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A Palavra do Papa: o frescor vocacional, os gritos de Bartimeu e os frutos do Espírito

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Esta semana, Francisco fez importantes apelos à comunidade internacional sobre as assimetrias no mundo e criticou a burocracia que “abafa o acesso à graça do Espírito Santo”. “O importante é não permanecer errados” disse a um grupo de presidiários.

Papa às Filhas de Maria Auxiliadora: “Ser como Maria com a identidade salesiana”

O Papa Francisco saiu do Vaticano na manhã de 22 de outubro dirigindo-se à Cúria Geral das Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora que realizam o 24° Capítulo Geral.

O Santo Padre iniciou o seu discurso falando sobre o tema do Capítulo “Comunidades Geradoras de Vida no Coração da Contemporaneidade”, que foi iluminado com as palavras de Maria nas bodas de Caná: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5).

Disse às irmãs: “Reavivar o frescor original da fecundidade vocacional do Instituto: este é o objetivo a que vocês se propuseram. É uma perspetiva chave para responder às necessidades do mundo de hoje, que precisa descobrir na vida consagrada ‘a proclamação do que o Pai, através do Filho no Espírito, realiza com seu amor, sua bondade, sua beleza’.

Francisco afirmou que “este desafio convida a renovar o seu “sim” a Deus”, como mulheres e comunidades que se deixam questionar pelo Senhor e pela realidade. Para assim se tornarem “profecia do Evangelho, testemunhas de Cristo e d0 seu modo de vida”.

O Papa encorajou as religiosas a trabalhar em conjunto com outras congregações e também a aprofundar o estudo da sua exortação Christus vivit para um melhor acompanhamento de crianças e adolescentes.

“Queridas irmãs, sei que vocês se estão a preparar para celebrar o 150º aniversário da fundação do Instituto”.  “Não esqueçam a graça das origens, a humildade e a pequenez dos inícios que tornaram a ação de Deus transparente na vida e na mensagem daqueles que, cheios de admiração, iniciaram este caminho”, terminou.

G20: Cimeira deve “reconhecer as assimetrias do mundo”

O Papa Francisco concedeu uma entrevista à agência de imprensa argentina Télam. Dentro dos temas abordados, foram os desafios para sair da pandemia e as próximas viagens apostólicas.

“A cimeira do G20 em Roma deve considerar seriamente a relação entre países não desenvolvidos e desenvolvidos” e reconhecer as assimetrias no mundo, por exemplo, no acesso aos cuidados de saúde, para melhor superar a pandemia, foi o que disse Papa Francisco uma semana antes do encontro entre os chefes de Estado e de governo dos países mais ricos do planeta.

A esperança do Papa é de que o encontro possa servir “para diminuir as tensões no âmbito global”, diante das “escaladas de violência que só provocam mais violência”.

Francisco deteve-se nas viagens apostólicas que pretende fazer no futuro, começando com a viagem à Grécia e Chipre em dezembro. “No momento, tenho em mente duas viagens que ainda não realizei, que são ao Congo e à Hungria. Ainda há viagem à Papua Nova Guiné e Timor-Leste”, adiada por causa da pandemia. “Sempre pensei que se vê o mundo mais claramente da periferia e, nestes últimos sete anos como Papa, eu vi-o com os meus próprios olhos”.

Papa aos presidiários: erra-se, mas não se deve permanecer “errados”

Um Papa que escuta, acompanha com o sorriso e as palavras, encoraja a acreditar na misericórdia de Deus, na ajuda dos outros, a não se condenar pelos erros cometidos. Esta foi a experiência vivida na sexta-feira, 22, na Casa Santa Marta, por um grupo de presidiários e ex- presidiários que cumprem ou cumpriram pena nas estruturas da comunidade de padre Benzi em Vasto, na Província italiana de Chieti, e em Termoli, perto de Campobasso.

