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A Palavra do Papa: a derrota da Guerra, o Homem que pertence a Deus e a evangelização livre e corajosa

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Esta semana o Papa Francisco fez renovados apelos à paz nos vários conflitos que assolam o mundo. Na Audiência Geral falou sobre os Santos Cirilo e Metódio, “apóstolos dos eslavos”.

Angelus: Somos do Senhor, não pertencemos a nenhum “César”

“Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”: este versículo do Evangelho deste 29º Domingo do Tempo Comum inspirou a reflexão do Papa no Angelus dominical.

Diante de milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, Francisco comentou o episódio extraído de São Mateus, que narra a cilada que alguns fariseus e herodianos armam contra Jesus. Vão até Ele e perguntam-lhe: “É lícito ou não pagar imposto a César?”.

“É uma farsa”, explica o Pontífice. Pois se Jesus legitimar o imposto, coloca-se da parte de um poder político pouco tolerado pelo povo, enquanto se disser para não o pagar, pode ser acusado de rebelião contra o império.  O Mestre, porém, foge desta ratoeira. Pede que lhe mostrem uma moeda, que traz impressa a imagem de César, e lhes diz: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (v. 21).

Essas palavras de Jesus tornaram-se de uso comum, prossegue o Papa, mas às vezes foram utilizadas de modo erróneo para falar das relações entre Igreja e Estado. Jesus não quer separar “César” e “Deus”, ou seja, a realidade terrena e da espiritual.

Às vezes, também nós pensamos assim: uma coisa é a fé com as suas práticas e outra coisa é a vida de todos os dias. Não. Esta é uma ‘esquizofrenia’, como se a fé não tivesse nada a ver com a vida concreta, com os desafios da sociedade, com a justiça social, com a política e assim por diante.”

“Não pertencemos a nenhuma realidade terrena, a nenhum ‘César’ de turno. Somos do Senhor e não devemos ser escravos de nenhum poder mundano. A César pertence as coisas do mundo, mas o homem e o próprio mundo pertencem a Deus: não o esqueçamos!”

Parem! A guerra é uma derrota, a destruição da fraternidade humana

Após rezar o Angelus, com o pensamento voltado a Israel, Palestina e Ucrânia, Francisco fez mais um apelo pelo fim de todos os conflitos, em particular pela libertação dos reféns em Gaza.

“Estou muito preocupado, entristecido, rezo e estou próximo a todos aqueles que sofrem, os reféns, os feridos, as vítimas e aos seus familiares.”

Diante das notícias que  continuam a chegar do conflito no Oriente Médio, Francisco demonstrou particular preocupação pela “grave situação humanitária em Gaza”, renovando o seu apelo “para que sejam abertos espaços, que a ajuda humanitária continue a chegar e que os reféns sejam libertados”.

A guerra, cada guerra que há no mundo – penso também na martirizada Ucrânia – é uma derrota. A guerra é sempre uma derrota, é uma destruição da fraternidade humana. Irmãos, parem! Parem!”

O Pontífice reitera o seu convite feito na Audiência Geral da última quarta-feira para um dia de jejum e oração pela paz: “Recordo que para a próxima sexta-feira, 27 de outubro, convoquei um dia de jejum, oração e penitência, e que naquela tarde, às 18 horas, em São Pedro, teremos uma hora de oração para implorar a paz no mundo”.

Audiência Geral: é preciso pregar o evangelho com coragem e liberdade

O Papa Francisco, na manhã nublada desta quarta-feira, 25 de outubro, deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico. O Pontífice abordou na sua reflexão o testemunho de dois irmãos muito famosos no Oriente cristão, a ponto de serem chamados de “apóstolos dos eslavos”: os Santos Cirilo e Metódio.

Nascidos na Grécia no século IX, numa família aristocrática, renunciaram à carreira política para se dedicarem à vida monástica. Os irmãos foram enviados como missionários à Grande Morávia, que na época incluía vários povos, em parte já evangelizados, mas entre os quais ainda sobreviviam muitos costumes e tradições pagãs. O príncipe da época solicitou um mestre que explicasse a fé cristã na língua deles.

“O primeiro empenho de Cirilo e Metódio foi estudar profundamente a cultura daqueles povos”, afirmou Francisco, “e para anunciar o Evangelho e rezar com aquele povo, foi preciso um instrumento próprio, adequado e específico, resultando na criação do alfabeto glagolítico. Nesta língua, Cirilo traduziu a Bíblia e textos litúrgicos. A partir desse ato, as pessoas sentiram que aquela fé cristã já não era mais ‘estrangeira’, mas tornou-se a sua fé, falada na língua materna. Pensem: dois monges gregos que dão um alfabeto aos Eslavos. Foi essa abertura de coração que enraizou o Evangelho entre eles”.

Francisco recordou que São João Paulo II, ao contemplar o testemunho desses dois evangelizadores, os escolheu como co-patronos da Europa e escreveu a Encíclica “Slavorum Apostoli”, na qual destacou três aspetos importantes.

