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A Palavra do Papa: o desafio da fraternidade, a aldeia global, o espírito da mansidão e a economia cristã

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Educação e integração para a paz: o tema foi recorrente nas intervenções do Papa nos últimos dias. “Não se pode deixar a paz para os outros se não se a tem em si mesmo. Não se pode dar a paz se não se está em paz”, disse na recitação do Regina Caeli do passado domingo.

Escolas cristãs: enfrentar os desafios do nosso tempo com a educação

O Papa Francisco recebeu os participantes do 46° Capítulo Geral dos Irmãos das Escolas Cristãs, que tem como tema “Construir novos caminhos para transformar vidas”. O Papa iniciou elogiando a escolha do tema do Capítulo “como um canteiro de obras para novas estradas, que levam ao encontro de nossos irmãos, especialmente os mais pobres. Mas, – continuou – sabemos que a ‘Via’, o caminho verdadeiramente novo, é Jesus Cristo: ao segui-lo, ao caminhar com Ele, as nossas vidas se transformam, e nos tornamos, por sua vez, fermento, sal, luz”.

Em seguida o Santo Padre disse aos presentes: “Para vocês, segundo o carisma de São João Batista de la Salle, estes ‘novos caminhos’ são, antes de tudo, caminhos educacionais, a serem realizados nas escolas, colégios e universidades que vocês dirigem em cerca de cem países nos quais estão presentes. Uma grande responsabilidade!” 

Nesta relação – continuou – neste caminho que vocês fazem com os alunos, oferecem os valores da sua rica tradição pedagógica: educam à responsabilidade, à criatividade, à convivência, à justiça, à paz; educam à vida interior, para estarem abertos ao transcendente, para sentir o maravilhamento e a contemplação diante do mistério da vida e da criação. Vocês vivem tudo isso e o interpretam em Cristo, traduzindo-o na plenitude da humanidade”.

“Os dois grandes desafios do nosso tempo: o desafio da fraternidade e o desafio de cuidar da casa comum, só podem ser enfrentados através da educação. Ambos são, acima de tudo, desafios educacionais”, afirmou.

Construir uma “aldeia global” para a tutela do meio ambiente

O Papa Francisco recebeu, na manhã de sábado, no Vaticano, os participantes da Conferência Internacional “A Natureza no Pensamento: uma nova cultura da natureza para a proteção da biodiversidade”, promovida pelo Comando dos Carabineiros da Itália. 

Na sua saudação aos presentes, Francisco expressou a sua gratidão por esta iniciativa, que demonstra o desejo de colaborar para a defesa da nossa Casa Comum. Este compromisso contribui para reforçar o diálogo, urgente e responsável, sobre o futuro do planeta, “porque o desafio ambiental e suas raízes humanas cabem e concernem a todos nós”.

Como Deus colocou a sua Criação à disposição dos homens, eles também encontram a sua plena realização superando o egoísmo e usufruindo de uma beleza partilhada. Este vínculo dinâmico entre Criador, criatura humana e outras criaturas é uma aliança que não pode ser rompida sem danos irreparáveis. Não podemos substituir uma beleza única e irreparável.”

O Santo Padre concluiu, dizendo: “Mediante os nossos talentos, somos chamados a construir uma ‘aldeia global’ para a tutela do meio ambiente, rejeitando todas as formas de discriminação, violência e prevaricação. Nesta ‘aldeia’, a educação pode gerar fraternidade e paz entre os povos e diálogo entre as religiões”.

Família Cristã: é preciso semear boas ideias para produzir boas obras

No encontro do Papa com os leitores e membros da revista “Família cristã” no Vaticano Francisco recordou o Beato Tiago Alberone que deu início à revista católica das famílias. “É preciso semear boas ideias para que produzam boas obras. Trata-se de um talento que Deus nos dá: por isso, deve produzir frutos”

Tudo nasceu do espírito apostólico do Beato Tiago Alberione, disse o Papa, que queria uma revista que levasse às famílias uma visão cristã da realidade, da atualidade, dos grandes temas do mundo e da Igreja. Neste seu projeto, envolveu toda a Família Paulina: os sacerdotes, encarregados da sua direção e edição; os religiosos, da fase técnica de imprensa; as Irmãs, para a divulgação nas casas dos católicos; e, todos juntos, para a sensibilização nas paróquias. Mas, logo, esta forma de colaboração se ampliou aos jornalistas e especialistas em todos os setores.

