A Companhia de Jesus vai dar início ao Ano Inaciano esta quinta-feira. À Diocese de Setúbal, o Padre Dário Pedroso, SJ, da comunidade de Almada/Pragal, explica o que se espera deste ano dedicado ao fundador dos Jesuítas e reflete sobre a urgência da espiritualidade inaciana nos dias de hoje.
Reflexão do Padre Dário Pedroso, SJ
Dia 20 de Maio, celebramos 500 anos da célebre ferida que Inácio de Loiola teve no cerco de Pamplona, onde lutava contra as melícias francesas. Com esta “festa” queremos, como Companhia de Jesus, começar um Ano Inaciano, em todas as Comunidades e Obras da Companhia de Jesus, ano que terminará a 31 de Julho de 2022, quando celebrarmos a festa litúrgica, no aniversário da morte de Santo Inácio de Loiola.
Queremos celebrar a conversão (o encontro com Deus) de Inácio partindo da ferida da batalha de Pamplona. E podemos refletir sobre o modo como as feridas não têm que ter a última palavra. Num tempo como o nosso de tantas feridas, esta experiência de Inácio pode trazer muita luz sem que isso signifique iludir o sofrimento. Podemos perguntar: que bem tirar desta dor, destas pandemias, destas crises, destes sofrimentos? Como trazer esperança? E ao celebrar a sua conversão e a renovada esperança, celebramos também a “paciência” de Inácio pois a descoberta da sua vocação e do que lhe era pedido não se deu automaticamente, mas foi um longo processo. No tempo de todas as pressas e imediatismos isto é profético. Celebramos também os 400 anos da canonização de Inácio e Francisco Xavier, a 12 de Março de 2022, e o modo como Deus os transformou e nos transforma, quando nos deixamos e nos abrimos à sua graça e aos seus apelos.
Este Ano Inaciano tem um lema: “Ver novas todas as coisas em Cristo”. Foi este o lema escolhido pelo Padre Arturo Sosa, sj, Superior Geral da Companhia de Jesus, que se pretende que seja agregador deste acontecimento e das suas repercussões no processo espiritual de cada jesuíta, da Companhia, das suas obras e prioridades apostólicas, bem como de todos os que colaboram na missão da Companhia.
O Padre Geral deseja que este ano seja “um tempo transformador, um convite à conversão pessoal, comunitária e institucional, necessária para melhorar a vida de cada um de nós e a nossa agilidade espiritual e apostólica” (cf. Carta de 21 de abril de 2019). Para o Padre Arturo Sosa, “o Ano Inaciano é um apelo para nos inspirarmos em Santo Inácio, o Peregrino. A sua luta interior e a sua conversão levaram-no a uma familiaridade muito próxima com Deus. Esta familiaridade, este intenso amor, permitiu-lhe encontrar Deus em todas as coisas e inspirar outros para formarem juntos, um corpo apostólico, cheio de zelo missionário. Somos herdeiros deste carisma e responsáveis pela sua continuidade nos tempos em que vivemos” (cf. Carta de 31 de julho de 2020).
Qual o fruto, o resultado, a graça queremos pedir ao longo desta celebração jubilar? Como sugere o Padre Geral desejamos um enraizamento em Deus que nos converta a um maior sentido de corpo, de pertença à Companhia e à Igreja, num serviço ao mundo, para que possamos ajudar a discernir os sinais da presença de Deus na realidade e conduzir as pessoas a uma experiência de verdadeira reconciliação. Queremos também (como Inácio) ter a humildade de aceitar os nossos próprios limites – para que seja também uma renovação espiritual de cada jesuíta, de cada comunidade, de cada obra apostólica, de cada colaborador na Missão que Jesus nos confia.
Num mundo em que se experimenta a desorientação, esta é também uma boa ocasião para dar a devida atenção à primeira das nossas preferências apostólicas: mostrar o caminho para Deus mediante os exercícios espirituais e o discernimento. Ajudar a que as pessoas se possam questionar sobre o que dá verdadeiramente sentido às suas vidas e como podem encontrar a verdadeira liberdade que não se mede no sucesso, mas na gratuidade e no serviço – (bandeira de Jesus), ou seja verdeiro caminho evangélico e identificação com Jesus pobre, humilde e servo. Tentar gerar sensibilidade perante aos dramas do mundo, com uma atenção à realidade que leve a um compromisso com os que mais sofrem a injustiça, que nos torne sensíveis às feridas humanas e da terra, no trabalho pela ecologia, e no amor à casa comum.
É todo este dinamismo que desejamos assumir com humildade e audácia partilhando com todos a experiência de Inácio de Loiola, nesta querida Diocese de Setúbal, onde os jesuítas trabalharam em muitas paróquias, alguns ainda antes da fundação da Diocese. E dia 20 de maio estaremos, na Paróquia de São Francisco Xavier-Caparica, a iniciar o Ano Jubilar, unidos a todas as Comunidades e Obras da nossa Província, ouvindo o nosso Provincial pelas 19 horas e celebrando, a seguir, a Eucaristia.
Padre Dário Pedroso, SJ
Para mais informações sobre o Ano Inaciano, a Companhia de Jesus em Portugal lança esta quinta-feira um sítio online dedicado a este ano especial: https://pontosj.pt/ano-inaciano/.
Pintura do artigo: Rubens, P.P. (1600s) Santo Inácio de Loyola [Óleo sobre tela] Pasadena, Califórnia: Norton Simon Museum