“O primeiro ponto”, ressaltou o Papa, “é o da unidade: naquela época, gregos, o Papa e eslavos viviam uma cristandade indivisa na Europa, que colaborava para evangelizar. Um segundo aspeto importante é o da inculturação”, continuou Francisco. “A evangelização da cultura e a inculturação mostram que esses pontos estão intimamente ligados. Não se pode pregar um Evangelho de modo abstrato, destilado: o Evangelho deve ser inculturado e também é uma expressão da cultura”.

O último aspeto, sublinhou, é o da liberdade: “na pregação, precisamos de liberdade, mas a liberdade sempre requer coragem. Uma pessoa é livre quanto mais corajosa for, sem deixar-se acorrentar por tantas coisas que lhe tiram a liberdade”.

Irmãos e irmãs, peçamos aos Santos Cirilo e Metódio, apóstolos dos eslavos, para que sejamos instrumentos da liberdade na caridade na vida do nosso próximo. Sejamos criativos, persistentes e humildes, através da oração e do serviço”, concluiu o Papa.

Francisco voltou mais uma vez o seu pensamento para a grave situação na Palestina e Israel, esperando caminhos de paz para o Oriente Médio e estendendo o seu olhar para a atormentada Ucrânia e outras regiões feridas pela guerra.

Sínodo: mulher, “reflexo da Igreja”, e clericalismo

Francisco falou no início da Congregação do Sínodo na tarde de quarta-feira e reiterou a importância das mulheres na Igreja: “Elas sabem esperar, descobrir o caminho, além do limite, com medo e coragem”. Em seguida, lamentou o “escândalo” dos padres que experimentam em alfaiatarias batinas de renda. Finalmente, ele lembra a importância do povo de Deus: “quando quiser saber o que a Igreja diz, leia o magistério, mas para pensar como Igreja dirija-se ao povo”.

A mulher, “reflexo” de uma Igreja que tem um rosto feminino. Os sacerdotes e o “escândalo” das roupas eclesiásticas de alfaiataria e, às vezes, das atitudes “machistas e autoritárias”. A Igreja às vezes reduzida a um “supermercado da salvação” com uma lista de preços para os sacramentos. Depois, o clericalismo, que é como um “chicote” e que “arruína” o povo santo de Deus. O povo de Deus, de facto, “santo e pecador”, “infalível na crença”, com tanta “paciência”, deve suportar “maus-tratos e a marginalização do clericalismo institucionalizado”.

Estas são algumas das reflexões que o Papa ofereceu na tarde desta quarta-feira aos participantes do Sínodo reunidos na Sala Paulo VI para a 17ª Congregação Geral, durante a qual se seguiram os discursos com as “impressões gerais” sobre o Relatório Síntese que será publicado no sábado, 28 de outubro. Antes, porém, a palavra do Pontífice que, sentado à mesa central, em espanhol, quis chamar a atenção para a “Igreja como povo de Deus”. Aquele povo ao qual os membros do Sínodo dirigiram uma Carta nesta quarta, e na qual reiteraram a vontade de ouvir “todos”.

O Papa: garantir uma migração segura e o direito de não abandonar a própria terra

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes do 8° Festival da Migração que teve início, em Modena e outras cidades da região de Emília Romagna, nesta quarta-feira. A organização do encontro, que prossegue até sábado 28, conta com a colaboração da Fundação Migrantes da Conferência Episcopal Italiana.

Esta edição do Festival da Migração tem como tema “Livres para partir, livres para ficar” e retoma o tema da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado deste ano, dedicado à liberdade de escolher entre migrar ou ficar.

Os participantes do Festival da Migração “refletem sobre os fluxos migratórios contemporâneos através de considerações que vão além da emergência”, ressalva o Papa, “na consciência de que estamos perante um fenómeno multifacetado, complexo, global e de longo prazo”, sublinha.

Francisco encoraja-os a “desenvolver propostas concretas para promover a migração regular e segura”. Nesta linha, «é necessário multiplicar esforços para combater as redes criminosas, que especulam sobre os sonhos dos migrantes. Mas é igualmente necessário indicar estradas mais seguras. Por isso, devemos nos comprometer com a ampliação de canais migratórios regulares».

Segundo o Papa, “devemos trabalhar arduamente para garantir a todos o direito de não terem de migrar”. “Os migrantes fogem da pobreza, do medo, do desespero. Para eliminar estas causas e assim pôr fim à migração forçada, é necessário o compromisso comum de todos, cada um segundo as suas responsabilidades. Um compromisso que começa por nos perguntarmos o que podemos fazer, mas também o que devemos deixar de fazer”, recorda o Pontífice.

Por fim, Francisco lembra que “devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para deter a corrida aos armamentos, o colonialismo económico, a pilhagem dos recursos alheios e a devastação da nossa Casa comum”.

JM (com recursos do Vatican News)

Foto: Ricardo Perna

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27 de Outubro de 2023