Francisco optou por ouvir as suas vozes e agradece-lhes pelos testemunhos dados, muitas vezes duros e difíceis. Recorda, num vídeo dirigido aos presidiários que não estavam presentes, que é importante caminhar sozinho ou até mesmo pedir a mão de alguém, bater à porta mesmo que se sinta perdido e não sabe para onde ir. “É o Senhor quem te dá a oportunidade e te faz dar um passo”, diz Francisco.

Todos cometemos erros na vida, prossegue Francisco, “mas o importante é não permanecer errados”. E cita uma canção dos Alpinos que convida a não ficar pelo chão depois de cair. Levantar-se também graças a quem ajuda a levantar-se, sem nunca olhar de cima para baixo para quem caiu, porque “é indigno”.

Faço votos que a experiência de vocês seja fecunda, que seja como a semente que se semeia e depois cresce, cresce … Que seja como uma boa doença: que contagia. Uma experiência contagiante. E que seja libertadora, que abra portas para tantas pessoas que precisam viver a experiência que vocês viveram.”

Angelus: pedir tudo a Jesus, pois Ele tudo pode

A fé concreta, insistente e corajosa de Bartimeu foi-nos apresentada como exemplo pelo Papa Francisco, ao refletir no Angelus do 30º Domingo do Tempo Comum sobre a narrativa apresentada no Evangelho de Marcos (Mc 10, 46-52).

Dirigindo-se aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça São Pedro, o Papa começa destacando a importância deste encontro entre Bartimeu – “um cego que mendiga ao longo do caminho” – e Jesus, que se preparava para entrar em Jerusalém para a Páscoa.

Se os gritos de Bartimeu “Filho de David, Jesus, tem piedade de mim” incomodaram a multidão e os apóstolos, não passaram desapercebidos de Jesus, que percebe que a sua voz “é cheia de fé, uma fé que não tem medo de insistir, de bater no coração de Deus, apesar da incompreensão e repreensões. E aqui – ressaltou o Papa – está a raiz do milagre. Na verdade, Jesus disse-lhe: ‘A tua fé te curou’”.

Ou seja, “a fé de Bartimeu, transparece pela sua oração. Não é uma oração tímida, uma oração convencional. Antes de tudo, ele chama o Senhor de “Filho de David”, isto é, o reconhece como Messias, o Rei que vem ao mundo. Depois o chama pelo nome, com confiança: “Jesus”. Não tem medo dele, não se distancia. E assim, de coração, grita ao Deus amigo todo o seu drama: ‘Tem piedade de mim!'”.

Não pede esmola ao Senhor, mas manifesta tudo, a sua cegueira e o seu sofrimento, que iam além do não poder ver. A cegueira era a ponta do iceberg, mas e no seu coração haveria feridas, humilhações, sonhos desfeitos, erros, remorsos. E ele rezava com o coração.”

“E nós – pergunta o Papa – quando pedimos uma graça a Deus, colocamos também na oração a nossa própria história: as feridas, as humilhações, os sonhos desfeitos, os erros, os remorsos?”

“É oração corajosa, tem a boa insistência daquela de Bartimeu, sabe “agarrar” o Senhor que passa, ou contenta-se em dar-lhe uma saudação formal de vez em quando, quando me lembro?” questiona o Pontífice. “Estas orações mornas não ajudam nada.”

Quando a fé é viva, a oração é sincera: não mendiga trocados, não se reduz às necessidades do momento. A Jesus, que tudo pode, tudo deve ser pedido. Não se esqueçam disso.”

Na Praça São Pedro, ao final do Angelus, Francisco denunciou as condições desumanas em que se encontram milhares de refugiados e requerentes de asilo no país do norte da África. Disto, deixou o apelo aos católicos de todo o mundo a “não permanecerem indiferentes” e à comunidade internacional para que dê prioridade ao resgate de vidas no mar e garanta rotas migratórias regulares e acesso aos procedimentos de asilo: “Pôr um fim ao regresso dos migrantes a países inseguros”

“Todos nos sintamos responsáveis ​​por estes nossos irmãos e irmãs, que há tantos anos são vítimas desta gravíssima situação”, e convidou à oração.