A este respeito, o Papa recordou o que Padre Alberione dizia aos seus jovens sacerdotes, em 1915:

É preciso semear boas ideias para que produzam boas obras: ideias religiosas, sociais, económicas, de virtude e higiene. Trata-se de um talento que Deus nos dá: por isso, deve produzir frutos”.

Por fim, Francisco disse aos Paulinos que “para conhecer os interlocutores da sua missão e se aproximar deles, o comunicador deve fazer um caminho de ‘saída’, mudando, se necessário, as suas atitudes e mentalidade. Eis o exemplo do apóstolo Paulo, que ao comunicar o Evangelho criou relacionamentos e comunidades”.

Regina Caeli: “Não se pode dar a paz se não se está em paz”

Na oração do Regina Caeli deste domingo, 22 de maio, VI Domingo de Páscoa, o Papa Francisco falou sobre a paz com as palavras de Jesus, recordando as palavras ditas pelo mestre na Última Ceia. Embora Jesus soubesse tudo o que aconteceria, estava sereno, e disse ao se despedir dos discípulos: “Deixo-vos a paz” e “Eu dou-vos a minha paz” (Jo 14, 27).

Francisco refletiu sobre estas palavras destacando que Jesus “em vez de mostrar agitação, ele permanece gentil até o final. Um provérbio diz que se morre como se viveu. As últimas horas de Jesus são, de facto, como a essência de toda a sua vida. Ele sente medo e dor, mas não dá espaço para ressentimentos e protestos”. Explica que a paz de Jesus vem do seu coração manso, habitado pela confiança e daqui flui a paz que Jesus nos deixou, concluindo:

Pois não se pode deixar a paz para os outros se não se a tem em si mesmo. Não se pode dar a paz se não se está em paz”

O Papa pondera: “É claro que esta mansidão não é fácil: como é difícil, em todos os níveis, acabar com os conflitos!”. Porém, neste ponto vem em nosso auxílio a segunda frase de Jesus: ‘Eu dou-vos a minha paz’. Ele sabe que sozinhos não somos capazes de manter a paz, que precisamos de ajuda, um dom”.

Explicando em seguida que a paz, que é nosso compromisso, é, antes de tudo, um dom de Deus:

De facto, Jesus diz: ‘Eu dou-vos a minha paz. Não como o mundo dá, eu a dou a vós’. Que paz é essa que o mundo não conhece e que o Senhor nos dá? É o Espírito Santo, o mesmo Espírito de Jesus. É a presença de Deus em nós, é a ‘força da paz’ de Deus”.

No final do Regina Caeli, Francisco recordou a memória de Nossa Senhora Maria Auxiliadora dos Cristãos (24 de maio), convidando a Igreja a unir-se em oração com os católicos chineses que veneram a Virgem Auxiliadora no Santuário de Sheshan, em Xangai.

O Papa recordou ainda Paulina Jaricot, mulher “corajosa” recém-beatificada. Paulina fundou há duzentos anos as Obras do ‘Conselho para a Propagação da Fé’ – hoje uma das quatro Pontifícias Obras Missionárias – e o ‘Rosário Vivo’, um movimento de oração.

Esta fiel leiga, que viveu na primeira metade do século XIX, era uma mulher corajosa, atenta às mudanças dos tempos com uma visão universal da missão da Igreja. Que o seu exemplo desperte em todos o desejo de participar, com oração e caridade, da difusão do Evangelho no mundo”.  

Audiência Geral: vemos surgir guerras cada vez mais implacáveis contra pessoas indefesas

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a velhice na Audiência Geral, desta quarta-feira, 25 de maio, realizada na Praça São Pedro, que teve como tema “Eclesiastes: a noite incerta do sentido e das coisas da vida”.

Segundo o Papa, diante de uma realidade que em certos momentos parece “acabar no nada, o caminho da indiferença também pode nos parecer o único remédio para uma dolorosa desilusão”, fazendo surgir em nós perguntas como: “Será que nossos os esforços mudaram o mundo? Alguém talvez é capaz de fazer valer a diferença entre o justo e o injusto? Parece que tudo isso é inútil: por que fazer tanto esforço?”

