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A Palavra do Papa: a peregrinação às fontes, a espera vigilante, as testemunhas corajosas e o amor maduro

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Esta semana, o Papa deu início ao tempo do Advento, convidando à espera vigilante e orante. Prestes a iniciar uma visita apostólica ao Chipre e à Grécia, denunciou a falta de respeito pelos migrantes nas fronteiras pedindo uma “mudança de perspetiva” e apelou à Igreja para que reze pelos catequistas.

Chipre e Grécia: peregrinação às fontes de fraternidade e humanidade

Numa mensagem em vídeo difundida em vista da sua próxima viagem apostólica ao Chipre e à Grécia, Francisco saúda todos os habitantes destas “magníficas terras”.

“Uma peregrinação às fontes”: é assim que o Papa Francisco define a sua viagem apostólica internacional de 2 a 6 de dezembro.

A primeira fonte da qual o Pontífice poderá saciar sua sede – explica – é a da fraternidade, “tão preciosa”, especialmente no contexto do caminho sinodal.

A segunda fonte indicada pelo Pontífice, por sua vez, é “a antiga fonte da Europa”: Chipre, de facto, representa “um ramo da Terra Santa no continente”, enquanto “a Grécia é a pátria da cultura clássica”.

A terceira fonte da viagem, então, será a da humanidade: será concretamente representada pela etapa em Mytilene – Lesbos, onde o Papa irá na manhã de 5 de dezembro, para se encontrar com os refugiados:

Peregrino na fonte da humanidade, irei novamente a Lesbos, na convicção de que as fontes do viver em comum só florescerão novamente na fraternidade e na integração: juntos. Não há outro caminho, e com esta “ilusão” vou até vós,” disse o Pontífice, fazendo um forte apelo do Papa a não esquecer os migrantes, refugiados.

Por fim, o Papa invoca a bênção do Senhor para todos os habitantes de Chipre e da Grécia, levando no seu coração as suas “expectativas, preocupações e esperanças”.

Advento: “esperar o Senhor com alegria mesmo em meio às tribulações”

O Papa Francisco conduziu a oração do Angelus ao meio-dia deste domingo – o I Domingo do Advento – com os fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração mariana, comentando o Evangelho da liturgia do dia, ressaltou que o mesmo nos fala da vinda do Senhor no final dos tempos.

Ele diz: “Erguei-vos e levantai a cabeça, pois está próxima a vossa libertação” (Lc 21,28). É bom ouvir esta palavra de encorajamento: erguei-vos e levantai a cabeça porque é justamente nos momentos em que tudo parece estar acabado que o Senhor vem para nos salvar; esperá-lo com alegria mesmo em meio às tribulações, nas crises da vida e nos dramas da história.”

Mas como levantar a cabeça, como não nos deixarmos absorver por dificuldades, pelos sofrimentos, pelas derrotas? – perguntou o Santo Padre.

Jesus mostra-nos o caminho com um forte apelo: “Cuidado para que os vossos corações não fiquem pesados. Ficai acordados, portanto, orando em todo momento”. “Ficai acordados”: a vigilância. Detenhamo-nos sobre este importante aspeto da vida cristã, convidou o Pontífice.

Pelas palavras de Cristo, vemos que a vigilância está ligada à atenção: cuidado, não se distraiam, ou seja, fiquem acordados! Vigilar significa isto: não permitir que o coração se torne preguiçoso e que a vida espiritual se enfraqueça na mediocridade.

Precisamos estar vigilantes para não arrastar os nossos dias para o hábito, para não nos fazer ficar pesados – diz Jesus – pelas preocupações da vida. Hoje, então – prosseguiu -, é uma boa oportunidade para nos perguntarmos: o que pesa no meu espírito? O que me faz acomodar na poltrona da preguiça? Quais são as mediocridades que me paralisam, os vícios que me esmagam até ao chão e me impedem de levantar a cabeça? E com relação aos fardos que pesam sobre os ombros dos irmãos, estou atento ou indiferente?

Estas perguntas fazem-nos bem, porque ajudam a proteger o coração da preguiça, que é um grande inimigo da vida espiritual. E acrescentemos um ingrediente essencial: o segredo para estar vigilante é a oração. Pois Jesus diz: “Vigiai em todo o momento orando” (Lc 21,36).

A oração do coração pode nos ajudar, repetindo frequentemente pequenas invocações. No Advento, acostumemo-nos a dizer, por exemplo: “Vem, Senhor Jesus”. Repitamos esta oração ao longo do dia: a alma permanecerá vigilante!

O Papa, após a oração mariana do Angelus, lançou um apelo para ajudar a aliviar o sofrimento dos migrantes que estão expostos a “perigos gravíssimos”, respeitando a sua humanidade e sem nenhum tipo de instrumentalização. Que a compreensão e o diálogo possam “prevalecer sobre qualquer tipo de instrumentalização e direcionar a vontade e os esforços para soluções que respeitem a humanidade destas pessoas”, exortou o Pontífice.