O Papa aplaudiu os missionários, os anunciadores que levam o Evangelho onde não é conhecido, “não por proselitismo”, e recorda as novas Beatas: Irmã Lúcia da Imaculada e a jovem Sandra Sabattini.

“Gastam as suas energias a serviço da Igreja, pagando na primeira pessoa – às vezes um preço alto – pelo seu testemunho. E o fazem, não para fazer proselitismo, mas para dar testemunho do Evangelho em suas vidas em terras que não conhecem Jesus.”

Angelus: “o Espírito muda o coração, a burocracia impede o acesso à graça do Espírito”

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas na Audiência Geral desta quarta-feira (27 de outubro), na Sala Paulo VI, no Vaticano, sobre o tema “O fruto do Espírito”.

“A pregação de São Paulo é totalmente centrada em Jesus e no seu mistério pascal. Aos Gálatas, tentados a basear a sua religiosidade na observância de preceitos e tradições, ele recorda o centro da salvação e da fé: a morte e ressurreição do Senhor”, sublinhou Francisco.

Segundo o Papa, “ainda hoje, muitos procuram a certeza religiosa em vez do Deus vivo e verdadeiro, concentrando-se em rituais e preceitos em vez de abraçar o Deus do amor com todo o seu ser. Esta é a tentação dos novos fundamentalistas, daqueles que têm medo de seguir adiante no caminho e voltam atrás porque se sentem inseguros. Buscam a segurança de Deus e não o Deus da segurança”. São Paulo pede aos Gálatas para que voltem ao essencial, ao Deus que nos dá a vida em Cristo crucificado. Ele testemunha isto na primeira pessoa: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim».

O Espírito, que flui da Páscoa de Jesus, é o princípio da vida espiritual. É Ele que muda o coração: não as nossas obras. É Ele que muda o coração, não as coisas que fazemos, mas a ação do Espírito Santo em nós! É ele quem guia a Igreja, e nós somos chamados a obedecer à sua ação, que vai para onde e como ele quiser.”

Segundo o Papa, o combate espiritual é outro grande ensinamento da Carta aos Gálatas. O Apóstolo apresenta duas frentes opostas: por um lado as «obras da carne», por outro o «fruto do Espírito». “Quais são as obras da carne?”, perguntou Francisco. “São comportamentos contrários ao Espírito de Deus. Carne é uma palavra que indica o homem na sua dimensão terrena, fechado em si mesmo, numa vida horizontal, onde os instintos mundanos são seguidos e a porta se fecha ao Espírito, que nos eleva e nos abre a Deus e aos outros. Paulo enumera as obras da carne, que se referem ao uso egoísta da sexualidade, a práticas mágicas que são idolatrias e ao que mina as relações interpessoais, como «contendas, ciúmes, iras, rixas, discórdias, partidos…».

O fruto do Espírito, ao contrário, é «caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança». Os cristãos, que no batismo se revestiram «de Cristo», são chamados a viver deste modo.

Segundo o Papa, “este ensinamento do Apóstolo é um grande desafio para as nossas comunidades”. Por vezes, aqueles que se aproximam da Igreja têm a impressão de estarem perante uma grande quantidade de comandos e preceitos. Isto não é a Igreja, pode ser qualquer associação”.

A vida do Espírito expressa nos sacramentos não pode ser abafada por uma burocracia que impede o acesso à graça do Espírito, autor da conversão do coração. Quantas vezes nós padres ou bispos, fazemos tanta burocracia para dar um sacramento, para acolher as pessoas, e as pessoas dizem: “Não, eu não gosto disso”, e vão embora. Não veem em nós, muitas vezes, a força do Espírito que regenera, que nos faz novos.”

Depois da catequese, o Papa saudou os peregrinos de língua inglesa, “especialmente os jovens de vários países envolvidos na COP26 de Glasgow e grupos dos Estados Unidos”. “Sobre todos vocês e suas famílias invoco a alegria e a paz do Senhor”, disse Francisco.

JM (com recursos jornalísticos do portal Vatican News)

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28 de Outubro de 2021