possível a caminhada”.

O Evangelho do dia apresenta a nova aliança “no Corpo e no Sangue de Jesus, na sua última ceia com os discípulos”.

Jesus institui um sinal fundamental da vida que não se fecha em si mesma, mas que se abre ao dom de Deus e se partilha com os irmãos, em dom concreto, em serviço que transforma e cria um novo tipo de relacionamento entre as pessoas, formando a Igreja, como sinal e presença de Jesus no mundo.”

Para D. José Ornelas, a Eucaristia é natureza, é a essência do ser cristão, que faz de nós “pessoas livres, felizes, comprometidas e solidárias, que forma a Igreja, nova humanidade”, pelo que é “um dom que se recebe, mas igualmente um compromisso que se assume”.

 

“O nosso caminho sinodal, tem o seu centro, alimento e metodologia na Eucaristia, que nos reúne como irmãos e irmãs, filhos e filhas de Deus”, afirma o prelado, acrescentando que este caminho tem o compromisso concreto e radical de serviço ao Reino de Deus nesta terra”.

“A Eucaristia realiza a nossa comunhão com o Senhor Jesus glorioso, que se faz presente e nos guia até à vida que não conhece ocaso, a verdadeira terra prometida, onde havemos de partilhar do verdadeiro pão da vida e do vinho da eterna alegria, onde os nossos olhos se abrirão à totalidade do amor e da vida de Deus. O nosso Sínodo (caminho comum) tem horizontes mais vastos que só Deus pode dar através do seu Espírito”, termina.

Durante a celebração, D. José Ornelas instituiu novos ministros extraordinários da comunhão, que irão colaborar nas Paróquias da Diocese na distribuição da Eucaristia às assembleias e aos que estão nas suas casas sem possibilidade de deslocação.

“Vocês serão os pés de Deus que vai ao encontro de quem precisa, são as mãos de Deus para o serviço, são expressão da comunidade que não deixa ninguém para trás”, disse o bispo diocesano, saudando os vinte e três fiéis propostos à instituição.

No final da celebração, o presidente expôs o Santíssimo Sacramento que ficou em adoração durante a tarde. Pelas 17 horas, concluiu o tempo de Lausperene Pascal diocesano, com o ofício de Vésperas também na Sé de Setúbal.

JM

 

“Corpo e Sangue de Cristo: A festa da Aliança e do caminho (sinodal)” – Homilia de D. José Ornelas

1.Uma Aliança e um Caminho

As leituras desta solenidade do Corpo e Sangue de Cristo leva-nos a viver a Eucaristia como Aliança e como caminho para a liberdade, para a unidade, para uma nova terra e um novo futuro, o que se insere perfeitamente no tempo de sinodalidade que estamos a viver na nossa Igreja Diocesana.

A primeira leitura fala-nos da grande tradição do povo de Israel, libertado por Deus através de Moisés, da escravidão do Egito, numa caminhada de 40 anos pelo deserto, até chegar à terra que Deus lhe oferece, onde é chamado a viver como povo livre, unido e solidário, com dignidade e com futuro.

As palavras e os ritos que Moisés realiza exprimem o compromisso de Deus para com o povo e do povo para com Deus. Deus assegura que acompanhará e tornará possível o caminho para a liberdade, a dignidade, a vida, numa aliança constante e fiel: “Este é o sangue da aliança que o Senhor firmou convosco, mediante todas estas palavras”.

Também o povo assume o compromisso de fidelidade, de obediência, de realização do projeto de Deus: “Faremos quanto o Senhor disse e em tudo obedeceremos”. O sangue, que é a vida, significa que este é um compromisso de vida e para gerar uma vida, através do sério e fiel compromisso de Deus e do povo.

Esta é a primeira imagem que a palavra de Deus nos oferece nesta solenidade, para nos ajudar a viver a nossa realidade atual, como Igreja, num mundo que se esforça por sair de uma pandemia paralisante e perturbadora. Deus nunca abandona o seu povo e a humanidade. Ele caminha connosco e abre novos caminhos. É sempre fiel ao seu amor e chama-nos para que, através da nossa fidelidade, possamos construir um futuro novo, através do nosso compromisso para tornar realidade o projeto de Deus.

Há poucos dias, proclamámos na nossa Diocese um caminho sinodal para a nossa Igreja de Setúbal. O caminho do povo de Deus pelo deserto deve ser uma imagem do nosso caminho sinodal. A primeira atitude que este caminho nos sugere é a de confiança na presença de Deus que torna possível a caminhada. Ele não falha à sua Palavra, mesmo nas nossas dificuldades, dores e desânimos. Como ao povo, no deserto, Ele sacia-nos com o sue pão, faz brotar água da rocha seca, dá força aos pés cansados, mantém-nos unidos e solidários, para que o futuro seja possível.