Migrantes: “a falta de respeito das fronteiras minimiza a nossa humanidade”

“Mercadorias”, “pedras no tabuleiro de xadrez”, “vítimas de rivalidades políticas”. É “deplorável o tratamento reservado a milhares de migrantes no mundo hoje. A falta de respeito humano das fronteiras minimiza-nos a todos na nossa humanidade”.

É o que afirma o Papa Francisco na mensagem de vídeo, lida pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, esta segunda-feira por ocasião dos 70 anos da Organização Internacional para as Migrações.

Francisco exorta a uma mudança de perspetiva sobre o fenómeno da migração: “Não é apenas uma história de migrantes, mas de desigualdades, desespero, degradação ambiental, mudanças climáticas, mas também de sonhos, coragem, estudo no exterior, reunificação familiar, novas oportunidades, segurança e trabalho pesado, mas digno”.

Além dos aspetos políticos e jurídicos das situações irregulares, nunca devemos perder de vista o rosto humano da migração e o facto de que, além das divisões de fronteiras geográficas, fazemos parte de uma única família humana.

A “tentação comum” de hoje de “descartar tudo o que incomoda” deve ser evitada. É um sintoma dessa “cultura do descarte” que se que opõe ao ensinamento da maioria das grandes tradições religiosas. Devemos “tratar os outros como desejamos ser tratados e amar o nosso próximo como a nós mesmos”, não transcurando a hospitalidade ao estrangeiro. “Certamente”, diz o Papa, “estes valores universalmente reconhecidos devem orientar o nosso tratamento dos migrantes na comunidade local e nacional”.

“São necessários esforços urgentes para criar melhores condições económicas e sociais para que a migração não seja a única opção para quem busca paz, justiça, segurança e pleno respeito pela dignidade humana”, conclui.

Vídeo do Papa: catequista, missão insubstituível na transmissão da fé

“Ser catequista significa que a pessoa “é catequista”, não que “trabalha como catequista”. É todo um modo de ser, e são necessários bons catequistas, que sejam ao mesmo tempo companheiros e pedagogos”, diz Francisco.

No último vídeo de 2021, com a intenção de oração para o mês de dezembro, o Papa Francisco dedica a sua mensagem “aos catequistas e às catequistas”, agradecendo-lhes “pelo entusiasmo interior com que vivem esta missão a serviço da Igreja”.

Os catequistas têm uma missão insubstituível na transmissão e no aprofundamento da fé. O ministério laical do catequista é uma vocação, é uma missão. Nestes tempos em que o mundo passa por tantas mudanças, Francisco agradece pelo entusiasmo dos batizados que, com esforço e alegria constantes, transmitem a fé, encorajando-os a continuar anunciando o Evangelho “com a sua vida, com mansidão, com uma linguagem nova e abrindo novos caminhos”.

“Rezemos juntos pelos catequistas, chamados a anunciar a Palavra de Deus, para que a testemunhem com coragem, com criatividade, com a força do Espírito Santo, com alegria e com muita paz”, termina.

A mensagem do Papa ao “irmão” Bartolomeu: “reforçar a parceria”

A exemplo dos irmãos Pedro e André, a esperança do Papa Francisco é que católicos e ortodoxos possam trabalhar cada vez mais em conjunto nas áreas em que não só é possível, mas também imperativo que o façam, como a educação, a caridade e o respeito pelo meio ambiente.

A oração do Papa Francisco volta-se hoje à Igreja em Constantinopla, por ocasião da festa do Apóstolo André.

O primeiro chamado e irmão do Apóstolo Pedro é padroeiro do Patriarcado Ecuménico, guiado atualmente por Bartolomeu – o destinatário da mensagem do Pontífice.

Na sua mensagem, Francisco manifestou a sua alegria pela visita de Bartolomeu a Roma em outubro passado, quando não só puderam partilhar as suas preocupações quanto ao presente e ao futuro do mundo, mas também expressar o compromisso comum acerca de questões de importância crucial para toda a família humana, incluindo o cuidado da criação, a educação das gerações futuras, o diálogo entre as diferentes tradições religiosas e a busca da paz. 

Desta forma, prossegue o Papa, “nós como Pastores, juntamente com as nossas Igrejas, reforçamos o vínculo profundo que já nos une”.

Embora existam diferenças quanto a questões teológicas e eclesiológicas – que estão no centro do diálogo entre as duas Igrejas – Francisco manifesta a sua esperança de que católicos e ortodoxos possam trabalhar cada vez mais em conjunto nas áreas em que não só é possível, mas também imperativo que o façam.

Amado irmão em Cristo”, conclui o Papa dirigindo-se a Bartolomeu, “no caminho para a plena comunhão entre as nossas Igrejas, somos sustentados pela intercessão dos santos irmãos Pedro e André, os nossos santos padroeiros. A unidade plena pela qual ansiamos é, naturalmente, um dom de Deus, através da graça do Espírito Santo.  Que o nosso Senhor nos ajude a estar prontos para abraçar este dom através da oração, conversão interior e abertura à procura e oferta do perdão”.