Para a nossa cultura moderna, que gostaria de entregar praticamente tudo ao conhecimento exato das coisas, o aparecimento desta nova razão cínica – que soma conhecimento e irresponsabilidade – é uma reação muito dura. De facto, o conhecimento que nos isenta da moralidade parece ser, a princípio, uma fonte de liberdade, de energia, mas logo se transforma numa paralisia da alma”.

Na verdade, com todo o nosso progresso e com todo o nosso bem-estar, tornamo-nos realmente uma “sociedade do cansaço”. Pensem um pouco nisso: somos uma sociedade do cansaço. Devíamos produzir bem-estar generalizado e toleramos um mercado cientificamente seletivo da saúde. Devíamos colocar um limite intransponível à paz, e vemos surgir guerras cada vez mais implacáveis contra pessoas indefesas. A ciência avança, é claro, e isso é um bem. Mas a sabedoria da vida é algo completamente diferente, e parece estar paralisada.

Segundo o Papa, “a velhice pode aprender da sabedoria irónica de Coélet a arte de levar à luz o engano escondido no delírio de uma verdade da mente desprovida de afetos pela justiça. Os idosos ricos em sabedoria e humorismo fazem muito bem aos jovens! Eles salvam-nos da tentação de um conhecimento do mundo triste e desprovido da sabedoria da vida”. “Coragem, todos nós idosos: coragem e adiante! Temos uma missão muito grande no mundo” concluiu.

Após a catequese, o Santo Padre apelou: “O meu coração está abalado pelo massacre na escola primária do Texas. Eu rezo pelas crianças, pelos adultos mortos e pelas suas famílias. É hora de dizer basta para o tráfico indiscriminado de armas! Devemos nos comprometer para que tais tragédias nunca mais possam acontecer”.

Solidariedade: a economia precisa de conversão

Na manhã desta quarta-feira, 25 de maio, o Papa Francisco encontrou-se com uma delegação do Fundo Global de Solidariedade.

Ele iniciou dizendo: “agradeço por este encontro, porque eu gosto quando as pessoas estão nas fronteiras, nas periferias. Simplesmente porque Jesus andou pelas periferias: Ele esteve ali para mostrar o Evangelho. As periferias, sejam do corpo, sejam da alma; porque tem gente que está bem mas a sua alma está destruída, despedaçada: ir também até eles; tantas pessoas tem necessidade da proximidade.”

Continuando Francisco afirmou que: “a proximidade é o estilo de Deus. Ele mesmo disse: “Pois qual é a grande nação que tem deuses tão próximos como o Senhor nosso Deus?” (Dt 4, 7). Por isso, aquelas expressões religiosas – quer sejam de congregações religiosas, quer sejam de cristãos que se atacam para conservar a fé – são uma reedição do farisaísmo mais antigo. Porque eles querem ter a alma limpa, mas com este comportamento talvez terão a alma purificada, porém com o coração sujo pelo egoísmo. Ao contrário, ir as periferias, ir ao encontro das pessoas que não são levadas em conta, os descartados pela sociedade – porque estamos vivendo a cultura do descarte, e se descartam as pessoas – ir ali é fazer aquilo que Jesus fez.”

Ao tratar do tema dos migrantes o Pontífice afirmou: “vocês elaboraram quatro passos: acolher, acompanhar, promover e integrar. Com os migrantes, se deve fazer este caminho de integração na sociedade. Não é uma obra de beneficência, com os migrantes, deixando os a própria sorte. Não. É apoiá-los e integrá-los, com a educação, a inserção no mundo do trabalho, com todas estas coisas”.

Ao tratar do tema economia, o Papa disse: “a economia precisa de conversão, deve se converter agora. Devemos passar da economia liberal à economia partilhada pelas pessoas, a uma economia comunitária.” Ainda neste mesmo tema Francisco disse: “Não podemos viver com uma economia com raízes liberais e do iluminismo. Nem com uma economia com raízes que vem do comunismo. É necessária uma economia cristã (…). Existem homens e mulheres que estão a pensar numa economia mais enraizada no povo.”

Ao concluir as suas palavras Francisco incentivou: “sigam em frente, sujem as mãos. Arrisquem-se. E olhem para tantas periferias: sudeste asiático, parte da África, parte da América Latina. Tantas periferias, tantas, que machucam o coração”.

JM (com recursos do portal noticioso Vatican News)

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25 de Maio de 2022