2. A vida feita dom e compromisso transformadores

A segunda e determinante imagem que a liturgia nos oferece é a nova aliança no Corpo e no Sangue de Jesus, na sua última ceia com os discípulos. Na vida de Jesus, as imagens do passado tornam-se realidade: Deus veio fazer caminho com a humanidade, tornou-se um de nós, assumindo a nossa realidade humana, na sua fragilidade, abrindo-a a novas possibilidades e dando-lhe nova vida.

Jesus institui um sinal fundamental da vida que não se fecha em si mesma, mas que se abre ao dom de Deus e se partilha com os irmãos, em dom concreto, em serviço que transforma e cria um novo tipo de relacionamento entre as pessoas, formando a Igreja, como sinal e presença de Jesus no mundo.

O Pão/Corpo e o Vinho/Sangue, representam toda a vida, que Jesus dedica aos seus: a vida como homem e a vida como Filho de Deus. O seu pensar, o seu agir, a sua energia, o seu conhecimento do Pai, tornam-se presentes nas suas palavras e nos seus gestos e comunicam nova vida. É todo esse modo de ser, de viver, de lutar, de acreditar e sonhar, que Jesus nos oferece na Eucaristia: “Tomai: isto é o meu Corpo… Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança, derramado pela multidão.”

Pão e vinho, Corpo e Sangue, são para tomar e comer/beber: isto é, para fazer nossa realidade, nova vida, para nos transformar à imagem do próprio Jesus de Nazaré, como pessoa humana e como Filho de Deus. É isso que a Eucaristia faz de nós: pessoas livres, felizes, comprometidas e solidárias, que formam a Igreja, nova humanidade.

Por isso, a Eucaristia é um dom que se recebe, mas igualmente um compromisso que se assume. Compromisso de unidade, de transformação, de seguimento do Senhor Jesus, de dom generoso e fiel da vida, pela transformação do mundo.

O nosso caminho sinodal, tem o seu centro, alimento e metodologia na Eucaristia, que nos reúne como irmãos e irmãs, filhos e filhas de Deus. Por isso, esta não é apenas uma “devoção” passageira, mas o resumo de tudo o que somos, fazemos, esperamos e acreditamos. Ao começar a vislumbrar a superação da pandemia, somos hoje convidados a colocar bem no centro do nosso compromisso e da nossa festa da vida, este encontro com Cristo e com os irmãos e irmãs. Não somos perfeitos, mas o reunir-nos afirma o nosso desejo e a possibilidade que Deus nos oferece que superar dificuldade e divisões e de unir esforços para a renovação e a superação das dificuldades… Porque Ele está connosco e caminha connosco.

Vamos continuar a fazer transmissões da Eucaristia para quem realmente não pode deslocar-se ao encontro da comunidade, mas essa atenção para com os mais fragilizados não deve dispensar-nos do encontro real e pessoal com Cristo e com os irmãos/ãs na Eucaristia.

3. Caminho com horizonte infinito em Deus

Instituindo a Eucaristia, a Nova Aliança, com os discípulos na última ceia, Jesus diz-lhes: “Não voltarei a beber do fruto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus”. O que Jesus partilha no pão e no vinho da Eucaristia não é apenas um modo humano de viver, na alegria, na solidariedade, no dom da vida e partilha humana. Ele partilha igualmente o seu ser como Filho querido de Deus, o dom do seu Espírito imortal, cheio de força e de amor. O deserto que temos de atravessar não é apenas um trajeto nesta terra: é caminho para um mundo novo, onde poderá florescer inteiramente toda a possibilidade de vida que semeamos nesta terra.

Na Eucaristia Cristo leva-nos ao compromisso/aliança até ao dom total da vida, para transformar-nos a nós próprio e transformar este mundo, mas abre-nos os olhos para “novos céus e terra nova”, e guia-nos por caminhos que nenhuma outra pessoa pode percorrer, como nos dizia e segunda leitura. Cristo “veio como sumo sacerdote dos bens futuros. Atravessou o tabernáculo maior e mais perfeito, que não foi feito por mãos humanas … Por isso, Ele é mediador de uma nova aliança, para que… os que são chamados recebam a herança eterna prometida”.

O nosso caminho sinodal tem o compromisso concreto e radical de serviço ao Reino de Deus nesta terra. Essa é a primeira coluna da nossa Eucaristia da vida.  Tem de ser um compromisso de justiça, de liberdade, de solidariedade com aqueles que estão em dificuldade, de partilha de nós mesmos até ao dom da vida. É assim que construímos a Igreja e realizamos a sua missão nesta terra.

Mas, a Eucaristia realiza a nossa comunhão com o Senhor Jesus glorioso, que se faz presente e nos guia até à vida que não conhece ocaso, a verdadeira terra prometida, onde havemos de partilhar do verdadeiro pão da vida e do vinho da eterna alegria, onde os nossos olhos se abrirão à totalidade do amor e da vida de Deus. O nosso Sínodo (caminho comum) tem horizontes mais vastos que só Deus pode dar através do seu Espírito.

D. José Ornelas, Bispo de Setúbal

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04 de Junho de 2021