Papa pede ao Fórum da Ação Católica a alegria de evangelizar

O Papa Francisco escreveu uma carta por ocasião dos 30 anos do Fórum Internacional da Ação Católica. Recordando o momento de fundação deste Fórum, pelo cardeal Eduardo Pironio, o Papa lembras as “luzes e sombras, desorientação e cansaço, o medo de ser ultrapassado pelos novos tempos e necessidades da Igreja”.

Fazendo um balanço, o Papa afirma que “a Igreja pode testemunhar que a Ação Católica abriu novas perspetivas no campo da responsabilidade do leigo na evangelização. Muitos evangelizados e formados pela Ação Católica – continuou o Papa – levaram a verdade, a profundidade e o Evangelho a áreas civis, muitas vezes fechadas à fé. Os santos e beatos leigos da Ação Católica são uma riqueza para a Igreja. São ‘os santos da porta ao lado’ de tantas comunidades”. 

“Como Fórum – escreveu ainda Francisco – vocês tem uma missão global ao completar trinta anos que é um desafio e um convite. Desafio para descobrir cada vez mais e de maneira mais forte para onde vai a vida e a história de nossos povos, sem preconceitos, sem medos, sem classificações e sem nos sentirmos reguladores da fé de ninguém.

Sabemos que não há maior pobreza do que não ter Deus, ou seja, viver sem a fé que dá sentido à vida, sem a esperança que nos dá força para trabalhar, sem nos sentirmos amados por alguém que não desilude. Este é o lugar e o povo onde a Ação Católica deve realizar sua missão”.

Francisco chamou a atenção de todos para a questão da globalização da indiferença, sugerindo “a construção de pontes e criar comunhão que é o chamamento profundo de Deus. A Igreja é Comunhão para a missão. A comunhão não é uma ideia, é uma realização e a missão não é apenas mais uma atividade, é a essência da vida eclesial.”

Audiência Geral: São José ensina a passar da paixão romântica ao amor maduro

Na Audiência Geral, realizada na Sala Paulo VI no dia 1 de dezembro, a intenção de Francisco foi oferecer uma mensagem a todos os namorados e noivos.

Para compreender o comportamento de José em relação a Maria, explicou o Papa, é útil recordar os costumes matrimoniais da época em Israel. O matrimónio compreendia duas fases. Na primeira, a noiva continuava a viver na casa paterna, mas de facto era já considerada “a esposa” do noivo. Um ano depois, tinha lugar a segunda fase, em que ela deixava a casa paterna e ia coabitar com o marido. Foi durante a primeira fase que se notou que Maria estava grávida; a Lei do tempo dava ao noivo a possibilidade de a acusar publicamente de adultério.

Segundo o Evangelho, José era “justo” precisamente porque se submetia à Lei, mas, dentro dele, o amor por Maria e a confiança que tinha nela sugerem-lhe uma forma de salvar as duas dimensões: entregar a ata de repúdio em segredo, sem expô-la à humilhação pública. “Quanta santidade em José!”, acrescentou o Papa.

Nós, quando ficamos a saber de algo mau sobre outra pessoa, logo vamos fofocar. José quieto. Quieto.” E enquanto decidia, interveio a voz de Deus para revelar um significado muito maior do que a própria justiça de José: “não temas receber Maria, pois o que Ela concebeu é obra do Espírito Santo”.

Por trás de acontecimentos que nos parecem dramáticos, disse ainda o Papa, esconde-se uma Providência que, com o tempo, toma forma e ilumina de significado inclusive a dor que nos atingiu. “A tentação é fechar-nos naquela dor. E isto não faz bem. Isto leva-nos à tristeza e à amargura. O coração amargo é tão ruim”, disse ainda Francisco.

Provavelmente, Maria e José tinham sonhos diferentes para as suas vidas, mas tiveram que lidar com um facto inesperado. Por isso, afirmou Francisco, “com frequência a nossa vida não é como imaginamos”. Sobretudo nos relacionamentos de amor, de afeto, há dificuldade em passar da lógica da paixão àquela do amor maduro.

Os noivos cristãos são chamados a testemunhar um amor assim, que tenha a coragem de passar da lógica da paixão a um amor maduro. Esta é uma escolha exigente, que ao invés de aprisionar a vida, pode fortificar o amor para que seja duradouro diante das provações do tempo.

No final da Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco citou a celebração neste dia 1° de dezembro do Dia Mundial de Combate à SIDA.

É uma importante ocasião para recordar as muitas pessoas acometidas por este vírus, para muitas das quais, em algumas regiões do mundo, não está disponível o acesso aos tratamentos essenciais. Faço votos por um renovado empenho solidário para garantir tratamentos de saúde équos e eficazes.”

O Pontífice mencionou ainda a sua viagem apostólica a Chipre e Grécia, que tem início esta quinta-feira.

JM (com recursos jornalísticos do Vatican News)

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02 de Dezembro de 2021